Capítulo 1
—Tenho algo a te dizer.
No momento em que Damián Robins estava prestes a sair do quarto, uma voz fraca veio de trás dele.
Ele virou a cabeça e olhou para trás.
Ali, viu Avery parada com o cabelo cuidadosamente preso de lado.
Damián Robins olhou para o relógio e conferiu a hora.
Era aquela época do ano em que o trabalho chegava sem descanso, então ele não tinha muito tempo livre.
Ele precisava ir trabalhar agora mesmo.
Pensou que o melhor seria conversar mais tarde.
Como se lesse sua mente quando estava prestes a responder, Avery abriu a boca primeiro.
—10 minutos... Não, só leva 5 minutos... Me dê apenas 5 minutos.
Damián virou seu corpo em direção a ela.
—Diga.
Ele olhou nos olhos azuis de sua esposa. Os olhos hoje pareciam incomumente profundos e tristes.
Quando foi a última vez que nos encaramos assim?
Em algum momento comecei a passar mais tempo no trabalho do que em casa.
Era seguro dizer que praticamente só dormia em casa.
Como sempre chegava tarde em casa, a única coisa que podia ver era ela dormindo.
Depois de vê-la pela primeira vez em muito tempo, seu rosto parecia um pouco magro.
Por que seu rosto está tão pálido?
Será que a comida da senhora da cozinha não lhe agrada?
Foi um momento em que me perguntei se deveria trocar a governanta.
Lágrimas transparentes caíram dos olhos azuis de Avery.
No momento em que viu essas lágrimas, Damián ficou paralisado.
Isso porque era a primeira vez desde que se casaram que ela derramava lágrimas na frente dele.
Damián não sabia o que fazer.
Ficou ali parado sem compreender, sem pensar em enxugar suas lágrimas nem em consolá-la.
Tão desorientado.
—Hã?
Avery cobriu o rosto com ambas as mãos e abaixou a cabeça.
Seus pequenos ombros tremiam lastimosamente enquanto chorava tristemente.
Ombros tão finos que parece que vão se quebrar se você os segurar com força.
Foi o momento em que lentamente estendi minha mão em direção a esse ombro.
Sua voz apagada ressoou por todo o quarto.
—Eu não posso mais fazer isso, porque é muito difícil.
—...
—Não consigo respirar nem por um minuto, cada segundo.
Ela, que estava derramando lágrimas sem cessar, olhou para cima. E então ele ficou olhando o rosto de sua esposa.
—Damián.
—...
—Agora vamos parar.
Com uma expressão de dor no rosto, ela pronunciou as seguintes palavras com dificuldade.
—Só desta vez... Por favor, se divorcie de mim.
Os olhos de Damián se estreitaram.
Era algo que ele nunca tinha ouvido antes, mas duvidava se realmente tinha ouvido corretamente.
Divórcio.
O casamento foi diferente de um casamento típico desde o início.
Não existiu amor desde o começo, nem o voto de eternidade.
Ao contrário, desde que cumprissem fielmente o acordado e não cruzassem os limites estabelecidos um pelo outro, era um casamento que poderia ser mais pacífico do que o de qualquer outra pessoa.
Damián não conseguia entender.
Sua vida matrimonial com ela até agora tem sido extremamente pacífica e tranquila.
Não, ele até estava satisfeito que ela fosse sua esposa.
Pensava que era o mesmo para Avery.
Ela era alguém que nunca se queixava.
Não faz muito tempo, ele a segurava tranquilamente entre os braços.
Ela era quem sempre o esperava e cumprimentava no mesmo lugar.
Mas por que... Agora.
—Por que você está fazendo isso de repente? —A voz de Damián ficou aguda enquanto falava com frustração. Até agora não houve nenhum problema.
Ela não deu nenhuma resposta.
Apenas mordia os lábios com força.
Damián voltou a perguntar.
—Fiz algo para você fazer tudo isso?
Damián se perguntou o que poderia ter acontecido para que ela se sentisse triste.
Ele não quebrou nenhuma das condições que ela estabeleceu antes do casamento.
Não importa o quanto pensasse, não conseguia imaginar nada que a deixasse mentalmente inquieta.
Se havia algo que a incomodava, só havia uma coisa.
—Você está fazendo isso porque ouviu rumores sobre Marian?
Sua voz ficou um pouco mais profunda.
—Aquela mulher e eu... —replicou Damián.
—Você não fez nada de errado, Damián —A voz de Avery cobriu suas palavras.
Seus olhos silenciosos se voltaram para Damián.
—Desde o momento em que te vi pela primeira vez até agora... Nada mudou —Avery continuou falando em voz mais baixa que antes—Sou eu quem mudou.
—... — Damián não falava, apenas a olhava.
—Meu coração... eu mudei.
—O que você quer dizer com isso? —Damián não hesitou em perguntar.
Não conseguiu continuar o que estava dizendo.
Isso porque os olhos de sua esposa, que eram tão deslumbrantes, estavam tão miseravelmente distorcidos.
Ouviu-se sua voz mergulhada na dor.
—Encontrei alguém —As lágrimas brotaram de seus olhos distorcidos—Então não posso suportar mais... Não posso ficar com você —Suspirou—Não posso mais... Não posso fingir que não está acontecendo nada.
Damián não conseguiu dizer nada.
Cada uma de suas palavras atravessou seu coração e o apertou.
Seu corpo ficou rígido e ele não conseguia mover um dedo.
Seus olhos úmidos encontraram os de Damián.
As lágrimas que enchiam seus olhos continuaram a fluir uma e outra vez.
Será que alguém pode desabar depois de chorar tanto? Mesmo naquele momento, ele se sentia ridículo e tolo por se preocupar assim.
—Damián.
—... —
—Por favor.
Essa foi a primeira e última súplica de sua esposa.
Foi um pedido muito doloroso e sincero, e por isso, foi um pedido ainda mais cruel e impiedoso.
—Por favor, me deixe livre.
. . .
—Ah—
Damián soltou um breve suspiro e de repente levantou a parte superior do corpo.
Gotas de suor estavam se formando em sua testa, que era tão angular quanto uma estátua.
Recuperou os sentidos e olhou ao redor. O lugar onde estava era o quarto e ele era o único na espaçosa cama.
Damián passou a mão pelos cabelos para trás, bruscamente.
‘Droga’.
Aquele sonho de novo.
Já se passaram quatro anos desde que ela se foi.
O ditado de que o tempo cura tudo não se aplicava de forma alguma a Damián. À medida que o tempo passava, a quantidade de vezes que sonhava aumentava e suas lágrimas se tornavam mais vívidas em seus sonhos.
—Há uma pessoa.
Essa voz triste também permanecia em sua mente ainda mais claramente.
Damián secou o rosto.
A dor de cabeça que havia diminuído por um tempo voltou.
A solidão encheu seus olhos muito, muito escuros.
Foram quase 4 anos.
Essa era uma mulher cuja voz ele não ouvia nem via há muito tempo. Essa foi uma mulher que se foi porque amava um homem que não era ele.
Foi essa mulher que disse que nunca poderia ficar ao seu lado.
Sentia-se patético e com raiva de si mesmo por vê-la assim em seus sonhos. Achava engraçado dizer às pessoas que havia esquecido tudo, mas na verdade não conseguia.
—Droga.
Uma voz pesada cheia de frustração escapou de seus lábios.
Odiava admitir, mas tinha que admitir.
Ele a estranha... Ainda a estranha.
Além disso, por mais que a estranhasse, também se sentia ressentido.
