CAPÍTULO 2 — NÃO É SUFICIENTE

Cuidado... Eles são como moedas de duas caras. Não é porque sorriem que estão do seu lado.

Celeste subiu as escadas trêmula. Ela já havia ultrapassado seus limites e agora estava no território de Zillon; em sua terra, em sua varanda.

Ela não podia negar o nervosismo que a dominava, podia sentir seu coração batendo forte no peito, podia até ouvi-lo; os batimentos rápidos e densos que soavam como passos apressados.

Com profunda ansiedade, seus olhos se voltaram para a porta que se erguia à sua frente. Deveria bater?

Deveria, não deveria? Mas ela não conseguia.

O cheiro dele era tão forte quanto na noite em que ele a marcou. O potente aroma de flores de lótus e madeira cortada. Era enlouquecedor, despertava nela um senso de necessidade; um que a fazia ansiar por ele, seus braços que proporcionavam segurança, e seus lábios que 'deveriam' ser capazes de lhe dar palavras de encorajamento, especialmente depois do que ela suportou no caminho até ali.

As palavras de sua irmã haviam crescido como uma videira em sua cabeça, embora seu pescoço já tivesse sido reivindicado por Zillon, Celeste não podia deixar de temer o ato dele colocar sua irmã acima dela.

Essa é uma das razões pelas quais ela não conseguia se forçar a bater na porta. Zillon provavelmente a lembraria novamente que marcá-la foi um erro, ele provavelmente até diria que sua irmã era quem ele desejava, quem ele eventualmente acasalaria... e isso rasgaria Celeste por dentro.

Dando um passo trêmulo para trás, os olhos de Celeste se fixaram em seus pés ou, melhor dizendo, nos velhos tênis que os cobriam. Um companheiro, como ela ansiava por ter um, mas infelizmente, seu companheiro não era totalmente dela.

Lágrimas, aquelas que ela estava segurando, picaram seus olhos, ainda mais quando o cheiro dele ficou mais forte, envolvendo-a em seu calor. Passos se aproximando do outro lado da porta saudaram seus ouvidos sensíveis e, em pânico, ela deu mais um passo para trás.

Ele provavelmente havia captado um cheiro dela, provavelmente ouviu seus passos ansiosos, ele provavel—

O coração de Celeste saltou quando a porta marrom foi aberta, e à sua frente, seu crush, seu companheiro, seu tudo estava.

Seus olhos viajaram por suas pernas até olharem diretamente nos dela, e de alguma forma, o contato visual fez suas pernas ameaçarem deixá-la instável.

Era o vínculo de companheiro, ela sabia, podia sentir a atração, um fio invisível que a forçava a se aproximar, mas com todo seu coração, ela ignorou e enxugou os olhos lacrimejantes. "E-Eu vim." Ela sorriu trêmula.

Zillon assentiu, olhos a avaliando com malícia. "Certo, entre."

Ele abriu a porta mais, afastando-se para que ela pudesse passar por ele. "Seu quarto é o mais distante do meu. Tudo sobre você é imundo, seu cheiro faz minha boca ter um gosto amargo, por favor, fique fora do meu caminho. Não fale comigo, não olhe para mim, apenas fique no seu quarto." Ele fechou a porta no momento em que a mala dela entrou. "Você pode comer, há comida na geladeira e nas sextas-feiras, eu caçarei carne para você como seu companheiro, mas você não é nada além disso; uma companheira indesejada."

O coração de Celeste se partiu em dois, não, em três, ou talvez agora estivesse despedaçado em muitos pedaços. As palavras dele eram afiadas como uma faca, cortando seu caminho em seu peito.

Sua loba uivava como um cão ferido em sua cabeça, e a dor a castigava como se tivesse sido chicoteada. "E-Eu..."

Lágrimas escorriam por suas bochechas, seus joelhos fracos a ponto de precisar se segurar nas paredes para se manter firme. "Eu... Eu sinto muito..."

Zillon a olhou com desdém. "Por quê?"

"Por... por não ser suficiente."

"Você não precisa se desculpar, não é sua culpa, é culpa da deusa da lua por sequer pensar em te criar."

Com isso, ele passou por ela, mãos nos bolsos. "E deixe-me ser mais específico." Ele parou na esquina. "Seu quarto é o último à direita no andar de cima, o meu é o primeiro, não chegue perto dele."

E então ele desapareceu.

Celeste desabou contra a parede, mão apertada contra o peito. O vínculo de companheiro ainda era forte, mas a dor era mais forte. Corria por seu corpo como se fosse o sangue em suas veias. Parecia fogo, queimando incessantemente, mas ela superaria, por Zillon, ela poderia fazer qualquer coisa.

Ela mostraria a ele, ela garantiria que ele visse seus esforços, ela exibiria o quão forte era seu amor por ele, quão abundante. Certamente isso mudaria a maneira como ele pensava sobre ela, ele indubitavelmente sentiria o mesmo.

Levantando-se da parede, ela enxugou os olhos mais uma vez e cambaleou mais para dentro da casa. O cheiro de Zillon estava impregnado no interior, era tão forte que parecia estar entupindo suas narinas. Deveria ser um sinal de segurança, afinal, ele era seu companheiro, mas tudo o que ela sentia era nervosismo e a dor persistente em seu peito.

Mas isso passaria, e um dia não muito distante, ela se sentiria segura em um quarto que só continha o aroma dele.

Virando a esquina, seus olhos vagaram pelo que ela sabia ser a sala de estar. Consistia em sofás, uma mesa de vidro, uma televisão e tapetes grossos espalhados pelo chão.

Desviando o olhar deles, seus olhos encontraram as escadas, subindo até o quarto onde Zillon residia. Ela podia ouvi-lo, seus passos, suas respirações instáveis... ela podia senti-lo também, o vínculo de companheiro tornava isso mais do que possível, mas apesar do fato de que isso a puxava para ele, ela passou pelo quarto dele e foi para o que ele a havia direcionado.

Lá, ela desfez suas coisas no armário vazio que encontrou, e então se deitou, bastante cansada, na cama.

Ela esperaria, um dia ele iria querer ela, e seria o dia mais feliz de sua vida. Compensaria a dor em seu peito, pelas palavras desrespeitosas que ele lhe disse, e pela maneira dura como ele a olhou...

E nesse dia, seu Zillon também seria feliz.



A/N// Ela é tão confiante, você acha que isso vai acontecer algum dia? Me conte nos comentários.

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