Capítulo 1: Minha paixão de infância

Pensei que meu dia ia ser muito bom, mas não estava preparada para o que iria acontecer.

"Priscilla, querida..."

Ah não, por favor não.

"Oi..." digo entediada, sem prestar atenção no meu celular, muito menos esperava uma ligação da minha mãe.

Estou tão ocupada agora. Foi anunciada uma grande mudança no escritório. Meu chefe nos disse que estaríamos trabalhando com um novo cliente. E é tudo o que consigo pensar, parece importante.

As pessoas dizem que a mudança é boa, eu só quero uma oportunidade, preciso de um pouco de esperança na minha vida.

"Só estou ligando para te avisar... que o casamento da Lily está chegando. Os Fairfaxes não só convidaram sua irmã, todos nós fomos convidados, seria ótimo! E meu deus... tem tanto a fazer!" ela diz com óbvia admiração.

Eu tinha esquecido... dos Fairfaxes, mas como esquecê-los? Só a menção desse sobrenome me faz tremer.

"Sim, sobre isso, não sei se devemos..."

"O quê? O que você está dizendo...?"

"Quero dizer... não somos da família deles... nós..."

"Bobagem! Este é o maior evento! Toda a alta sociedade estará lá!" ela diz.

"Mãe... nós não somos..."

"Você vai com sua irmã e comigo para esse casamento, eles têm sido muito bons amigos, nos ajudaram sempre que puderam! Certo? Quero que faça o que precisarem. Entendeu? Eles precisam de nós!"

Eles precisam de nós? A família Fairfax é da alta sociedade, e nós... por outro lado, lutamos e sofremos para receber um salário. Minha mãe tem um pequeno salão de beleza, e meu pai nunca mais apareceu. Eu tenho um emprego tranquilo, minha irmã trabalha com minha mãe. Sabe... uma família comum.

"E tente se vestir um pouco melhor, ser mais feminina, compre roupas se necessário... Tenho que ir, estão me chamando agora! Tchau!" ela diz apressada e desliga.

Nossa... ótima conversa.

Pelo menos os comentários foram sobre minhas roupas e não sobre meu corpo, ela costuma me dizer que estou acima do peso. Como se eu não tivesse um espelho!

Mais drama na minha vida, como se eu precisasse disso.

Lily Fairfax e minha irmã Caroline... melhores amigas para sempre. Embora ninguém saiba como elas ainda são amigas. Ou talvez seja só eu.

Caroline é um personagem bastante egocêntrico, enquanto Lily é a garota mais doce, gentil e adorável que conheço. Nossas famílias se tornaram amigas, mas não tão próximas a ponto de estarmos envolvidas no casamento dela. Não vejo Lily há anos!

E você pensaria que casamentos são agradáveis, sim, são. A questão com os Fairfax... é quase certo que o irmão dela vai estar lá, e... isso é ruim... terrível.

O problema era Ethan. Só de pensar nele, meu estômago dói. Tenho que inventar desculpas, muitas desculpas para não ir a esse casamento de jeito nenhum.

Ethan... bem, para mim, ele era o garoto perfeito. Meu melhor amigo quando eu era criança. Ele era o sonho de toda garota no ensino médio e minha primeira e única paixão.

Passei anos sem pensar em tudo o que aconteceu naquela época, ainda dói, chorei tanto por causa dele.

Minha vida nunca mais foi a mesma e minha autoestima foi destruída, como eu poderia sequer vê-lo? O que eu diria a ele? Não, não... melhor nem pensar nisso.

Acho que a vida dele deve ter sido boa, éramos tão diferentes quando crianças, nossas famílias e nossa classe social, mas não percebi até ser tarde demais.

Ethan era tão bonito, popular, inteligente e eu... não era nada. Às vezes, quando penso nele, me pergunto como ele está agora. Ele deve ser bem-sucedido, casado e feliz. Não, não... melhor nem pensar nele. Dói demais. Ainda lembro das palavras dele que me dilaceraram.

Provavelmente ele estará no casamento da irmã, não há como ele não estar com ela naquele dia importante. Mas eu não irei, e não o verei, e tudo ficará bem. Exatamente, tudo ficará bem, Priscilla.

Trabalho em uma empresa de construção e meu chefe recentemente começou um pequeno departamento de design de interiores. Sempre quis ser uma espécie de artista, mas infelizmente não pude.

Mas todos nós temos que começar em algum lugar e quando vi a oportunidade, agarrei-a. Tenho que aprender muitas coisas. Normalmente me concentro no depósito, olhando os materiais, móveis e plantas que serão usados nos poucos projetos em andamento.

E um novo cliente é sempre uma boa notícia. Meu chefe disse que provavelmente trará novos projetos e clientes maiores! Mas enquanto eu pensava em oportunidades, meus colegas só falavam sobre o novo cliente, especificamente o quão atraente ele era.

Há muita agitação, mas no geral, o novo cliente é atraente, e ouço vários comentários.

"Quer dizer... ele é tão bonito assim, de verdade?"

"Garota... você não tem ideia. Eu o vi ontem em uma reunião. Ele é incrivelmente bonito!"

"Conta como ele é!" outro grita.

"Uau, um arraso: jovem, alto, loiro, com uma pele maravilhosa, voz sexy pra caramba, roupas requintadas e caras"

"Ele é solteiro?" ouço outros perguntarem e, enquanto vou para minha mesa, por dentro sorrio.

Não tenho sorte com relacionamentos. Meus ex-namorados não eram as pessoas mais carinhosas e atenciosas do mundo. Dois relacionamentos passados, não é que tenham sido muitos.

Nada excepcional, nenhum amor avassalador, apenas isso... relacionamentos comuns. Acho que eles se acomodaram e depois se cansaram de mim.

Mas vamos lá... tenho certeza de que o novo cliente nem vai me olhar, quero dizer, não sou estúpida ou iludida. Há garotas bonitas no escritório e um homem assim deve ser casado, noivo ou ter muitas namoradas.

Sei que sou uma pessoa muito legal e uma mulher bonita, como Suzy, minha melhor amiga, continua me dizendo... ainda sou uma mulher que não está no padrão de beleza.

Sou baixa, tenho muitas curvas, pernas largas e quadris largos. Na escola, costumavam zombar de mim por causa do meu físico, e isso me afetou profundamente, até hoje. Aprendi a me aceitar do jeito que sou. Pelo menos continuo tentando.

"Ahhh ela está aqui..." ouço de meus colegas e percebo que é a Kate.

"Meninas, aquele homem está fora do alcance de todas... se alguém pode conquistá-lo aqui... sou eu. Não é só o cliente atraente, mas bem relacionado e inteligente! Ele não é apenas um rostinho bonito. Então, parem com a besteira e vamos trabalhar."

"Ei!..." meus colegas começam a dizer. Quando meu chefe grita conosco.

"Todos! Vamos trabalhar, temos uma reunião importante hoje! Nosso novo cliente deve estar chegando em breve, e espero que tudo esteja perfeito."

Hoje? Droga! Não esperava que fosse tão cedo.

"Priscilla... você poderia me trazer uma cópia do novo contrato? E não se esqueça das atualizações" Ele me pede com sua voz firme, sem nem mesmo me cumprimentar.

Ele é um bom homem, meio que um bom chefe, mas intimidador. Para mim, é mais ou menos agradável porque estou sempre disposta a ajudar e aprender. Com meus outros colegas, ele é bastante frio. Estou acostumada com suas maneiras, e ele parece estressado hoje, então vou rápido.

Concentro-me no trabalho e em tudo o que tenho que fazer e preparo tudo rapidamente, e acho que meu chefe ficará satisfeito. Agradeço por não ter sido convidada para esta reunião, pois parece ser extremamente importante. Sou apenas uma funcionária comum, é melhor não me envolver em assuntos muito sérios.

Lamento não ter conseguido ir ao banheiro antes de ver o novo cliente atraente, com certeza estou corando, e minha maquiagem não está das melhores, mas não é como se eu estivesse indo para um desfile de moda. É apenas um cliente, por mais atraente e brilhante que ele seja... nada mais, ele não está vindo me ver, de jeito nenhum.

"Priscilla... o chefe disse que quando terminar, você deve levar os documentos para a sala de reuniões," um colega me diz, e é para lá que eu vou.

Quando abro a porta, percebo que a reunião já começou, e congelo.

"Oh, Priscilla... exatamente a pessoa que precisávamos. Estava acabando de falar sobre você para o novo cliente," diz meu chefe.

Ele. Ethan Fairfax está sentado ao lado do meu chefe e com um sorriso deslumbrante. Ele está elegantemente vestido, parecendo um modelo de um milhão de dólares e, mesmo que os anos tenham passado... eu o reconheço.

"Oh... olá Prissy," ele diz.

E sinto que estou tropeçando, alguém me empurrou e caio com um estrondo. Do chão, o vejo...

Não... Não pode ser!