Capítulo 2
Fechei os olhos por um momento, acalmando meu coração. Mas, instantes depois, dois guardas entraram a passos largos. Sem bater, é claro.
— Alteza, é necessário que venha para a Cerimônia — anunciaram. Assenti com realeza e saí, a cauda do meu vestido verde esvoaçando atrás de mim. Os guardas me seguiram a uma distância respeitosa.
Preferia ir como prisioneira, escoltada por dois guardas, do que como princesa acompanhada pelo meu meio-irmão.
Caminhamos pelo palácio. Todos se curvavam à minha passagem, mas não faziam esforço para esconder a pena em seus olhos. Era só isso que eu tinha. Pena. Ninguém se dava ao trabalho de me dizer para ser forte, para continuar lutando. Suponho que eu mesma teria que me dizer isso.
Andei pelo corredor até finalmente chegarmos à Clareira.
Minha mãe e Forreston já estavam lá. Ela estava sentada no centro, no trono. Elfos trabalharam duro por muito tempo para fazer aquele trono. Era feito de galhos, folhas e frutinhas vermelhas, arranjados em círculos concêntricos.
Ela não merecia sentar naquele trono.
Forreston estava à sua esquerda, com uma espada embainhada na cintura. Ele me lançou um olhar fulminante quando entrei, sem se importar com quem visse. Os conselheiros dela, incluindo Sir Branch, estavam de pé ao lado.
Pétalas rosas e brancas das cerejeiras eternamente floridas, de cada lado do palco, caíam sobre eles como chuva.
Subi os degraus para ficar ao lado do trono, como Forreston, à direita dela. Sempre mantive uma certa distância entre nós nessas ocasiões. Quando cheguei perto do Trono, parei de novo, um pouco afastada.
Ela percebeu, claro, mas não podia dizer nada — pelo menos ali, não.
Virei a cabeça e encarei meu povo. Todos os elfos estavam reunidos abaixo do palco. Bem, nem todos. Só os nobres ricos, que estavam bem em apoiar qualquer um, até minha mãe, se isso significasse manter suas riquezas.
Ou seja, meu verdadeiro povo não estava ali. Eu teria que aguentar mais uma dessas Cerimônias ridículas cheias de propaganda.
Sir Branch avançou à frente da Rainha. — E agora, sua Rainha, Rainha Ivy, irá se dirigir a todos os elfos! — gritou, sua voz ecoando por toda a área. Os elfos aplaudiram educadamente.
Ivy lhe fez um aceno régio e levantou-se do trono, enquanto Branch se afastou para o lado. Parecia estranhamente satisfeito com alguma coisa. Aqueles olhos raramente brilhavam com tamanha satisfação.
Ivy começou a falar: — Elfos! Eu, sua Rainha, Ivy, dediquei minha vida a este Trono!
E matou as filhas por ele.
— Mesmo após a morte do meu marido, governei vocês bem! — continuou com seu longo monólogo sobre como manteve nossa Floresta em harmonia e paz, e como sacrificou tanto pelo Trono.
Eu não aguentava ouvir.
Só voltei a prestar atenção quando ela abriu um sorriso largo e disse: — Então, para o bem da nossa Floresta mais uma vez, tomei uma decisão. Seu Príncipe Forreston já atingiu a maioridade. Daqui a seis dias, ele será coroado Rei!
• • •
Só consegui sentir as pétalas de cerejeira caindo suavemente na minha pele. Quando percebi o que estava acontecendo, minha respiração travou na garganta.
Não.
Quando recuperei a audição, ouvi os elfos nobres aplaudindo. Claro que aplaudiriam.
Um rápido olhar para a direita mostrou Forreston sorrindo de orelha a orelha com o anúncio. Ivy sorria benignamente para a multidão, como se tivesse feito um grande favor a todos.
Eu não conseguia respirar.
Forreston, o Rei? Forreston, no Trono que deveria ser do meu pai ou da Laurel. Se não fosse a Laurel, uma das minhas outras irmãs — ou até eu mesma, por mais estranho que parecesse. Qualquer um, menos Forreston. Ele nem era de sangue real!
Bem — talvez, dada a situação atual, linhagem não importasse tanto. Mas alguém como Forreston seria um governante horrível.
Pior que isso.
Comecei a tremer, pensando no que isso significaria para nossa Floresta, e acabei perdendo o resto do discurso. Quando percebi, os guardas já me levavam por outro corredor — não o que eu tinha vindo, mas o que levava ao lugar onde eu realmente morava.
Passei por um corredor longo, desci escadas forradas de tapete vermelho, atravessei uma ala inteira do castelo. As paredes mudavam de painéis de madeira fina para tijolos, o chão de carpete macio para madeira simples e depois para pedra áspera. Finalmente, em um canto do castelo, os guardas abriram uma porta e me deixaram seguir sozinha.
Havia guardas alinhados nas escadas, mas me lembrei de manter a cabeça erguida e ignorá-los, fingindo que não estava humilhada. Os degraus eram bem largos, largos o suficiente para eu fingir que nem via os guardas.
Me deixar descer aquelas escadas úmidas e fedorentas sozinha era um tipo especial de crueldade. Uma crueldade sutil, feita para que a vítima se sentisse... vulnerável. Envergonhada.
Eu estava determinada a não deixar isso me abalar.
As escadas eram de pedra bruta, irregulares e praticamente intermináveis. À medida que eu descia, ficavam mais escorregadias com limo e água, dificultando ainda mais minha caminhada.
Tropecei no meio, perdi o equilíbrio por um instante antes de apoiar a mão na parede e me segurar. Fiquei ali por um momento, respirando fundo.
Não era estranha a cair nessas escadas, e pela experiência sabia que era muito doloroso e bastante repugnante.
Finalmente, cheguei ao fundo. Suspirei. Havia um canal separando-me da minha cela. Eu teria que atravessar o esgoto para chegar lá. Felizmente, não havia guardas ali.
Minha mãe pelo menos respeitava minha privacidade até esse ponto. Ou talvez achasse um desperdício colocar guardas ali, já que havia muitos nas escadas e do lado de fora. Eu nunca conseguiria escapar.
Levantei o vestido e entrei. Era frio, algo com que eu podia lidar, e fedia, mas eu já estava acostumada. Pedaços de lixo batiam na minha pele enquanto boiavam.
Eu estremecia toda vez que algo me tocava, sem saber o que era. Podia haver qualquer coisa nesses esgotos, e as coisas que já encontrei... melhor nem mencionar.
Finalmente atravessei. A água do esgoto chegava até a minha cintura, então minhas pernas estavam encharcadas e cobertas de limo verde quando cheguei do outro lado. A porta estava sempre aberta para mim, não que eu pudesse fugir, com tantos guardas por toda parte — eu já tinha tentado.
Entrei na minha cela. Um banco de pedra pendia, suspenso por correntes de ferro em um canto, ao lado de uma pilha de feno. Era onde eu dormia, já que o feno era um pouco mais confortável que o banco.
No centro da parede estava a parte que eu mais odiava. Manchas de sangue escorriam pelas pedras. Virei o rosto e me sentei no banco, sabendo que era só uma questão de tempo.
Dois anos atrás, Juniper esteve aqui comigo, antes dela Holly, antes dela Willow. Eu tinha quatorze anos quando Juniper foi morta. Mal me lembrava das minhas irmãs, além dela, Willow e Holly.
Elas faziam companhia.
Agora, o silêncio me consumia. Isso era algo que eu absolutamente não suportava, mas tinha que aguentar. Passei a cantar para mim mesma quando sentia medo, doces canções de ninar que lembrava da infância.
Mas não havia tempo.
Logo, ouvi três passos ao longe. Reconheci o som das botas de Forreston, o andar suave da minha mãe e o passo firme de Sir Branch. Estava tão acostumada a eles que sabia imediatamente quem se aproximava, e quando.
Eles logo chegaram, parando diante de mim. Os três, tão parecidos. O cabelo preto e longo de Ivy igual ao de Forreston, os olhos castanhos de Birch iguais aos dele.
Sir Branch Hawthorn era o principal conselheiro — e amante — da Rainha. Era tão cruel quanto o filho, e tão astuto quanto Ivy. — Então. Insolente. Rebelde. Respondendo ao meu filho? — começou Ivy. — Também sou sua filha! — exclamei. Por que ela nunca, nunca me tratava assim?
Os olhos dela se arregalaram levemente. — E falando comigo desse jeito? Forreston, concedo seu desejo. Você pode fazer a punição esta noite. De qualquer forma, logo será Rei. Precisa aprender a lidar com essas situações.
Meus olhos caíram para sua cintura, onde, no lugar do cinto, havia um chicote. Forreston sorriu, seus olhos arrogantes encontrando os meus, cheios de medo.




































