Um
Eira, 24
Eu não consegui evitar.
Não consegui impedir o sorriso que se espalhava pelo meu rosto enquanto olhava meu reflexo no espelho. Meu vestido de marfim se ajustava perfeitamente, cada detalhe exatamente como eu havia imaginado desde que era uma menina sonhando com este dia.
Felix e eu, após quatro anos de amor, risadas e desafios, finalmente estávamos aqui. Era o dia mais feliz da minha vida.
“Bora Bora, né?” Nyla entrou no meu quarto, seu rosto iluminado pela mesma empolgação que eu sentia. Seus olhos castanhos brilhavam enquanto ela sorria. “Você economizou por tanto tempo para essa viagem de lua de mel.”
“Claro, Bora Bora,” respondi, minha voz leve como o ar. “Só de imaginar estar com o amor da sua vida em um lugar tão perfeito. Você não consegue imaginar, Nyla.”
Sua risada era contagiante, e logo estávamos ambas rindo. Minha irmã sempre foi meu porto seguro, minha maior incentivadora. Vê-la aqui, vestida em um vestido lavanda suave que complementava seu sorriso radiante, quase me fez chorar.
“Você parece uma princesa,” ela disse, sua voz tremendo de emoção. “Eu sabia que o vestido seria perfeito em você.”
Eu me virei, abraçando-a apertado, meu queixo no dela enquanto fechava os olhos para saborear seu cheiro doce. “E você sempre foi minha fada madrinha.”
Antes que qualquer uma de nós pudesse se emocionar demais, nossa mãe entrou no quarto, sua presença tão calorosa e reconfortante como sempre. “Minhas filhas lindas,” ela disse, nos puxando para um abraço apertado. “Eira, está na hora.”
Olhando mais uma vez para o espelho, respirei fundo. Era isso.
Saímos juntas, Nyla segurando meu buquê e mamãe liderando o caminho. A casa estava cheia de conversas e risadas enquanto os convidados circulavam pelo jardim. Papai insistiu que fizéssemos o casamento aqui, e eu tinha que admitir, ele se superou. O gramado extenso, adornado com rosas brancas e luzes douradas suaves, parecia algo saído de um sonho.
Ao chegarmos à escada, mamãe avançou para se juntar ao papai, dizendo que ele estava nervoso e precisava dela para acalmar os nervos.
Um amor como o dos meus pais era tudo que eu sempre sonhei. Eles se amavam incondicionalmente há 27 anos. Eu queria isso.
Felix era tudo para mim, e eu faria qualquer coisa para passar minha eternidade em suas mãos.
Ajustei meu vestido, preparando-me para descer com Nyla ao meu lado. Mas antes que eu pudesse dar o primeiro passo, alguém esbarrou em mim com força, quase me desequilibrando.
Um rasgo alto se seguiu, e eu olhei para baixo para ver uma parte do meu vestido rasgada.
“Meu Deus!” Nyla exclamou antes que eu tivesse a chance de reagir. Sem olhar para ver quem tinha esbarrado em mim e arruinado meu vestido de noiva, ela correu de volta para nosso quarto, xingando excessivamente.
Antes que eu pudesse levantar o olhar da parte rasgada do vestido, uma voz profunda e intoxicante ressoou, enviando um arrepio pela minha espinha.
“Cuidado aí, passarinha.”
Passarinha?
Levantei o olhar, minha respiração parando na garganta. Diante de mim estava um homem que poderia ter sido esculpido em pedra—mandíbula afiada, olhos azuis penetrantes, e um sorriso que parecia uma faca fria contra minha pele. Ele inclinou a cabeça, me observando com uma intensidade predatória que fez meu sangue gelar. Ele era tudo, menos santo.
Seu cheiro invadiu minhas narinas tão agressivamente. Eu posso apostar que nunca esquecerei como ele cheirava por um bom tempo, porque assim como ele, tudo nele faria você perder a consciência.
Sua aparência era comparada ao próprio diabo. Tão sedutora, mas tão pecaminosa, que doía nos olhos continuar olhando.
“Eu arruinei seu vestido, cara mia?” ele perguntou, seu tom firme, mas estranhamente gentil. Não pude deixar de notar a zombaria em sua voz, e por muitas razões que eu não conseguia identificar, tremi com suas palavras.
Tentei falar, mas só consegui fazer um aceno fraco. Italiano. A maneira como ele falava, a mistura de sotaques britânico e italiano, tornava difícil respirar. Como alguém pode ter ambos os sotaques ao mesmo tempo?
Por alguma razão estranha, eu não conseguia falar. De repente, me senti muda.
Seus lábios se contraíram, não em um sorriso, mas em um sorriso sarcástico. Ele parecia gostar do fato de eu ter perdido a voz em sua presença, e eu ainda não conseguia deixar de me perguntar por quê.
Ele se inclinou mais perto, seu hálito quente contra minha bochecha. Tentei me afastar, mas sua mão segurou meu braço antes que eu pudesse, e meu cabelo se arrepiou ao seu toque.
Um suspiro agudo escapou dos meus lábios antes que eu pudesse me conter. Seus olhos se moveram para meus lábios e depois voltaram para meu rosto.
“Espero que isso seja a única coisa que se arruíne hoje, passarinha,” ele sussurrou, seu sorriso sarcástico se ampliando.
Ele acenou com a cabeça, soltou meu braço e recuou. Tão rapidamente quanto ele apareceu, ele se foi, desaparecendo na multidão.
Eu fiquei congelada, sua influência permanecendo muito tempo depois que ele saiu. Eu nem percebi quando Nyla voltou com uma agulha e linha.
“O que foi isso?” Nyla perguntou, sua voz mal acima de um sussurro.
"Eu... Eu não sei," gaguejei, meu coração disparando enquanto me forçava a desviar o olhar de onde o homem havia estado.
Seu cheiro ainda pairava no ar ao nosso redor, me deixando inquieta. Havia algo na maneira como ele falava — algo primitivo que eu não conseguia ignorar.
Quando chegamos ao papai, forcei um sorriso e peguei seu braço na base da escada, no mesmo lugar onde o homem estranho havia segurado. Minhas mãos tremiam enquanto eu o soltava. Ele sorriu para mim. "Pronta, querida?"
Eu assenti, roubando um último olhar para trás. O homem tinha desaparecido. Talvez não fosse nada. Mas a sensação de afundamento no meu estômago dizia o contrário.
"Espero que isso seja a única coisa que se estrague hoje, passarinha."
Suas palavras ecoaram na minha mente, mas o som dos aplausos me trouxe de volta à realidade.
A cerimônia começou, e todos os pensamentos sobre o estranho desapareceram quando vi Felix me esperando no altar. Seu sorriso era tudo — suave, doce e cheio de amor.
"Você está deslumbrante," ele sussurrou quando eu o alcancei.
"E você parece que vai chorar," eu brinquei, arrancando uma risada silenciosa dele.
Os votos passaram como um borrão, as palavras fluindo como poesia entre nós. Quando o padre finalmente anunciou, "Pode beijar a noiva," Felix me puxou para seus braços, seus lábios capturando os meus em um beijo que prometia para sempre.
Fechei os olhos, empurrando o homem predatório para trás. Por um momento, o mundo desapareceu. Mas tão rapidamente quanto havia sumido, ele se despedaçou.
Um estrondo ensurdecedor ecoou, o som reverberando como trovão.
O corpo de Felix se sacudiu contra o meu, e ele de repente ficou mole. Afastei-me, minhas mãos tremendo enquanto olhava para ele.
Ele parecia pálido, e meus olhos desceram até ele.
Um suspiro escapou dos meus lábios enquanto o sangue manchava sua camisa branca imaculada, espalhando-se como uma flor escura e ominosa.
"Felix?" Eu engasguei, minha voz mal audível. O que quer que estivesse acontecendo parecia incompreensível.
Seus olhos encontraram os meus, cheios de dor e medo. Ele segurou seu abdômen, sangue escorrendo do canto de sua boca enquanto caía de joelhos.
"Oh meu Deus!" Eu gritei, estendendo a mão para ele, mas o caos irrompeu ao meu redor.
O som dos tiros ecoava ao meu redor, mas eu estava alheia a tudo enquanto observava o amor da minha vida ficar completamente pálido.
Nesse momento, o padre desabou ao nosso lado, uma poça de sangue se formando sob seu corpo sem vida. Os convidados gritavam e se dispersavam, seus gritos de pânico enchendo o ar enquanto mais tiros eram disparados.
"O que está acontecendo?" Eu gritei, segurando Felix enquanto ele se afastava ainda mais. "Felix, por favor... Por favor, fique comigo. Por favor!"
"Oh meu Deus!" Eu gritei no momento em que ele desabou em minhas mãos. "Não... Felix!"
"Eira!" A voz de Nyla cortou o caos. Eu me virei para ela, apenas para ver um homem segurando uma faca em sua garganta.
Colocando Felix gentilmente no chão, tentei correr em direção a ela, mas antes que pudesse, uma mão me agarrou rudemente, me puxando para trás.
Uma arma foi pressionada contra minha cabeça, o metal frio mordendo minha pele.
"Se mover, ela morre," uma voz rosnou no meu ouvido.
Eu congelei, meus olhos procurando ajuda ao redor. Corpos espalhados pelo chão, rostos torcidos de medo e dor. Meus pais estavam amarrados e amordaçados, suas expressões uma mistura de terror e desamparo.
"Não machuque eles, por favor," implorei, minha voz quebrando. "Por favor..."
"Por favor, não toque na minha família," a voz do papai saiu, trêmula. "O que você quiser, eu..."
"Você vai me dar o que eu quero? Interessante."
Aquela voz, a mesma da escada anteriormente, ecoou, cortando minhas veias como antes. Desta vez, ele parecia zangado ou irritado. Sua voz carregava tanto ódio que eu não conseguia entender.
Levantei minha cabeça para encontrar seus olhos furiosos.
Ele caminhou em minha direção com passos deliberados, seus olhos gelados fixos nos meus.
"Olá, pequena noiva," ele disse, sua voz suave, mas carregada de veneno. O mesmo sorriso cruel brincava em seus lábios.
"Por favor." Eu soluçava, minha voz tremendo. "Por favor, não machuque minha família."
Ele se inclinou perto, seu hálito quente contra meu ouvido. "Eu só preciso que você faça uma coisa, agente."
Agente? Do que ele estava falando?
"Seu pai disse que daria qualquer coisa," ele disse, seu tom carregado de malícia. "Eu quero tudo."
Antes que eu pudesse processar suas palavras, ele deu um aceno brusco para um de seus homens.
"Não! Por favor, não!" Eu gritei enquanto os tiros ecoavam.
Os corpos dos meus pais desabaram no chão, sem vida.
E Nyla... A garganta da minha irmãzinha foi cortada.
Um alarme estridente parecia soar na minha cabeça enquanto eu assistia minha família cair, e algo dentro de mim se quebrou. Raiva e desespero surgiram dentro de mim, me impulsionando para frente. Mas antes que eu pudesse me mover mais, uma dor aguda explodiu na parte de trás da minha cabeça.
Eu cambaleei, minhas pernas dobrando debaixo de mim enquanto eu desabava no chão. Meu olhar se fixou na forma sem vida de Nyla, e tudo que eu podia fazer era alcançar ela em minha mente. O alarme ecoava em minha consciência enquanto a escuridão lentamente me consumia. No vazio, apenas a voz do diabo permanecia.
"Coloquem ela na van."



























































































































































































