Capítulo 4
Elara
Acordei com o zumbido de um motor e o balanço suave de um veículo em movimento. Minha cabeça latejava levemente, e demorou um momento para minha visão se ajustar. A primeira coisa que notei foi o assento de couro macio sob mim, muito luxuoso para pertencer a qualquer carro em que eu já tinha estado. O pânico tomou conta de mim ao perceber que estava deitada no banco traseiro de um carro desconhecido, aninhada nos braços de alguém.
Meu coração disparou. Levantei-me bruscamente, lutando contra o aperto forte que me segurava. "Me solta!" gritei, tentando me libertar. "Onde está minha filha? O que você fez com ela?"
"Mamãe, estou bem aqui," veio a voz suave de Zoe.
Parei de lutar, meus olhos se voltando para o som. Lá estava ela, sentada confortavelmente em uma cadeirinha ao meu lado, suas pernas balançando alegremente enquanto bebia de uma caixinha de suco. O alívio tomou conta de mim, mas a desconfiança permaneceu.
"Zoe, você está bem?" perguntei, minha voz trêmula.
Ela assentiu, um sorriso brilhante no rosto. "Sim, mamãe. Não é incrível esse carro? O papai me deu suco de maçã!"
Papai.
Voltei meu olhar para o homem ao meu lado, aquele que me segurava—Alpha Alaric. Sua expressão era indecifrável, os olhos fixos à frente. Afastei-me dele, pressionando-me contra a porta.
"O que está acontecendo? Para onde você está nos levando?"
Ele me olhou brevemente. "Para minha casa. Precisamos começar a papelada."
"Papelada?" repeti. "Que papelada?"
Seu Beta, que estava dirigindo, me olhou pelo retrovisor. "Senhora Spencer, há seis anos, sua filha biológica, Ella, e a filha do Alpha Alaric foram trocadas na maternidade."
Olhei para ele, a descrença revirando meu estômago. "Isso é impossível. Você está mentindo."
O rosto de Alaric permaneceu impassível. "Acredite no que quiser. Mas você verá em breve."
Olhei de volta para Zoe, que parecia alheia à conversa. Como isso poderia ser verdade? Zoe era minha filha—eu a tinha dado à luz, segurado em meus braços desde o primeiro momento.
O carro parou em frente a uma propriedade enorme logo em seguida. Portões de ferro altos se abriram silenciosamente enquanto nos aproximávamos, revelando jardins bem cuidados e uma mansão que parecia saída de um conto de fadas.
Segurei a mão de Zoe com força enquanto saíamos do carro, meus olhos vasculhando ao redor em busca de qualquer rota de fuga possível. Era bonito aqui, mas eu me recusava a acreditar que algo bom sairia disso.
"Venham comigo," disse Alaric, dando passos largos em direção à porta da frente.
Nós o seguimos para dentro, onde o interior era ainda mais bonito. Lustres de cristal pendiam de tetos altos, e pisos de mármore brilhavam sob nossos pés.
No final do grande hall, uma menina estava sentada em um assento de janela, olhando para os jardins. Ela tinha cabelos castanhos encaracolados e olhos grandes que refletiam os meus.
Alaric se aproximou dela gentilmente. "Ella," ele disse suavemente, "esta é sua mãe biológica, Elara. Elara, esta é sua filha. Sua verdadeira filha."
Ela virou a cabeça para mim e depois para Zoe, e meu coração parou. Ela olhou fixamente para Zoe antes de olhar de volta para mim. Assim que nossos olhos se encontraram, uma sensação estranha me envolveu—uma conexão profunda e inexplicável.
"Você?" sussurrei, dando um passo hesitante à frente. "Você é minha—"
"Eu não quero uma mãe," ela declarou, seu pequeno queixo erguido teimosamente. Havia algo nela, como se fosse muitos anos mais velha do que realmente era. Como se sua alma tivesse estado por aí mais tempo do que seu corpo. "Fique longe de mim."
Antes que eu pudesse responder, ela saltou do assento e correu escada acima, desaparecendo de vista. Uma pontada de tristeza atravessou meu coração.
“Espere!” Chamei por ela, mas não adiantou.
“Ela tem sido... resistente à ideia,” o Beta ofereceu desculpas.
Senti a pequena mão de Zoe apertar a minha. “Está tudo bem, mamãe,” ela disse suavemente.
Ajoelhei-me para ficar na altura dela. “Você está bem, querida?” Perguntei suavemente, colocando uma mecha de cabelo escuro atrás da orelha dela.
Ela assentiu, os olhos cheios de preocupação. Então ela se virou para Alaric, a voz pequena, mas firme. “Por favor, papai, posso ficar com a minha mamãe?”
Alaric a observou por um momento antes de olhar para mim. “Precisamos conversar,” ele disse. “Em particular.”
Um nó se formou no meu estômago, mas eu assenti. “Tudo bem.”
Ella ficou com o Beta, cujo nome era James. Eu não gostava da ideia de deixá-la com um homem estranho, mas Alaric insistiu que James cuidaria bem dela. Tudo aconteceu tão rápido. Alaric então me levou por um corredor até um escritório espaçoso, cheio de estantes altas e móveis de madeira escura. Uma vez lá dentro, ele fechou a porta atrás de nós.
“O que está acontecendo?” Exigi, cruzando os braços defensivamente.
Alaric se moveu para trás de uma grande mesa. “Vou continuar investigando o incidente da troca de crianças,” ele começou. “Enquanto isso, quero que saiba que cuidarei bem das duas crianças a partir de agora.”
Estreitei os olhos. “O que você quer dizer com isso?”
Ele encontrou meu olhar diretamente. “Exatamente o que eu disse.”
A compreensão surgiu em mim, e a raiva inflamou meu peito. “Você não pode simplesmente tirar minha filha de mim! Eu criei Zoe por seis anos—ela é minha filha em todos os sentidos que importam.”
Ele permaneceu impassível, alcançando uma gaveta e puxando uma pasta grossa. “Sua situação financeira, dívidas, falta de recursos educacionais, condições de vida…” Ele listou tudo, deslizando a pasta pela mesa em minha direção. “Tudo isso mostra que você não está em posição de prover adequadamente para nenhuma das crianças.”
Eu olhei para a pasta, mas não a toquei. “Então você vai simplesmente tirá-las de mim? Assim, de repente?”
“Para o bem-estar delas, sim,” ele respondeu friamente. “Mas você não precisa se preocupar. Elas terão tudo o que precisam aqui. Viverão no luxo e terão vidas extremamente felizes e realizadas.”
Balancei a cabeça veementemente. “Não. Eu não vou deixar você fazer isso. Você não tem o direito de separar uma mãe de seus filhos.”
Ele suspirou, como se achasse a conversa cansativa. “Você não entende? A mídia já pegou a história da minha filha perdida. Zoe foi exposta. Neste mundo brutal de lobisomens, você pode garantir sozinha a segurança dela como futura herdeira do império Donovan?”
Abri a boca para argumentar, mas nenhuma palavra saiu. Lembranças de Mason invadindo meu apartamento passaram pela minha mente—como eu tinha sido impotente para detê-lo, como desmaiei quando Alaric interveio.
Ele continuou, seu tom suavizando apenas uma fração, “A herdeira do império Donovan precisa de proteção, não de um apartamento apertado com nada além de uma porta de madeira fina para mantê-la segura.”
Fiquei em silêncio, minha determinação vacilando. Meu único desejo era que meus filhos crescessem em segurança. Mas a ideia de perder Zoe… Eu não conseguia suportar.
Alaric contornou a mesa, ficando a apenas alguns passos de mim. O cheiro amadeirado do seu perfume me atingiu novamente, e eu franzi o nariz, mas mantive o olhar.
“Claro,” ele disse, “uma vez que você ouvir minha oferta, tenho certeza de que mudará de ideia.”
