Capítulo 4: A cerimônia de acasalamento
A noite da cerimônia de acasalamento chegou, cobrindo Silver Hollow com uma espessa camada de antecipação. Cada membro da alcateia se movia com uma energia silenciosa, lançando olhares furtivos uns aos outros enquanto se reuniam ao redor do terreno cerimonial. O ritual tinha o propósito de renovar laços, uma tradição imbuída de reverência e simbolismo, unindo casais sob o olhar atento da lua.
Callan estava na beira da reunião, braços cruzados enquanto observava a alcateia. Sentia o peso de seu papel pressionando, seu dever de encarnar força e unidade para todos ali reunidos. No entanto, naquela noite, seus pensamentos vagavam além da tradição, puxados em direção a uma figura que pairava logo fora da luz da reunião.
Liana estava na extremidade oposta, braços cruzados, expressão guardada enquanto observava a alcateia com a mesma curiosidade cautelosa que tinha quando chegou pela primeira vez. Ela era uma forasteira, e a cerimônia apenas sublinhava essa divisão, tornando sua presença uma tensão não dita que ondulava pelo grupo.
Finn se aproximou de Callan, sua voz baixa. “Você tem certeza de deixá-la ficar esta noite? Você sabe que a alcateia já está bastante tensa.”
Callan não tirou os olhos de Liana. “Eu sei. Mas ela precisa ver isso. Se ela vai ficar aqui, precisa nos entender.”
“Ou ela só vai ser lembrada de como é diferente.” O olhar de Finn se voltou para Liana, um toque de preocupação em seus olhos. “E talvez o resto deles também.”
“Talvez,” Callan respondeu, voz firme. “Mas lidaremos com isso se acontecer.”
Finn assentiu, embora não parecesse convencido. Ele deu um tapinha no ombro de Callan, depois se misturou à multidão reunida, deixando Callan sozinho no escuro.
O olhar de Callan permaneceu em Liana por mais um momento antes de atravessar a clareira em sua direção, seus passos leves mas determinados. Ela o observou se aproximar, seu rosto inexpressivo, e por um momento, ele se perguntou o que se passava por trás daqueles olhos verdes.
“Esperando que algo dê errado?” ela perguntou quando ele a alcançou, um sorriso irônico surgindo no canto de sua boca.
“Não se todos cooperarem,” ele respondeu, seu tom seco. “Você entende a importância desta noite?”
“Entendo o básico,” ela respondeu, olhando para a alcateia reunida. “Renovar laços, afirmar lealdades.” Seu olhar voltou para ele, sua expressão suavizando. “Isso significa muito para eles.”
“Significa,” ele concordou, surpreso com a profundidade de sua compreensão. “E para você?”
Ela desviou o olhar, sua expressão se tornando pensativa. “Eu não saberia. Rituais como este... não faziam parte da minha vida.” Sua voz era quieta, com um toque de tristeza que ela não pretendia revelar.
Um momento de silêncio passou entre eles, os sons dos murmúrios e risadas da alcateia enchendo o ar ao redor deles. Callan respirou fundo, escolhendo suas próximas palavras com cuidado.
“Você não precisa ficar à margem,” ele disse finalmente, sua voz suave mas firme. “Se quiser se juntar—”
Seu olhar se fixou no dele, afiado e inflexível. “Isso não seria bem aceito, seria?”
Callan hesitou, olhando para a alcateia antes de responder. “Não. Mas não foi por isso que ofereci.”
“Então por quê?” O tom dela era desafiador, mas ele percebeu o lampejo de incerteza por trás de suas palavras.
“Porque você está aqui agora,” ele disse simplesmente. “E se você faz parte deste lugar, então faz parte das tradições também. Quer eles vejam isso ou não.”
Ela sustentou o olhar dele, sua expressão vacilando por um momento antes de suas defesas voltarem ao lugar. “Bela ideia. Mas eu não sou uma deles. Ainda não.”
“Talvez não,” ele admitiu. “Mas a alcateia não é só sobre sangue e lealdade. É sobre propósito. E pelo que eu vi, você tem muito disso.”
A boca dela se torceu em um meio sorriso, embora ele pudesse ver a dúvida em seus olhos. “Agradeço o incentivo, mas não acho que sua alcateia veja dessa forma.”
“Deixe que eu me preocupe com a alcateia,” ele respondeu, sua voz baixa mas resoluta. “Você só precisa se concentrar em estar aqui. Em estar presente.”
Ela desviou o olhar, assentindo quase imperceptivelmente. “Tudo bem,” ela disse suavemente. “Vou tentar.”
O momento tranquilo entre eles foi interrompido por uma comoção repentina na multidão. A atenção de Callan voltou-se para a reunião, seus instintos se aguçando ao perceber a perturbação. Um grupo de membros da alcateia se aglomerava ao redor de alguém, seus rostos tensos, vozes se elevando em agitação.
“O que agora?” Liana murmurou, seu olhar se aguçando.
“Fique aqui,” Callan ordenou, embora soubesse que era inútil. Ela o seguiria de qualquer maneira.
Ele abriu caminho pela multidão, Liana logo atrás, enquanto chegavam ao centro da confusão. Um jovem lobo, mal transformado de volta à forma humana, estava de joelhos, segurando o lado do corpo como se tivesse acabado de voltar de uma batalha. Seu rosto estava pálido, e um fino rastro de sangue escorria de seu lábio onde ele havia mordido, seus olhos arregalados com uma mistura de dor e medo.
“Ronan,” Callan disse, ajoelhando-se ao lado dele, sua voz firme e gentil. “O que aconteceu?”
O olhar de Ronan vacilou, lutando para se concentrar. “Eles estão perto, Alpha. Mais perto do que pensávamos.”
Os murmúrios aumentaram, a preocupação se espalhando pela multidão enquanto digeriam as palavras do garoto. O olhar de Liana se estreitou, seu corpo se tensionando enquanto ela se inclinava mais perto.
“Caçadores?” ela perguntou baixinho, embora a resposta já fosse clara.
Ronan assentiu, sua voz mal mais que um sussurro. “Eu os vi... muitos para contar. Estavam armados... e se movendo rápido.”
As palavras enviaram um calafrio por Callan, um que se instalou profundamente em seus ossos. Ele trocou um olhar com Liana, sua expressão espelhando a mesma determinação sombria.
“Vá para os médicos,” ele disse a Ronan, apertando o ombro do garoto. “Nós cuidaremos do resto.”
Enquanto se levantava, os olhos da alcateia se voltaram para ele, esperando, cada rosto marcado pelo medo. Ele sentiu o peso das expectativas deles pressionando sobre ele, mas manteve sua expressão calma, sua voz firme.
“Nós sabíamos que isso estava vindo,” ele disse, seu olhar varrendo sobre eles. “Defenderemos nosso lar juntos. E não deixaremos que eles destruam o que construímos aqui.”
Ele olhou para Liana, encontrando força em seu olhar feroz. O que quer que estivesse por vir, eles enfrentariam lado a lado, e nenhum dos dois recuaria.
As palavras de Callan pairaram no ar, lançando um feitiço de silêncio determinado sobre os lobos reunidos. Ele podia sentir a tensão deles diminuindo, substituída por uma resolução firme, embora soubesse que o medo ainda persistia, escondido logo abaixo da superfície.
Liana deu um passo à frente, seu olhar varrendo a multidão, sua voz calma mas afiada. “Vocês já enfrentaram coisas piores do que isso,” ela disse, seu tom firme. “Vocês conhecem essas florestas melhor do que qualquer caçador jamais conhecerá. Vocês têm todas as vantagens aqui.”
Algumas cabeças assentiram, embora a incerteza ainda pairasse em seus olhos. Callan a observou, reconhecendo a autoridade inesperada mas inegável em sua voz. A alcateia estava ouvindo-a, sentindo sua convicção, talvez até começando a acreditar nela.
Finn se aproximou, sua expressão uma mistura de preocupação e determinação. “Qual é o plano, Callan?” ele perguntou, alto o suficiente para a multidão ouvir.
“Nós nos dividimos em equipes,” Callan respondeu sem hesitação, já calculando as melhores defesas. “Quero três grupos patrulhando as bordas externas, cobrindo todos os pontos fracos. Finn, pegue a fronteira oeste—certifique-se de que ninguém passe.”
Finn assentiu, seu maxilar tenso, e imediatamente se virou para reunir um punhado de lobos capazes, emitindo ordens com a eficiência rápida que Callan havia aprendido a confiar.
O olhar de Callan se moveu para Liana. “Você e eu vamos cuidar do perímetro norte.”
Ela não vacilou, apenas deu um único aceno de cabeça. “Funciona para mim.”
Sem perder mais um momento, eles se moveram em direção à borda norte da vila, serpenteando por entre árvores que haviam estado ali por séculos. A vegetação rasteira era densa, o ar carregado com o cheiro de pinho e terra úmida. Cada farfalhar de folhas, cada estalo de um galho aguçava os sentidos de Callan, seus instintos em alerta máximo.
Liana mantinha o ritmo ao lado dele, seus movimentos silenciosos e precisos. Eles deslizavam pela floresta com a facilidade de caçadores experientes, seus corpos sintonizados com cada mudança na noite.
Ao se aproximarem da borda de seu território, Callan parou, escaneando as sombras densas que se estendiam além. Ele podia sentir o peso do olhar de Liana sobre ele, percebendo sua hesitação antes que ela falasse.
“Você realmente acha que estamos prontos para isso?” ela perguntou baixinho, seu tom inesperadamente vulnerável.
Callan não olhou para ela imediatamente. Em vez disso, estudou a escuridão, ouvindo os chamados distantes dos pássaros noturnos, o sutil zumbido da floresta ao redor deles. “Não temos escolha,” ele respondeu, voz firme. “Mas sim, estamos prontos. Temos que estar.”
Liana exalou, o mais leve indício de um sorriso rompendo sua expressão tensa. “Então acho que é isso.”
Eles ficaram em silêncio novamente, o ar entre eles carregado. A floresta parecia prender a respiração, esperando, como se antecipasse a batalha que estava por vir.
E então, um som—um leve arrastar, muito deliberado para ser um animal. O corpo de Callan se tensionou, e ele levantou a mão, sinalizando para Liana ficar parada.
A figura emergiu lentamente das sombras, avançando apenas o suficiente para Callan distinguir o brilho de uma lâmina de prata presa ao peito do homem. A postura do homem era cautelosa, seus olhos semicerrados enquanto examinava a floresta, claramente alheio aos dois lobos que o observavam das sombras.
Liana se inclinou para perto, sua voz mal um sussurro. “Qual é o movimento?”
O olhar de Callan permaneceu fixo no caçador, calculando a distância entre eles. “Espere,” ele sussurrou, sua voz baixa. “Deixe-o se aproximar.”
Eles esperaram, prendendo a respiração, enquanto o homem dava mais um passo à frente, depois outro. No momento em que ele cruzou a fronteira invisível que marcava o território da alcateia, Callan se moveu, uma sombra rápida e silenciosa fechando a distância entre eles em um instante.
O caçador mal teve tempo de reagir antes que a mão de Callan se fechasse sobre seu ombro, imobilizando-o. O homem soltou um grito estrangulado, lutando contra o aperto de Callan, mas o Alfa manteve-se firme, seu olhar frio e inflexível.
“Você está invadindo,” Callan disse, sua voz um rosnado baixo. “Diga o que quer. Agora.”
O rosto do homem se contorceu em um sorriso sarcástico, seus olhos se voltando para Liana enquanto ela avançava, sua própria expressão dura como pedra. “Parece que sua espécie está ficando um pouco confortável demais aqui,” o caçador cuspiu, sua voz carregada de veneno. “Hora de alguém lembrar quem realmente manda nesta terra.”
Callan apertou ainda mais o ombro do homem, seus dedos cravando-se na carne. “Acho que você não entende sua posição,” ele disse, voz calma mas mortal. “Você é quem está em desvantagem. Então vou te dar uma chance de sair.”
O homem riu, um som oco e zombeteiro que ecoou pelas árvores. “Você acha que é só isso?” ele provocou. “Há mais de nós. O suficiente para acabar com cada um de vocês.”
As palavras pairaram no ar como uma ameaça, enviando um calafrio pela espinha de Callan. Mas ele não deixou transparecer. Em vez disso, inclinou-se mais perto, sua voz caindo para um sussurro perigoso. “Então sugiro que comece a correr. Porque se eu te pegar aqui de novo, você não terá outra chance de sair.”
Ele soltou o homem, que cambaleou para trás, segurando o ombro, seu olhar oscilando entre medo e raiva. Sem dizer mais nada, ele se virou e desapareceu nas sombras, o som de seus passos apressados desaparecendo na distância.
Quando a floresta voltou ao silêncio, Callan sentiu a tensão lentamente se esvaindo de seu corpo. Ele olhou para Liana, que estava ao seu lado, sua expressão pensativa, seus olhos escuros com perguntas não ditas.
“Eles vão voltar,” ela murmurou, mais para si mesma do que para ele.
“Sim,” ele respondeu, sua voz uma promessa silenciosa. “E estaremos prontos.”
Eles ficaram ali por mais um momento, lado a lado, a floresta se estendendo diante deles, vasta e impenetrável. Callan podia sentir o peso do que estava por vir pressionando sobre ele, mas encontrou um estranho conforto na presença de Liana, uma determinação compartilhada que parecia inquebrável.
Finalmente, ele se virou para ela, uma rara suavidade em seu olhar. “Vamos,” ele disse. “Temos uma vila para proteger.”










































































































































































