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POV do Alpha Nathan

Quando finalmente chegamos à casa do lago, a noite estava pesada, silenciosa e inquietante. O tipo de silêncio que aperta o peito até ficar difícil de respirar.

A limusine parou na entrada de cascalho e, por um breve momento, tudo ficou completamente imóvel.

Então, pelo canto do olho, eu vi algo - movimento. Algo pequeno se mexeu perto dos arbustos perto da água. Meus instintos se aguçaram instantaneamente, cada nervo do meu corpo em alerta.

Abri a porta do carro e pisei no ar frio da noite. O vento cortante bateu no meu rosto, trazendo o cheiro de pinho e terra úmida.

Meu Beta, Ethan, já estava ao meu lado, seus olhos varrendo a escuridão. Levantei a mão e apontei para as árvores. “Ethan,” disse baixinho, mas firmemente, “olhe ali. Algo está se movendo. Você vê?”

Ele não hesitou. Passou na minha frente, sua postura protetora, seu corpo tenso. “Fique atrás de mim, Alpha. Eu cuido disso.” Sua voz estava firme, mas eu não deixei de notar como seus músculos se contraíram enquanto ele avançava.

Um momento depois, ele parou. Seus ombros enrijeceram, e ele se virou lentamente para mim com um olhar que me deixou inquieto. Não era exatamente medo – era confusão, algo mais profundo, algo que fez meu estômago revirar.

Franzi a testa. “O que foi? Fale, Ethan, não me faça adivinhar.”

Ele engoliu em seco, seu pomo de Adão subindo e descendo, e fez sinal para que eu me aproximasse. “Você precisa ver isso com seus próprios olhos. Não é nada do que eu pensei.”

Segui-o cuidadosamente, empurrando os galhos para o lado, e então parei de repente. A visão diante de mim fez meu coração apertar dolorosamente.

Lá, agachada no chão, estava uma figura. A princípio, pensei que fosse algum animal sarnento ou um lobo preso entre formas. Mas então percebi – era uma jovem.

Seu corpo era tão magro que suas costelas apareciam através da camisa esfarrapada. Suas mãos arranhavam o chão, arrancando tufos de grama, empurrando-os para a boca com desespero. Ela mastigava como um animal faminto, lágrimas e sujeira manchando seu rosto.

Suas roupas não passavam de trapos, imundos e rasgados. Seu cabelo estava emaranhado, preso em nós ao redor do rosto, e ela cheirava a lama, suor e desesperança. Parecia que não tomava banho há semanas, talvez meses.

A visão me queimou por dentro. Eu era o Alpha. Meu dever era proteger cada alma em minhas terras. Se ela fosse uma das minhas pessoas, então eu a havia falhado.

Miseravelmente. E mesmo que não fosse, mesmo que viesse de outro lugar, o fato de uma loba ter sido reduzida a isso – faminta, abandonada, desesperada – enfiou a vergonha profundamente no meu peito.

Dei um passo à frente devagar, cautelosamente, e estendi a mão. Minha mão pousou gentilmente em seu ombro trêmulo. No instante em que a toquei, ela ofegou, seu corpo inteiro se contorcendo violentamente como se pensasse que eu estava a atacando.

Quando ela levantou a cabeça, eu esqueci como respirar.

Seus olhos. Um era de um amarelo dourado, o outro de um azul-gelo penetrante. As cores desiguais brilhavam levemente ao luar, estranhas e assombrosas. A visão me atingiu como uma onda de choque. As palavras saíram de mim mais duras do que eu pretendia. "Que diabos você é?"

Então, quando meu olhar desceu, a realização me atingiu — vi a curva de seu peito sob os trapos. Meu coração deu um salto. "Droga," murmurei para mim mesmo. "Você é uma loba? Pertence a alguma alcateia? O que você é?"

A maneira como ela se encolheu com minhas palavras fez meu estômago revirar de arrependimento. Seu rosto se contorceu, e lágrimas escorreram por suas bochechas. Aquele olhar — o olhar de alguém que foi insultado a vida inteira — me atravessou como uma lâmina.

Me recompus, fechando os olhos brevemente, depois suavizei meu tom. Cocei o queixo enquanto a culpa me invadia. "Desculpe," disse baixinho. "Não foi minha intenção. Você só... me pegou de surpresa."

Ela não respondeu. Apenas soluçava, seus ombros tremendo incontrolavelmente. Alcancei seus braços e a puxei gentilmente para que ficasse de pé. Ela era tão leve, frágil como vidro, como se um suspiro errado pudesse fazê-la se despedaçar em minhas mãos.

"Calma," murmurei, acariciando sua cabeça desajeitadamente. "Respire. Pare de chorar. Só me diga uma coisa — você está com fome?"

Ela assentiu rapidamente, cabeça tão baixa que eu mal podia ver seu rosto. Ela se recusava a encontrar meus olhos, claramente aterrorizada que seu olhar desigual me assustasse novamente. Mas não assustava. Me fascinava.

Limpei a garganta, meu tom agora mais firme. "Quero ouvir sua voz. Responda em voz alta. Você está com fome?"

Seus lábios tremeram, e finalmente, um sussurro escapou. "Sim... estou morrendo de fome."

Quase ri amargamente, embora nada disso fosse engraçado. Ela não precisava dizer. Era óbvio para qualquer um com olhos — ela estava comendo grama como um animal selvagem.

"Certo," disse imediatamente. "Você vai vir comigo. Pode comer na minha casa."

Sua cabeça se levantou lentamente, e aqueles olhos desiguais brilharam na minha direção. Por um momento, ela me encarou, como se testando, esperando ver se eu estava zombando dela. Então, tão rapidamente, ela desviou o rosto novamente.

Tentei acalmá-la, forçando um pequeno sorriso. "Relaxa. Não pretendo te comer. Você pode ir embora quando quiser. Ninguém vai te manter prisioneira."

Ela não falou. Suas mãos se mexiam nervosamente, torcendo e destorcendo os dedos, mas eu podia ver que ela concordava em silêncio.

Soltei um suspiro pesado, meu peito apertando. Não conseguia parar de olhar para ela—como parecia destruída, como parecia frágil. E depois de tudo que eu tinha acabado de perder—meu filho ainda não nascido, minha esperança de ter uma família—vê-la assim abriu algo dentro de mim.

Estendi a mão novamente e segurei a dela com cuidado, sem querer assustá-la ainda mais. "Vamos," eu disse suavemente. "Você vem conosco agora."

O corpo dela ficou rígido instantaneamente, todo o seu corpo se contraindo de medo. Aquela reação me disse tudo. Não era só fome. Essa garota havia sido abusada antes. Muito.

Fiz um gesto para Ethan, minha voz baixa. "Diga a ela quem eu sou."

Ethan se endireitou imediatamente, inclinando a cabeça com respeito. Seu tom era formal, firme. "Este é o Alfa Nathan, líder da nossa matilha. E eu sou seu Beta. É nosso dever jurado proteger e cuidar daqueles que estão em nossas terras."

A garota—essa loba destruída—caiu de joelhos no momento em que ouviu suas palavras.

Sua voz se quebrou enquanto ela implorava, lágrimas escorrendo pelo rosto. "Alfa, por favor, me salve. Eles me abusaram. Me trataram como uma escrava. Esta noite tentaram me estuprar. Minha própria mãe me odeia porque meu pai era um metamorfo urso. Não tenho para onde ir. Por favor... por favor, me ajude."

As palavras dela me cortaram como garras. Me abaixei, puxando-a gentilmente de volta para seus pés, segurando suas bochechas nas minhas mãos. "Chega. Você está sob minha proteção a partir deste momento. Ninguém jamais vai te tocar novamente."

Estalei os dedos para Ethan. "Diga ao motorista para ir agora. Depois volte pela manhã com roupas novas para ela."

Ethan inclinou a cabeça silenciosamente e nos deixou.

Eu a conduzi gentilmente para dentro da casa no lago. O lugar estava vazio, mas os empregados sempre o mantinham limpo, abastecido com comida e roupas para mim. Acendi as luzes, e ela congelou na entrada, seu corpo pressionado contra a moldura da porta como se tivesse medo de entrar.

"Entre," eu disse suavemente, fechando a porta atrás de nós. "Por favor. Trate este lugar como seu lar."

A voz dela era tão fraca que quase não ouvi. "Eu não tenho lar."

Meu peito apertou novamente. Sem hesitar, soltei, "Então este é seu lar agora." As palavras surpreenderam até a mim, mas eu as disse com sinceridade. Eu tinha mais terras e mais casas do que jamais poderia usar. Ela não tinha nada.

Ela piscou, atordoada, e então rapidamente abaixou a cabeça novamente.

Segurei sua mão gentilmente e a conduzi até a cozinha. "Sente-se aqui," eu disse firmemente. "Vou fazer comida para você. Depois, quando você tiver comido, nós conversaremos."

Ela assentiu silenciosamente e afundou no sofá, seus olhos fixos no colo, seu corpo rígido como pedra.

Eu trabalhei rapidamente na cozinha, preparando uma grande refeição de carne, suficiente para dois pratos cheios.

Coloquei-os na frente dela. “Coma,” ordenei suavemente. “Coma tudo. E se quiser mais, vá até a geladeira ou a despensa. Tudo nesta casa é seu. Ninguém vai te impedir.”

Ela não hesitou. Devorou a comida como um porco faminto, não um lobo, suas mãos tremendo, a boca suja, os olhos arregalados de desespero.

A visão fez meu estômago revirar—não de nojo, mas de uma mistura de pena e tristeza difícil de carregar. Virei-me e fui até o quarto, verificando se a cama estava limpa.

A casa em si era simples: uma grande sala de estar, um quarto principal com banheiro e uma cozinha aberta. Era isso. Franzi a testa, pensando. Ela precisava de uma cama de verdade esta noite. Eu poderia ficar no sofá.

Quando voltei meia hora depois, o cômodo estava silencioso. Sem mastigação, sem som. Examinei o espaço, então a vi na cozinha—lavando os pratos que acabara de usar.

Levantei a mão bruscamente. “Não. Deixe isso.”

Ela se encolheu, olhos baixos. “Desculpe, Alpha. Você já me deu comida e abrigo. Por favor… deixe-me retribuir. Deixe-me ser sua empregada.”

Minha mandíbula se apertou. Cruzei os braços. “Eu disse para deixar os pratos.”

Suas mãos tremiam tão violentamente que o prato escorregou e quebrou no chão. Ela se abaixou rapidamente para limpar os cacos, mas eu dei um passo à frente e coloquei minha mão na cabeça dela. “Chega. Levante-se.” Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, quase um grito.

Ela se levantou apressadamente, tremendo, e eu apontei para o quarto. “Vá para dentro. Tome um banho. Use qualquer uma das minhas roupas para dormir. Vá. Agora.”

Ela obedeceu instantaneamente, desaparecendo no quarto.

Quando ela saiu novamente, eu fiquei completamente imóvel. Meu coração disparou no peito, minha respiração travou. Pela primeira vez em muito tempo, fiquei sem palavras.

Ela não era mais a garota quebrada e suja que eu tinha encontrado comendo grama. Agora limpa, sua pele brilhando suavemente sob as luzes suaves, seu cabelo úmido e solto ao redor do rosto, ela parecia outra pessoa completamente.

Ela vestia uma das minhas camisas, que pendia frouxamente em seu corpo esguio, mas de alguma forma a fazia parecer ainda mais bonita. Seus olhos desiguais espiaram timidamente para mim, e todo o meu corpo reagiu de maneiras que eu não estava pronto para admitir.

Meus olhos se arregalaram, meu pulso acelerou, minha língua se enrolou na boca. As palavras me faltaram completamente.

O que diabos acabou de acontecer? Quem era ela—realmente? Porque, parada ali na minha frente, Isabella parecia a criatura mais deslumbrante que eu já tinha visto na vida.

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