Melhor comportamento
Tropecei nos saltos, cada passo uma batalha enquanto eu me dirigia ao banheiro comum, em vez do meu quarto. Voltar ao meu quarto enviaria uma mensagem.
Uma mensagem que Shallow não aceitaria bem.
Ele diria que eu estava evitando ele. Evitando seu ilustre convidado.
E eu não queria ser punida por isso.
Mas, ao entrar no banheiro, eu congelei.
A filha de Shallow. Fiona.
Ela já estava lá, braços cruzados, os lábios se curvando em um sorriso sarcástico no momento em que me viu.
Suspirei. Agora eu tinha que lidar com isso também.
"A prostituta interesseira está aqui", ela zombou.
Forcei um sorriso doce. "Oi, Fiona. Como está a dor de dente?"
O rosto dela se contorceu. "Não me responda, sua vadia!"
Dei de ombros. "Vejo que a dor está fazendo sua boca soltar palavrões."
As mãos dela se fecharam ao lado do corpo. "Você vai pagar por isso", ela sibilou antes de sair em uma tempestade de tecido caro e arrogância.
Suspirei novamente, segurando a pia. Eu não deixaria que eles me quebrassem.
O pai deles podia me maltratar o quanto quisesse, mas eu não deixaria que seus filhos me intimidassem também.
Encontrei meu próprio olhar no espelho, e minha respiração falhou.
Ai, meu Deus.
Meu batom estava borrado.
Um sinal visível. Um sinal perigoso.
Será que Fiona notou?
Rezei para que não enquanto pegava um guardanapo, limpando e corrigindo a bagunça. Mas minhas mãos tremiam, não de medo...
Da realização.
Eu beijei Damien. Damien me beijou.
Oh mon Dieu.
Isso era muito. Demais.
Mas eu precisava voltar lá para dentro.
Respirei fundo, ajeitei meu vestido e encarei meu reflexo mais uma vez.
Eu era Éloise Moreau.
E eu era forte.
Erguendo o queixo, dei meia-volta e saí.
Enquanto caminhava, desejava poder arrancar esses saltos. Cada passo era um lembrete do controle de Shallow, do jeito que ele ditava o que eu vestia, como eu parecia. Mais cedo, eu estava sem fôlego, não apenas por Damien, mas pela sufocante apertidão desse vestido.
Cheguei à escada e agarrei o corrimão, descendo lentamente. As vozes deles subiam do salão de jantar, um murmúrio de conversa e risos. Minha mente estava tão ocupada, que não notei o pé que se estendeu no meu caminho até ser tarde demais.
Meu salto prendeu.
Eu engasguei, tropeçando para frente, caindo de joelhos e palmas com um grito agudo. A dor do impacto irradiou pela minha pele machucada, e a humilhação queimou mais forte. Levantei a cabeça, meu pulso retumbando nos ouvidos.
Uma risada baixa.
Fabio.
O filho mais velho de Shallow se endireitou de onde estava recostado preguiçosamente no corrimão, me olhando de cima com um sorriso satisfeito.
"Fabio!" Eu gritei, minha voz tremendo de raiva e vergonha.
Ele apenas inclinou a cabeça, fingindo inocência. "Sim, boneca?"
Me obriguei a levantar, gemendo enquanto a dor subia pelos meus joelhos. "Por que você me fez tropeçar?"
Antes que ele pudesse responder, outra voz cortou o ar.
"Eloise", o tom de Shallow era suave, quase divertido, enquanto ele se aproximava de mim, sua filha Fiona seguindo atrás. "Achei que eu tinha dito para você se comportar."
Meu estômago se apertou.
"Eu não estava fazendo nada", protestei, engolindo o nó na garganta. "Ele me fez tropeçar. Ele, "
O tapa veio antes que eu visse.
Um estalo de carne contra carne.
Minha cabeça virou para o lado, minha bochecha ardendo, queimando, e minha respiração falhou. O quarto girou por um momento antes de se estabilizar no silêncio.
Eu não ousava me mover.
Shallow me encarava, sua expressão ilegível, como se me bater fosse nada mais que uma repreensão casual.
E eu sabia, sem dúvida, que o pior ainda estava por vir.
"Como você pode acusá-lo de truques tão mesquinhos?" A voz de Shallow era afiada, carregada com decepção fingida. "Como você pode me envergonhar na frente de um convidado? Eu te avisei, Eloise. Agora, você terá que ser punida."
Levantei a cabeça, encontrando seu olhar, e pela centésima vez, me perguntei, ele realmente acreditava nas mentiras deles, ou simplesmente gostava de me punir? Ele realmente acreditava neles, ou eu era apenas um alvo fácil para sua crueldade?
Um nó se formou na minha garganta, e eu funguei, tentando controlar minhas emoções.
"Vá sentar", ele latiu.
Eu estremeci, mas obedeci, virando de volta para a mesa de jantar. Meu corpo doía enquanto eu me movia, minhas pernas ainda instáveis pela queda, minha bochecha queimando pelo tapa.
Cheguei à minha cadeira, e meu estômago se revirou quando meus olhos pousaram em Damien. Ele estava lá, expressão fria e ilegível, observando, analisando.
Baixei o olhar, coração martelando, e me sentei no assento à sua frente.
Quão pior essa noite poderia ficar?
Eu odiava minha vida.
