Cinco anos atrás

Alorea sentiu uma onda tremenda de vida colidir contra seu espírito. Sua alma parecia se desprender, arrancada do grotesco aperto da morte. Um conforto suave irradiava sob sua pele, acariciando sua carne e ancorando seu corpo. Ela estava à deriva, mas agora a gravidade havia retornado!

Seus olhos se abriram lentamente. A luz do sol os atacou brutalmente, forçando-os a se fecharem novamente.

"Você pode fechar a janela, por favor?" Ela reclamou para a figura familiar que vislumbrou durante o breve momento em que seus olhos estavam abertos.

"Claro, querida. Mas você realmente deveria sair da cama, sabe." A voz da figura era suave, tranquila e reconfortante. "Hoje é um grande dia, Alorea. Você não vai querer dormir e perder toda a diversão."

Como Alorea ansiava por essa voz. Ela ressoava em seu coração com profundo afeto, curando delicadamente as feridas profundas e selando os vazios abertos.

"Mãe?!" Ela percebeu de repente.

Levantando-se de um salto, ela examinou seus arredores. Ela estava em casa!

"Em casa?!"

Seus olhos se fecharam e se abriram novamente, mas a cena permaneceu inalterada - em casa! Não havia sinal de Nathan. Nem de Demeatris. Nem de Scorpio. Nem das damas vermelhas. Apenas em casa.

"Está tudo bem, querida?" A voz suave perguntou mais uma vez. Alorea girou o olhar para encontrar o rosto mais compassivo que conhecia - o de sua mãe.

"Mãe?!" Seus olhos se encheram de lágrimas e seu coração disparou. Tudo o que ela precisava era de um abraço, e ela recebeu um profundo e reconfortante.

"Calma, querida. Estou aqui para você." Sua mãe a consolou com um abraço caloroso, apesar de não ter ideia do estado emocional de Alorea. Ela sempre esteve lá para ela, em todas as situações, em todos os momentos de tristeza.

Enquanto permaneciam entrelaçadas naquele abraço prolongado, Alorea percebeu que essa era a peça que faltava em sua vida. Apesar de todo o tempo que passou com Nathan, todos os anos de sofrimento, era o afeto de sua mãe que ela precisava para acender uma chama contra a escuridão em seu coração.

"Isso é um sonho?" Ela finalmente conseguiu perguntar após um longo período de soluços.

Sua mãe se afastou ligeiramente, com uma expressão de surpresa e suspeita no rosto. Provavelmente pensou que isso era algum tipo de brincadeira de sua filha.

Mas ao notar a expressão séria e cansada no rosto de Alorea, ela suspirou, segurou-a pelos ombros e olhou profundamente nos olhos da filha.

"Um sonho? Não, minha querida. Isso é realidade. Somos nós."

"Eu não sou casada? E o Nathan?"

"Quem é Nathan?" A voz perplexa perguntou, mas não recebeu resposta.

"Bem, sobre seu casamento, querida. Quem sabe? Você pode conhecer seu futuro marido hoje."

"Hoje?"

"Sim, você esqueceu? O 'grande banquete' do seu pai, como ele chama. E claro, querida, é seu aniversário!"

Grande banquete? Alorea lembrou quase instantaneamente. Seu pai costumava falar sobre isso. Ele organizaria um banquete extravagante, o mais grandioso em um século, para celebrar o vigésimo aniversário de sua coroação. Ele prometeu que todos os alfas e todos os reis estariam presentes.

Esse dia também coincidia com o vigésimo aniversário de Alorea. Ela se lembrava de tudo isso, mas também se lembrava que o banquete já havia acontecido cinco anos atrás.

"Príncipes de todos os lugares estão vindo. Do clã Stoneheart, Pearl-edge, até da família Chimera. Todos estarão presentes. Foi exatamente assim para mim, vinte e cinco anos atrás. Seu pai viajou daqui até o reino dos meus pais, e no momento em que pus os olhos nele, soube que ele era o escolhido. Você vai experimentar o mesmo esta noite quando encontrar sua alma gêmea. Veja, minha linda menina, não se preocupe. As chances do seu noivado são tão certas quanto..."

"Quanto a presença do sol," Alorea completou a frase de sua mãe, divertida.

"O quê? Como você sabe?" Sua mãe parecia confusa. "Não me lembro de ter dito isso antes."

Mas Alorea se lembrava. Ela se lembrava de cada evento que havia acontecido antes, e de tudo que aconteceria depois. Porque ela já havia vivido esse dia antes, ela já havia vivido essa vida antes.

Ela se lembrava de como sua mãe a havia acordado da cama cinco anos atrás para prepará-la para esse banquete depois que as criadas falharam em acordá-la. Ela se lembrava de como sua mãe havia prometido que ela encontraria seu par naquela noite, apenas para tudo desmoronar em caos.

Ela conheceu muitos príncipes, mas nenhum deles capturou seu coração. Nem por um momento. Cada um tinha seus defeitos, cada um pior que o anterior.

Todos esses eventos haviam ocorrido no passado, mas agora eram o presente. Parecia certo que Alorea havia viajado no tempo!

"Qual é a data de hoje?" Ela murmurou, deixando sua mãe ainda mais confusa com suas perguntas.

"É seu aniversário..."

"Sim, mas que ano, mãe??"

Sua mãe hesitou. Ela teria respondido à pergunta de Alorea, mas uma voz do lado de fora interrompeu.

"Vossa Alteza!" A voz soava agitada. Era Declan, o irmão da rainha e tio de Alorea. Alorea ficou especialmente chocada ao vê-lo, vivo e bem. No futuro, Declan estava morto. Ele foi executado um ano após o casamento de Alorea com Nathan por cometer traição, assassinando o pai de Alorea, o rei. Ele foi morto por Allister, o irmão de Alorea que assumiu o trono após a morte do pai.

Alorea não teria sabido de nada disso, mas os guardas da prisão contaram essas histórias para provocá-la. Eles a informaram de todos os eventos horríveis que haviam acontecido com sua família.

"O rei deseja vê-la urgentemente, Marianne. Ele tem procurado por você em todos os lugares!"

A voz de Declan tremia, claramente indicando que algo estava errado.

"Eu me pergunto qual é o problema." Marianne se levantou do lado da filha, pronta para seguir seu irmão. "Esteja pronta em alguns minutos, Alorea. Vou mandar os melhores costureiros para prepará-la."

Alorea observou enquanto sua mãe deixava seu quarto.

Foi da mesma forma que Declan veio chamar sua mãe, cinco anos atrás. Tudo parecia estar se repetindo.

Ela sabia exatamente por que o rei havia convocado Marianne; ela se lembrava.

Havia um problema com os Gigantes, um pequeno reino de grandes e ferozes lobisomens. Era de lá que sua mãe vinha, e o rei a havia convocado para informá-la da morte de seu pai. O pai de Marianne havia sido assassinado por seu irmão, que então usurpou o trono. O traidor posteriormente iniciaria uma guerra com o reino de Alorea. A guerra duraria dois anos, após os quais Nathan ajudaria seu reino a derrotar os Gigantes, salvando-os da aniquilação certa.

Tudo estava se desenrolando exatamente como em sua vida passada.

"Como???" Ela não conseguia acreditar.

Alorea se moveu em direção à janela, e lá estava, o reino de seu nascimento, um lugar que ela pensou que nunca veria novamente até seu último suspiro, espalhado diante dela como um oceano sem fim.

Tudo estava como costumava ser. Seu corpo estava como costumava ser, antes de se tornar um trapo nas mãos de Nathan.

"Isso é incrível!" Ela disse para si mesma. "Isso é uma coisa boa! Eu sei tudo o que vai acontecer nos próximos cinco anos!! Eu posso remodelar meu próprio futuro!!!"

Ninguém mais poderia possuir o conhecimento que ela agora detinha. Ela sabia as intenções de todos, os desejos de cada pessoa. Ela podia discernir claramente amigo de inimigo com base em suas ações futuras.

"Você gosta deste vestido?" A costureira perguntou, enquanto Alorea experimentava um novo vestido em frente ao espelho reluzente. Era o décimo vestido que ela experimentava.

"Sim, Lisa. Este vai servir." Ela olhou para seu reflexo, uma beleza estava diante dela. Uma beleza que havia sido perdida no futuro, a criatura gentil que ela costumava ser. Agora, ela era aquela criatura novamente, linda e graciosa, mas não mais gentil. Desta vez, ela estava pronta para encontrá-lo e fazê-lo pagar por tudo o que ele havia feito a ela!

"Nathan Hale do clã Sombra Crescente, desta vez eu é que vou dar as ordens. Eu prometo."

Totalmente adornada e brilhante, a Princesa Alorea saiu de seu quarto, uma visão deslumbrante.

Enquanto isso, isolado em seu quarto escuro, banqueteando-se com uma menina de sete anos, seu sangue fresco manchando os cantos de seus lábios sombrios, estava o rei dos vampiros. Cinco anos mais jovem, poderia-se dizer, mas ele parecia exatamente o mesmo.

Uma porta se abriu, e uma figura encapuzada entrou, assumindo uma pose feminina.

"O que você diz, exaltado?"

Ela caiu de joelhos, com o rosto voltado para o chão enquanto Demeatris se levantava de sua refeição.

"Eu tive um sonho! Acredito que seja uma profecia, uma terrível."

Seus olhos estavam vermelhos como sangue. Suas presas se projetavam ao lado de seu queixo. Sua alma irradiava raiva e medo.

"Me mataram," ele resmungou. "Ambos, um homem e uma mulher. Lobisomens!! Ele, o maior alfa, e ela, sua rainha."

Ele rosnou alto, e toda a parede de escuridão tremeu.

"O que devo fazer, grande?"

Demeatris virou a cabeça, apenas seus olhos vermelhos eram visíveis. Todo o resto estava envolto em escuridão.

"Encontre-os. Acabe com eles!!!!!"

Capítulo Anterior
Próximo Capítulo