Dois lobos se tornam um
Agora, Alorea via que seu destino estava repleto de enigmas, sua vida cheia de fracassos e seu futuro pintado com escuridão. Ela percebeu que estava perdida em todos os resultados possíveis.
Era certo que Nathan viria atrás dela agora, especialmente após a carta vil de Demeatris. Mas era igualmente certo que ela não tinha esperança de um futuro melhor. Independentemente do que acontecesse, ela perderia tudo.
Se Nathan caísse na armadilha deles e fosse morto por aqueles dois vilões e seus esquemas, então ela também seria morta, e sua história chegaria ao fim.
Se Nathan de alguma forma conseguisse escapar das armadilhas, derrotá-los mesmo em seu estado enfraquecido e a levasse daquele lugar, então ela passaria o resto da vida em circunstâncias ainda piores do que sua situação atual.
De qualquer forma, ela não tinha perspectiva de sair vitoriosa. Era um beco sem saída para ela, e com um coração pesado e despedaçado, decidiu acabar com suas preocupações ali mesmo.
"Há apenas uma saída para isso," disse a si mesma. "A morte."
Ela precisava morrer para sobreviver. A liberdade do céu ou do inferno libertaria sua alma de todas as correntes terrenas. Ninguém mais teria que chamá-la de rainha das correntes.
Ela olhou para o vestido vermelho esfarrapado que mal cobria seu peito. Espiando por baixo das alças estava sua pele avermelhada, marcada pelos efeitos do acônito. Ela havia pressionado a adaga contra seus próprios seios enquanto esperava por Nathan. Deve ter queimado sua pele, mas a batida tumultuada de seu coração era tão alta que ela não havia notado.
Agora, a vermelhidão persistia. Ela observou enquanto se espalhava lentamente pelo seu peito. Ela tinha apenas um pensamento em mente: morder sua própria carne e sangue.
Um protesto violento surgiu dentro dela, mas sua loba estava impotente contra as correntes mágicas que a prendiam, forjadas das brasas escaldantes de cinzas de montanha. Elas tornavam sua loba impotente, e Alorea desanimada.
Quando estava prestes a morder a parte envenenada de sua pele, um grito distante de cavalos chegou até ela do lado de fora.
Ela reconheceu instantaneamente.
"Nathan!"
Um barulho alto de homens chegou aos seus ouvidos quase imediatamente, seguido pelos sons cacofônicos de vampiros lutando contra os poderosos uivos de lobisomens. Uma guerra estava se desenrolando lá fora.
Ela podia ouvir a voz de Nathan enquanto ele lutava contra seus numerosos adversários, podia sentir que os vampiros nas proximidades superavam em número os lobisomens que haviam acompanhado Nathan.
Ela podia sentir que Nathan não estava ciente da traição de Scorpio. Ele não sabia nada da armadilha que haviam preparado para ele. E agora ele estava caminhando direto para ela.
Ela pensou na ferida dele, aquela que ela havia infligido em seu coração com uma adaga envenenada.
Alorea sabia que não havia mais esperança para ela. Não havia chance de sobrevivência.
Ela inspirou profundamente, enchendo seus pulmões ao máximo. Sem mais hesitação, inclinou a cabeça sobre o peito e mordeu a carne envenenada.
Sua loba rosnou em protesto, mas não havia nada a ser feito enquanto o veneno se espalhava por seu sistema como fogo selvagem.
Com sua força vital lentamente se esvaindo, Alorea caiu de lado, a cadeira à qual estava acorrentada tombando com ela, batendo no chão com um eco retumbante. Pela primeira vez em três anos, enquanto sua vida se esvaía, ela sentiu uma sensação de libertação.
"Ahhh..." Ela tentou gritar, mas tudo o que saiu foi um sussurro tão fraco que ela mal podia se ouvir. À medida que sua voz enfraquecia, seus sentidos se aguçavam. Ela podia ouvir os homens lá fora ainda mais claramente enquanto lutavam entre si.
Então, como por magia, ela pôde ver além das paredes que a confinavam. Ela podia ver tudo o que estava acontecendo lá fora.
Diante de sua visão apareceu Demeatris com suas garras letais e alongadas, o traiçoeiro Scorpio ao seu lado, e um grande número de vampiros com eles.
Nathan era o único lobisomem restante para confrontá-los; ele era o último sobrevivente daqueles que o haviam acompanhado. Corpos mortos de seus companheiros de matilha o cercavam, e Alorea ficou chocada ao ver as três damas vermelhas, cada uma em sua forma de loba, sem vida.
Ela não podia acreditar que alguém pudesse derrotar Nathan quando ele tinha aquelas três com ele. Mas lá estavam elas, sem vida.
"Suas garotas se foram agora, garoto," ela ouviu Demeatris dizer, e logo ele começou a avançar lentamente em direção a Nathan, um sorriso maligno se espalhando por seu rosto. "Devemos acabar com isso agora. Acabar com você agora."
Chamar Nathan, que tinha apenas vinte e cinco anos, de garoto era um insulto. Um insulto imperdoável.
Mas não havia nada a ser feito. Estava tudo acabado, e Nathan estava completamente sozinho.
Alorea podia ver Scorpio com um sorriso horrível. Ele devia estar pensando que havia vencido e que se tornaria o novo alfa após matar Nathan.
"Filho da mãe..."
Mesmo enquanto morria lentamente, ela sentiu uma onda de raiva. Ainda não conseguia entender como podia ver tudo aquilo. Essas pessoas estavam lá fora, sob o céu, enquanto ela estava trancada atrás de uma porta, mas parecia que ela estava lá fora com eles, como se pudesse fazer algo para ajudar Nathan a derrotar aqueles demônios. Era como se ela tivesse o poder, mas ainda não conseguia encontrá-lo.
Os vampiros avançaram em direção a Nathan, que os enfrentou com fúria. Ele não ia desistir. Matou cada um deles em um piscar de olhos, sem nem mesmo invocar seu lobo; parecia que ele era invencível.
De repente, Scorpio gritou de raiva, desapontado que ninguém havia conseguido derrotar Nathan por tanto tempo. Ele avançou para fazer isso ele mesmo.
Nathan o pegou no ar, justo quando ele estava prestes a se transformar em sua forma monstruosa de lobo. Com as mãos do alfa envoltas em sua garganta, Scorpio só pôde congelar no ar, seu sangue gelando.
"Eu deveria te matar, traidor!!!" Nathan rugiu. Mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, uma dor aguda rasgou seu coração. Era o veneno; ele ainda não havia se curado.
Alorea ofegou de tristeza enquanto Scorpio caía no chão e Nathan segurava o peito de dor. Era tudo culpa dela. Percebendo a enormidade dessa oportunidade, Demeatris esfaqueou Nathan por trás, e o alfa uivou para o céu.
Então Scorpio veio à sua frente e levantou seu longo braço no ar, suas garras refletindo a luz do sol, carmesim com sangue. Ele estava prestes a cortar a garganta de Nathan!
"Não se preocupe, Nathan. Eu tomarei seu trono, mas serei gentil o suficiente para mandar sua rainha com você para o inferno."
Alorea não podia suportar assistir. Ela não queria ver isso. Ela não pediu para ver isso. Ela nem sabia como estava conseguindo ver isso.
Em agonia, ela gritou, alto o suficiente para ser ouvida pelos pássaros voando acima. Não que ela achasse que seu grito faria algo para ajudar seu companheiro, ela apenas ouviu uma voz dentro dela dizendo para tentar. Sua loba a incentivou, e ela ouviu.
A voz não estava errada. Como um feitiço mágico, seu grito virou a cena de cabeça para baixo. Ficou escuro em um instante.
"O que está acontecendo?!"
Os dois homens malignos ficaram chocados ao ver que Nathan havia desaparecido de suas garras. Quando o viram novamente, ele estava em sua forma de lobo. Uma besta escura e massiva, tão grande quanto as árvores.
"O quê? Como isso é possível?!" Demeatris não podia acreditar.
Mas mesmo em sua descrença, ele viu o enorme lobo esmagar a forma de lobo de Scorpio com um único passo. Quando o lobo levantou a pata, Scorpio havia se tornado um com a terra, esmagado no solo.
Demeatris não caiu sem lutar. Mas não havia luta contra essa versão de Nathan. Ele era invencível.
Logo, Demeatris estava preso ao chão, e enquanto encarava a morte, ele percebeu algo.
"Alorea..."
Alorea olhou de volta. Era sua loba combinada com a de Nathan. Tal coisa nunca havia acontecido antes na história dos lobisomens, mas aconteceu ali e naquele momento. Dois companheiros combinados para se tornarem um só.
Mesmo assim, o corpo físico de Alorea permaneceu no chão, esperando pelas mãos lentas da morte.
Enquanto Nathan terminava a vida de Demeatris, Alorea suspirou de alívio. E o dia voltou ao normal. Mas agora, era a vez de Alorea morrer.
Enquanto seus olhos se fechavam lentamente, ela viu Nathan abrir a porta e correr em sua direção.
Ele a segurou nos braços, gritando.
"Você não pode morrer! Você me pertence, vadia!! Eu decido quando você morre!!!"
Esses foram seus momentos finais, e essas foram suas últimas palavras para ela. Essas palavras, ditas por ele, despedaçaram seu coração uma última vez. Ele ainda não nutria amor por ela, apenas a mesma velha obsessão.
Então ela decidiu, se o destino entrelaçasse seus caminhos em outra vida, ela não o perdoaria. Não em nenhuma das vidas que viriam.



















































