Canção do Coração do Lobisomem

O som estridente do meu despertador é a primeira coisa que me acorda, eu odiava aquele despertador. Eu realmente deveria comprar um despertador de rádio, qualquer coisa era melhor do que um despertador que me faz pensar nas fritadeiras do trabalho.

Deusa, eu odiava trabalhar em fast food. Mas fast food é tudo o que eu consigo dentro de uma distância de trinta minutos a pé de casa. Normalmente, consigo reduzir o trajeto para quinze minutos andando de bicicleta. Eu não tenho carro, como minha irmã mais velha tinha, ela já destruiu dois carros e agora estava no terceiro. Meus pais mimam ela, eu odeio que nos tratem tão diferente.

Infelizmente para mim, eu sou verdadeiramente filha tanto da minha mãe quanto do meu pai. Eu até fiz um teste para confirmar. Eu fiz isso porque não parecia nada com nenhum deles. Eu nasci com olhos violetas, quase da cor índigo. Eu tinha cabelo preto tão escuro que um tom azulado brilhava quando a luz batia. E minha pele, era de um tom oliva cobre.

Eu sou Alora. Os lobos do meu Clã, por muitas gerações, têm nascido pálidos, com cabelos loiros e olhos azuis. Ambos os Clãs dos meus pais deliberadamente eliminaram qualquer característica escura.

Mas tinha que haver alguém, de um lado ou de outro, que passou os genes para minha coloração. O teste de DNA que eu fiz... descobriu que sou relacionada a uma das sete linhagens de sangue originais de lobisomem do nosso bando.

Eu me pareço com minha ancestral, Luna Heartsong, na coloração e tudo. Dizem que a Deusa da Lua abençoou sua linhagem com poder e vozes incríveis. A canção de um Heartsong... vem do coração, como o sobrenome sugere, e ao cantar, eles podiam influenciar as emoções daqueles que ouvissem.

O companheiro destinado de um Heartsong poderia formar uma conexão de alma mais profunda quando os companheiros cantassem juntos com poder. Uma ligação muito poderosa e mágica era criada que uniria os companheiros através da reencarnação, de acordo com as antigas lendas.

No início, eu só havia falado sobre fazer meu teste de DNA com o Alpha. Ele achou que era uma boa ideia, então foi ele quem autorizou. Após os resultados, ele me mostrou a pintura que tinha de Alpha Luna Heartsong. Foi assim que descobri que me pareço quase exatamente com ela.

Pedi ao meu Alpha para manter os resultados em segredo dos meus pais. O motivo pelo qual pedi isso a ele, na época, foi porque tinha medo do que minha família faria comigo se soubesse que eu tinha esse conhecimento. Eu sabia que eles não queriam que isso se tornasse conhecimento público, porque a coloração da Primeira Alpha, Luna Heartsong, estava errada. Isso era uma idiotice em seu auge, se você me perguntar. Eu usei o teste a meu favor, como uma ferramenta necessária para escapar.

Qualquer acasalamento fora das linhagens de sangue Frost e Northmountain havia sido "estritamente proibido" por gerações. Você não suja a cor da pele e do cabelo, você deve eliminá-la. Ou você é basicamente expulso dos Clãs, sendo transformado em um lobo sem Clã. Ou você tinha que torcer para que o companheiro que escolheu em vez do Clã tivesse um Clã próprio que o aceitasse voluntariamente.

Eu costumava ter medo do dia em que me expulsariam. No entanto, à medida que cresci, fiquei menos com medo de sair, ficando desesperada por isso após a formatura. Eu fui impedida de começar a escola até os seis anos de idade. Então, fui retida no primeiro ano escolar, a pedido dos meus pais.

Eles não queriam que eu estivesse em uma série tão próxima da minha irmã, não queriam que nossa relação fosse muito notável. Não que isso ajudasse em nada, já que ela mesma foi retida dois anos. É o motivo pelo qual ainda tenho que sofrer na escola. Sarah, e estranhamente, suas três melhores amigas, ainda estavam na escola comigo.

Então, enquanto eu tenho dezoito anos e ainda estou no Ensino Médio. Eu poderia ter feito o teste, me formado e ido para a faculdade, e frequentado em tempo integral sem ter que fazer aulas no Ensino Médio também. A escola pressionou para acelerar minha educação, no entanto, meus pais não permitiriam que eu avançasse tanto. Meus pais disseram ao Diretor, quando foram abordados pela primeira vez, que era porque estavam preocupados que eu não soubesse como funcionar na faculdade tão jovem, que não queriam que eu fosse aproveitada, ou que esperassem muito de mim.

Na verdade, eles não queriam que eu superasse minha irmã mais velha, ou tivesse um meio de escapar deles. Isso levou o Diretor, o Superintendente e quase todos os meus professores a perceberem que meus pais estavam me segurando, e precisariam contorná-los para me dar a educação que eu não só queria, mas merecia.

Tudo isso significava que, enquanto eu poderia ter me formado no ensino médio na nona série, meus pais impediram que isso acontecesse. Eu ainda estava frequentando as aulas da faculdade cedo, mas como uma estudante do ensino médio. Elas estavam acontecendo na Universidade local da Matilha. Eu era levada de ônibus para lá depois das aulas do ensino médio que eu fazia, só para parecer que eu ainda precisava do ensino médio. A Universidade estava feliz em ter uma aluna tão brilhante. Uma que estava no caminho para se formar no ensino médio e receber um doutorado.

Basicamente, eu serei uma dupla graduada, mas não me importo, sou grata por ter minha educação. Meus pais não sabiam de todos os esforços que a escola e o Alfa fizeram para me ajudar a obter meus diplomas. Eles pensavam que meu transporte para o campus da faculdade comunitária era para aulas de recuperação, e meu tempo no laboratório era exigido pelo ensino médio para passar. Minha irmã não se importava o suficiente para notar nada disso, ela estava alheia, o que era uma coisa boa.

Os programas de doutorado que eu estava fazendo deveriam levar oito anos cada para serem concluídos. Consegui completar os três programas em apenas quatro anos enquanto frequentava o ensino médio e trabalhava. Eu estava fazendo meu estágio em um laboratório três dias por semana, não preciso mais para obter créditos. Já cumpri todas as horas necessárias para minha licença e diplomas. Mas o laboratório era meu refúgio. O trabalho no fast food era apenas vinte horas por semana, tempo suficiente para me dar um pequeno orçamento para compras e pagar meu celular. Se eu ganhasse mais dinheiro do que isso, chamaria a atenção dos meus pais... e da Sarah... e essa era a última coisa que eu queria agora.

Tenho um metro e setenta e cinco, busto tamanho 46, cintura longa, magra, tonificada e bem definida. Quadris largos e bem formados, um bumbum grande, mas firme e arredondado. Minhas pernas são longas e tonificadas, meus braços também são tonificados com músculos. Minha pele, ainda com o tom oliva com que nasci, era lisa, sem manchas. Não importa quantas surras eu levasse da minha família, minha pele se recusava a cicatrizar, escondendo-as dentro do meu coração e alma.

Meu cabelo cai até os quadris em ondas suaves, eu o trançava para mantê-lo fora do meu rosto, geralmente prendendo a trança em um coque para evitar que se enroscasse nos equipamentos do laboratório ou nas fritadeiras do fast food onde eu trabalhava. Caso contrário, geralmente o deixava solto para esconder meu rosto. Meus olhos são grandes e amendoados, inclinados para cima nos cantos externos. Meus olhos violeta com bordas prateadas são emoldurados por cílios longos, grossos e negros. Tenho um nariz ligeiramente pequeno, com a ponta um pouco inclinada para cima. Meus lábios são cheios e ligeiramente carnudos, naturalmente tingidos de vermelho.

Eu era forte e tonificada porque todo lobisomem da Matilha precisa treinar. O Alfa, para esconder da minha família o quanto eu era melhor no treinamento do que minha irmã, temendo o que eles fariam comigo, me fez treinar com os Mestres de Treinamento Elite da Matilha. Eu estava em um prédio diferente do que minha irmã e todos os outros lobos do meu ano, até este ano.

O grupo dela ainda treinava em outro prédio, separado dos veteranos. Isso porque eles eram lutadores de reserva, os que ficariam com a matilha e se esconderiam nos abrigos. Eles deveriam proteger os que estavam dentro. Como não tinham poder suficiente para ser uma linha de frente ou mesmo segunda ou terceira linha de defesa. Eu estava agora com os veteranos do nível da classe Alfa, e treinávamos em nosso próprio prédio. Meu pai era um ex-candidato a Beta, e minha mãe era filha de um Alfa e de um Beta. Ambos estavam sob a ilusão de que a mais velha estava em treinamento de nível beta, ‘Ah, as mentiras que Sarah contava a eles.’

Eu estava guardando toda a minha especialidade para depois da formatura. Os amigos da minha irmã, e a maioria dos nossos colegas de escola, pensavam que eu era apenas uma lobisomem nerd e uma trabalhadora de fast food de patins que lhes trazia comida, os outros acreditavam nos rumores que minha irmã e seus amigos espalhavam. Apenas os adultos que me ajudaram sabiam o quão especial eu sou, bem, eles dizem que sou especial. Mas como posso ser? Quando meu próprio sangue me odeia porque não sou pálida. Eu não tinha cabelo quase branco, meus olhos não eram de um tom de azul. Eu nem sequer tinha a figura pequena, esguia e elegante que o resto das mulheres do meu Clã têm.

Ao lado delas, eu me sentia gorda, grande demais e escura demais. Embora eu saiba que não sou gorda, e ser escura não é uma coisa ruim. Treinei demais para ter uma grama de gordura, meu treinamento era mais uma ferramenta que eu usaria para escapar da minha família. Era uma coisa boa que os lobisomens precisassem de apenas quatro horas de sono por noite. Eu nunca teria conseguido concluir toda minha educação e trabalho de outra forma. Além disso, dormir era apenas para aqueles que se sentiam seguros em sua casa.

E eu nunca me senti segura aqui.