Capítulo 2: Ponto de ebulição

O balde caiu no chão, gotas de água gelada espirrando por toda parte. Isla parou de respirar. Os culpados tossiam ferozmente por causa da poeira branca. Ambos se levantaram apressadamente. Um, Isla reconheceu como seu vizinho sempre barulhento, e o outro, um loiro alto e musculoso. Isla não perdeu tempo e caminhou até o estranho, agarrando-o com força pela gola da camisa. Ele soltou um protesto engasgado, mas não resistiu, com culpa ou talvez vergonha estampada no rosto. Isla o encarou com raiva.

Isla não queria perder tempo com o homem. Não quando o principal culpado estava bem ali. Isla empurrou o peito do homem e disse em um tom perigosamente baixo: "Saia!" O homem, que ela supôs ser amigo de George, não perdeu tempo e saiu correndo do quarto dela para o de George, e foi embora.

Então Isla voltou seu olhar mortal para George. Ele ainda estava no chão, coberto de poeira e entulho. Seus olhos castanho-chocolate estavam tão brilhantes como sempre enquanto ele dava a Isla um sorriso nervoso, coçando a cabeça timidamente. "Oi... querida... vizinha. Que coincidência te encontrar aqui."

Ao ouvi-lo falar, Isla perdeu a paciência. Ela deu um chute em George, que gritou como um cachorrinho, mas não fez nenhum movimento para se levantar ainda. Ele parecia um pouco assustado. "Foi um acidente!"

Ela se ergueu sobre ele, colocando uma perna de cada lado do corpo dele, impedindo o homem de escapar. "Seu idiota louco! Olha o que você fez!" Ela gesticulou furiosamente para a parede.

George deu uma olhada rápida e depois voltou a olhar para ela timidamente. "Desculpa?"

Isla se abaixou para agarrar o pescoço dele em um estrangulamento, cortando seu ar. "Desculpa? Seu idiota, é só isso---" George não parecia gostar de ser estrangulado. Sua expressão tímida se transformou em algo quase ameaçador. "Ei! Pare de gritar comigo assim! Eu disse que estava arrependido, solte, mulher louca!"

Mulher louca? Ele acabou de-- Ela não podia ter ouvido direito. "Você acabou de me chamar de louca?"

Ele se empurrou para trás e se afastou do aperto dela, levantando-se cautelosamente. "Bem, sim, é só uma ma--" Ele não conseguiu terminar, pois no segundo seguinte, ele recebeu um abraço de uma mulher furiosa. Nenhum treinamento de autodefesa que ele havia feito na força por anos poderia preparar George para a mulher selvagem que o atacou. "Ei! Calma!" George gritou quando ela o chutou na canela.

Ele pegou o primeiro braço que balançou em sua direção, e o outro quando ela tentou substituí-lo. Prendendo as mãos dela entre eles, ele esperava desesperadamente que ela não tivesse a ideia maligna de chutá-lo nas partes íntimas.

"Ai!" Uma mordida forte no peito fez com que ele a soltasse como se tivesse sido queimado, e Isla se lançou sobre ele novamente, dando socos, arranhando e até tentando morder George de novo. Ele fez o melhor para bloquear a maioria dos golpes. Ele estava atordoado e secretamente divertido ao vê-la assim, essa linda, perfeita mulher que falava inglês e se comportava como se fosse superior a todos eles. Ele havia completamente abalado a compostura perfeita dela.

Quando Isla se moveu para dar um chute nele, seu pé deslizou nas gotas azuis de líquido no quarto, e ela começou a cair no chão. George correu para segurá-la, mas também tropeçou em um pedaço de entulho, conseguindo se apoiar nos braços a tempo de evitar cair sobre Isla. Suas mãos pousaram de cada lado da cabeça dela. Graças aos tapetes de espuma que cobriam o chão do quarto dela, a queda foi amortecida.

Ambos se encararam intensamente, tentando recuperar o fôlego. Apesar da situação inacreditável, Isla se viu mais uma vez admirando os traços dele. O homem fazia uma bela figura: ofegante de exaustão, sua cabeça careca brilhando de suor, sua regata de malha desarrumada, pequenas manchas de sangue carmesim das marcas de unhas colorindo sua pele. As marcas de unhas ensanguentadas fizeram suas bochechas corarem de vergonha. Ela havia perdido completamente o controle.

Ele riu.

Isla piscou, levemente surpresa. Tudo isso o divertia? Quando ele se virou para o chão ao lado dela, riu novamente, balançando a cabeça de um lado para o outro dessa vez. Isla não conseguiu evitar a risada curta que também escapou dela.

Logo, eles estavam rindo como se tivessem acabado de ouvir a melhor piada. Nos dois anos em que ela morava naquele apartamento, essa foi a primeira vez que riu tanto.

A alegria deles gradualmente diminuiu, e ela o observou curiosamente enquanto ele se sentava, com um braço apoiado no joelho, pegando um dos romances dela ao pé da cama.

"Você escreve?"

"Você lê?" Ela perguntou em vez disso, genuinamente curiosa.

Ele coçou a cabeça, sorrindo timidamente, e Isla não pôde deixar de se perguntar como um homem adulto podia ser tão adorável e sexy ao mesmo tempo. "Sim... não. A menos que você conte mangá, livros grandes me assustam."

Isla riu divertida, um pouco desapontada, mas supôs que era por isso que ele a intrigava tanto. Ele era tão diferente dela, isso a irritava e a deixava curiosa ao mesmo tempo. E ele era direto. Muitas pessoas teriam fingido que ler era a coisa favorita delas no mundo só para impressioná-la.

"Sai comigo."

As palavras foram ditas tão baixinho que Isla achou que não tinha ouvido direito. "Hã?"

Com a mandíbula firme em uma linha determinada, George repetiu, "Sai comigo. Os vizinhos dizem que brigamos como um casal casado, então, por que não?" Ele se apressou, esfregando o couro cabeludo novamente. Isla supôs que era um hábito nervoso, mas o pensamento não a distraiu por muito tempo. Sua cabeça estava zonza tentando compreender o que ele acabara de dizer. Ela sentiu calor nas bochechas e uma sensação de formigamento no corpo, mas Isla era mestre em autocontrole quando se tratava de homens, especialmente aqueles que gritavam destruidor de corações como esse cara. Ele já estava flertando com ela desde o primeiro dia, e se isso não gritava mulherengo, ela não sabia o que gritava. Ela já tinha conhecido o tipo dele uma vez, e isso quase arruinou sua vida.

Sua resposta veio então. Um simples "não."

"Por favor? Estou falando sério, eu quero..."

Ela o interrompeu. "Por quê? Por que você quer que eu saia com você? Nós nos conhecemos há apenas três meses, durante os quais você tem sido tão irritante. Então, se você mencionar amor agora, eu vou chutar seu traseiro." Ela se levantou, limpando o corpo da poeira branca da parede quebrada. Seu quarto estava uma bagunça, gotas de líquido azul claro por toda parte. Ela ouviu George se levantar também, mas não olhou para ele. Ela teria que chamar uma faxineira para ajudar--

Um suspiro surpreso escapou dela quando dedos abruptamente envolveram seu pulso e a puxaram para encontrar o rosto zangado de George.

Se havia uma coisa que George odiava mais do que qualquer coisa, era alguém dizendo que o que ele sentia estava errado ou mal interpretado, ou qualquer coisa nessa linha. Como um ser humano imperfeito, George estava errado sobre várias coisas às vezes, mas seus sentimentos e instintos nunca estavam errados. Era uma coisa que o tornava um especialista em sua área.

Entre todas as coisas que ele sentiu em sua vida por diferentes pessoas e diferentes questões, o que ele sentia por essa mulher enérgica à sua frente era novo, e ele era inteligente o suficiente para saber o que era. Inteligente o suficiente para saber que queria essa mulher como muito mais do que sua vizinha.

"Você quer saber por que estou te chamando para sair?" Ele disse rouco, seu rosto a poucos centímetros do dela. O coração dela acelerou, uma mistura de excitação e medo. O que ele ia fazer com ela?

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