Hades

A noite estava anormalmente fria, o tipo de frio que penetra nos ossos e faz você sentir como se nunca mais fosse se aquecer. Eu envolvi meu manto mais apertado ao meu redor, tremendo enquanto olhava para o homem à minha frente.

"Valerie," a figura disse, sua voz um sussurro assombroso que parecia ecoar pela clareira. "Esse é o seu nome, não é?"

Eu não disse nada, não querendo negar nem confirmar nada.

"Q-quem é você?" perguntei em vez disso. Era melhor evitar qualquer pergunta que pudesse me colocar em apuros com o conde mais tarde.

Ele deu um passo à frente, sua forma se tornando mais clara. Ele era alto e imponente, seu rosto ainda escondido sob um capuz. Sua presença era esmagadora, um peso frio e sufocante que pressionava sobre mim. "Eu queria ver você," ele disse simplesmente. "Há algo diferente em você. Eu senti sua presença assim que você chegou."

Um arrepio percorreu minha espinha. "Diferente? Como?"

Ele inclinou a cabeça, me estudando com uma intensidade que me fez sentir exposta, como se ele pudesse ver através de mim. "Sua alma é diferente de qualquer outra que eu já encontrei. É... única. E eu a quero."

Meu coração deu um salto. "A-alma?" Eu estava respirando mais rápido do que esperava. A floresta parecia mais densa do que alguns minutos atrás.

A Morte sorriu, uma expressão gelada que não continha calor. "Eu coleciono almas, Valerie. É o que eu faço. E a sua é particularmente intrigante. Há um poder dentro de você, algo que a distingue dos outros."

Dei um passo para trás. "O que você é?"

Ele tirou o capuz do rosto, revelando o rosto mais impecável que eu já tinha visto. "Alguns me chamam de Morte, outros me chamam de Kali," ele disse, se aproximando e parecendo muito mais intimidante de perto. "Mas eu prefiro um nome mais casual, sabe, Hades."

Dei outro passo para trás, minha mente correndo. "Você não pode ter minha alma," eu disse, minha voz tremendo. "Eu não estou pronta para morrer."

A Morte riu, um som que enviou calafrios pela minha espinha. "Não se trata de morte, Valerie. Trata-se do que você pode oferecer. Sua alma possui um potencial que pode ser aproveitado, um poder que pode mudar tudo."

Eu balancei a cabeça, medo e confusão girando dentro de mim. "Eu não entendo. O que você quer de mim?"

Ele se aproximou mais, seu olhar penetrante. "Eu quero você, isso é tudo que vou dizer."

O ar ao nosso redor parecia ficar mais frio, as sombras se aproximando mais. "E se eu recusar?" perguntei, minha voz mal acima de um sussurro.

O sorriso da Morte desapareceu, substituído por uma expressão de determinação fria. "Recusar não é uma opção, Valerie."

Sem pensar muito ou mesmo conectar meu cérebro aos meus pensamentos, eu corri. Corri o mais rápido que minhas pernas podiam me levar, ameaçando cair várias vezes.

Parecia que eu não estava correndo rápido o suficiente, porque cada vez que eu olhava para trás, lá estava ele, olhando para mim com aqueles olhos sem alma, sem se importar com nada.

Ele poderia muito bem cruzar as pernas e tomar chá para deixar seu ponto bem claro.

"Você terminou?" ele disse, olhando para mim com um tédio no rosto.

Não fazia sentido. Eu tinha corrido para o outro lado da floresta enquanto ele mal se movia de sua posição, e ainda assim parecia que ele estava me seguindo sem mover um dedo.

"P-por favor, eu não posso morrer. Meu pai, ele iria me lamentar, eu não posso fazer isso com minha família." Ele olhou diretamente nos meus olhos antes de sorrir.

"Todos sabemos que seu pai não moveria um músculo se você desaparecesse."

Ele deu um passo à frente e eu dei um para trás, tropeçando nos meus próprios pés. Levantei-me rapidamente, arranhando meus pés no processo, mas realmente não me importei. Contanto que eu saísse daqui viva.

Minha mente corria enquanto eu tentava bolar um plano, qualquer plano, para escapar. Mas, no fundo, eu sabia que era inútil. Hades não era uma entidade que se podia simplesmente fugir. Ele era a própria Morte, e sempre me encontraria.

Como se convocado pelos meus pensamentos, o ar ficou mais frio, as sombras se aprofundaram. Senti uma presença atrás de mim e me virei, meu coração batendo forte no peito. Hades estava lá, sua figura escura se misturando com a noite, seus olhos brilhando com uma luz assustadora.

"Valerie," ele disse, sua voz um sussurro assombroso que parecia ecoar pelas árvores. "Você não pode escapar de mim."

Eu recuei, minha mente gritando para eu correr, mas meu corpo se recusava a se mover. "Fique longe de mim," eu disse, minha voz trêmula.

Hades deu um passo à frente, seu olhar nunca deixando o meu. "Você estava destinada a isso, Valerie. Sua alma é minha."

O pânico tomou conta de mim, e eu me virei para correr, mas Hades foi mais rápido. Em um instante, ele estava na minha frente, sua mão segurando meu braço com uma força que era ao mesmo tempo gentil e inflexível.

"Me solte!" eu gritei, lutando contra seu aperto. "Socorro!!! Alguém... por favor," eu finalmente desabei. As lágrimas que eu estava tentando segurar caíram livremente.

Ele me puxou para mais perto, traçando suas mãos ao longo do meu rosto.

"Um beijo agradável, e sua alma será minha. Eu prometo, não vai doer," ele disse aquelas palavras com uma sinceridade que eu quase acreditei, até ver seu rosto.

Antes que eu pudesse reagir, os lábios de Hades encontraram os meus. O beijo era frio, como o sopro do inverno, e eu senti um estranho puxão, como se minha própria essência estivesse sendo sugada de mim. Eu lutei, tentando me soltar, mas seu aperto era implacável.

Então, algo incrível aconteceu. Em vez do vazio esmagador que eu esperava, um calor começou a se espalhar por mim. Começou no meu peito, ficando cada vez mais forte, até parecer um fogo ardente. Hades se afastou, seus olhos arregalados de choque e confusão.

"O que...?" ele sussurrou, me encarando como se me visse pela primeira vez.

Eu cambaleei para trás, ofegante, minha mente girando. "O que você fez comigo?" eu exigi, embora soubesse que ele estava tão perplexo quanto eu.

Hades balançou a cabeça, sua expressão de total descrença. "Isso é impossível," ele disse, mais para si mesmo do que para mim. "Nenhuma alma jamais resistiu a mim."

Dei um passo para trás, meu medo se misturando com uma estranha sensação de desafio. "Acho que sou cheia de surpresas," eu disse, tentando soar mais corajosa do que me sentia.

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