O portador do caos

Eidenel correu para longe da Alcateia Presa Súbita até ter certeza de que estava bem distante da fronteira, então parou. Foi nesse momento que ela se virou para ver o quão longe tinha corrido. Lágrimas encheram seus olhos ao perceber que provavelmente nunca mais veria nenhum de seus amigos da Alcateia Presa Súbita novamente, incluindo seu guardião. Eidenel suspirou profundamente e voltou à sua forma humana, mesmo sabendo que era perigoso fazer isso no meio do nada.

Seria essa a sua vida até morrer? Eidenel havia conhecido seu agora ex-guardião da mesma maneira. Ela estava fugindo depois que seus pais foram mortos e acabou esbarrando em seu guardião, que a acolheu. Os pais de Eidenel eram Betas de uma alcateia chamada Alcateia da Aliança, mas suas vidas foram interrompidas logo após o nascimento de Eidenel.

Ao verem que eram os pais da amaldiçoada pela deusa da lua, A Portadora do Caos, consideraram-se amaldiçoados e se sacrificaram no meio da praça da Alcateia. Sim! Os pais de Eidenel cometeram suicídio depois de secretamente enviarem Eidenel para um parente em outra alcateia. Essa foi a primeira vez que Eidenel fugiu para salvar sua vida como A Portadora do Caos. No entanto, ela também não durou muito na alcateia de seu parente, pois houve um ataque de renegados lá e, enquanto todos corriam para se proteger, seu parente a abandonou à própria sorte.

Como filhote, Eidenel sobreviveu a um ataque de renegados. Foi surpreendente ver um filhote sobreviver a tal terror quando lobos adultos estavam perdendo suas vidas aos montes. Isso chamou a atenção do guardião de Eidenel durante o caos, e ela a levou consigo. Observando mais de perto Eidenel, ela viu a mancha vermelha em seu casco esquerdo. Era tão pequena e literalmente invisível até que se olhasse de perto. No entanto, quanto mais Eidenel crescia, mais óbvia a mancha se tornava.

Foi essa guardiã que garantiu que Eidenel se cobrisse com tinta branca e a advertiu para nunca ser vista com aquela mancha vermelha no casco. Eidenel perguntou várias vezes o porquê, mas sua guardiã lhe disse que, quando chegasse a hora, Eidenel saberia a razão sem que ninguém precisasse explicar.

Bem, esse dia chegou, e Eidenel sabia exatamente por que sua guardiã a alertou sobre a mancha vermelha. Na verdade, tudo agora fazia sentido para Eidenel desde a morte de seus pais e por que seu parente a abandonou.

Exausta, Eidenel voltou à sua forma de lobo. Era hora de fugir novamente. Ela precisava beber água. Estava com sede. A loba de Eidenel nunca havia falado com ela antes, então a loba nunca lhe disse seu nome. Eidenel considerava isso parte da maldição, porque por que sua loba seria tão ágil e pronta para qualquer tarefa, mas completamente muda? Uma loba amaldiçoada, de fato.

Correndo por tanto tempo, Eidenel finalmente avistou um assentamento. Ela suspirou aliviada enquanto aumentava o ritmo em direção ao assentamento, na esperança de conseguir ajuda lá. Comida e água eram coisas de que ela precisava desesperadamente naquele momento, e ela também se perguntava se poderia de alguma forma se estabelecer na alcateia. Ela só conhecia alcateias de lobos, então assumiu que o assentamento era mais uma alcateia de lobos. Desta vez, Eidenel havia prometido cuidar de si mesma sozinha e nem mesmo fazer amizade com ninguém para não colocá-los em apuros só porque tinham contato com a loba amaldiçoada, A Portadora do Caos.

Chegando perto o suficiente do assentamento, Eidenel começou a desacelerar e a pensar duas vezes sobre sua decisão de aparecer ali. Era um assentamento humano, embora os humanos que ela via ali fossem tão pálidos e magros, e, oh, os homens eram incrivelmente lindos, enquanto as mulheres eram bonitas demais para ser verdade. O que eles eram? Quem eram eles? Eidenel rapidamente voltou à sua forma humana ao se aproximar do assentamento.

''Vampiros?'' ela murmurou. Bem, isso poderia ser verdade se não fosse pelo fato de que os vampiros eram conhecidos por sua incapacidade de existir sob o sol, mas esses humanos que Eidenel estava olhando estavam todos se banhando ao sol.

''O que é isso?'' Eidenel ofegou quando de repente viu um dos humanos estranhos se transformar em uma besta gigantesca. Um dragão. O coração de Eidenel quase parou.

Rapidamente, ela decidiu que aquele não era o lugar para ela, e então se virou para ir embora, mas era tarde demais. Se havia uma característica em que os dragões sempre eram os melhores, era a capacidade de perceber qualquer cheiro, especialmente um ao qual não estavam acostumados.

O humano que acabara de se transformar em dragão começou a farejar o ar, a suspeita evidente em seus olhos. Olhando ao redor, levou um segundo para identificar Eidenel como a pessoa com o cheiro desconhecido, e antes que Eidenel soubesse o que estava acontecendo, um dragão feroz estava bem na frente dela, farejando-a e uivando tão alto para chamar a atenção dos outros. Havia um intruso.

O medo tomou conta de Eidenel, enquanto ela lentamente era cercada por muitos desses humanos pálidos.

''Eu... eu não quero causar nenhum mal. Eu só estava passando e fiquei com sede, então pensei em pedir um pouco de água.'' Eidenel não deixou os dragões-humanos começarem a falar com ela antes de começar a implorar por misericórdia.

''Desculpe incomodar vocês. Eu já vou embora.'' Eidenel tentou sair do caos que mais uma vez havia causado, mas assim que se virou, soube que não havia como sair daquele território sem ter que escapar, pois o maior dragão que ela já havia visto, mesmo em romances e quadrinhos, estava se aproximando dela graciosamente.

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