3. Tem sangue em suas mãos.

EROS

"Meu amor," Eros abriu os braços, abraçando a mulher à sua frente. Eva envolveu os braços em volta do pescoço dele, puxando o Rei para mais perto.

Ally observava seus pais com um leve sorriso nos lábios - o relacionamento entre os dois sempre foi algo que ela almejava. Às vezes, sua vida ao lado de Darius parecia bastante insuportável, mas ao contrário de seus pais, eles eram muito diferentes, ainda assim encontravam uma maneira de resolver qualquer problema que enfrentavam. Seus olhos desceram até seu filho; o menino sorria para os avós, a boca cheia de panquecas. O garoto estava quase na puberdade, ainda um pouco atrás do tio, mesmo tendo nascido antes de Adonis - Noah teve que enfrentar muitos desafios médicos.

"Posso pegar mais panquecas?" Noah falou, intencionalmente interrompendo o momento entre os avós. O garoto sabia o quanto eles odiavam qualquer interrupção e encher a barriga parecia mais importante de qualquer forma - ele matou dois coelhos com uma cajadada só.

"Claro que pode. Deixe-me preparar mais para você," Eva riu, dando um beijo suave na bochecha do companheiro e soltando-o.

"Eu não esperava outra coisa - encher esse garoto de comida tem sido sua prioridade, amor. Não estou fazendo cena, mas e o meu amor? Eu não mereço um pouco? Abraços, beijos, carinhos e quarto... - quero dizer, mais abraços, sim, abraços," Eros pigarreou, encontrando os olhos da filha. Ally sorriu mais largo que o próprio Gato de Cheshire - bem ciente de como seu pai falhou em esconder as ideias por trás de suas palavras.

"Querido, onde está Bea?" A Rainha rapidamente questionou Eros, fazendo o possível para desviar do mar de perguntas que estava por vir do neto.

"Ela não mencionou que viria para dentro em um minuto?" Ally olhou para o relógio e acrescentou: "Já passou um pouco mais de um minuto, pai. Já se passaram quase vinte, para ser exata."

A família trocou olhares preocupados enquanto Noah estava sentado no balcão da cozinha. Sua atitude despreocupada agradava Ally, especialmente sempre que algum perigo poderia estar próximo - pelo menos ele não precisava enfrentar ou se preocupar muito. Eva olhou para o jardim, balançando a cabeça. As mulheres observaram como o Rei correu para a sala de estar, retornando em poucos segundos, segurando uma enorme espada. Esta foi a primeira vez que Ally viu seu pai segurando uma arma de verdade - ele sempre lutou usando o poder que possuía. Seus olhos desceram até a mão direita dele, escondida em uma luva de couro.

"É prata," Eros murmurou, instando ambas as mulheres a pegarem o garoto e subirem as escadas. Ele já havia se comunicado mentalmente com os guardas, que não tinham ideia de onde sua filha mais nova poderia estar. Se a guarda do castelo não a viu por perto ou saindo, a Princesa estava em perigo, possivelmente arrastada de onde ela vagava pelos jardins. O Rei sentiu a raiva fervendo dentro dele; aquela garota sempre conseguia ir longe o suficiente para que ninguém visse o que ela estava fazendo, mas Bea nunca se importou com o possível perigo. Ao contrário de sua irmã mais velha, a Princesa não gostava de atenção desnecessária. Bea era mais uma criança antissocial, especialmente depois que a Rainha Eva baniu o pecado mortal do castelo e das terras.

"Guardas, verifiquem o perímetro! Cabeças vão rolar se algo acontecer com minha filha!" Eros rugiu de raiva, seus olhos cheios de ódio, escondendo o medo que sentia. Se não fossem todos aqueles homens ao seu redor, o grande lobo mau poderia desmoronar, chorar de desespero e medo. Eros não se importava que ele fosse o Rei; ele ainda tinha emoções, especialmente sempre que algo acontecia com sua posse mais preciosa - sua família.

"Meu Rei, verificamos os jardins; enviei alguns guardas para dentro do castelo para garantir que a Princesa Bea não tenha voltado para dentro. Verificamos a maior parte do perímetro - a terra é fácil de supervisionar." Um dos guardas falou, olhando para os outros homens, tentando descobrir se eles não verificaram mais nada.

"E a torre de vidro?" Um homem mais baixo falou. Ele era uma das últimas adições à guarda do Rei. O homem poderia estar em seus vinte e poucos anos, mas fez de tudo para chegar ao castelo - para um guerreiro, não havia posição mais alta do que a guarda real. Todos sabiam que os guerreiros não voltariam a menos que fossem carregados em um caixão, mas os homens faziam de tudo para alcançar a posição. Servir à família real era a maior honra, mais de alguns estavam prontos para sacrificar suas vidas por aqueles que os lideravam.

"Não acho que ela possa estar lá," o guarda retrucou, seu rosto ficando um pouco vermelho. Como ele poderia ter esquecido a torre de vidro? Bea costumava fugir e muitas vezes adormecia lá mesmo quando era criança, mas o pecado mortal estava lá para procurá-la naquela época.

"O garoto tem razão. Você," Eros ficou na frente do jovem, colocando uma mão em seu ombro. "Vá lá, veja se minha filha conseguiu entrar lá de novo. Se estiver trancado, ela pode ter usado as janelas, mas você não deve fazer o mesmo, entendeu? Um movimento errado e a torre desaba," Eros balançou a cabeça, tentando lembrar dos avisos que uma vez ouviu.

"Mas não desabaria se a Princesa tentasse usar uma janela, meu Rei?" O novo guarda não conseguia entender como a Princesa poderia usar uma janela e ele não - a torre poderia desabar, não importa quem decidisse entrar.

"Não, não desabaria, garoto. Um dos pecados mortais a construiu para ela, e só para ela. Digamos que o edifício é um pouco mais complexo do que você pode imaginar," Eros riu, lembrando-se de River trabalhando na torre. Bea amava aquele lugar mais do que qualquer coisa, mas se recusou a ir lá novamente assim que sua mãe mandou embora o pecado mortal. Talvez ela tenha decidido sentar lá e esperar. Esperar na esperança de que seu melhor amigo pudesse voltar. Eros balançou a cabeça, tentando se livrar dos pensamentos. Até hoje, o Rei ainda não encontrou uma maneira de contar a verdade sobre Sloth para sua filha. Se Bea descobrisse que o homem é seu companheiro, ela poderia tentar fugir. "Ok, a torre de vidro e o perímetro estão com os guardas; eu vou para as florestas e verifico lá. Não me sigam, se por acaso um criador entrou no território - a Princesa e eu sobreviveremos, não posso dizer o mesmo sobre os guardas. Fiquem em grupos de três, verifiquem cada pedacinho e me avisem se encontrarem algo. Prontos para encontrar minha filha, homens?" Os guardas aclamaram seu Rei, observando como Eros virou as costas para eles e correu em direção à floresta sem hesitação.

O Rei olhou por cima do ombro, um canto do lábio levantando um pouco. Havia uma razão pela qual todos aqueles homens se juntaram à sua guarda - eles eram destemidos, prontos para servir e seguir suas ordens a qualquer momento. Era preciso verdadeira coragem para esquecer a importância da própria vida e colocar os outros acima de si mesmos.

Eros se aproximou da floresta, observando cuidadosamente seus arredores. Inalando o cheiro que mal havia desaparecido, o Rei sabia quem era o culpado. Claro, sua filha tinha que ser tola o suficiente para segui-lo assim que pegasse até mesmo um vislumbre do cheiro irresistível. Seguindo o rastro, ele encontrou sua filha, parada em frente a uma árvore, como se estivesse hipnotizada.

"Bea? Querida, por que diabos você está aqui?" O Rei falou, rosnando enquanto fazia isso - tanto para chamar a atenção de sua filha quanto para espantar o visitante indesejado.

A Princesa pulou de surpresa, seus olhos encontrando os do pai - nada além de medo e terror dançando nos deles. O que diabos ela viu? Eros tinha uma ideia, mas a criatura não era nem metade tão assustadora para congelar alguém de medo. "P-pai?" A Princesa gaguejou, incapaz de acreditar em seus olhos.

"Diga à Rainha que encontrei nossa filha. Ela está comigo, segura, nada com que se preocupar. Certifique-se de que minha família está bem e deixe alguns homens dentro do castelo até eu voltar." Eros comunicou mentalmente ao chefe da guarda, esperando que o líder não estivesse muito longe de onde se reuniram primeiro.

"Bea, querida, você está tentando dançar com o Diabo? Você sabe como a floresta pode ser perigosa, especialmente as escuras," Eros se aproximou da filha, pegando-a no colo e lentamente carregando a Princesa para casa. Ele não pretendia se apressar - ela tinha respostas suficientes para dar, e o Rei tinha mais perguntas do que o homem poderia processar.

"Papai, me desculpe. Havia esse cheiro, e eu juro, eu o conheço. Era tão forte, não consigo explicar - a mistura perfeita de uma bagunça absoluta, e eu o segui. Não consegui resistir; em algum lugar lá no fundo, algo me empurrou a descobrir o que era. Quando entrei para explorar, vi um rosto se transformando na árvore, e então não consegui parar de olhar. Era uma mulher, ela murmurava algo em uma língua estrangeira, e por mais que eu tentasse escapar - parecia que ela me mantinha cativa. Eu não conseguia me mover, pai; eu tentei, mas falhei." Bea chorou contra o peito do pai. Eros não ousaria dizer muito, já que os jovens Licantropos eram curiosos e destemidos além dos limites. Bem, até serem atingidos pelas consequências. "O que está acontecendo com minhas mãos, pai? Eu não as sinto. Acho que preciso dormir, estou tão cansada," a Princesa sussurrou.

Eros correu, o Rei correu por sua vida - avisando todos os médicos do castelo para se reunirem fora do castelo. Ao contrário de Bea, ele sabia quem ela enfrentou, e poderia haver consequências, já que a Princesa ficou na frente dela por muito tempo. Quando Eros quase forçou sua filha nas mãos dos médicos, ele pensou que perderia a cabeça com a façanha que Bea fez. Seus olhos viajaram para sua filha, tão fraca como nunca - percebendo um detalhe que ele não queria enfrentar nem uma vez em sua vida. "Há sangue em suas mãos."

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