2. Você se parece muito com sua mãe.
BEA
Se ao menos alguém pudesse descrever como ela se sentia. Por anos, Bea observava o céu, sentindo que havia algo mais para ela lá fora. Atrás dos portões fechados do castelo - na natureza selvagem, onde ela poderia se tornar uma só com a natureza. Sempre que a lua iluminava seu quarto, a jovem Princesa não conseguia dormir, silenciosamente se perguntando se alguém mais via o glorioso objeto celeste da mesma forma que ela. Às vezes, ela imaginava trazer as estrelas para baixo, trançando-as em seu cabelo platinado. Durante o dia, seu pai frequentemente lembrava Bea que ela vivia com a cabeça nas nuvens - mesmo assim, ela criava cenários sobre o céu.
"Você se parece tanto com sua mãe," Eros se aproximou de sua filha por trás. Um braço se enrolou ao redor dos ombros dela, trazendo a Princesa para mais perto de seu lado. "Agora, menos olhar para o seu reflexo, mais movimento em direção à cozinha. Sua mãe está cozinhando; vamos indo." O Rei tentou ao máximo animar sua filha; fazia um tempo desde a última vez que ele a tinha visto sorrir.
"Adonis vai se juntar a nós, ou ele já foi embora?" O olhar de tristeza, estampado em seu rosto, mais uma vez mostrou a Eros o quanto sua filha estava sofrendo.
O Rei não entendia por que o destino continuava jogando seus jogos cruéis com sua família. Alcançar a felicidade com sua companheira levou anos; mais tarde - ele teve que supervisionar o sofrimento de sua filha mais velha. Enquanto a Princesa mais nova tinha seu companheiro ao seu lado, o homem cometeu um crime que ninguém poderia prever. Por anos, River foi um exemplo de companheiro amoroso e perfeito - até que suas verdadeiras cores foram mostradas na frente de centenas de metamorfos. Felizmente, o filho do Rei ainda tinha que esperar por um companheiro, se tivesse sorte de ter um. No entanto, o garoto teve que deixar o castelo - o Príncipe só retornaria após atingir a idade de dezoito anos, quando estaria pronto para assumir como o próximo Rei.
"Desculpe, querida, ele teve que partir antes do amanhecer. Seu irmão prometeu escrever sempre que tiver uma chance. Adonis deixou uma carta para você, mas você só vai recebê-la se eu ver você comer." Eros sorriu tristemente, pegando a mão de Bea na sua e levando a jovem mulher para o andar de baixo, até a cozinha principal. Ser pai já era difícil o suficiente para um Licantropo, mas o Rei nunca esperou encontrar tantos obstáculos e desafios. Às vezes, Eros sentia que estava falhando como pai, não importava o que ou como ele fizesse.
"Eu vou comer." Bea suspirou em derrota. "Ouvi dizer que Noah pode vir hoje. Ele está melhorando?" Mudar de assunto era um talento dela. A Princesa sempre encontrava o tópico certo para se agarrar, apenas para distrair todos o suficiente para tirá-los de suas costas. Talvez fosse a coisa errada a fazer, mas em momentos como esse - ela preferia focar nos problemas dos outros do que nos seus próprios.
"Sua irmã mencionou que pode nos visitar hoje. Darius tem uma reunião importante, na verdade - ele tem tido muitas ultimamente. Todos sabemos que governar o Submundo é uma grande responsabilidade, e como ele está tentando aliviar o dia da sua irmã, aquele homem está assumindo muito sobre seus ombros. Não tenho certeza se Ally trará Noah, mas o pequeno está melhorando." Eros sorriu, imaginando seu neto. A ideia de ser avô ainda era difícil de engolir. Seu terceiro filho nasceu logo após sua filha dar à luz ao primeiro. A família cresceu; não importava quais fossem as dificuldades - eles ainda tentavam ao máximo se manter fortes.
"Sinto falta de Noah," Bea acrescentou, observando sua mãe, que dançava pela cozinha. Era uma visão rara de se ver, especialmente nos últimos anos. Não importava o quão felizes parecessem para os de fora, sempre havia essa tensão oculta entre eles, especialmente se ela mencionasse o passado. A Princesa não conseguia se livrar do pensamento de que estava perdendo algo, uma parte dela desvanecida no abismo da escuridão.
A Rainha dispensou os servos, dando-lhes um dia de folga. Eve tinha o hábito de deixar seus trabalhadores descansarem, escolhendo os dias mais aleatórios. Como Ally poderia chegar a qualquer momento, ela preparou um banquete para se reconectar com sua filha mais uma vez. Para Eve, todo o cenário de deixar seu filho ir e esperar vê-lo um dia era devastador. A Rainha teve que aceitar a escolha de sua filha de viver com Darius, e hoje ela despediu seu filho. Felizmente, Bea ainda estava por perto, mas não importava o que acontecesse, Eve não conseguia encará-la. Ela não conseguia se obrigar a olhar nos olhos da filha, sabendo que era a razão por trás da dor.
Eros e Bea decidiram pegar algumas flores do jardim, rindo das poucas piadas no caminho até os jardins do palácio. Enquanto o Rei tentava determinar qual cor combinaria melhor com o humor deles, a Princesa se perdeu em pensamentos. Seus olhos escanearam os arredores, parando na linha mais distante da floresta. Talvez fosse algum tipo de paranoia sobre estar sendo observada, mas Bea não conseguia se livrar da sensação de que havia olhos fixos nela. Seja o que for, ou quem quer que fosse - não era a primeira vez que ela se sentia assim. Estranhamente, ela não conseguia dizer se o observador cuidava dela ou esperava o momento perfeito para atacar. Não era um dos Vigias da família - Anto e Baka vinham direto até eles; nunca se escondiam nas sombras por muito tempo. No entanto, os outros tinham que ficar para trás, esperando até que uma ordem fosse dada, mas nem mesmo os olhos curiosos deles faziam Bea se sentir tão desconfortável.
"Papai?" Bea limpou a garganta seca e falou. Seus olhos deixaram o ponto misterioso em que estavam focados e viajaram até seu pai.
"Sim, querida?" O Rei se abaixou para pegar outra rosa branca - essas seriam para sua esposa; Bea poderia ajudá-lo a escolher outras para a decoração da mesa. Eros aproveitava cada momento para mostrar seu amor pela mulher que lhe deu filhos, dando um exemplo para seus filhos. Ele queria que suas filhas vissem como um homem deveria tratar uma mulher, e seu filho tinha que observar seu pai - com sorte, Adonis se tornaria um homem tão carinhoso quanto Eros.
"Você está sentindo esse cheiro?" Bea rapidamente virou a cabeça de volta para o mesmo ponto, mas a sensação havia desaparecido. Ela mal captou o aroma masculino, que desapareceu tão rápido quanto apareceu. A Princesa inalou o cheiro pelas narinas, esperando captá-lo novamente. Era celestial - uma mistura de algo que nunca deveria combinar, mas que lembrava uma perfeita harmonia dos presentes da natureza. A delicadamente doce flor de laranjeira temperava o musgo de carvalho e a madeira de carvalho, evocando a fragrância de uma floresta úmida de orvalho enquanto as árvores florescem. O toque de couro e a ligeiramente estranha colisão entre café recém-preparado e a primeira neve seguiram logo depois.
"Você quer dizer as flores, querida? Sim, eu sinto. Espero que sua mãe goste dessas; obviamente, não sou um jardineiro. No entanto, sei reconhecer uma beleza quando vejo uma," Eros riu, seus olhos ainda fixos no mar de flores. O Rei não percebeu o leve desconforto que sua filha mostrava sem querer, sua atenção muito focada no sorriso que poderia trazer aos lábios de Eve.
Bea abriu os lábios, quase certa de que deveria mencionar a sensação e o cheiro que havia captado, mas alguém conseguiu falar antes dela.
"Papai, Bea!" Ally correu para o jardim, com os braços abertos enquanto corria em direção a eles. A Princesa mais velha, agora Rainha do Submundo, estava deslumbrante, como sempre. Vestida com um vestido longo e esvoaçante, lembrava um anjo que abençoava a todos com sua presença. O sorriso em seus lábios poderia iluminar milhares de salas sem que ela se cansasse de tanta felicidade.
"Ally," Eros riu, puxando sua filha para um abraço apertado. Como de costume, o Rei beijou o topo da cabeça dela, aproveitando o raro momento de proximidade que podia ter com sua filhote mais velha. "Onde está meu pequeno herói? Você o trouxe, ou devo reclamar com seu marido assim que o encontrar?" Eros soltou Ally, mexendo as sobrancelhas de forma brincalhona, tentando ao máximo soar como se sua ameaça fosse se concretizar.
"Ele está com a mamãe. Seu pequeno herói está enchendo a barriga de panquecas, já que a mamãe trouxe o estoque secreto de Nutella. Não faço ideia de como você lida com ela, mas aquela mulher é doida," Ally riu, seus olhos caindo sobre sua irmã mais nova. "Oi, Bea, senti sua falta." Ela acrescentou, acenando de forma desajeitada para ela.
Ally e Bea nunca realmente se abraçaram - envolver a Princesa mais nova nos braços de alguém era bastante desafiador. Ela se lembrava de quanto amava abraços, calor e proximidade quando era pequena, mas algo dentro dela se quebrou e mudou tudo - até mesmo um mero contato físico, não importava com quem, a enojava e aterrorizava.
"Oi, também senti sua falta," Bea devolveu um sorriso fraco e olhou de soslaio para a linha da floresta. "Escutem, vocês dois, entrem; eu me junto a vocês em um minuto, ok? Preciso de um tempo sozinha e um pouco de ar fresco," a Princesa mentiu.
Assim que seu pai e sua irmã desapareceram de vista, Bea correu em direção à floresta, incapaz de resistir à sua curiosidade. Não importava quem continuava a observá-la, a Princesa descobriria por que alguém estava lá. Ao entrar na mata, nada parecia fora do comum, mas seu coração continuava batendo contra sua caixa torácica mais rápido do que nunca. Ela deu um passo à frente, inclinando-se na esperança de notar algo. Nada, absolutamente nada além do solo coberto de musgo e árvores. Um galho quebrou atrás dela, assustando a Princesa. Bea se virou, ofegante ao perceber que as árvores não eram tão típicas quanto ela pensava.



































