Capítulo 4

EVE.

"Obrigada, Eve."

A voz da mamãe tremia enquanto sua mão apertava a minha. Ela me segurava tão suavemente, como se estivesse segurando mais do que apenas dedos.

"...Por ser forte. Por ser uma boa menina." Seus olhos brilhavam. "Você nunca me envergonhou, mesmo que eu... eu não pudesse ser a melhor mãe para você."

O sorriso que ela deu estava tão cheio de amor, tão terno que machucava meu peito por dentro.

Eu olhei para o lado por um segundo, apenas para respirar.

Mas não ajudou.

Oh, Deus.

Ela ia me fazer chorar.

E eu não estava chorando porque estava emocionada.

Eu estava chorando porque me sentia culpada.

Porque eu não merecia aquelas palavras.

Ela pensava que eu era boa.

Para ela, eu ainda era sua doce e inocente filha... a virgem intocada que esperava pacientemente pela recompensa da vida... A menina perfeita com notas altas, roupas dobradas e um sorriso que derrete corações.

Se ela soubesse o quanto sua doce filha tinha sido uma prostituta, ela se afastaria e choraria de verdade.

Se ela soubesse que eu tive que tirar minhas roupas na frente de dois homens que eu nunca tinha visto antes... Trocar o último resquício de minha autoestima por uma noite que não consigo esquecer... Engasgar com o gosto da impotência e fingir que estava tudo bem enquanto suas mãos me forçavam em todas as posições que queriam.

Mesmo que meu encontro tenha sido apenas por uma noite, ainda me considerava imunda. Ainda me sinto suja, como se arrastasse o fedor daquele quarto de hotel por onde quer que eu vá. E não importa o quanto eu tente, não consigo tirar a sujeira da minha pele, nem mesmo depois de cem banhos.

Embora o dinheiro que ganhei naquela noite tenha ajudado a resolver meus problemas na escola, ainda não conseguia superar o fato de ter que me prostituir para consegui-lo.

"Está tudo bem, mãe..." eu disse, engolindo o nó que subia na minha garganta. "Não podemos continuar fazendo isso todos os dias."

Mas ela balançou a cabeça lentamente, sorrindo através das lágrimas. "Não, querida. Devemos." Ela sorriu tristemente, "Você sabe o que significa ser a inveja de todas as mulheres da alcateia de Lanry Side? Você é a criança de ouro, querida. Você. E estou feliz que estamos finalmente saindo de lá com esse orgulho ainda intacto. Continue fazendo a mamãe orgulhosa, ok?"

Ela sorriu através das lágrimas, acariciando minha bochecha. Suas mãos tinham um leve cheiro de lavanda.

Eu assenti lentamente. Uma lágrima escapou e deslizou pela minha bochecha.

Ela a pegou com o polegar antes que eu pudesse.

"Hoje marca um novo começo para nós," ela sussurrou, mais esperançosa do que eu a tinha visto em anos. "Tenho certeza de que você vai adorar nossa nova alcateia."

Ela estava radiante e sorrindo como uma garota no dia do casamento.

Ela estava muito entusiasmada com seu casamento com o ex-Alfa Rollins. Era seu novo começo, sua recompensa por sobreviver ao inferno e me criar quase sozinha.

E eu também não podia dizer o quanto estava feliz, porque, finalmente, eu deixaria aquela alcateia e todas as más lembranças, incluindo aqueles homens que não paravam de me procurar.

Desde o momento em que cruzamos a fronteira da alcateia, eu não conseguia respirar direito.

Era... deslumbrante. Uma cena saída de um conto de fadas, mas mais real, mais limpa e impossivelmente bem cuidada, como uma imagem que alguém tentava aperfeiçoar. Meu pulso acelerou enquanto eu via tudo deslizar pela janela do carro como um sonho que eu não deveria tocar.

Eu só tinha ouvido falar desse território, mas nunca tive a chance de visitar. Não era um lugar para certas classes de pessoas. Sem mencionar minha própria classe, que vivia na periferia do país. Nós éramos geralmente considerados os párias do país, onde tantas coisas ruins podiam ser encontradas.

Lanry Side era a mancha com a qual ninguém queria se associar, mas como minha mãe conheceu meu novo padrasto ainda é um mistério para mim. E agora, aqui estava eu, segurando a barra do meu vestido como se ele pudesse desaparecer se eu respirasse muito alto.

Enquanto dirigíamos em direção à casa da alcateia, eu já tinha notado muitas coisas... A atenção do Alfa aos detalhes. Era quase como se cada casa já construída na alcateia tivesse que passar por uma revisão e avaliação, porque, me diga, por que cada casa que passamos parecia ter sido esculpida à mão por Deus? Cercas brancas. Caminhos de pedra limpos. Flores que pareciam falsas até a brisa fazê-las balançar.

Nenhuma rachadura. Nenhuma pintura estranha. Nenhum cachorro de rua. Eu nem conseguia ver lixeiras. Era como se tudo ali funcionasse na perfeição.

Por toda parte, pessoas ocupadas se movimentavam, obviamente se preparando para receber a nova noiva. Eu já me sentia como uma princesa.

Enquanto nos aproximávamos da casa da matilha – mais parecida com uma mansão mergulhada em vidro e luz do sol – eu me pegava catalogando cada detalhe, e no momento em que saímos do carro, um grupo de garotas correu em nossa direção. Elas nos receberam calorosamente, todas vestindo roupas uniformizadas... Vestidos floridos... Elas obviamente estavam destinadas a conduzir a noiva até o altar. Elas tinham mais ou menos a minha idade, e eu já era o centro das atenções.

"Bem-vinda! Oh, minha deusa, você é deslumbrante," uma delas gritou, já com os dedos no meu cabelo. "O que você usa? Seu cabelo é tão sedoso. Tipo... encantado."

"Obrigada, eu..." Minha voz falhou, os nervos subindo pela minha garganta.

"Vamos fazer uma festinha depois do casamento. Quer se juntar a nós?"

Minha mãe não parava de sorrir. Ela conhecia essa parte de mim - a que atraía as pessoas e fazia estranhos sentirem como se me conhecessem há anos. Eu também costumava amar isso... antes de aprender o tipo de atenção que isso podia atrair.


SAINT.

Ajustei os punhos da minha camisa preta, endireitei o colarinho e dei uma última olhada no espelho. Eu parecia impecável e letal.

Para completar, peguei meu perfume – Obsidian Sin, da Sartieux. Dez mil dólares a garrafa. Um cheiro proibido em três matilhas por ser muito... distrativo.

Eu sempre digo isso... Se não lembrarem do seu nome, lembrarão do seu cheiro.

Antes de eu falar, eles vão me cheirar. E vão saber quem manda na porra do lugar.

Saí para a sala de estar, ainda ajustando o punho da manga, quando peguei Kyrie no meio da respiração, prestes a gritar aos quatro ventos na minha porta como se fosse um maldito arauto da cidade.

"Segura," eu disse friamente.

Sua boca se fechou. "Saint, estamos trinta minutos atrasados pra caralho."

"E daí?" Eu não parei de andar. "Eles deveriam estar gratos por eu estar honrando a ocasião com minha presença."

Ele bufou e se inclinou, fazendo uma longa e exagerada inalação. "Tá querendo que a gente seja banido também, Saint? Puta merda... Você cheira a pecado engarrafado."

Eu sorri. "Bom. Sinal de que está funcionando." Passei por ele, despreocupado.

Kyrie manteve o ritmo ao meu lado, murmurando algo sobre como toda a matilha provavelmente estava enlouquecendo, pensando que eu não apoiava o casamento do meu pai, mas tudo isso virou ruído branco.

O local apareceu à vista. Era ao ar livre, ao lado da cachoeira artificial que eu havia construído quatro anos atrás.

Eles já estavam nos votos. E no altar, meu pai - o Alfa Rollins - estava de mãos dadas com a mulher que ele estava prestes a fazer minha madrasta.

Ele estava sorrindo tão estupidamente para ela que eu quase engasguei. Continuei andando despreocupadamente em direção ao assento reservado para mim, até que a vi...

Meu corpo travou no meio do passo.

Aquele rosto.

Aquela boca.

Aquele maldito corpo que eu não conseguia tirar da memória, não importava quantas mulheres eu tentasse esquecer.

Ela parecia tão jovem e inocente, mas eu nunca seria enganado. Ela não era inocente. Não depois do que fizemos com ela naquela noite.

Meus passos pararam. Tudo parou.

O sangue rugia nos meus ouvidos enquanto eu murmurava, "Que porra é essa..."

E então... como se convocada pelo próprio diabo, ela se virou, e nossos olhos se encontraram.

Merda. Aqueles olhos.

Era realmente ela. A garota de oito meses atrás... A maldita ladra!

Ela estava ao lado da noiva do meu pai, vestindo um vestido doce, quase parecendo alguém que não sabia como se afogar no pecado.

E bem ali, naquele milissegundo, eu vi uma rachadura em sua alma. Medo. Terror. Reconhecimento.

Ela se lembrava de mim. Mesmo sabendo que ela achava, lá no fundo, que eu não a reconhecera, ela ainda manteve meu olhar, emitindo uma quantidade insalubre de medo que só eu podia sentir.

Kyrie parou ao meu lado, percebendo algo mudar. "Ei, o que tá rolando?"

Eu não respondi.

Porque Kyrie não podia saber que a garota ao lado da noiva do meu pai era a mesma que estávamos procurando todos esses meses.

Eu seria um idiota se deixasse ele saber, porque eu estava prestes a matá-la de mais de uma maneira.

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