A verdade de Allister

"O quê??!" A sala explodiu em descrença. Como poderiam enviar a única princesa em uma missão tão perigosa?

"Do que você está falando?" Allister riu, assumindo que era uma piada. Mas Alorea estava resoluta. Ela havia antecipado essa reação de sua família e decidiu não vacilar.

"Seria morte certa. Não vale a pena," sua mãe implorou, na esperança de dissuadir a decisão de Alorea.

"Não, mãe," ela rebateu, firme em sua determinação. "Isso é o que eu devo fazer."

"Por que você deve fazer isso?" Seu irmão se aproximou rapidamente dela. Alorea podia sentir a raiva fervente dele de onde estava, mas estava preparada para suportar sua reprovação.

"Se alguém deve correr esse risco e negociar a paz com aquelas bestas implacáveis, deve ser eu. Eu sou o príncipe herdeiro, o sucessor. Não posso ficar parado e assistir minha irmãzinha caminhar para a morte!"

Seu discurso apaixonado não fez nada para abalar a determinação de Alorea. Ela estava mais do que pronta para enfrentar a morte, considerando isso um destino melhor do que esperar no castelo para que Nathan a reivindicasse algum dia.

"Você realmente deseja fazer isso?" A voz do rei finalmente quebrou o silêncio. Ele estava estranhamente quieto, ouvindo a discordância da família. "Eu te pergunto, querida, você realmente acredita que pode negociar a paz com os Gigantes?"

"Você está falando sério?" Marianne estava chocada com a disposição do Rei Michael em considerar essa proposta bizarra.

Alorea observou os rostos à sua frente, todos marcados pelo terror. A expressão horrorizada de Allister enviou um calafrio pela espinha de Alorea. Ele sempre foi protetor com ela, o único a se opor quando Nathan propôs casamento, o único a ficar ao seu lado contra o arranjo quando os outros tentaram convencê-la a aceitar o alfa.

Se ao menos ele pudesse ver o que ela viu. Se ao menos ele soubesse o que o futuro reservava para os Lobos da Noite, então ele não questionaria sua decisão de se aproximar dos Gigantes.

Alorea se aproximou do rei. Seu rosto estava impassível, mas ela podia perceber que ele estava profundamente preocupado.

"Eu não sou mais sua princesinha, pai. Eu quero fazer isso. Deixe-me servir a alcateia, o reino. Deixe-me provar meu valor."

"Você é inexperiente," sua mãe interveio, tentando influenciar a decisão de Michael. "Se você quer se envolver, podemos te envolver. Mas não assim, Alorea. Por favor, reconsidere..."

"Eu permito," declarou o rei, enviando uma onda de choque pela assembleia. Os chefes e lordes betas, que estiveram em silêncio durante toda a discussão, trocaram olhares. Ninguém esperava que o rei sucumbisse a essa loucura. Aleric, o lobisomem mais velho da alcateia dos Lobos da Noite, não pôde mais conter sua língua.

"Majestade, isso não deve ser feito. Pode trazer grande dano à alcateia. Não deixe que as palavras daquele homem estranho te enganem. Nem sabemos se ele é quem diz ser..."

"Homem estranho?" Marianne captou a dica em um suspiro. "Aquele Ockrapticuiz?? O que ele disse???"

"Esqueça ele. Estou tomando essa decisão porque quero, e é o que Alorea quer."

"Mas pai..."

Allister foi interrompido. "É uma ordem. Não quero ouvir mais nada sobre isso."

Enquanto Alorea se afastava deles, podia sentir seu coração batendo forte. Ela acabara de organizar uma viagem para o reino mais perigoso para uma princesa da alcateia dos Lobos da Noite.

"Por que você quer fazer isso??" Ela ouviu passos a seguindo, acompanhados pela voz de Allister. Ele soava amargo e irritado.

Alorea não conseguia suportar encará-lo, então continuou andando, esperando que ele parasse de segui-la. Era uma esperança vã.

"É um daqueles príncipes com roupas chamativas sussurrando no seu ouvido?? Dizendo que você pode ser herdeira, que você pode ser rainha dos Lobos da Noite??"

"O quê?" Alorea parou reflexivamente. Quão absurda soava aquela acusação? Seu próprio irmão a acusando de cobiça pelo poder.

Ela se virou, perplexa. "Allister?! Como você pode dizer isso?"

"Eu vi aquele servo magricela te entregar uma carta ontem à noite. Você o seguiu, saiu na noite. E nunca voltou."

"Eu voltei..."

"Você não ficou muito tempo, ficou? E na próxima vez que te vejo, você está falando sobre se encontrar com os Gigantes para negociar a paz?? Eu digo que você tem uma agenda."

Ela não podia acreditar no que estava ouvindo. Como seu próprio irmão podia pensar isso dela? Isso significava que todos esses anos, seu irmão tinha sido cauteloso com sua presença na alcateia, esperando que ela nunca tentasse se envolver na liderança da família?

Vendo o olhar devastado nos olhos de Alorea, Allister pareceu culpado por um momento.

"Olha, eu não quero te chatear, Alorea. Mas você deve saber que você é uma mulher. Existem certas coisas para as quais uma mulher é destinada. Você não pode simplesmente sair por aí procurando Gigantes perigosos e colocando sua vida em risco. Quando chegar a hora, um grande príncipe virá para você. Um alfa forte, digno da sua mão. E você será a Luna dele. Até lá, fique fora do meu caminho, irmã."

Alorea observou enquanto ele se afastava furioso, deixando-a em seu desânimo. Zoe era a única presente quando isso aconteceu, parada a alguns metros atrás dos irmãos.

"Ele deve querer se livrar de mim tão desesperadamente," Alorea murmurou, alto o suficiente para Zoe ouvir.

"O príncipe está simplesmente estressado. Ele tem estado privado de sono, planejando o grande banquete, escrevendo cartas para os reis e rainhas de outros reinos, e lidando com as ameaças de guerra atuais. Ele trabalha tão duro quanto o próprio rei."

Isso era ainda mais motivo para ele precisar de ajuda, não era? Alorea pensou, confusa. Por que então ele era tão hostil sobre seu envolvimento?

"Poderia ser..."

Não! Impossível!

Ela se convenceu. Allister não sabia sobre o tratamento de Nathan com ela durante três anos. Se soubesse, faria algo a respeito. Seu irmão não saberia de sua situação e não faria nada.

Quão verdadeiro isso era, ela já não podia ter certeza. A versão de seu irmão que ela acabara de testemunhar era diferente de qualquer outra que ela tinha visto nos últimos cinco anos de sua vida passada.

Quando Allister desapareceu de sua vista, também desapareceu sua forte fé nele. Ela decidiu mais uma vez ir aos Gigantes e resolver esse conflito. Não importava o que acontecesse, ela mudaria o futuro.

"Princesa, por que você não muda de ideia agora, antes que seja tarde demais? É perigoso lá fora. Porque..."

Um olhar de Alorea foi suficiente para silenciar Zoe.

"Eu vou. Não importa o que."

Ela se retirou para seu quarto, preparando-se para sua partida. Horas se transformaram em dias, e logo o dia chegou. Alorea estava pronta para partir.

Uma batida veio à sua porta. Ela estava de pé diante de seu espelho de corpo inteiro, seu cabelo tão longo que roçava suas nádegas, seus olhos tão vibrantes que refletiam uma imagem mais clara do que o próprio espelho.

"Entre logo."

Era sua mãe na porta. Marianne ainda não queria que Alorea partisse.

"Desde que você atingiu a maioridade, seu pai e eu temos esperado pelo dia em que você escolheria um companheiro. Mas em vez disso, você escolheu uma jornada para a destruição? Por favor, Alorea, pense nisso uma última vez."

"Não, mãe! Eu tenho que fazer isso, não tente me impedir."

"O que você fará se as coisas derem errado? Como você vai se defender?"

"Somos lobisomens, não somos? Nossas armas estão dentro de nós."

"Mas a sua não está presente, está?"

As palavras de Marianne atingiram Alorea com uma força dura. Ela se virou para olhar sua mãe. Como ela sabia sobre Flur, sua loba? Como ela sabia que ela não estava mais lá? Como ela podia sentir sua ausência?

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