Capítulo 6: Hóspede noturno

Outro toque na porta.

Mas desta vez, George pôde ouvir passos se aproximando. Momentos depois, a portinhola se abriu, revelando o par de olhos mais azuis que ele já tinha visto. George colocou seu sorriso mais brilhante.

"Oi!"

"O que você quer?"

Ai. Que rude. George não esperava que ela voltasse a essa frieza tão rapidamente depois daquele pequeno atrito. Ele levantou a sacola de comida na altura dos olhos dela.

"Aqui, eu trouxe algo para você."

A portinhola se fechou com um estalo, e George soltou um suspiro desapontado. Parecia que ele tinha superestimado Isla um pouco. Ele se virou para ir em direção ao seu próprio apartamento. Isla obviamente não passava de uma pessoa rude--

A porta se abriu.

George, que tinha acabado de dar um passo em direção ao seu apartamento, parou e se virou surpreso ao ver Isla encostada no batente da porta. Ela usava óculos nerds. Seu cabelo loiro e cacheado estava preso em um coque bagunçado, e ela vestia um pijama com estampa de ursinhos que parecia um pouco grande demais para ela.

Qualquer outra mulher, e George provavelmente estaria rindo de como ela parecia adoravelmente fofa, mas Isla... ela simplesmente parecia convidativa. Aquele tipo de "estou tão exausta e preciso de um bom carinho". O tipo que silenciosamente te incita a oferecer uma massagem ou um abraço...

"E então?"

A voz sedosa, ligeiramente irritada, o tirou de seus pensamentos. Colocando seu sorriso de "príncipe encantado", como suas colegas de trabalho o chamavam, ele se aproximou dela, descaradamente percorrendo seu olhar pelo corpo dela e voltando ao rosto. Ele observou como ela rapidamente cruzou os braços sobre o peito, cobrindo os seios, e ele quase riu. O quê? Seus mamilos endureceram só com um olhar? Se ela era tão sensível assim, como reagiria se ele usasse a boca...

"Isso é uma sessão de parar e olhar?"

A pergunta dela o tirou dos pensamentos sujos que enchiam sua cabeça.

"Oi," ele finalmente disse em cumprimento, notando como ela se endireitou e levantou o queixo como se ameaçada pela diferença de altura. Que mulher orgulhosa.

"Você disse que tem algo para mim?" Ela perguntou, cruzando os braços firmemente sobre o peito.

George não pôde deixar de rir, "Espera, é só por isso que você abriu a porta?"

Sem piscar, Isla respondeu, "Por que mais?"

Outra risada curta escapou de George. "Não há nada que eu não veja ou ouça em Dallas." Então, em um tom mais sério, George declarou, "Eu quero entrar." Ele respondeu quando superou sua diversão.

Os olhos azuis se estreitaram em suspeita. "Se você pensa--"

Ele rapidamente levantou as mãos em rendição. "Eu juro, só quero conversar com você."

"São nove da noite." Ela disse sem emoção, "Eu estava prestes a dormir."

Nossa. A garota era uma casca dura. "Eu acabei de sair com meus amigos, trouxe isso para você." Ele levantou a sacola de comida para ela.

O queixo de Isla quase caiu quando ela viu o nome da marca na sacola.

Mark e James, também conhecidos como M&J, tinham um dos maiores restaurantes de Dallas. Maior e mais caro. Era onde Isla se sentia mais confortável para comer quando não podia preparar uma refeição. Era chocante para ela que George pudesse comprar um prato de comida lá e ainda estar sorrindo. Ele até se recusou a aceitar qualquer dinheiro dela depois de consertar a parede. Quem era esse cara?

"Desculpe incomodar. Talvez possamos conversar--"

Ela o interrompeu recuando para dentro de seu apartamento e empurrando a porta mais aberta. "Entre."

George balançou a cabeça, "Está tudo bem," ele estendeu a sacola para ela um pouco mais, mas não fez menção de entrar. "É sua. Considere como um pedido de desculpas por ontem."

Os olhos dela baixaram para a mão estendida, e lentamente, quase timidamente, uma de suas mãos se levantou e cobriu a que segurava a sacola. Ela puxou a mão dele, odiando a forma como suas bochechas de repente ficaram quentes demais. Ela nem conseguia mais olhar nos olhos dele.

"Eu quero que você entre," Isla murmurou, puxando gentilmente o pulso que segurava.

Ele entrou sem mais protestos, para alívio de Isla. Quando ela fechou a porta, uma súbita realização a atingiu.

"Hum, minha casa está..." Ela parou, seus dedos apertando nervosamente as alças da sacola de comida que segurava. Era tarde demais para inventar desculpas. George já estava olhando para seu apartamento bagunçado. Havia folhas de papel contendo rascunhos do penúltimo capítulo do livro que ela estava lutando para completar espalhadas por todo o sofá. Na mesa de vidro baixa havia um prato com uma fatia de bolo meio comida - sobremesa após seu jantar nada apetitoso. Se Isla tivesse lembrado por um segundo como seu quarto estava, ela não o teria convidado para entrar. Agora ele ia pensar que ela era uma porca, quando ela não era nada disso.

Um pequeno e constrangedor pigarro a tirou de seus pensamentos. "Lugar...legal."

Ela seguiu o olhar dele enquanto ele observava sua sala de estar, esperando que ele pelo menos estivesse impressionado com a forma como ela havia arrumado o pequeno espaço. Um sofá seccional conversível, uma elegante mesa de centro que custou milhares de dólares. Uma grande TV smart premium pendurada na parede à esquerda, e havia uma ilha de cromo chique atrás do sofá que cercava uma cozinha bem mobiliada. Isla havia feito uma reforma completa no interior de seu apartamento antes de se mudar. Só porque ela escolheu viver nesse bairro parecido com uma favela não significava que o interior de sua casa tinha que ser igual. Ela tinha seus limites.

Ele olhou de volta sem nada no rosto que revelasse mais pensamentos sobre o apartamento dela. "Posso me sentar?"

"Sim--sim, claro!" Corando de vergonha, Isla se afastou da porta contra a qual estava encostada e largou a sacola de comida um tanto pesada na mesa, antes de correr para limpar o sofá para ele. Ela se endireitou quando tinha os papéis amassados nas mãos e gesticulou para a cadeira enquanto lutava para recuperar a compostura. "Por favor, sente-se."

George caminhou até o sofá e se jogou nele como se estivesse em casa. Ele a prendeu onde ela estava com seu olhar. "Ei, está tudo bem. Ninguém consegue manter a casa impecável o tempo todo."

Ela lhe deu um sorriso trêmulo. "Desculpe, o bloqueio de escritor tem me frustrado muito."

George arqueou uma sobrancelha, "Bloqueio de escritor?" Sua sobrancelha se desfez no segundo seguinte, "Ah, você quer dizer aquele ponto em que sua cabeça está toda travada e você não consegue escrever, certo?"

Sua explicação vívida, junto com o uso inteligente de homônimos, fez seus lábios se curvarem em diversão. "Algo assim." Ela soltou um suspiro lento, determinada a aliviar a tensão. "Há algo que eu preciso te contar."

George sentiu seu estômago se contrair de nervosismo. Ele não tinha certeza se gostaria do que Isla queria dizer, mas teria que encarar como um homem.

Mantendo cuidadosamente sua voz monótona, ele assentiu para ela. "Diga."

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