Capítulo 10

Evelyn

Com um suspiro resignado, enfiei a chave na fechadura e empurrei a porta, revelando meu humilde lar temporário. O pequeno quarto continha apenas uma cama de solteiro com um cobertor desbotado, uma escrivaninha bamba e uma cadeira que parecia que poderia desabar sob qualquer peso significativo. A porta do banheiro era visível na parede oposta, entreaberta, revelando azulejos lascados e uma cortina de chuveiro que já tinha visto dias melhores.

Devon entrou sem esperar por um convite, sua figura alta fazendo o quarto parecer ainda menor do que já era. Seus olhos se estreitaram enquanto ele examinava minhas condições de vida, observando as manchas de água no teto e a única janela com sua tranca frágil.

"É aqui que você tem ficado?" Seu tom era neutro, mas eu podia sentir o julgamento por trás dele.

"É temporário," eu disse defensivamente, encostando-me no batente da porta em vez de entrar totalmente. Manter uma certa distância entre nós parecia necessário. "Eu te disse, estou procurando algo mais permanente."

Devon foi até a janela e a testou, empurrando-a para cima. Ela deslizou com quase nenhuma resistência. "Essa tranca é inútil," ele murmurou, mais para si mesmo do que para mim. "Qualquer um poderia entrar aqui com um mínimo de esforço."

Cruzei os braços. "Eu tenho me virado bem até agora."

Ele se virou para me encarar, sua expressão séria. "Este lugar não é seguro para alguém como você."

"Alguém como eu?" desafiei, levantando uma sobrancelha.

"Um lobo solitário com inimigos," ele esclareceu. "Aqueles homens que me atacaram naquela noite em Portland estavam carregando balas de prata. Eles são caçadores, Evelyn. E se eles me rastrearam até Seattle, podem rastrear você também."

Eu queria argumentar, mas a lógica fazia sentido. Balas de prata significavam caçadores, e eles raramente paravam até eliminarem seus alvos. Ainda assim, eu não estava prestes a admitir que ele estava certo.

Devon continuou sua inspeção, verificando a corrente frágil da porta e a janela do banheiro, que também abria com muita facilidade. Quando ele voltou para o quarto principal, sua decisão parecia tomada.

"Arrume suas coisas," ele disse, seu tom não deixando espaço para discussão. "Tenho um lugar mais seguro para você ficar."

Fiquei firme. "Agradeço sua preocupação, Sr. Hall, mas eu sei cuidar de mim mesma."

Seus olhos brilharam com um toque de poder alfa, não o suficiente para me compelir, mas o suficiente para deixar clara sua frustração. "Não se trata da sua independência. Trata-se de segurança prática. Este quarto de motel poderia muito bem ter uma placa de boas-vindas para caçadores."

Nós nos encaramos por um momento tenso. Parte de mim queria recusar por princípio - afinal, eu sobrevivi três anos sozinha. Mas outra parte, a parte racional, sabia que ele estava certo. Este quarto era risivelmente inseguro.

"Se algo acontecer," Devon acrescentou, sua voz suavizando ligeiramente, "você não poderá se proteger aqui. E eu te devo minha vida, lembra?"

Esse último comentário inclinou a balança. Não porque eu quisesse que ele pagasse qualquer dívida, mas porque me lembrou que minha segurança agora afetava outros. Se caçadores viessem atrás de mim aqui, humanos inocentes no motel poderiam ser pegos no fogo cruzado.

"Está bem," eu cedi com um suspiro. "Onde você tinha em mente?"


Os Apartamentos Moon Bay eram simplesmente deslumbrantes. Localizados no distrito mais exclusivo do centro de Seattle, a torre reluzente se erguia acima dos edifícios ao redor, sua fachada de vidro refletindo o céu nublado. Um porteiro uniformizado cumprimentou Devon pelo nome quando entramos no saguão de mármore.

"Boa noite, Sr. Hall," disse o homem com deferência.

Devon acenou em reconhecimento enquanto me guiava em direção aos elevadores privativos. Eu não pude deixar de me sentir deslocada em meus jeans simples e suéter, especialmente ao lado de Devon em seu terno perfeitamente ajustado.

"A maioria dos moradores do prédio são humanos ricos," Devon explicou enquanto o elevador subia suavemente. "Mas o sistema de segurança foi especialmente projetado com a nossa espécie em mente."

O elevador abriu diretamente em um apartamento espaçoso no 30º andar. O espaço era moderno e minimalista, com janelas do chão ao teto oferecendo uma vista deslumbrante do horizonte de Seattle e da Baía Elliott ao fundo. Os móveis pareciam caros, mas confortáveis - um grande sofá seccional, mesa de centro de vidro e um sistema de entretenimento dominavam a área de estar.

"Esta é uma das várias unidades que mantenho no prédio," Devon disse, observando minha reação cuidadosamente. "Está desocupada no momento, então é perfeita para alguém que precisa de segurança e privacidade."

Eu caminhei lentamente pelo espaço, absorvendo tudo. A cozinha era de última geração, com eletrodomésticos de aço inoxidável brilhantes. Um corredor presumivelmente levava aos quartos e banheiros. Tudo estava impecável, como se um serviço de limpeza tivesse acabado de terminar.

"As janelas e portas são reforçadas," Devon continuou, apontando para as quase invisíveis emendas. "Elas podem suportar uma força significativa e são revestidas com um material especial que ajuda a bloquear partículas de prata."

Passei os dedos ao longo da moldura da janela, notando a densidade incomum do vidro. "Os ricos realmente vivem em um mundo diferente," murmurei. "Até suas portas e janelas podem repelir armas de prata."

"Não se trata de riqueza," Devon respondeu, embora ambos soubéssemos que isso era apenas parcialmente verdade. "Trata-se de necessidade. Nossa espécie precisa dessas proteções."

Virei-me para encará-lo, ainda lutando para entender seus motivos. "Por que você está fazendo isso? Por que me ajudar?"

Antes que ele pudesse responder, seu telefone tocou. Ele o tirou do bolso, verificou a tela e franziu a testa. "Preciso atender." Ele se afastou, falando em tons baixos e urgentes.

Quando voltou, sua expressão estava tensa. "Tenho que ir. Há uma emergência na empresa." Ele pegou um cartão de visitas do bolso. "Vou trazer as chaves e suprimentos básicos amanhã de manhã. Tranque a porta atrás de mim."

E assim, ele se foi, me deixando sozinha no apartamento luxuoso. Fiquei no centro da sala de estar, sentindo-me ao mesmo tempo grata e desconfiada.

Caminhei até as janelas, olhando para as luzes da cidade começando a brilhar enquanto o crepúsculo caía. A vista era espetacular, mas tudo em que eu conseguia pensar era em como me vingar...

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