Capítulo 3: Sobrevivente Solitário

Eliana é despertada com a parada repentina da carruagem.

"Princesa, você precisa ficar incrivelmente quieta, estamos cercadas. Devem ter nos seguido desde o castelo."

Leva um momento para Eliana registrar o que sua criada disse e sacudir a sonolência do seu sono. "Quem são eles?", ela pergunta horrorizada.

"Não sabemos, estão escondidos pelas árvores, mas os homens dizem que são Pivurlion."

O coração de Eliana despenca. Ela não ousa olhar pela janela quando Selma menciona as árvores. Elas estão viajando há um dia e estão perto da fronteira que compartilham com Murduk. Climont está a apenas mais meio dia de viagem.

Eliana engole em seco enquanto encara sua criada. Ela se pergunta qual país contratou esses assassinos e com qual clã os Pivurlion se associam. Certamente teria que ser ou os lobisomens ou os ursos metamorfos.

"Quando eles atacarem, devemos escapar da caravana sem sermos vistas," Selma explica. Sua voz suaviza, seus olhos opacos arregalados de medo.

"E os homens?"

"Essa é a razão pela qual eles vieram. Para protegê-la, e é isso que eles farão."

"Eu não posso deixá-los," Eliana argumenta com o coração disparado.

"Você precisa me ouvir, Princesa, essas criaturas não vão parar. Não sabemos se querem você viva, morta, ou se estão realmente atrás de você especificamente. Em qualquer caso, você deve ser levada para um lugar seguro. Eu não permitirei que você morra tão jovem." Ela aperta a mão na porta da carruagem. Uma sombra sombria cai sobre sua expressão.

"Selma, eu não posso." Eliana tenta protestar, mas a mulher idosa a empurra para o outro lado da caravana onde está a porta.

Ela arrisca uma espiada lá fora. As árvores balançam, mas a brisa é muito suave. "Ainda está muito quieto."

"Você tem certeza de que isso é uma boa ideia?", Eliana questiona, mas um olhar de Selma a faz parar. Ela se sente fraca e impotente enquanto depende de sua criada para protegê-la. Ela fecha os olhos, incapaz de relaxar os músculos. Ela se vê implorando, suplicando aos espíritos, que tanto ela quanto seu povo cheguem a um lugar seguro.

"Por favor, não os deixe morrer. Deixe-nos sobreviver."

Lágrimas ardem nos olhos de Eliana, mas ela as enxuga rapidamente antes que Selma tenha a chance de notar.

"Eles estão no chão ou nas árvores?" Ela sussurra enquanto o som de um dos cavalos mudando de peso ansiosamente grita em seus ouvidos.

"Eles vêm do chão. Estão esperando pacientemente demais. Devem ser Xefol."

"Você tem certeza de que não é outro clã?" A pele de Eliana se arrepia com centenas de pequenos calafrios enquanto ela pensa nos grandes ursos. Uma imagem de sua mãe passa por trás de seus olhos.

Antes que Selma possa responder, um grito ensurdecedor sacode toda a carroça. O coração de Eliana despenca e sua visão fica turva de pavor. Um de seus soldados mais próximos à linha das árvores é atacado por uma grande e robusta criatura. Suas lágrimas finalmente se libertam enquanto ela observa o sangue escorrer pelo corpo de seu guarda-costas. O cavalo em que ele está grita e tenta correr, mas a criatura, um urso enorme, agarra o animal também, rasgando-o em pedaços. O Xefol ruge em triunfo antes de se virar e encarar um dos outros soldados que sacou sua espada. Ele se ergue sobre as patas traseiras, ofegante com o esforço de atacar o primeiro soldado.

Outro urso salta da floresta e bate com o ombro em um dos cavalos, derrubando tanto o animal quanto seu cavaleiro no chão.

"Precisamos ir agora, enquanto eles estão distraídos," Selma sussurra, agarrando a maçaneta da carruagem e abrindo a porta lentamente.

Tentar escapar sem ser detectada é inútil, pois elas saem da carroça à vista dos ursos.

"Corra," Selma grita e empurra Eliana para frente.

A Princesa tropeça nos próprios pés e quase cai no chão. Ela levanta seu longo vestido e começa a correr em direção à floresta, sua longa trança esvoaçando atrás dela.

Os gritos dos soldados ressoam em sua cabeça e, com o coração na garganta, ela olha para trás, quase colidindo com uma árvore.

"Não olhe para trás, Milady," Selma ordena, mas é tarde demais.

Eliana grava a imagem em sua mente.

Todos os soldados estão agora no chão, seus cavalos ou estão mortos ou fugiram. Os dois Xefol levantam a cabeça na direção das mulheres e o corpo de Eliana se enche de pavor. Eles realmente estão atrás dela.

As criaturas começam a correr em direção a elas, pisoteando os corpos mortos da caravana de Eliana.

"Como vamos escapar? Eles são rápidos demais," ela chora em sua mente. O pânico começa a tomar conta da mente e do corpo de Eliana enquanto os ursos metamorfos se aproximam.

"Vá na frente sem mim, Minha Senhora, eu vou distraí-los." Selma grita para ela enquanto a Princesa já está alguns metros à frente.

"Não, eu não vou deixá-la para morrer." Eliana tropeça e para antes de se virar.

"Sim, você vai. Se você não sobreviver, nosso reino está condenado. O Rei Krite matará seu pai e ninguém se lembrará de Drein na história. Climont nos dominará."

A visão de Eliana se turva com lágrimas, "Eu não quero perder você."

"Eu sempre estarei com você, apenas confie em mim." Selma sorri gentilmente para ela, e Eliana fecha os olhos com força, tentando se manter firme.

"Corra, Selma. Corra o mais rápido que puder, e se não for rápido o suficiente, suba. Suba nas árvores e se esconda."

"Eu farei isso, Minha Senhora," a criada sorri, "Agora vá."

Eliana se vira e começa a correr pela floresta mais uma vez. Seu coração está apertado, e seus pulmões se recusam a permitir a passagem de oxigênio. Ela deixou Selma para trás. A mesma acusação corre por sua mente, "Eu a abandonei."

Agonia irrompe no couro cabeludo de Eliana quando ela é forçada a parar. Ela geme de dor enquanto alcança para trás e arranca sua trança de um galho. Partes de seus cabelos são arrancadas no processo, flutuando até o chão da floresta.

Sem parar para avaliar o dano, Eliana continua, ainda capaz de ouvir os rugidos distantes dos dois Xefol. Seu vestido se torna inútil ao ser preso em fendas e galhos, dos quais ela teve que libertá-lo várias vezes. Ela pisa em uma depressão no chão densamente coberto da floresta, torcendo o tornozelo. Ela grita de dor, mas se apoia suavemente na árvore, mancando.

Eliana continua a correr até entrar em uma pequena clareira. Há uma extensão de flores, abelhas voando ao redor delas. Uma pequena cabana fica à direita do prado, com um jardim bem cuidado ao lado.

Sua respiração está ofegante enquanto suas panturrilhas e costas doem. Leva toda a sua força de vontade para não cair no chão onde está. Não há outras formas de vida à vista. Ela manca até a soleira da frente, parando apenas por um momento.

"Eu só preciso entrar. Se aqueles ursos me encontrarem, eu vou morrer. Selma e meus soldados terão morrido em vão." Engolindo suas lágrimas, Eliana entra rapidamente na cabana e fecha a porta atrás de si.

"Olá," ela chama após limpar a garganta seca. Ela sabe que sua voz está rouca e faz uma careta ao falar, "Tem alguém em casa?" Quando ninguém responde, ela pega um atiçador de fogo que está encostado na parede. O metal frio envia um arrepio por todo o seu corpo.

"Olá," ela chama mais uma vez enquanto se dá um momento para recuperar o fôlego. A cabana é quente, um pequeno fogo ardendo na lareira e o cheiro de ensopado se espalha pela casa.

Eliana avança ainda mais na cabana, seu ritmo cardíaco se acalmando. Sua curiosidade a vence quando ela avista as três portas à esquerda. Enquanto se move para investigar, um grande rugido sacode toda a cabana. O medo aguça seus sentidos mais uma vez, e Eliana corre para o primeiro quarto e fecha a porta com força. Ela se arrasta para a pequena cama que tem um cobertor verde escuro em cima. Ela se encolhe no canto, envolvendo os braços ao redor de seu vestido rasgado e joelhos, segurando o atiçador de fogo. Embora tente se concentrar nos sons do lado de fora, ela só consegue ouvir o batimento de seu próprio coração pulsando em seus ouvidos. Seu tornozelo lateja de agonia, causando um gemido suave em sua garganta.

"Estou segura aqui? Deveria ter continuado correndo? O que faço agora? Os donos voltarão logo?"

Eliana fica o mais imóvel possível, seu corpo tenso enquanto espera pelo que está por vir.

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