Capítulo 3

Alaric & Elara

Alaric

Eu estava na sala de interrogatório mal iluminada da delegacia, meu olhar se perdendo na janela que dava para uma escola próxima. Os sons abafados de crianças rindo e brincando filtravam-se pelo vidro, um contraste gritante com a atmosfera silenciosa e fria lá dentro.

Meu filho estava lá fora em algum lugar, e cada segundo que passava parecia uma eternidade. A frustração me corroía; a investigação havia parado, e eu estava cansado de esperar.

Virando-me para longe da janela, endireitei os ombros e respirei fundo. Se as autoridades não conseguiam as respostas que eu precisava, eu mesmo teria que resolver. Olivia estava aqui, e ela era a chave.

Empurrei a pesada porta da sala adjacente onde Olivia estava sentada. Seus olhos se levantaram para encontrar os meus, um lampejo de medo passando por eles antes que ela rapidamente desviasse o olhar.

“Olivia Hartwell,” eu disse bruscamente, puxando a cadeira à sua frente e sentando-me. “Vamos direto ao ponto. Onde você estava e o que estava fazendo quando minha falecida esposa estava dando à luz?”

Ela engoliu em seco. “Eu... eu estava ajudando ela durante o parto. Eu não fui a lugar nenhum,” murmurou.

Inclinei-me para frente, apoiando meus antebraços na mesa. “Você sabe as consequências de mentir para um Alfa?” Meu tom estava mais gelado do que nunca—um aviso.

Seus olhos se encheram de lágrimas, e ela começou a tremer. “Eu... eu juro, eu não sei de nada...”

Ergui uma sobrancelha, desinteressado. “Acho difícil acreditar nisso.”

Olivia ficou em silêncio por um longo tempo, apenas olhando para seu colo. Eu apenas a observava, esperando em silêncio. Meu olhar gelado era suficiente para quebrá-la.

Finalmente, ela desabou. Em um instante, ela passou de tremer silenciosamente para soluçar incontrolavelmente. “Tá bom! Eu... eu estava com o Mason por um tempo naquele dia,” ela soltou entre os soluços.

Minha mandíbula se apertou. “Mason? Quem é ele e por que estava no hospital?”

Olivia fungou. “M-Mason Brown é meu noivo. E-ele estava lá porque a ex-esposa dele, Elara Spencer, também estava dando à luz naquele dia.”

Elara Spencer. O nome ressoou na minha mente como um eco distante. Algo sobre ele parecia... familiar, embora eu não conseguisse entender por quê. Eu nunca tinha conhecido uma Elara Spencer antes. Eu sempre lembrava de um nome.

Eu me conectei mentalmente com meu Beta, James. “James, preciso que você investigue tudo sobre uma mulher chamada Elara Spencer. Agora mesmo.”

...

Elara

O cheiro de ovos fritando na panela enchia nosso pequeno apartamento. Olhei para Zoe, que cantarolava suavemente enquanto coloria na mesa da cozinha. Seu cabelo preto caía em ondas suaves ao redor do rosto, sua pequena língua saindo da boca em concentração.

Eu não sabia como ela conseguia ficar sempre tão alegre apesar da forma como vivíamos—apesar da maneira como os outros nos tratavam. Nosso apartamento era minúsculo, apenas uma pequena cozinha e sala de estar, com um quarto. Nós até dormíamos na mesma cama.

Eu tentava manter nosso lar acolhedor, enchendo o espaço com cobertores e brinquedos de brechó e bichos de pelúcia. Uma pequena TV ficava no canto, mas mal a usávamos; preferíamos ler, de qualquer forma. Durante o verão quente, eu costumava levar Zoe à biblioteca para ler livro após livro. Ela não sabia que eu a levava lá principalmente porque não podia pagar ar-condicionado e a biblioteca era gratuita.

Mas onde quer que fôssemos, até mesmo na biblioteca, éramos ridicularizadas simplesmente por sermos Ômegas. E de alguma forma, isso nunca parecia incomodar minha filha.

Eu admirava isso nela, de verdade.

“O café da manhã está quase pronto,” eu disse.

“Tá bom, mamãe,” ela respondeu sem levantar os olhos.

Voltei para o fogão, meus pensamentos voltando ao dia anterior. Zoe tinha sido minha rocha, me puxando para longe da escola depois que as provocações dos outros pais se tornaram insuportáveis. Seus sussurros sobre nós—a respeito dela—ainda ecoavam nos meus ouvidos.

“Ela nem tem pai,” eles zombavam. “Ela é uma má influência para as outras crianças.”

Apertei a espátula na minha mão. Zoe merecia muito mais que isso. Ela era uma criança tão brilhante e amorosa, e me partia o coração que ela tivesse que enfrentar tanta crueldade.

Por algum motivo, ela apontou para a rua e disse que tinha um pai. Os outros pais riram bem na cara dela.

Claro, não havia pai. Apenas uma delegacia. Não que contasse, de qualquer forma. Zoe nunca viu Mason como um pai.

Naquele momento, eu não sabia se ela estava apenas tentando calar os outros pais ou se era um desejo. De qualquer forma, eu não queria que esse fardo caísse sobre ela.

Uma batida repentina na porta me tirou dos meus pensamentos. Meu coração disparou. Seria o senhorio de novo, vindo reclamar do aluguel atrasado? Mordi o lábio, enxugando as mãos na toalha.

"Zoe, fica aqui," instruí, indo em direção à porta. Hesitei por um momento antes de destrancar a porta e abri-la.

Mason estava parado ali. Meu sangue gelou, e eu instantaneamente tentei bater a porta na cara dele, mas ele colocou o pé no caminho e impediu que ela fechasse.

"O que você quer?" perguntei bruscamente, tentando manter a voz baixa para não assustar Zoe.

Seus olhos estavam duros, um sorriso de desprezo se formando em seus lábios. "Você mandou prender a Olivia?" ele exigiu.

Pisquei. "Do que você está falando?"

"Não se faça de boba comigo, Elara!" ele cuspiu, batendo a palma da mão contra a porta com força suficiente para fazê-la tremer. "Eu sei que você fez algo para ela ser presa."

Franzi a testa. As ações dele não me intimidariam a soltar a maçaneta, por mais que eu estivesse tremendo por dentro. Mason sempre foi muito maior do que eu e tinha um temperamento forte. Ele nunca havia direcionado essa raiva para mim e Zoe, mas eu não ia deixar ele começar agora.

"Por que eu perderia meu tempo com algo tão mesquinho?" eu soltei. "Tenho coisas melhores para fazer do que me meter na sua vida patética."

"Você está mentindo!" ele rugiu. "Admite. Você ainda está obcecada por mim. Acha que vai encontrar alguém melhor do que eu? Continue sonhando. Você vai voltar rastejando eventualmente."

Senti uma onda de indignação. "Um de nós está sonhando," retruquei friamente. "E não sou eu."

Seus olhos brilharam, e antes que eu pudesse reagir, ele bateu o ombro contra a porta, quebrando meu aperto e forçando-a a abrir. Tropecei para trás em choque.

"Mason! Saia!" gritei, minha voz tremendo.

Meus gritos não fizeram nada para detê-lo. Ele avançou em minha direção, seus ombros largos preenchendo o espaço. "Você acha que pode simplesmente me dispensar?" ele rosnou. "Você não é nada sem mim. Uma Omega inútil."

Afastei-me, olhando desesperadamente para a cozinha, onde um bloco de facas estava no balcão. "Zoe, vai para o seu quarto!" gritei. "E tranca a porta!"

Mas antes que ela pudesse se mover, Mason se lançou sobre mim, agarrando a frente da minha camisa. "Você vai consertar isso, vadia," ele rosnou. "Você vai tirar a Olivia da prisão, ou então..."

Eu dei um tapa forte no rosto dele, o som ecoando no apartamento. Ele piscou surpreso antes de um sorriso cruel se espalhar pelos seus lábios.

"É só isso que você tem?" ele zombou. "Patético."

De repente, uma pequena figura se colocou entre nós. Antes que eu pudesse detê-la, Zoe avançou e cravou os dentes no braço de Mason com uma ferocidade surpreendente. Pequenas orelhas peludas surgiram entre seus cabelos negros, e um pequeno rosnado saiu de sua garganta.

"Ah! Sua pirralha!" ele uivou, me soltando. Ele puxou a mão como se fosse bater nela.

"Zoe, não!" eu gritei, colocando-a atrás de mim.

"Você está criando uma selvagem!" Mason berrou.

"Saia da minha casa, Mason!" eu gritei.

"Não até você ajudar a Olivia. Ela está na cadeia por sua causa, e eu não vou sair até você consertar isso."

"Isso é loucura! Eu não tive nada a ver com isso!" protestei. "E além disso, como eu poderia tirá-la da cadeia? Isso está fora das minhas mãos!"

Mason rosnou, seu punho se movendo em minha direção. Mas então algo aconteceu.

"PARE! Afaste-se da minha mamãe!"

Eu congelei, virando a cabeça para Zoe. Ela tinha acabado de gritar aquela palavra, mas algo sobre isso...

Ela tinha apenas seis anos. E ainda assim, de alguma forma, foi profundo e autoritário, e nos fez parar.

Mason a encarou por um momento, ainda atordoado. Mas então ele pareceu se recompor e riu desdenhosamente. "E o que você vai fazer a respeito, hein? Ninguém vai vir salvar você."

Mas ele estava errado.

A porta da frente se abriu com uma força que fez com que batesse na parede. Uma figura imponente preencheu a entrada—cabelos escuros, olhos intensos e uma aura que comandava atenção.

Antes que Mason pudesse reagir, Alaric avançou e desferiu um soco rápido em seu queixo. Mason desabou no chão como um boneco de pano, inconsciente.

"Papai!" Zoe gritou, seu rosto se iluminando enquanto corria em direção a Alaric.

Antes que eu pudesse responder, senti minhas forças se esvaírem. Meus joelhos cederam, e o quarto começou a girar ao meu redor enquanto eu começava a cair.

De repente, braços quentes me ergueram, segurando-me contra um peito firme. Alaric me segurava sem esforço.

Antes de desmaiar, ouvi ele sussurrar.

"Deusa, finalmente te encontrei."

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