Capítulo 9

Evelyn

O Jardim era exatamente o que eu esperava – um monumento à riqueza e ao privilégio. Lustres de cristal pendiam dos altos tetos, lançando luz prismática sobre as mesas cobertas com linho branco impecável. As cadeiras eram estofadas em couro genuíno, e até o ar tinha um cheiro caro – uma mistura sutil de especiarias raras e vinho envelhecido.

O maître praticamente tropeçou em si mesmo quando Devon entrou pela porta.

"Sr. Hall!" O homem se curvou tão baixo que achei que ele poderia tocar a testa no chão. "Sua sala VIP está pronta, senhor. Por aqui."

Suprimi um som de desgosto. Outro lobo Alfa aproveitando seu poder e privilégio. Esses são os piores tipos – acham que possuem tudo e todos.

Enquanto seguíamos o gerente do restaurante pela área principal de jantar, notei como os outros clientes olhavam para Devon com uma mistura de admiração e inveja. O próprio gerente andava com tanta deferência que estava praticamente dobrado o tempo todo.

Devon, por sua vez, parecia completamente indiferente ao tratamento especial. Caminhava com a confiança casual de alguém que nunca questionou seu lugar no mundo – nunca precisou.

Uma vez sentados em nossa sala privada, um garçom apareceu imediatamente para anotar nossos pedidos.

"Vou querer o T-bone, mal passado," disse Devon sem abrir o menu.

"Faça dois!" Lily disse alegremente. "Bem sangrento para mim, por favor!"

Quando o garçom se virou para mim, eu disse: "O mesmo bife, mas bem passado. E uma salada mista, por favor."

Devon ergueu uma sobrancelha. Eu podia sentir seu olhar intenso me estudando enquanto o garçom saía.

"Você não gosta de carne mal passada?" ele perguntou, o tom casual, mas os olhos afiados de interesse.

Dei de ombros, deliberadamente evitando seu olhar. "Prefiro bem passada."

"Isso é incomum para..." Ele fez uma pausa, seus olhos se voltando para a porta fechada antes de continuar, "para nossa espécie."

"Adaptei-me às preferências alimentares humanas."

Devon se inclinou para a frente, espetando um pedaço de pão do cesto entre nós. "Carne crua nos dá força. Está na nossa natureza."

"Minha natureza mudou," respondi secamente.

Quando nossas refeições chegaram, os bifes de Devon e Lily estavam realmente sangrentos – os sucos vermelhos formando poças em seus pratos como algo recém-caçado. O meu, por outro lado, estava completamente cozido, sem nenhum traço de rosa.

Devon cortou um pedaço de seu bife, a carne tão macia que mal precisava de pressão da faca. Ele estendeu o garfo em minha direção. "Experimente. Seu lobo vai apreciar."

Balancei a cabeça. "Não, obrigado. Meu estômago se adaptou a comida bem passada."

Lily levantou os olhos do prato, a curiosidade iluminando seus olhos. "Mas todos os lobos gostam de carne mal passada. Está no nosso DNA." Ela se inclinou mais perto, farejando sutilmente. "Mal consigo sentir seu lobo. Você se machucou?"

Sorri de forma contida, sem responder. A verdade – que eu estava tentando despertar meu lobo há anos com ervas especializadas – não era algo que eu queria compartilhar.

"De que matilha você é?" Lily perguntou, enxugando o canto da boca com um guardanapo. "Acho que nunca te vi em nenhum dos encontros."

"Não pertenço a nenhuma matilha," respondi, minha voz fria e controlada.

Os olhos de Lily se arregalaram. "Sem matilha? Mas todos precisam de uma matilha!" Sua expressão se iluminou com uma inspiração súbita. "Você deveria se juntar à nossa! A Matilha Bloodfang de Seattle! Meu tio é o Alfa, então ninguém ousaria te intimidar!"

"Obrigada, mas estou acostumada a ficar sozinha," eu disse, cortando outro pedaço do meu bife com talvez mais força do que o necessário.

"Onde você está hospedada em Seattle?" Lily perguntou, aparentemente determinada a manter a conversa fluindo apesar da minha óbvia relutância.

"Acabei de voltar para Seattle. Estou em um motel por enquanto, procurando um apartamento."

"Você poderia ficar conosco!" Lily ofereceu imediatamente. "Temos quartos de hóspedes enormes!"

Balancei a cabeça firmemente. "Prefiro minha privacidade, obrigada."

"Jason," Devon disse de repente, virando-se para seu assistente que estava comendo silenciosamente em uma mesa separada perto da porta. "Você não tem um apartamento disponível para alugar?"

Jason pareceu surpreso, quase engasgando com a água. "S-sim, Sr. Hall."

"Não posso pagar," eu disse rapidamente, sentindo-me encurralada. "Não tenho muito dinheiro agora."

Devon franziu ligeiramente a testa. "Como estudante de medicina com suas habilidades, tenho certeza de que você merece acomodações melhores do que um motel."

"Minha situação atual é o que é," respondi rigidamente. "Um apartamento normal é mais realista para mim."

Devon parecia querer argumentar mais, mas surpreendentemente, deixou o assunto de lado.


Depois do jantar, Devon insistiu em me levar de volta ao meu motel. Lily havia sido deixada em casa, deixando apenas nós dois em seu carro. O silêncio entre nós estava carregado de perguntas não ditas.

Quando chegamos ao Moon Light Motel, eu esperava que ele simplesmente me deixasse. Em vez disso, ele estacionou o carro e saiu.

"O que você está fazendo?" perguntei diretamente enquanto ele caminhava até o meu lado.

"Quero garantir que você chegue ao seu quarto em segurança."

Saí do carro, mantendo distância. "Sr. Hall, por que está fazendo isso? Por que se aproximar de mim?"

Devon se encostou em seu carro, sua figura alta silhuetada contra o letreiro neon piscante do motel. "Na noite em que você me salvou, você foi marcada. Aqueles homens tinham balas de prata. Isso é perigoso para uma loba solitária como você."

Meu pulso acelerou. "Como tem tanta certeza de que eles estavam me mirando e não em você, o Alpha?"

"De qualquer forma, eu devo minha vida a você." Sua voz baixou. "Pelo menos deixe-me garantir que você esteja segura esta noite."

Eu estava na entrada do motel, com as chaves apertadas na mão. "Obrigada pelo jantar e pela carona, mas é aqui que nos separamos."

Devon balançou a cabeça, sua expressão resoluta. "Preciso verificar seu quarto. Esses caçadores podem ter rastreado você até aqui."

Relutantemente, eu segui na frente, minha mente correndo com perguntas. O que ele realmente quer? Ele está genuinamente preocupado com minha segurança, ou há algo mais?

No elevador apertado, a presença poderosa de Devon como Alpha enchia o pequeno espaço, tornando difícil respirar. Seu cheiro – pinho e algo selvagem – me envolvia, despertando partes do meu lobo que eu havia trabalhado duro para suprimir.

Caminhando pelo corredor, acelerei o passo, desesperada para acabar com essa proximidade desconfortável. Parada diante da minha porta, eu mexia nas chaves, minha mão tremendo ligeiramente.

"Aqui estamos, Sr. Hall. Cheguei ao meu quarto," eu disse, tentando soar casual.

Devon não fez menção de ir embora. "Abra a porta. Preciso garantir que está seguro lá dentro."

Apertei a chave com força, minha mente um turbilhão de emoções conflitantes. Por três anos, ninguém se importou com minha segurança, meu bem-estar. Por que agora? Por que ele?

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