Capítulo 8
Devon
Eu tamborilava os dedos na mesa de conferência polida enquanto nosso analista financeiro continuava a falar sobre as projeções trimestrais. Os dados pareciam promissores – a divisão de pesquisa médica da Hall Corporation havia superado as expectativas novamente – mas minha mente estava em outro lugar. A busca por Aurora, a hacker que salvou nossos sistemas na noite passada, estava se mostrando frustrantemente difícil.
"E como você pode ver, Sr. Hall," o analista continuou, gesticulando para um gráfico, "o valor das nossas ações aumentou quinze por cento desde—"
Meu celular vibrou no bolso. Olhei para baixo, pronto para ignorá-lo, quando vi o nome de Lily piscando na tela. Minha sobrinha nunca ligava durante o horário escolar. Algo estava errado.
"Com licença," interrompi, levantando a mão. "Precisamos fazer uma pequena pausa."
Sem esperar por uma resposta, saí da sala de reuniões e atendi a ligação.
"Tio Devon!" A voz de Lily veio, apavorada e sem fôlego. "Preciso da sua ajuda! Alguém está intimidando minha amiga na escola!"
Meu aperto no telefone se intensificou. "Você está machucada?"
"Não, não eu! É minha nova amiga, Evelyn. Eles estão tentando expulsá-la por algo que ela não fez!"
Evelyn? O nome me deu um choque. Poderia ser a mesma mulher que eu estava procurando?
"Estarei aí em quinze minutos," disse, já caminhando de volta para a sala de reuniões. "Onde exatamente você está?"
"Universidade de Seattle, no escritório do Diretor Fernandez."
Encerrei a chamada e voltei para a reunião. "Peço desculpas, mas surgiu uma emergência. Jason, você vem comigo. O resto de vocês, nos reuniremos novamente amanhã."
O campus universitário estava agitado com atividade quando chegamos no meu Bentley preto. Os estudantes circulavam entre as aulas, alheios às tensões que corriam sob a superfície de seu dia comum.
"O escritório do Diretor Fernandez fica no prédio da administração," disse Jason, verificando o telefone. "Lado leste do campus."
Assenti, caminhando decididamente pelo pátio.
Ao nos aproximarmos do prédio da administração, ajustei minha gravata e diminui o passo. Qualquer que fosse a situação, eu precisava manter a compostura. Lily era impulsiva, e eu não podia me dar ao luxo de deixar sua resposta emocional ditar minhas ações.
Jason abriu a porta do escritório de Fernandez, e eu entrei – então congelei no lugar.
Parada perto da janela, olhos cinza-prateados arregalados de choque, estava Evelyn Gray.
Ela parecia diferente do que eu lembrava – seu cabelo escuro longo preso em um rabo de cavalo arrumado, vestida com jeans simples e um suéter cinza – mas aqueles olhos extraordinários eram inconfundíveis. Eles se arregalaram ligeiramente ao encontrar os meus, reconhecimento e cautela passando por seu rosto.
"Sr. Hall," disse o Diretor Fernandez, levantando-se rapidamente de sua mesa. Notei a leve inclinação de sua cabeça – ele me reconhecia não apenas como um empresário, mas como um Alfa.
Lily correu para o meu lado, agarrando meu braço. "Tio Devon! Você veio!"
Mantive minha expressão cuidadosamente neutra, embora meu pulso tivesse acelerado. "Claro. Qual parece ser o problema aqui?"
Uma mulher de meia-idade com uma expressão azeda estava ao lado da mesa do diretor, braços cruzados firmemente sobre o peito. "Sou a Professora Bennett, e o 'problema' é que essa aluna agrediu minha filha durante a aula de educação física."
Deixei meu olhar se desviar para Evelyn, que estava perfeitamente imóvel, seu rosto uma máscara de compostura. Apenas a leve tensão em seus ombros traía seu estresse.
"Entendo," disse calmamente. "E o que a Srta. Gray tem a dizer sobre essa acusação?"
"Isso pouco importa," Bennett rebateu. "Vários alunos testemunharam o incidente."
Levantei uma sobrancelha, mas mantive minha atenção em Evelyn. Ela encontrou meu olhar firmemente, e senti aquela conexão estranha novamente – como um fio invisível nos puxando juntos.
Assenti para Jason, que avançou suavemente.
"Diretor Fernandez, Professora Bennett," ele disse, estendendo a mão. "Sou Jason, da Hall Corporation."
Fui até a janela, me posicionando de forma que pudesse observar todos enquanto aparentava desinteresse.
"Hall Corporation?" Bennett zombou, ignorando a mão estendida de Jason. "O que uma corporação tem a ver com a disciplina universitária?"
"Nossa empresa tem investimentos significativos em instituições educacionais," Jason explicou calmamente. "Incluindo doações substanciais para o programa médico da Universidade de Seattle."
Desliguei-me da conversa deles, focando em Evelyn. A luz do sol que entrava pela janela refletia em seu cabelo, destacando fios prateados entre as mechas escuras. Sua postura era perfeita – coluna reta, queixo erguido, ombros para trás – mas não rígida. Havia uma graça fluida em sua imobilidade que me lembrava um predador em repouso.
Meu lobo se agitou sob minha pele, intrigado e alerta. Seu cheiro era intrigante – mais fraco do que deveria ser para uma lobisomem, mas inconfundível. Como fumaça de madeira e ar de inverno, sutil mas distintivo.
Como Lily, de todas as pessoas, havia se tornado amiga dela? Minha sobrinha tinha um talento para colecionar desajustados, mas essa amizade em particular parecia coincidência demais para ser obra do acaso.
Depois de falar com Jason, Fernandez voltou e disse: "Professora Bennett, precisaremos de declarações por escrito de todas as testemunhas, e agendaremos uma audiência formal na próxima semana."
Bennett recolheu seus papéis com movimentos bruscos, lançando um olhar venenoso para Evelyn antes de sair do escritório furiosa.
"Obrigado por vir em tão pouco tempo, Sr. Hall," disse Fernandez, em tom deferente. "Peço desculpas pelo inconveniente."
Afastei sua desculpa com um gesto. "De maneira nenhuma. Os amigos de Lily são importantes para mim." Virei-me para Lily, que praticamente saltava de excitação. "Falando nisso, talvez você devesse nos apresentar adequadamente."
Lily sorriu, agarrando o braço de Evelyn e puxando-a para frente. "Tio Devon, esta é minha nova amiga, Evelyn Gray. Evelyn, este é meu tio, Devon Hall."
Estendi minha mão, encontrando aqueles olhos prateados notáveis. "Prazer em conhecê-la, Srta. Gray."
Sua mão estava quente na minha, e senti aquele mesmo choque inexplicável que experimentei quando ela me tocou naquela noite na floresta. Será que ela sentiu também? Sua expressão não revelava nada.
"Da mesma forma, Sr. Hall," ela disse friamente, retirando a mão talvez um pouco rápido demais.
"Devemos comemorar!" declarou Lily. "Evelyn me defendeu daqueles valentões, e agora você a salvou da expulsão. É perfeito!"
Evelyn balançou a cabeça. "Obrigada pelo convite, mas eu tenho—"
"Já fiz reservas no The Garden," interrompi, surpreendendo até a mim mesmo com minha empolgação. "O chef deles acabou de voltar da França."
Ela franziu ligeiramente a testa com minha interrupção, e percebi que havia sido muito direto. Dando um passo para trás, adotei um tom mais casual.
"Meu carro está logo ali fora. Podemos te dar uma carona."
Lily puxou o braço de Evelyn. "Vamos, Evelyn. Eu prometo que a comida do The Garden vale a pena cancelar qualquer plano."
Observei enquanto a resistência de Evelyn desmoronava sob o entusiasmo de Lily. Seus olhos encontraram os meus novamente, e vi resignação misturada com curiosidade.
"Está bem," ela concedeu. "O jantar parece uma boa ideia."
Enquanto caminhávamos em direção à saída, me vi intrigado com meu próprio comportamento. Por que eu estava tão determinado a passar tempo com essa mulher? Seria gratidão por ela ter salvado minha vida? Curiosidade sobre sua forma de lobo branco?
Ou algo mais profundo que eu não estava pronto para admitir?
