O peso da vergonha

Eu nem tive muito tempo para recuperar meus sentimentos antes que a porta fosse aberta sem aviso. Rapidamente cobri meu corpo nu com o lençol e fiquei um pouco aliviada ao ver que era Morgana, a mãe de Michael.

Uma expressão de profunda reprovação apareceu em seu rosto no momento em que ela notou meu estado.

"Por que você está chorando?" Ela perguntou, de forma bastante ríspida.

Eu a encarei em silêncio, sabendo que ela não se importaria com o motivo de eu estar assim.

"Você não sabe que chorar numa situação dessas pode trazer má sorte para a família?" Ela perguntou, com os braços na cintura.

"Michael é seu marido, seu companheiro, e seu Alfa, então você tem que aceitar tudo o que ele faz com você sem reclamar, pois é seu dever." Ela repreendeu enquanto se aproximava lentamente de mim.

Eu balancei a cabeça lentamente em resposta às suas palavras injustas. Ela sempre foi assim; sempre fechando os olhos para o mau tratamento dos filhos em relação a mim. Eles eram seus anjos preciosos e nunca poderiam fazer nada de errado aos seus olhos.

"Agora... vista-se rapidamente, você tem que trabalhar agora. Vou te dar uma lição dura se algo der errado no grande dia do meu precioso neto por causa da sua preguiça." Ela ordenou e me deu um último olhar de desgosto antes de sair do quarto.

Imediatamente após Michael e eu nos casarmos, sua irmã Jota encontrou seu companheiro destinado e eles se casaram. Não demorou muito para ela engravidar e amanhã é o primeiro aniversário da criança.

Como se ser continuamente intimidada não fosse suficiente, eu me tornei uma serva imediatamente após a morte do pai de Michael. Mesmo havendo muitos empregados para fazer o trabalho, ainda me faziam fazer a maioria das tarefas.

Como resultado disso, todos os empregados me veem como nada além de uma mera escrava que estava abaixo deles. Suspirei profundamente e me levantei da cama com dificuldade, pois minhas pernas ainda não tinham se recuperado do evento anterior.

Entrei no closet e imediatamente vesti uma calça e uma camiseta. Não tive tempo para me lavar porque não queria que Morgana me chamasse pela segunda vez. Eu sabia o que aconteceria se eu demorasse mais.

Depois de me vestir, comecei a trabalhar imediatamente. Ao entrar no meio dos outros empregados, ouvi imediatamente os sussurros suaves e notei os olhares de desgosto que recebia deles.

"Ela finalmente está aqui, de volta ao seu lugar."

"Olhe o que ela está vestindo." Um risinho suave seguiu essa declaração.

"Eu me pergunto o que o Alfa vê nela para torná-la sua companheira de cama." Alguém sussurrou, me fazendo dar um sorriso triste.

Nem mesmo qualquer empregado acreditaria que eu era sua companheira com a forma como Michael, sua amante e sua família me tratavam abertamente.

"Compartilhar a cama com o Alfa nunca te dará um status mais alto. Quero dizer, olhe para ela... ela é apenas uma prostituta fraca que está abaixo de nós, meros empregados." Outro murmurou e o resto deles explodiu em risadas.

Baixei a cabeça em silêncio, tentando conter minha dor e raiva. Respirei fundo como uma forma de me acalmar. Eu sabia que nada resultaria de iniciar uma briga com eles.

Como eu poderia vencer quando não conseguia fazer um som para me defender? Eu só podia ignorá-los e continuar com o trabalho que me foi atribuído. Depois de trabalhar incessantemente por várias horas, finalmente terminamos os preparativos.

Jota queria que fosse um grande evento, então levou mais tempo e esforço para organizar o lugar. Eu queria voltar para o meu quarto e tirar uma pequena soneca antes que o evento começasse completamente, quando uma empregada passou por mim, me empurrando rudemente no processo.

Como resultado de seu empurrão violento, perdi o equilíbrio e caí no chão duro. Segurei minhas costas, esperando que meu bebê não estivesse machucado.

Em vez de se desculpar, a empregada sorriu maliciosamente para mim e murmurou "Vaca estúpida..." antes de se afastar.

Percebendo que ela fez isso de propósito, a raiva me fez levantar e caminhar em direção a ela. Eu a virei para me encarar e dei um tapa quente em seu rosto, fazendo-a cambalear um pouco para trás.

Ela segurou a bochecha vermelha com os olhos arregalados, não esperando que eu revidasse.

"Você acabou de me dar um tapa!!" Ela gritou no topo de sua voz enquanto eu a respondia com um olhar feroz nos olhos.

Ela levantou a mão com raiva e estava prestes a revidar quando de repente parou no meio do ar. Notei como seus olhos tremiam de medo e ela rapidamente recuou a mão.

"Alpha..." Ela murmurou com uma pequena reverência e foi então que percebi que não estávamos sozinhos.

"Sai..." Michael ordenou com sua voz profunda e ela saiu correndo imediatamente, como se suas calças estivessem pegando fogo. Virei-me para encará-lo surpreso, me perguntando por que ele a havia mandado embora em vez de assistir os outros me humilharem como costumava fazer antes.

"Você!!" Ele disse enquanto de repente agarrava meu ombro com força, puxando-me para ele. Eu não consegui nem gemer, embora sentisse que poderia desmaiar a qualquer momento sob sua violência.

Ele é um lobo Alfa, cujo poder era dez vezes mais forte do que um ômega sem lobo como eu.

"Não tenha ilusões. Hoje é o aniversário do meu sobrinho e quero que tudo seja perfeito."

"Espero que você faça como sempre faz, fique fora da minha vista e evite chamar atenção para si. Espero ter sido claro??" Ele perguntou enquanto apertava mais o meu ombro.

Um soluço suave saiu da minha boca enquanto eu assentia em entendimento. Ele soltou um pequeno 'humph' antes de me soltar e se afastar. Fiquei no meu lugar enquanto o via desaparecer da minha vista.

Suas costas frias pareciam ser o que ele mais tinha me deixado desde que nos acasalamos. Michael sempre prezava sua família, mas isso não me incluía. Mais uma vez, meus olhos caíram na minha barriga lisa. A memória de como perdi meu primeiro bebê ainda era vívida. E desta vez? Michael aceitaria este bebê?

Eu não tinha resposta. Felizmente, não houve mais problemas após aquele intervalo. A festa finalmente começou e o salão estava lotado com muitos convidados.

Jota era uma mulher bem conhecida e, mesmo com seu caráter horrível, ainda conseguia reunir aliados ricos e poderosos por onde passava. Eu estava em um canto distante, observando silenciosamente enquanto toda a família se reunia feliz.

Todos olhavam as estrelas do dia com deleite. Meus olhos estavam cheios de inveja enquanto observava Jota sentada ao lado do marido com o filho nos braços.

Ela tinha tudo o que eu sempre sonhei, um marido e uma família amorosos. Pensei na minha própria gravidez, imaginando como seria finalmente poder carregar meu bebê nos braços.

Enquanto eu estava profundamente imersa em meus pensamentos, de repente ouvi meu nome sendo chamado. Jota havia acenado para que eu lhe oferecesse a bebida. Isso me tornou finalmente visível para os convidados, mas ninguém saberia que eu era realmente a Luna de Michael.

Eu estava acostumada com o gosto dela de me comandar como uma rainha, mas não esperava que sua qualidade fosse tão baixa quando ela sussurrou no meu ouvido.

"Fiona, você deve estar muito invejosa agora, não é?"

Olhei rapidamente para sua expressão de satisfação, sabendo que não sairia nada de bom da sua boca.

Eu queria sair, mas ela agarrou minha mão.

"Aposto que você nunca terá um momento tão bonito como este," Ela começou.

"Afinal, sua mudez seria passada para seus filhos. Caso contrário, por que você acha que meu irmão ficou tão repulsado com sua gravidez antes?"

Cerrei os punhos, mas não consegui parar de tremer de raiva.

Ela sabia que minha incapacidade de falar não era hereditária, mas simplesmente não queria perder nenhuma chance de me humilhar. Ela sabia exatamente o quanto eu sofri quando fui forçada a desistir do meu primeiro filho, mas ela simplesmente gostava disso.

"Confie em mim, ninguém iria querer uma muda como você na família. É melhor desistir cedo e libertar meu irmão." Como se não visse minha dor, ela se virou para segurar os braços de Michael como uma irmã mimada.

"Irmão, quando você vai se divorciar e se casar com a Prisca? Nossa matilha precisa de uma Luna mais decente e um herdeiro forte."

Eu queria fazer algo para me defender, mas quando meus olhos encontraram o olhar de aviso de Michael, recuei imediatamente, o que fez Jota sorrir ainda mais para mim.

"A condição dela não é hereditária, então não há como qualquer descendente dela ter a condição dela." Ele disse de repente, me deixando paralisada no lugar.

A boca de Jota também caiu de choque. Fazia muito tempo desde que ele se levantou por mim desde que nosso vínculo foi confirmado.

"Mas ainda assim, eu nunca permitiria que uma ômega fraca e sem lobo como ela tivesse meus filhos." Ele acrescentou, fazendo o sorriso voltar ao rosto maldoso de Jota e me afundando em um inferno de gelo extremo.

Então, esse era seu verdadeiro coração, não era? Ele ainda odiava ter um filho comigo... então, e quanto ao filho que estou carregando agora? Eles fariam a mesma coisa horrível com ele de novo?

Continua...