Capítulo 2

Jacob.-

A reunião com os alemães interessados em investir no novo projeto foi um sucesso, eles ficaram encantados e o negócio foi fechado com êxito. Infelizmente, foi uma celebração agridoce, pois a conversa com minha mãe na noite anterior não me deixou dormir. Quando ela se empenha em algo, ela consegue. O adiantamento do pagamento dos alemães pelo design do sedã de luxo seria suficiente para pagar o empréstimo dela, mas precisamos começar com a montagem e as despesas operacionais.

— O que aconteceu? — minha assistente e amiga Ronie interrompe meus pensamentos. — Acabamos de fechar um ótimo negócio e você colocou seu sorriso diplomático. O que está acontecendo com você?

— Desculpe, é só que minha mãe conversou comigo ontem à noite. A vovó Clara decidiu dar a presidência das empresas ao neto que primeiro se casar e tiver um herdeiro.

— O quê?! — ela perguntou, levantando a voz com seriedade. — Se casar?

— Sim, Ronie, me casar. E minha mãe já está em busca da candidata perfeita. Ela disse que se eu não aceitasse, me obrigaria a pagar o empréstimo que me deu para abrir esta empresa — desabafei, apoiando a testa na mesa de vidro fria.

— Então se rebela, estamos no século XXI, casamentos arranjados não existem mais. É uma loucura! Ou diga a ela que já está saindo com alguém, diga que... está saindo comigo — ela sugeriu, desconsiderando a seriedade do comentário.

— Você a conhece. Ela nunca acreditaria, nunca consegui mentir para ela. Não temos o mesmo sangue, mas ela me conhece perfeitamente.

— Eu posso ser muito convincente, Jacob. Além disso, sua mãe e dona Clara me adoram. Podemos dizer que ficamos noivos, você me dá um anel e depois dizemos que fugimos para Las Vegas e pronto.

— E o herdeiro? — perguntei, identificando um ponto fraco em sua mentira, que até era boa.

— Bem... — Ela corou e mordeu o lábio inferior. — Não sei, dizemos que sou estéril.

— Não. A ideia é boa, mas não suficiente. Pensei a noite toda em tornar a vida impossível para a mulher que ela escolher. Não me importo se não ficar com a presidência das Empresas Morgan, mas eu não vou me casar! — enfatizei cada palavra como se fosse um mantra.

— Bom, você sabe que tem meu apoio. Se for para fazer uma mulher que aceitar isso por puro dinheiro viver um inferno, eu topo. Porque você é muito bonito, amigo, mas se uma mulher aceita um casamento arranjado assim nesses tempos, é só por puro interesse. E mesmo que seja uma dessas patricinhas que só fazem compras o dia todo e têm um amendoim no lugar do cérebro.

As palavras de Ronie me fizeram pensar. Fazem sentido e seria o pior que poderia acontecer: ter uma mulher ao meu lado com quem preciso ter cuidado. Tudo que tenho foi conquistado com muito esforço, e uma aproveitadora poderia arruinar tudo. Isso me deu uma ideia: se eu provar para minha mãe que a mulher que ela escolheu só quer o dinheiro da família, poderei adiar esse casamento o suficiente para fazer minha empresa crescer, pagar o empréstimo e assim ela não poderá me manipular com essa ideia louca de casamento.

(…)

Natalia.-

Eu fui o manequim da minha tia e das donas das lojas que visitamos procurando por vestidos, sapatos, e agora a última parada no centro de beleza: salão de cabeleireiro, depilação, manicure e pedicure. Está mais do que claro que Jacob Morgan deve ser muito importante, minha tia não estaria gastando uma fortuna na minha aparência se ele fosse um “Zé Ninguém”, como ela diz. Vejo que ela se afasta com a dona do salão e aproveito para indicar à cabeleireira como quero meu novo visual e reforço para a maquiadora não exagerar. Não faz meu estilo parecer um palhaço.

Estava exausta depois do dia que tivemos, só queria me deitar e me entregar aos braços de Morfeu, mas isso era apenas uma ilusão. Ao estacionar em frente à mansão, observei as lindas unhas com manicure francesa que seriam destruídas assim que eu começasse a esfregar os pratos.

— Hoje começou uma nova empregada – Minha tia quebrou o silêncio, como se estivesse lendo meus pensamentos. – Não quero ver você ajudando a Ermita em nada, foque-se nos seus estudos e em se familiarizar com tudo relacionado à família Morgan e a Jacob Morgan, o que a mãe dele gosta, tudo. Você tem que ser a escolhida por ela, não estrague tudo! – Sentenciou com um tom e olhar ameaçadores.

Ao entrar na casa, meu tio estava na sala com uma taça de conhaque numa mão e um charuto na outra.

— Querido, chegamos! Estou exausta – Minha tia se aproximou, deixando um beijo em sua bochecha. Meu tio desviou o olhar para mim, me examinando de cima a baixo, surpreso.

— Querida, você ainda tem o toque! – Minha tia sorriu satisfeita com o elogio, baixei o olhar, ruborizada.

— Leve as compras para o seu quarto e desça para jantar – Ordenou minha tia, focando sua atenção no celular. Assenti, meus olhos se cruzaram com os do meu tio, e um frio percorreu minha espinha ao ver a maneira tão lasciva com que ele me olhou. Peguei as sacolas rapidamente e subi para o meu quarto. O olhar do meu tio me fez sentir desconfortável, nunca me olhou assim antes. Entrei no banheiro, me olhando no espelho para ver se eu parecia diferente, bonita, mais adulta. Neguei rapidamente, com certeza interpretei tudo errado.

(…)

Depois do jantar, conversei apenas alguns minutos com Ermita e a nova garota, Saray, até que o cansaço tomou conta de mim. Meus tios já tinham ido dormir. Eu só precisava de um banho quente e poderia pular na cama para começar minha investigação sobre Jacob Morgan logo pela manhã.

Apesar do clima frio típico de Nova York, optei por uma camiseta regata e um shortinho, não gostava de dormir com quase nada de roupa. Deitei na minha cama, fechei os olhos para descansar e rapidamente entrei num sono profundo.

Um calafrio percorreu minha pele na coxa direita, dedos frios a deslizarem. Pensei que fosse um sonho, mas quando senti uma mão se enfiando na minha entreperna, abri os olhos num sobressalto e meus lábios foram selados por uma mão calejada.

— Sshh! Sobrinha deliciosa! Como meus olhos não viram todos esses anos que uma deusa vivia sob o meu teto? Se eu soubesse, teria cobrado de outra maneira por tudo o que te dei até agora. Mas você ainda tem uma dívida.

Minhas lágrimas umedeceram a mão do meu tio. Eu estava imóvel enquanto ele se deliciava passando a mão livre por todo o meu corpo. Comecei a balançar a cabeça tentando suplicar. Seu hálito de tabaco e álcool me provocava náuseas. Ele cheirou o meu cabelo enquanto enfiava a mão por debaixo da minha camiseta.

— Exquisita – Ele abaixou a mão abrindo suas calças. Isso era um pesadelo. Quando eu finalmente estaria livre, isso acontece. Fechei os olhos, tentando desmaiar para não sentir o que estava prestes a acontecer, quando ouvi um rugido. Abri os olhos de repente. – Maldita seja! –Ele se afastou rapidamente de mim. Não sabia o que tinha acontecido, mas o olhar do meu tio expressava raiva e frustração ao mesmo tempo. – Não pense que você sairá deste lugar sem saldar sua dívida.

Quando a porta se fechou, fiquei imóvel, apenas deixando minhas lágrimas fluírem como uma cascata, sem parar. Pulei da cama para entrar no chuveiro e tentar apagar o nojo de suas carícias no meu corpo.

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo