Capítulo 4: Uma vez mordido
Isla não trocou uma palavra com George pelo resto da noite. A ideia que teve de cobrir o buraco com um cobertor foi descartada; George poderia interpretar mal. Ela se movimentou pelo apartamento, evitando deliberadamente qualquer olhar em direção ao quarto dele. Apesar de sua vontade de dar uma espiada, desviou seu foco para outras coisas.
Para sua surpresa, George parecia resoluto em não reconhecer o fato de que podiam se ver através do buraco. Isso a irritava e impressionava ao mesmo tempo, que ele pudesse ignorá-la tão efetivamente. O buraco parecia como se nunca tivesse existido, mas ela permanecia agudamente consciente da presença dele. Cada suspiro, o andar confiante no quarto dele, e o aroma da sopa que ele preparava.
Sentada à sua mesa, com seus rascunhos espalhados à sua frente, ela não conseguia se concentrar. Tudo em que conseguia pensar era nele. De onde Isla estava sentada, não podia mais vê-lo, o que lhe dava um pequeno alívio. Cuidadosamente, ela juntou as folhas em uma pilha e as colocou na beirada, criando espaço suficiente para descansar as pernas na mesa, cruzando-as nos tornozelos. Era sua postura favorita de relaxamento, mas relaxar estava longe de sua mente.
Talvez George já estivesse entediado com ela. O pensamento fez seu coração afundar. Jogando as pernas para fora da mesa, Isla cruzou os braços firmemente sobre o peito, como se quisesse impedir que as memórias explodissem. As palavras de seu ex-namorado ecoaram em sua mente. "Você é tão chata, Isla. Você só é boa em escrever?"
O nome dele era Charles. Ela o amara com cada fibra de seu ser. Dera tudo a ele, e ainda assim, não era interessante o suficiente. O término a abalou profundamente. Ela pensava que se casariam. Ficou como um zumbi por semanas. Então sua melhor amiga Crystal veio para "salvá-la". Crystal, uma filha mimada de um CEO como Isla, mas uma experimentalista forte. Ambas tinham 29 anos. Isla estava no auge de sua carreira de escritora, tendo acabado de obter seu doutorado e sendo nomeada a Professora do Ano mais jovem. Crystal, no entanto, estava lutando, perdendo dinheiro ao gerenciar os negócios do pai. Ela festejava muito, fumava como uma chaminé e bebia como um peixe. No entanto, apesar das diferenças, eram unha e carne. Isla a valorizava como amiga, assumindo que o sentimento era mútuo.
O término com Charles deixou Isla vulnerável às manipulações de Crystal. Isla queria ser divertida, provar que Charles e seus ex-namorados estavam errados. Demonstrar que não era uma chata, que podia ser espontânea, que livros não eram a única coisa que conhecia. E foi assim que caiu na armadilha de Crystal.
O que ela foi exposta era pura devassidão. As boates, as orgias, as bebedeiras, e então, ela ficou grávida. Um suspiro agudo escapou de seus lábios, sua respiração se tornando irregular. Lágrimas encheram seus olhos.
Crystal a ensinou a ser selvagem. Tentou arruinar sua vida. Quase conseguiu. Ou talvez tenha conseguido, por um tempo. Mas Crystal morreu. Mal se recuperando do choque, seus pais... Isla não conseguia terminar o pensamento. Já fazia quase três anos, mas a dor ainda era recente.
Simplificando, a vida de Isla virou de cabeça para baixo. Por meses, ela mal vivia, apenas seguia os movimentos. Então se mudou de Chicago para Dallas.
Havia uma familiar umidade em suas bochechas. Sempre vinha quando seus pensamentos se voltavam para o passado. Ela olhou para a porta do quarto, desejando algo forte. Levantou-se da cadeira para ir buscar, passando pelo buraco no processo. Seus olhos instintivamente olharam para o quarto de George; estava escuro. Ele havia apagado as luzes e provavelmente ido para a cama. Ela tirou o telefone do bolso do pijama e verificou a hora.
10:30 da noite.
O que ela deveria fazer com George? Por que era tão confusa quando se tratava de relacionamentos? Claro, seus pais não deram o melhor exemplo, mas ela tinha quase trinta e três anos, pelo amor de Deus. Não era uma criança. O breve pensamento sobre sua idade introduziu outro pensamento preocupante. Diziam repetidamente que ela ainda parecia ter vinte e poucos anos. E se George também pensasse que ela era muito mais jovem?
Abandonando sua busca por uma bebida, ela se sentou na cama. Sua cabeça estava pesada, e seu peito doía.
Estaria ela destinada a ficar sozinha?
Talvez o melhor para ela fosse esquecê-lo agora antes que ele roubasse ainda mais seu coração. Ela iria se manter o mais distante possível, ignorá-lo, não importava o quão alto ele tocasse sua música, já que ele confessou ser um mecanismo de busca por atenção.
A primeira coisa que faria amanhã de manhã seria chamar alguém para consertar a parede danificada.
Talvez ela estivesse destinada a ficar sozinha. E talvez - considerando seu passado - ela merecesse isso.
O toque do telefone a tirou de seus pensamentos. Ela olhou para o aparelho vibrando na mesa, e seu coração deu um salto nauseante.









































