Capítulo 3 Tal pai, tal filha
Elara saiu do prédio do Blackwood Heritage Group, com as costas encharcadas de suor.
Ela repassou a conversa na mente, verificando se tinha mostrado algum sinal de fraqueza.
A pressão de Kieran era intensa, mas se ela parecesse muito frágil, ele poderia impor condições ainda mais severas.
Após uma noite de reflexão, Elara tinha uma ideia do porquê Kieran queria encontrá-la antes dela chegar ao Blackwood Heritage Group.
Elara arriscou, apostando que Kieran estava interessado em sua experiência profissional.
Embora parecesse que Kieran a tinha encurralado, Elara tinha seus planos e estava preparada para qualquer coisa.
Nos últimos anos, o Blackwood Heritage Group tinha procurado Elara várias vezes, na esperança de discutir uma colaboração e oferecendo-lhe uma posição na Blackwood Convergence com um salário várias vezes maior que a média do mercado.
A condição era assinar um acordo de não concorrência, que a impediria de trabalhar para qualquer um dos concorrentes de Kieran.
Elara sempre recusou. Ela tinha suas aspirações de carreira em restauração de arte e preservação de artefatos, e não queria ser amarrada por ninguém.
Ela sabia que o alto salário vinha ao custo de sua liberdade e, potencialmente, mais riscos imprevistos.
O pensamento a fez suar frio; e se a oferta de Kieran não fosse o que ela esperava?
Se fosse esse o caso, Elara estaria completamente à mercê dele.
Isso era uma aposta, e apostas tinham vencedores e perdedores. Desta vez, Elara tinha vencido.
Nesse momento, seu telefone vibrou com uma mensagem de um número desconhecido.
[Bela atuação, mas sua tentativa de manter a calma foi um pouco forçada. Seu pai já está em casa.]
Elara começou a suar frio novamente.
Kieran tinha visto através de sua atuação o tempo todo e estava aplicando pressão psicológica durante a negociação.
Ele era assustador.
Ela ponderou se deveria responder.
"Elara! Elara!"
Sylvia Blackwood, vestida com trajes de negócios, maquiagem leve e um ar de eficiência, veio correndo em sua direção, seus saltos altos batendo rapidamente no pavimento.
Sem uma palavra, Sylvia agarrou os ombros de Elara, examinando-a como se estivesse verificando se faltava alguma peça.
Elara sorriu e provocou:
"Eu só fui ao Blackwood Heritage Group, nada demais. Olha só para você, toda preocupada. Kieran mandou alguém trazer meu pai de volta. Ele estará em casa até o meio-dia."
"Meu Deus, que pesadelo lidar com alguém assim!"
Sylvia franziu a testa, examinando Elara.
A normalmente forte Elara tinha lágrimas se formando nos olhos.
"Você sabe da reputação de Kieran em Vossshire? Todo mundo treme ao ouvir o nome dele. Ele é notório, temido tanto no submundo quanto no mundo dos negócios. Eu nunca tive coragem de entrevistá-lo!"
As duas eram amigas desde a escola primária, frequentando as mesmas escolas e compartilhando os mesmos dormitórios durante a faculdade.
Elara se formou em arqueologia e história, enquanto Sylvia estudou jornalismo e se tornou uma jornalista independente bem conhecida após a graduação.
"Talvez você devesse entrevistá-lo?"
Elara sugeriu timidamente.
"De jeito nenhum, me poupe. Eu não quero nada com ele."
Sylvia balançou a cabeça vigorosamente, então de repente arregalou os olhos de surpresa.
"Você não está falando sério... Oh meu Deus, ele é o famoso playboy de Vossshire... Você não..."
"O que você está pensando? Nós acabamos de nos conhecer hoje! Eu só estava falando!"
Elara rapidamente interrompeu a imaginação selvagem de Sylvia, então se lembrou da mensagem de Kieran, franzindo ligeiramente a testa.
"Não consigo entender por que Kieran fez tanto esforço para me forçar a entrar no Grupo Blackwood Heritage."
Elara já havia contado tudo para Sylvia pelo telefone na noite anterior, incluindo os possíveis motivos de Kieran. Embora Elara tivesse suas suspeitas, a escala das ações de Kieran parecia excessiva.
Na visão de Elara, o Grupo Blackwood Heritage não precisava ir a tais extremos, até mesmo arriscando a prisão de Thorne para coagi-la.
"Vamos entrar no carro e conversar no caminho."
Sylvia disse, puxando Elara para dentro do carro. Sylvia dirigia enquanto Elara se sentava no banco do passageiro.
"Vamos fazer uma hipótese. Suponha que exista uma pessoa chamada Elara. O pai dela é um restaurador de arte de primeira linha, a mãe um PhD em arqueologia de renome, e Elara possui diplomas duplos de bacharelado em arqueologia e história, e mestrados duplos, herdando os talentos excepcionais de seus pais. Ela é uma estrela em ascensão em seu campo, superando seus pares e até mesmo causando inveja na geração mais velha. Ela também é muito atraente e acabou se tornando uma influenciadora nas redes sociais sem querer."
Sylvia deu uma olhada para Elara enquanto dirigia.
"Uma pessoa assim, recusando-se a se juntar a qualquer empresa, teimosamente seguindo os passos do pai como freelancer, abrindo seu próprio estúdio. No ambiente de negócios de hoje, quem toleraria isso? Talvez ela só queira fazer seu trabalho, mas esses empresários não veem dessa forma. Quem permitiria que um potencial concorrente incontrolável crescesse?"
Elara ficou em silêncio. Ela entendia a lógica, mas não esperava que isso acontecesse com ela.
"Do ponto de vista dos negócios, os repetidos convites do Grupo Blackwood Heritage e agora essa ameaça descarada são claros. Se você não concordar..." Sylvia não terminou a frase.
"De que lado você está?"
Elara franziu a testa, batendo de brincadeira em Sylvia, fingindo raiva.
"Apenas uma hipótese. Estou ajudando você a entender a situação. Então, qual é o seu plano?"
"Qual é o meu plano?" Elara se sentiu perdida.
Em menos de 24 horas, sua vida havia se tornado um pesadelo, mas também a fez perceber muitas coisas. Sua persistência passada parecia excessivamente idealista, até ingênua.
"Se eles vieram uma vez, virão de novo. Um pequeno barco no vasto oceano será eventualmente engolido pelas ondas. É melhor seguir o navio maior por enquanto. Já que concordei com Kieran, vou ver no que dá."
Sylvia suspirou, "Eu sinto por você; às vezes ser talentosa pode atrair problemas indesejados." Logo, elas chegaram à casa de Elara.
Seu estúdio ficava na cidade, mas sua família morava em uma casa tranquila no subúrbio, longe do agito, o que lhes convinha.
As janelas da casa estavam abertas, e um homem idoso com cabelos grisalhos estava examinando uma pintura com uma lupa, não parecendo em nada alguém que tinha acabado de sair da delegacia.
Vendo isso, Elara sorriu suavemente, sentindo-se muito mais tranquila. De repente, franziu a testa e correu para dentro.
"Papai! Essa pintura acabou de chegar do estúdio. Não a abra descuidadamente. E se oxidar?"
Observando a figura de Elara, Sylvia revirou os olhos, mas sorriu.
"Tal pai, tal filha!"
