Capítulo 6: Traição que vem de dentro
O silêncio que se seguiu à emboscada estava carregado de tensão. As sombras se estendiam longas pela clareira enquanto os lobos permaneciam em silêncio, cada um processando o que acabara de acontecer. Callan sentia seu coração batendo forte, a adrenalina ainda correndo enquanto ele olhava para os rostos de sua alcateia, seu olhar se fixando em Finn, que se equilibrava após o susto. Liana estava a alguns passos de distância, sua respiração desacelerando, seu olhar duro enquanto encarava o caçador desarmado deitado a seus pés.
Ela lançou um último olhar de desprezo para o homem, depois olhou para Callan. "Acha que eles entenderam o recado?"
"Talvez," Callan respondeu, sua voz sombria. "Mas duvido que isso os pare. Se alguma coisa, só vai empurrá-los mais."
O maxilar de Liana se apertou, mas ela assentiu, sua expressão inabalável. "Então continuamos resistindo. Eles não são invencíveis."
"Verdade," Finn interveio, seu olhar alternando entre Callan e Liana. "Mas nós também não somos. Mais cedo ou mais tarde, eles vão encontrar uma maneira de passar por nossas defesas, especialmente se conhecerem nossos padrões." Ele fez uma pausa, olhando ao redor para os membros da alcateia que se reuniram. "Não podemos contar apenas com a força bruta. Precisamos de um plano. Um plano mais inteligente."
Callan encontrou o olhar de Finn, reconhecendo o peso de suas palavras. Sua alcateia sempre foi sua força, seu escudo. Mas agora, contra caçadores com recursos, armas e uma vontade implacável, ele não podia ignorar as falhas em suas defesas. Eles precisavam se adaptar, repensar todas as estratégias em que sempre confiaram.
"Certo," Callan disse, sua voz baixa mas determinada. "Vamos nos reagrupar esta noite. Todos descansam e se recuperam. Amanhã, discutiremos novas estratégias." Ele deixou seu olhar percorrer o grupo, notando a tensão em suas posturas, a preocupação não dita gravada em seus rostos. "Isso não é mais apenas sobre sobrevivência. É sobre proteger tudo pelo que lutamos."
Os lobos assentiram, alguns murmurando em concordância, outros trocando olhares inquietos. O peso do medo coletivo pairava no ar, mas por baixo disso, Callan viu algo mais—uma determinação feroz, uma disposição para lutar.
Enquanto os membros da alcateia se dispersavam lentamente, Callan se virou para Liana, que o observava com uma expressão que ele não conseguia decifrar. Seus olhos eram intensos, inabaláveis, como se ela estivesse tentando ver além da máscara que ele usava há tanto tempo.
"O que foi?" ele perguntou, um pequeno sorriso brincando em seus lábios. "Tem algo no meu rosto?"
Ela balançou a cabeça, cruzando os braços enquanto o estudava. "Você está disposto a arriscar muito por eles. Mesmo sabendo contra o que está lutando."
"Isso é o que significa ser um Alfa," ele respondeu simplesmente, mas seu olhar não vacilou.
"Nem todo Alfa faria isso. Alguns fugiriam, salvariam a si mesmos."
"Isso não é uma opção." Seu tom era firme, definitivo.
Ela deu uma risada suave, embora não houvesse humor em seus olhos. "Conheci alguns líderes na minha vida. Nem todos ficariam e lutariam pela alcateia. Eles salvariam a si mesmos primeiro, talvez alguns dos mais fortes. Deixariam o resto se virar sozinho."
Callan sustentou o olhar dela, entendendo mais do que gostaria de admitir. "Não é assim que fazemos as coisas aqui."
Ela o estudou por mais um momento, depois assentiu, como se tomasse uma decisão. "Bom saber."
Ele se virou, fazendo um gesto para que ela o seguisse enquanto caminhavam de volta para a aldeia. O silêncio se estendeu entre eles, pesado com perguntas não ditas e memórias não compartilhadas. Callan queria perguntar o que ela tinha visto, o que a transformara nessa pessoa reservada e de bordas afiadas que mantinha o mundo à distância. Mas ele se conteve, sentindo que as barreiras dela eram altas por um motivo e que ela não estava pronta para deixá-lo—ou qualquer outra pessoa—ver além delas.
Finalmente, ela quebrou o silêncio. "Esse seu plano... acha que vai funcionar?"
"Tem que funcionar," ele respondeu, embora pudesse ouvir a dúvida em sua própria voz. "Estamos enfrentando pessoas que nos veem como nada mais do que ameaças. Eles não vão parar até que estejamos mortos, ou eles."
Liana assentiu, seu olhar distante. "Então vamos garantir que sejam eles."
Eles chegaram à beira da aldeia, onde as casas estavam espalhadas, cada uma lançando longas sombras sob o luar. Callan parou, virando-se para encará-la completamente, sua expressão séria.
"Amanhã, vou precisar de você ao meu lado. A alcateia... eles precisam ver que estamos unidos nisso. Que podem confiar em você."
Ela não vacilou, seus olhos encontrando os dele com uma firmeza que ele não esperava. "Eu estarei lá. Mas você sabe que eles não vão me aceitar só porque estou ao seu lado."
"Talvez não," ele concedeu. "Mas é um começo."
Eles ficaram em silêncio, o peso de tudo o que não foi dito pressionando-os. Callan podia sentir o cansaço se instalando, mas sabia que o sono não viria facilmente naquela noite, não com o conhecimento do que estava por vir.
Finalmente, Liana se mexeu, sua expressão suavizando, apenas um pouco. "Você está arriscando muito, Callan. Por mim. Pela alcateia. Eu só... não sei se mereço isso ainda."
Ele olhou para ela, um lampejo de algo mais suave passando por seu olhar. "Confiança não é sobre merecimento. É sobre escolha. E eu estou escolhendo confiar em você. Então não me faça me arrepender."
Ela sustentou o olhar dele, algo não dito pairando entre eles, depois assentiu, um entendimento silencioso passando entre eles.
Sem dizer mais nada, Callan se virou e voltou para a aldeia, deixando-a ali, observando-o desaparecer nas sombras. Ele podia sentir a presença dela atrás dele, mesmo enquanto se afastava, e sabia que, independentemente do que estivesse por vir, ele não enfrentaria isso sozinho.
Quando ele chegou à sua cabana e abriu a porta, um vento frio varreu a aldeia, trazendo consigo uma sensação de presságio.
Callan entrou em sua cabana, fechando a porta atrás de si enquanto o vento sacudia as persianas. Ele se encostou na porta por um momento, deixando o silêncio se instalar sobre ele. Paz era uma coisa rara. E naquela noite, ele sabia que seria passageira.
Sua mente corria com pensamentos sobre os caçadores, as vulnerabilidades da alcateia e o pequeno vislumbre de força que ele havia visto em Liana. Ele não era ingênuo—sabia que confiar nela era um risco. Mas a disposição dela em ficar ao lado deles, em enfrentar o perigo sem hesitação, sugeria algo mais profundo do que a desconfiança que ela usava como armadura.
Uma batida suave quebrou o silêncio. Callan se virou, sentindo quem era antes mesmo de abrir a porta.
Finn estava lá, parecendo tão exausto quanto Callan se sentia. Sem esperar um convite, Finn entrou, fechando a porta atrás de si. "Achei que você poderia usar um pouco de companhia," disse ele, com um sorriso irônico no rosto.
Callan soltou uma risada baixa, apontando para uma cadeira de madeira gasta perto do fogo. "Achei que você estaria descansando."
"Descansar?" Finn afundou na cadeira, passando a mão pelo cabelo. "Não esta noite. Não com tudo o que está acontecendo."
Callan se acomodou em frente a ele, deixando o silêncio pairar, ambos perdidos em seus pensamentos por um momento. Finalmente, Finn falou, sua voz baixa mas firme. "Você sabe que eles estão falando, certo? A alcateia. Eles estão preocupados."
Callan assentiu, sem surpresa. "Eu ficaria mais preocupado se não estivessem."
Finn encontrou seu olhar, sua expressão sombria. "Mas é mais do que preocupação. Alguns deles não acham que podemos vencer isso. Eles acham que os caçadores são fortes demais, que é só uma questão de tempo."
"Então é meu trabalho provar que eles estão errados," Callan respondeu, uma determinação silenciosa se instalando sobre ele.
Finn se inclinou para frente, sua voz suavizando. "E Liana? Você confia tanto nela assim?"
O maxilar de Callan se apertou. Ele sabia das dúvidas que seu amigo nutria—a lealdade de Finn era primeiro para a alcateia, e qualquer um que ameaçasse essa lealdade, mesmo indiretamente, era um risco. Mas Callan havia feito sua escolha.
"Confio o suficiente," ele disse finalmente. "Ela está aqui porque quer estar. Ela poderia ter ido embora uma dúzia de vezes, mas não foi."
Finn ficou em silêncio por um momento, considerando isso. Então ele assentiu lentamente, como se aceitasse, mesmo que não concordasse totalmente. "Certo. Vou apoiar sua decisão, Callan. Você sabe que vou."
"Obrigado." A voz de Callan suavizou, e por um momento, a tensão entre eles diminuiu, substituída pela familiaridade de anos de batalhas compartilhadas e confiança não dita.
Finn se recostou, esticando as pernas em direção ao fogo. "Então, qual é o plano?"
"Não podemos esperar que eles ataquem novamente," Callan disse, a resolução em sua voz inabalável. "Vamos enviar patrulhas de reconhecimento, pequenas o suficiente para não serem notadas. Precisamos entender seus movimentos, descobrir onde estão escondidos e quantos são. A alcateia precisa ver que estamos tomando uma atitude."
Finn assentiu pensativamente. "E Liana? Onde ela se encaixa nisso tudo?"
"Ela vai comigo. Se algo der errado, quero ela onde eu possa mantê-la sob vigilância." Ele hesitou, depois acrescentou, "E ela conhece essas florestas. Melhor do que eu esperava."
Finn levantou uma sobrancelha, um brilho de algo que poderia ser diversão em seus olhos. "Parece que você está começando a vê-la como mais do que apenas uma forasteira."
"Talvez," Callan admitiu, um leve sorriso surgindo no canto de sua boca. "Ou talvez eu esteja apenas me acostumando com a teimosia dela."
Eles compartilharam uma risada silenciosa, o som aliviando um pouco da tensão na sala. Mas logo se dissipou, substituído pelo peso do que estava por vir.
A expressão de Finn ficou séria. "Estamos com você, Callan. Não importa o que aconteça. Só... não carregue tudo sozinho. A alcateia precisa de você."
Callan assentiu, seu olhar firme. "Eu sei. E não vou. Mas a alcateia precisa ver força, Finn. Eles precisam acreditar."
"Então vamos dar a eles algo em que acreditar," Finn respondeu, batendo uma mão no ombro de Callan antes de se levantar. "Descanse um pouco. Você vai precisar."
Callan observou enquanto Finn saía, as palavras de seu amigo permanecendo muito depois que a porta se fechou atrás dele. Ele sabia o que Finn não havia dito em voz alta—cada escolha que Callan fazia agora, cada risco que ele corria, era um fio no tecido frágil que mantinha seu mundo unido.
Ele olhou pela janela, vislumbrando um movimento perto da borda da aldeia. Uma figura solitária estava nas sombras, mal visível, mas inconfundível. Liana. Mesmo de longe, ele podia ver a tensão em sua postura, a maneira como ela parecia pronta para lutar ou fugir a qualquer momento.
Contra seu melhor julgamento, ele abriu a porta, saindo para o ar noturno. "Não conseguiu dormir?" ele chamou, sua voz baixa.
Ela se virou, surpresa, mas rapidamente disfarçou com um sorriso calmo. "Acho que não estou acostumada a ficar em um só lugar."
Ele caminhou até ela, ficando ao seu lado enquanto olhavam para a aldeia silenciosa. A quietude da noite parecia uma coisa frágil, facilmente quebrada pela ameaça que pairava além das árvores.
"Eles estão com medo," ela murmurou, seu olhar distante. "A alcateia. Eu posso sentir."
"Eu também," ele respondeu, seu tom sombrio. "Mas o medo pode ser uma coisa poderosa. Pode te empurrar a lutar mais, a proteger o que mais importa."
Ela olhou para ele, um toque de vulnerabilidade em seu olhar. "E se eles perderem a fé? E você?"
Ele encontrou o olhar dela, a intensidade em seus olhos inabalável. "Então eu vou dar a eles um motivo para acreditar de novo."
Um silêncio se instalou entre eles, pesado mas confortável, um entendimento mútuo que ia além das palavras. Liana voltou seu olhar para a aldeia, sua expressão suavizando enquanto observava as casas quietas aninhadas entre as árvores.
"Eu entendo por que você luta tanto por eles," ela disse, sua voz mal mais do que um sussurro. "Por que arriscaria tudo para manter este lugar seguro?"
Ele olhou para ela, o vínculo não dito entre eles se fortalecendo a cada momento compartilhado. "Porque vale a pena. E eles também."
Eles ficaram ali, lado a lado, o peso de suas escolhas pressionando-os, mas nenhum dos dois estava disposto a se afastar. A noite se estendeu, os primeiros sinais do amanhecer começando a aparecer no horizonte.
E naquele momento, sob o olhar atento do sol nascente, ambos sabiam que não havia como voltar atrás.











































































































































































