Capítulo 4

Evelyn

Eu estava parada em frente à Escola de Medicina da Universidade de Portland, observando o Bentley preto de Devon desaparecer na esquina. Meu coração ainda estava acelerado por causa do nosso encontro. Ótimo. Ele já sabia onde eu estudava — não demoraria muito para ele começar a aparecer regularmente para me importunar.

Depois da noite passada, eu podia sentir a atração de sua presença de Alfa. Era como estar perto de um ímã poderoso quando você é feito de metal — uma atração involuntária que desafiava a lógica.

"Como diabos vou evitar ele agora?" murmurei, ajustando minha bolsa no ombro. A última coisa que eu precisava era um lobo Alfa interessado em mim, especialmente um que ficou de braços cruzados enquanto eu era exilada.

Meu celular vibrou no bolso, interrompendo meus pensamentos. Na tela, "Avô". Meu dedo pairou sobre o botão de atender. William Gray era o único membro da família cujas ligações eu ainda atendia.

"Evelyn?" Sua voz calorosa e rouca encheu meu ouvido. "Estou de volta a Seattle."

"Avô," eu disse, minha voz suavizando instintivamente. "Como você está se sentindo?"

"Melhor agora que estou em casa. Mas sinto sua falta, criança. Já faz três anos." Houve uma pausa. "Volte para nós."

Fechei os olhos, um conflito fervendo dentro de mim. "Não sei se é uma boa ideia."

"Por favor, Evelyn. A matilha precisa de você."

Aquelas palavras soavam tão irônicas — depois de terem me expulsado impiedosamente três anos atrás, agora de repente dizem que precisam de mim. Era quase risível. Mas pelo bem de William, algo no tom dele fez minha determinação vacilar. Além disso, sair de Portland colocaria uma distância entre mim e Devon.

"Está bem," eu finalmente disse. "Vou dirigir até aí."

"Boa menina. Estarei esperando."


De volta ao meu apartamento em Moon Bay, joguei as poucas coisas que me importavam em uma bolsa de viagem — principalmente equipamentos médicos, algumas trocas de roupa e meu laptop. Minha vida se tornou portátil por necessidade.

Enviei uma mensagem criptografada para a Organização Moonlight: [Aurora temporariamente offline. Mudando de local. Entrarei em contato quando estiver segura.]

As chaves da motocicleta estavam frias contra minha palma enquanto eu dava uma última olhada ao redor do apartamento esparso. Nada ali me deixaria nostálgica. Esse lugar nunca foi um lar — apenas um local para existir.

Enquanto descia as escadas, um SUV familiar chamou minha atenção. Jonathan Gray — meu pai — estava encostado nele, parecendo desconfortável em seu terno sob medida.

"Evelyn," ele acenou rigidamente. "Seu avô me mandou para trazer você de volta."

"Não precisa, eu vou dirigir sozinha." Subi na moto. "Eu sei o caminho para casa. Não esqueci, mesmo que vocês tenham feito de tudo para que eu esquecesse."

Seu rosto endureceu. "Seu avô é a única razão pela qual você está sendo permitida a voltar."

"Bom saber onde todos estão." Liguei o motor, abafando qualquer desculpa que ele estivesse prestes a dar.

A estrada se estendia à minha frente, molhada pela chuva e cinza como o céu acima. O cheiro familiar de Seattle ficava mais forte a cada quilômetro — pinho, chuva e o leve almíscar do território dos lobisomens.

Três anos atrás, eu fiz esse mesmo trajeto no sentido contrário, lágrimas congelando no meu rosto enquanto eu fugia do único lar que conhecia. Uma garota assustada de dezoito anos, acusada de perder o controle durante minha primeira transformação e atacar um humano.

"Eu não sou mais aquela filhote assustada," sussurrei dentro do capacete enquanto o vento chicoteava ao meu redor. O rugido do motor era reconfortante — poderoso e indomável.

Meu aperto no guidão se firmou. "Desta vez, não estou fugindo."


A propriedade da família Gray apareceu à frente, e meu coração afundou. O que antes era uma vitrine orgulhosa do poder da nossa família agora parecia negligenciada. Eu me lembrava de como era magnífica quando minha avó ainda era Alfa — a família prosperava sob sua liderança.

Agora os portões de ferro ornamentados estavam manchados. Os jardins, antes impecáveis, estavam crescidos demais, a fonte central seca. Metade dos lobos de segurança que deveriam estar patrulhando o perímetro estavam ausentes, e os presentes pareciam entediados e indisciplinados.

Parei o carro em frente à casa principal e desliguei o motor. O silêncio que se seguiu parecia pesado.

Victoria e Kate Gray—minha mãe e minha irmã—estavam na entrada, ambas com expressões como se tivessem sentido um cheiro podre.

"Olha só quem voltou," Kate zombou. "O nosso pequeno desastre fora de controle da família."

O olhar frio da minha mãe varreu minha jaqueta de couro e jeans rasgados. "Seu avô está esperando no escritório."

Tirei o capacete, sacudindo o cabelo. "Bom ver vocês duas. Não mudaram nada."

Então fui para o escritório de William.

O escritório do avô permanecia exatamente como eu lembrava—paredes forradas com livros antigos sobre a história dos lobisomens, o cheiro de tabaco de cachimbo e couro velho pairando no ar. William Gray estava sentado em sua cadeira de carvalho entalhada, parecendo menor do que eu lembrava. Seus cabelos prateados estavam mais ralos, seu rosto mais vincado.

Mas seus olhos—aqueles olhos prateados tão parecidos com os meus—brilharam quando entrei.

"Finalmente!" Ele se levantou, braços abertos. "Minha garota voltou para casa."

Atravessei a sala e o abracei, respirando seu cheiro familiar. "Você perdeu peso, avô."

"E você ficou mais forte," ele respondeu, segurando-me à distância para me examinar. "Posso ver isso em seus olhos."

Vozes alteradas vinham do corredor. Kate e minha mãe estavam discutindo sobre meu retorno.

"Ela é perigosa!" A voz de Kate subiu de tom. "Ela quase matou alguém na primeira lua!"

"Ter ela de volta prejudica nossa reputação," minha mãe acrescentou. "O bando vai questionar seu julgamento, William."

O rosto do avô escureceu. Ele caminhou até a porta e a abriu com força.

"Chega!" Sua voz ainda carregava a autoridade do homem que construiu o Bando Gray do nada. "Evelyn é minha neta e uma Gray de sangue. Este território é tanto dela quanto de qualquer um!"

Ele lançou um olhar severo para elas, olhos prateados faiscando. "Olhem o que vocês fizeram com nossas terras em três anos! Nossa segurança é risível, nossos investimentos estão falhando, e vocês ousam tratar seu próprio sangue assim?"

Victoria estremeceu. Kate desviou o olhar.

"Agora," continuou o avô, "já que Evelyn está de volta, ela vai retomar seus estudos na Faculdade de Medicina da Universidade de Seattle."

"Nenhuma escola decente a aceitará," Victoria protestou. "Ela foi expulsa por comportamento violento!"

Kate riu com desprezo. "Além disso, ela esteve fora por três anos. Não poderia recuperar o atraso."

Dei um passo à frente. "Na verdade, completei três anos de curso de medicina em Portland. Transferir os créditos não será um problema para mim."

O avô sorriu orgulhoso. "Amanhã, eu mesmo a acompanharei para fazer a matrícula. Eles não ousariam recusar uma Gray."

Ao sair do escritório, Kate e Victoria me encurralaram no corredor.

"Qualquer joguinho que você esteja fazendo ao voltar," Kate sibilou, "você nunca será a Alfa desta família. Eu me certifiquei disso."

Os lábios da minha mãe se curvaram em um sorriso frio. "Nenhum bando jamais aceitará verdadeiramente uma aberração de lobo branco como você."

Algo se quebrou dentro de mim. Três anos de raiva, dor e solidão cristalizaram-se em uma calma perigosa. Senti meus olhos brilharem prateados enquanto dava um passo em direção a elas.

"Eu não sou a mesma garota que vocês armaram e expulsaram," disse, minha voz caindo para um sussurro perigoso. "Tentem qualquer coisa contra mim novamente, e eu prometo que vão se arrepender."

Para minha satisfação, ambas recuaram instintivamente. Mesmo com meu lobo suprimido, elas podiam sentir que algo havia mudado em mim—algo poderoso e destemido.

Da janela do meu quarto, observei a negligenciada propriedade dos Gray. Três anos atrás, fui forçada a fugir deste lugar, marcada como perigosa e instável. Agora, eu podia ver claramente o que aconteceu na minha ausência: a família Gray estava desmoronando.

Respirei fundo, o ar fresco da noite enchendo meus pulmões. Meu reflexo me encarava de volta da janela—olhos prateados brilhando com determinação.

"Não vou deixar que destruam o que a vovó deixou," sussurrei. "Desta vez, vou recuperar o que é meu."

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