Capítulo Quatro

EU NÃO TENHO MAIS TEMPO, então, por favor, eu sei que não deveria pedir isso depois de cada vida que minhas mãos terminaram... mas eu não consigo evitar. Então, estou pedindo uma segunda chance. Mais uma chance e eu farei diferente. Eu juro que farei.

Deixe-me fazer certo. Estou implorando, Mikla! Ou quem quer que tenha o poder de me conceder este último desejo-

Estou com tanto medo da morte... E eu sei que não deveria estar, já que me tornei tão familiar com ela, mas eu estou. Eu não acho minha morte atraente de forma alguma. Ela me assusta mais do que qualquer coisa.

Quando vi Dalilah voltando para o lado de Christopher, finalmente deixei as lágrimas caírem, sentindo-as se misturarem com o sangue no meu rosto.

Quando me virei para encontrar os olhos frios e brilhantes, vermelho-rubi, do carrasco sob seu capacete negro como breu, vi o machado perigosamente perto do meu precioso pescoço. Ele o ergueu mais alto. E quando estava prestes a me decapitar, juro que senti ele sorrindo para mim.

Não só isso, mas pelo olhar em seus olhos, ele parecia se divertir com o que ia fazer a seguir. E o mais estranho era que, embora ele estivesse transbordando de sede de sangue, eu sentia como se nada disso fosse direcionado a mim.

Mas se... se não era, por que ele parecia tão satisfeito? Isso me deu arrepios. Meu corpo tremia de medo com sua reação assustadora e inesperada.

Juro que senti como se seus olhos pudessem ver através da minha alma. Como se... ele pudesse me ver de uma maneira que ninguém mais poderia... se ele pudesse ver tudo o que aconteceu, a verdade.

Droga.

O que diabos está acontecendo comigo? Que tipo de sentimento é esse? Por que estou tão consciente desse homem? E quem diabos é ele? Por que esse cara parece tão estranhamente familiar quando não tenho memórias dele?

Fechei os olhos esperando pela minha morte. Amaldiçoando Dalilah e o perverso 3º Príncipe Imperial Christopher, meu maldito cunhado, que foi uma pedra no meu caminho e que organizou minha execução junto com meu nefasto irmão gêmeo. Amaldiçoando cada pessoa presente que está feliz com a minha morte.

Preparando-me para a sensação iminente de, literalmente, perder minha outrora bela cabeça. E naquele momento, um vento gelado envolveu meu corpo e entrou pela minha boca. Engasguei com sangue mais uma vez.

Senti o interior do meu corpo congelando pouco a pouco, enquanto uma sensação familiar me preenchia de uma vez, assim como a dor, e quando a dor se tornou insuportável, piorou.

Então ouvi uma voz mandando ele parar, meus olhos se abriram amplamente e por um breve segundo tive esperança, mas foi esmagada no momento em que vi o rosto nojento do meu cunhado e então ele falou novamente, "Espere um pouco, carrasco!"

Minha atenção foi para o cara dos olhos vermelho-rubi e talvez eu tenha visto errado, mas juro que ele parecia irritado com o 3º Príncipe Imperial. Pelo menos devemos ter isso em comum. "Querido, por que está interrompendo a execução dela?" Dalilah perguntou fingindo tristeza.

"Acabei de lembrar que o General pediu os olhos dela," ele tinha um sorriso perverso no rosto, e senti minha garganta secar. Quem é esse General? Por que ele quer meus olhos?

"Sua Alteza Imperial, isso não é um pouco demais?" O carrasco falou, me surpreendendo não só por falar em meu favor, por qualquer motivo que fosse, mas por ter uma voz tão profunda. Além disso, sua sede de sangue estava totalmente focada no meu cunhado.

Christopher o encarou irritado, "Com licença? Você acha que tem algo a dizer sobre isso? Quem é você para interferir em tais assuntos? Está sentindo pena dessa criminosa?" Ha, agora eu sou a criminosa. "Você sabe quantas vidas ela tirou? Você talvez queira morrer com ela?" Esse desgraçado é demais.

O cara dos olhos vermelho-rubi apenas o encarou, e acredito que o idiota sentiu sua aura assassina, porque deu três passos para trás, sendo o covarde que sempre foi. "Acredito que não. Então afaste-se e deixe-me fazer o que preciso," espere...

Ele vai tirar meus olhos-

Ele se aproximou mais rápido do que eu poderia prever e me deu um olhar divertido de cima a baixo. "Que visão satisfatória," eu deveria ter matado esse desgraçado antes. "Você deve estar morrendo de vontade de me matar, né," pelo menos ele não é tão alheio. "Quão furiosa você deve estar," o idiota cobriu meus olhos com as mãos e começou a esmagá-los com os dedos, "ao saber que eu serei a última pessoa que você verá na sua vida!"

Quando seus dedos se separaram um pouco, tive um último vislumbre dos belos olhos do carrasco, então minhas últimas lágrimas rolaram e senti meus globos oculares sendo arrancados do meu crânio. Meus gritos não puderam ser ouvidos, soavam apenas como grunhidos de um animal ferido. E eu só podia sentir as lágrimas de sangue molhando minhas bochechas.

"Droga," ele falou novamente, claramente satisfeito. "O General vai se divertir com isso!" Senti quando ele se afastou de mim, provavelmente voltando para o lado de Dalilah. "Agora você pode continuar, carrasco!"

Reconheci sua aura quando ele se aproximou, parecia gentil, ele provavelmente pensa que sou uma pessoa digna de pena, "Sinto muito, Princesa Natasha," ele sussurrou baixo o suficiente para que só eu ouvisse.

Por que ele pediria desculpas? Não é como se nada disso fosse culpa dele. Eu nem o conheço, mas ainda assim estou grata por ele ter sido a última pessoa que vi e não Christopher. Pelo menos ele tem olhos bonitos.

"Desculpe," ele murmurou novamente e o tom de sua voz era como se ele estivesse em agonia.

E então, finalmente aconteceu. Senti minha carne e meu pescoço sendo rasgados e minha cabeça se separando lentamente do meu corpo quando o machado do carrasco me atingiu. Seus movimentos foram rápidos, eu sabia disso pelo som afiado que sua lâmina fez antes de me tocar, mas parecia que ele levou horas para cortar.

Inesperadamente, após um segundo que parecia um bilhão de anos torturantes, meus olhos se abriram friamente e não só pude ver tudo, mas o carrasco com seus deslumbrantes olhos vermelho-rubi não estava mais à vista. Nem eu estava mais em frente à multidão, sendo executada em frente ao Palácio Imperial.

Eu estava em um lugar completamente diferente.

※※※※※

Segunda e Atual Linha do Tempo

※

Senti minha língua intacta e úmida na boca e quando me dei conta, já estava gritando de dor. Meus belos olhos de volta onde pertencem. Meu pescoço e braços também intactos. Não há sangue no meu rosto, pescoço ou corpo.

Isso é real ou estou sonhando?

Parei de gritar no momento em que percebi que não estava mais no centro da praça em frente ao palácio real, mas no meu quarto infantil no Castelo Greenhall, nossa mansão em Theolia, a Capital Imperial. Onde só vínhamos quando a primavera começava e nós, como membros da realeza, tínhamos que passar a estação na capital.

"Isso não pode ser um sonho! Isso é real? Meu desejo foi concedido?" Gritei, já chorando de felicidade. "Ainda estou viva..."

Soltei um suspiro profundo.

"Ou devo dizer que voltei à vida? Porque eu voltei... Eu estou de volta..." Sussurrei para mim mesma, tentando me fazer acreditar no que havia acontecido.

Toquei meu pescoço, meus braços finos, pernas curtas, peito não tão plano mas ainda não tão grande, cabelo longo e bagunçado, e meu rosto macio tentando ter a confirmação que precisava. "Obrigada, Deusa! ...Ou quem quer que tenha me salvado! Eu devo minha vida a você. Quando descobrir quem me salvou, farei o possível e o impossível para agradecer a pessoa ou divindade... ou qualquer criatura que fez isso! Mas agora, preciso saber quantos anos eu tenho."

Levantando-me com minhas próprias pernas, corri para o espelho, e o que vi me chocou profundamente. Sem cicatrizes ou ossos quebrados e olhos roxos no meu rosto, nem em qualquer parte visível do meu corpo, e todos os membros do meu corpo estavam realmente lá novamente. Isso deve ser meu eu de treze anos!

Como posso saber?

Simples, cerca de um mês antes do meu décimo quarto aniversário, entrei em uma briga com um aprendiz dos Cavaleiros no Grão-Ducado de Nicholai em Leopenia, a região norte do Império, governada pelo meu pai, e isso deixou uma cicatriz no meu antebraço esquerdo.

E quando olhei meu reflexo novamente, ainda havia um pouco de luz nos meus olhos. Depois de encarar meu reflexo com a mandíbula no chão por um tempo que parecia uma eternidade, corri de volta para minha cama antes que alguém pudesse vir aqui.

Estou de volta e com treze anos novamente de acordo com meu corpo. E eu não vou deixar a história se repetir. As coisas vão ser diferentes desta vez, ou meu nome não é Natasha Mary-Anne Ludwick Nicholai!

Você me fez uma vilã controlando minha mente, Dalilah. Agora eu serei a vilã, mas da sua história! Vou destruir você e aquele maldito 3º Príncipe Imperial. Vou usar minha segunda chance da melhor maneira possível. Você disse que nos veríamos novamente no inferno, então não se preocupe, irmã, vou realizar seu desejo, fazendo da sua vida um inferno na terra.

Você vai pagar pelo que fez, querida irmã. Desta vez, as coisas vão mudar. Vou viver por mim e por Valerian, e farei as pessoas verem suas verdadeiras cores.

A Deusa pode te perdoar, mas eu nunca vou!

Vamos ver quem vai acabar decapitada desta vez.