Capítulo 4

Gabriella

Depois de semanas caminhando por cidades abandonadas e estradas desoladas, finalmente me encontrei nos arredores de uma pequena cidade que parecia relativamente intocada. O cansaço grudava em mim como uma segunda pele, e meu estômago roncava em protesto pelos dias de rações escassas. A visão de uma casa bem cuidada com um jardim era quase boa demais para ser verdade. Quando vi o homem mais velho na varanda, estava cansada e faminta demais para pensar claramente.

Ele estava na casa dos quarenta, com cabelos castanhos começando a rarear no topo da cabeça, um rosto redondo suavizado por uma barriga bem alimentada e óculos sobre o nariz. Vestia uma camisa azul e jeans, e seus olhos cinzentos tinham uma bondade cansada. Sua aparência e comportamento pareciam reconfortantes no meio da desolação que eu vinha enfrentando. Quando ele acenou para mim com um gesto amigável e ofereceu um lugar para ficar, eu estava desesperada demais por abrigo para hesitar.

O nome do homem era Hank, e ele falava com um ar de despreocupação que era estranhamente reconfortante no meio do caos. Enquanto nos aproximávamos de sua casa, não conseguia afastar a sensação de que algo estava ligeiramente errado, mas o calor do convite e a promessa de uma refeição quente fizeram minhas dúvidas desaparecerem.

Uma vez dentro, Hank me conduziu por uma sala de estar modesta decorada com antigas fotografias de família e móveis descombinados. A casa era aconchegante de uma maneira que sugeria uma vida vivida confortavelmente, mas sem extravagâncias. Ele me ofereceu um assento à mesa da cozinha e foi buscar algo para comer. Observei-o se movimentar pela cozinha, o barulho das panelas e frigideiras sendo um som reconfortante comparado ao silêncio assustador do mundo lá fora.

Mas quando Hank voltou, seu comportamento havia mudado sutilmente. O sorriso afável havia desaparecido, substituído por um olhar frio e calculista que me arrepiou. Ele disse algo sobre precisar garantir a segurança da casa e pediu que eu o seguisse até o porão. Eu estava cansada demais para questionar; simplesmente segui, pensando apenas que finalmente teria a chance de descansar.

A porta do porão era pesada e antiga, rangendo de maneira sinistra quando ele a abriu. Ele acendeu uma única lâmpada fraca que piscava de forma errática, lançando longas sombras nas paredes de concreto. O porão era esparso, com apenas alguns móveis velhos e um odor de mofo que preenchia o ar. Assim que entrei, Hank fechou a porta atrás de mim com um estrondo. Ouvi o inconfundível clique de uma tranca se engajando, e meu coração disparou com uma crescente sensação de pavor.

A realização me atingiu como uma onda gelada. A bondade que eu havia percebido não passava de uma fachada. A voz de Hank, que antes parecia reconfortante, agora carregava um tom ameaçador. "Você vai ficar aqui," ele disse. "Você me pertence agora."

Eu recuei, minha mente correndo enquanto o pânico se instalava. O porão era um lugar frio e insensível, suas paredes de concreto como uma prisão. Tentei gritar, chamar por ajuda, mas minha voz parecia ser engolida pela escuridão opressiva. Bati nas paredes, o som ecoando no espaço confinado, mas não houve resposta.

Os dias que se seguiram foram um borrão de medo e desespero. Hank me trazia comida e água, mas sempre acompanhados de uma ameaça ou um sorriso sarcástico, um lembrete da minha impotência. A escuridão do porão era tanto física quanto psicológica, um lugar onde a esperança parecia desaparecer a cada hora que passava. Perdi a noção do tempo, minha percepção de dia e noite se confundindo na escuridão incessante.

Tentei de tudo para escapar—raspando na tranca, tentando forçar a porta, mas tudo foi em vão. A força de Hank e a segurança do porão tornavam qualquer tentativa inútil. O isolamento e a incerteza me corroíam, e me vi à beira do desespero. Me perguntava se alguém algum dia me encontraria, se eu veria a luz do dia novamente, ou se estava destinada a permanecer prisioneira nesse confinamento infernal.

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