Capítulo 5: Segredos nas sombras

A quietude da manhã cedo pairava sobre Silver Hollow, uma calma enganosa que escondia a tensão fervilhando sob a superfície. Callan estava sentado sozinho na beira da vila, empoleirado em um tronco de árvore caído, seu olhar fixo na densa floresta que se tornara tanto protetora quanto ameaça. A lembrança do sorriso sarcástico do caçador, o aviso que ele dera, ecoava na mente de Callan, cada palavra um lembrete de que a paz que Silver Hollow conhecia estava escapando.

Passos se aproximaram, suaves e constantes, tirando-o de seus pensamentos. Ele não precisava olhar para saber que era Liana. Seu cheiro, terroso e penetrante, chegou até ele antes que ela falasse.

“Não conseguiu dormir?” A voz dela era calma, mas ele podia ouvir a tensão por trás dela, um eco espelhado de sua própria inquietação.

Callan balançou a cabeça, seu olhar nunca deixando a floresta. “Muita coisa na minha mente.”

Ela assentiu, movendo-se para sentar ao lado dele no tronco caído. Por um momento, nenhum dos dois falou, o silêncio carregado de preocupações não ditas. Então ela o quebrou, seu tom leve, mas com um toque de algo que ele não conseguia identificar.

“Acho que não sou a única assombrada pelas palavras de despedida daquele caçador.”

A mandíbula de Callan se apertou. “Ele quis que elas nos assombrassem,” disse ele, sua voz baixa, a raiva fervendo sob a superfície. “E ele está certo. Isso é apenas o começo. Eles vão voltar, e da próxima vez, não será apenas um.”

Liana ficou quieta por um momento, seu olhar pensativo. “Então por que não levamos a luta até eles?”

Ele se virou para ela, seus olhos se estreitando. “Você acha que devemos atacar primeiro?”

Ela deu de ombros, um brilho de algo feroz em seus olhos. “Acho que esperar que eles nos encontrem não é exatamente uma estratégia vencedora. Eles estão observando, esperando que mostremos qualquer sinal de fraqueza. Se atacarmos primeiro, eles não vão esperar.”

Callan considerou suas palavras, a lógica nelas inegável. No entanto, ele sabia que havia mais nisso. Atacar primeiro não era apenas uma tática—era uma mensagem. Uma que poderia facilmente sair pela culatra se a matilha não estivesse preparada para as consequências.

“E se formos atrás deles?” ele perguntou, sua voz firme. “O que então? Começamos uma guerra?”

“Talvez a guerra já tenha começado,” ela respondeu, seu olhar endurecendo. “E fingir que não começou não vai manter ninguém seguro. Você viu como a matilha estava abalada na noite passada. Eles precisam de algo em que acreditar. Eles precisam saber que não estamos apenas esperando para sermos abatidos.”

Ele sentiu o peso das palavras dela se assentando em sua mente, a verdade delas ressoando de uma maneira que o deixava inquieto. Ela estava certa, à sua maneira. A matilha precisava de força e segurança. E embora ele sempre tivesse liderado com um equilíbrio cuidadoso de cautela e determinação, ele sabia que às vezes, apenas força não era suficiente.

“Então, o que você sugere?” ele perguntou, um toque de desafio em seu tom.

Ela se inclinou mais perto, seus olhos fixos nos dele. “Um plano. Um que nos permita enviar uma mensagem sem colocar toda a matilha em risco. Saímos em pequenos grupos e descobrimos onde eles estão se escondendo e o que estão planejando. Não esperamos que eles venham até nós.”

Seu olhar encontrou o dela, cada um estudando o outro, medindo determinação contra cautela. Ele podia ver a determinação nos olhos dela, o fogo que queimava logo abaixo de sua superfície guardada. Ela era uma rebelde, sim, mas carregava uma força e lealdade que ele não esperava, uma independência feroz que exigia respeito.

“Certo,” ele disse finalmente, sua voz quieta, mas resoluta. “Vamos seguir seu plano. Mas nos movemos com cuidado. Sem riscos desnecessários.”

Ela sorriu, um pequeno e satisfeito curvar dos lábios. “Cuidado não é minha especialidade, mas vou tentar.”

Ele não pôde deixar de sorrir com isso, um raro momento de leveza no meio da tensão. “De alguma forma, acredito nisso.”

Eles compartilharam uma breve, silenciosa risada, o som quase estranho na gravidade do momento. Mas logo desapareceu, a realidade pressionando-os novamente.

“Encontre-me ao anoitecer,” ele disse, seu tom voltando à familiar autoridade de um Alfa. “Vamos reunir uma equipe e partir. Se encontrarmos qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, nos reagrupamos imediatamente. Não nos envolvemos a menos que seja necessário.”

Liana assentiu, sua expressão séria. “Entendido.”

Eles sentaram juntos na luz da manhã, ambos se preparando para o caminho à frente. Callan sabia que isso não era apenas uma missão—era um teste. Para ela, para ele, e para a força de sua aliança incerta.

Um farfalhar atrás deles quebrou o silêncio, e Callan se virou para ver Finn se aproximando, seu rosto marcado pela preocupação. “Precisamos conversar,” Finn disse, olhando entre eles, um lampejo de suspeita em seus olhos ao perceber a proximidade deles.

Callan assentiu, levantando-se. “Vamos ouvir.”

O olhar de Finn passou brevemente por Liana antes de voltar para Callan, seu tom abaixando. “Há inquietação na matilha. Alguns não acham prudente deixar uma rebelde tão próxima de nossos planos.”

Liana se tensionou ao lado dele, mas Callan colocou uma mão calmante em seu ombro, um gesto silencioso de confiança que apenas aprofundou a carranca no rosto de Finn.

“Deixe que falem,” Callan respondeu firmemente, sua voz carregando uma autoridade tranquila. “Liana está aqui sob minha proteção. Ela faz parte disso agora, quer aceitem ou não.”

A mandíbula de Finn se apertou, mas ele assentiu, embora relutantemente. “Então espero que você saiba o que está fazendo. Porque se começarem a duvidar do seu julgamento, isso não vai acabar bem.”

Callan encontrou seu olhar firmemente. “Eles vão ver em breve,” ele disse. “Confie em mim.”

Sem outra palavra, Finn se virou e caminhou de volta para a vila, seus ombros tensos com preocupações não ditas.

Liana o observou ir, seu olhar indecifrável. “Você está arriscando muito ao confiar em mim,” ela disse quietamente.

Callan olhou para ela, sua expressão firme. “Então não me dê motivos para duvidar.”

Ela sustentou seu olhar, algo não dito passando entre eles. E naquele momento, uma compreensão se solidificou, uma promessa forjada no silêncio.

Quando o crepúsculo caísse, eles avançariam juntos, cada um sabendo que o verdadeiro teste ainda estava por vir.

Quando o crepúsculo envolveu Silver Hollow em tons de índigo profundo, Callan andava de um lado para o outro ao longo do perímetro da clareira onde ele e Liana haviam combinado de se encontrar. O ar parecia mais pesado naquela noite, como se a própria floresta estivesse prendendo a respiração, ciente do perigo que pairava além de suas bordas.

Os sentidos de Callan se aguçaram, captando os sons da noite—o suave farfalhar das folhas, o distante pio de uma coruja, os passos se aproximando por trás dele. Ele se virou para ver Liana avançando, sua expressão calma, mas seus olhos tinham um brilho afiado.

“Você está pronta para isso?” ela perguntou, seu tom firme, mas seu olhar sondador, como se estivesse avaliando a determinação dele tanto quanto a dela.

“Estou pronto,” ele respondeu, com uma confiança tranquila que mascarava a tensão que o atravessava. “Finn e alguns outros já estão posicionados ao longo da fronteira oeste. Se notarem qualquer movimento, eles sinalizarão.”

Ela assentiu, um brilho de satisfação em seus olhos. “Bom. Quanto menos barulho fizermos esta noite, melhor.”

Eles se moveram sem dizer mais nada, deslizando pela vegetação densa, seus passos silenciosos contra o chão úmido da floresta. Cada passo os aproximava mais do perímetro norte, onde os caçadores haviam sido vistos pela última vez. Callan mantinha seu olhar varrendo as sombras, seus instintos em alerta máximo, seu corpo tenso com a antecipação de uma luta.

Depois de um tempo, Liana sussurrou, “Você já se perguntou o que os leva a nos perseguir? Não é como se fôssemos atrás de problemas.”

A mandíbula de Callan se apertou, sua voz um murmúrio baixo. “Medo, principalmente. Ignorância. Eles nos veem como uma ameaça, algo a ser controlado.”

“Controlado,” ela repetiu, um tom amargo em sua voz. “Engraçado como os que gritam mais alto sobre monstros são os verdadeiros monstros.”

Ele a olhou, captando o lampejo de dor em seu olhar, rapidamente mascarado por sua habitual calma dura. Ele queria perguntar mais, desvendar as camadas do passado que moldaram sua desconfiança, mas não era o momento. Talvez mais tarde, quando essa tensão estivesse para trás—se tivessem sorte o suficiente para ver o outro lado dessa noite.

Eles chegaram a uma crista baixa com vista para um vale estreito. Callan sinalizou para que parassem, agachando-se atrás de uma grande rocha, seu olhar varrendo a extensão sombreada abaixo. O brilho fraco de metal chamou sua atenção—um brilho opaco entre as árvores, mal visível, mas inconfundível.

“Ali,” ele sussurrou, sua voz mal um sopro. “Vê?”

Liana assentiu, sua expressão se aguçando. “Pelo menos três deles. Armados.”

Ele estudou as figuras abaixo, notando a maneira como se moviam, cada passo calculado, cada gesto cauteloso. Esses não eram amadores. Eles se moviam com propósito, seus olhos atentos, suas posturas tensas, como se esperassem resistência.

“Não podemos enfrentá-los de frente,” Callan murmurou, sua mente correndo. “Não só nós dois.”

Um sorriso lento curvou os lábios de Liana. “Então não enfrentamos. Levamos eles para uma armadilha.”

Ele ergueu uma sobrancelha, intrigado apesar de si mesmo. “E como você propõe fazer isso?”

Ela apontou para a crista que contornava o vale. “Se nos movermos rápido o suficiente, podemos dar a volta, fazer algum barulho e levá-los direto para Finn e os outros. Teríamos a vantagem da surpresa.”

Callan considerou o plano dela, a lógica dele se encaixando perfeitamente com a posição atual deles. Era arriscado, mas se executado corretamente, poderia mudar o equilíbrio a favor deles.

“Certo,” ele concordou, assentindo. “Mas se algo der errado—”

Ela o interrompeu com um sorriso feroz. “Improvisamos.”

Ele não pôde evitar a risada silenciosa que escapou, apesar da seriedade da missão deles. “Você realmente não se importa, não é?”

“Nunca vi sentido nisso,” ela respondeu, seu olhar brilhando com um toque de desafio. “Cuidado é chato.”

Eles trocaram um breve olhar, um acordo tácito acendendo entre eles, e então partiram, movendo-se rapidamente, mas silenciosamente ao longo da crista. O coração de Callan batia em sincronia com o ritmo de seus pés, seu foco se estreitando na tarefa à frente. Ele podia sentir a presença de Liana ao seu lado, seus movimentos fluidos e precisos, cada passo em perfeita harmonia com o dele.

Eles chegaram à borda do vale, longe o suficiente para evitar serem vistos, e Callan soltou um assobio agudo e penetrante. Os caçadores abaixo congelaram, suas cabeças se virando rapidamente, olhos varrendo a crista em busca da origem do som.

Liana avançou, quebrando um galho e mexendo em um ramo baixo, atraindo ainda mais a atenção deles. Alguns dos caçadores murmuraram entre si, confusão misturada com suspeita.

“Vamos,” ela sussurrou, sua voz tensa com adrenalina.

Eles correram pelas árvores, fazendo apenas barulho suficiente para garantir que os caçadores os seguissem, depois desviando para o caminho que os levaria ao ponto da emboscada. Enquanto se moviam, Callan ouviu o leve farfalhar das folhas atrás deles, sinalizando que os caçadores haviam mordido a isca.

“Mais rápido,” ele instigou, sua voz mal um murmúrio. Eles passaram por um trecho denso de vegetação rasteira, entrando na clareira onde Finn e seu grupo esperavam, escondidos entre as árvores.

Finn encontrou o olhar de Callan, seus olhos afiados e prontos. Sem uma palavra, Callan sinalizou para ele, um gesto rápido que transmitia tudo—os caçadores, a emboscada, a urgência.

Finn assentiu, então levantou a mão, um comando silencioso que colocou sua equipe em posição. A floresta caiu em um silêncio expectante, cada lobo na clareira tenso e preparado, esperando pelo inevitável.

Momentos depois, o primeiro dos caçadores entrou na clareira, sua expressão mudando de cautela para choque ao perceber o círculo de lobos ao seu redor. Sua mão foi para a arma, mas ele foi tarde demais. Finn se moveu como uma sombra, deslizando por trás dele e arrancando a arma com brutal eficiência.

Os outros avançaram, lobos cercando os caçadores restantes com precisão rápida e coordenada. Callan observou enquanto sua matilha mantinha os intrusos à distância, seu olhar se voltando para Liana, que estava ao seu lado, um leve sorriso de satisfação em seus lábios.

Mas, assim que a vitória parecia ao alcance, um estalo repentino ecoou—um tiro, quebrando o silêncio, enviando uma onda de choque pela clareira. Um dos caçadores havia escapado, arma levantada, sua mira apontada para Finn.

Sem pensar, Callan avançou, seu corpo movendo-se por instinto, seu único pensamento proteger sua matilha, seu povo. O olhar do caçador encontrou o dele, um lampejo de medo cruzando seu rosto, mas ele firmou sua pegada, dedo no gatilho.

E então, antes que ele pudesse disparar, Liana estava lá, um borrão de movimento enquanto ela derrubava o caçador, jogando-o no chão. A arma deslizou de suas mãos, e em um instante, o perigo foi neutralizado.

Eles ficaram ali, respirando pesadamente, o rescaldo se assentando sobre eles como uma nuvem escura. O olhar de Callan encontrou o de Liana, um agradecimento silencioso passando entre eles. Mas não havia tempo para alívio.

Os caçadores os haviam encontrado. E agora, mais do que nunca, eles voltarão.

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