O menino que trouxe nostalgia

O baile estava a todo vapor. Luzes pendiam alto acima das cabeças dos nobres presentes, o castelo inteiro em chamas com cores vibrantes. Se havia uma coisa em que o reino dos Lobos da Noite se destacava, eram ocasiões grandiosas como essa.

O rei, pai de Alorea, estava sentado no assento mais alto no final do grande salão, no centro de tudo. Ao seu lado estava sua esposa, Marianne, com uma expressão de raiva e perturbação.

Seu semblante sombrio não conseguiu abafar o espírito do baile, enquanto príncipes e princesas, reis e rainhas, dançavam com abandono, celebrando o dia.

De repente, as grandes portas se abriram, interrompendo todos os movimentos e paralisando cada balanço. Todos os olhos se voltaram, cativados pela visão diante deles.

"Lá está a princesa! A bela Alorea dos Lobos da Noite, o coração pulsante do nosso mundo!!!"

A multidão ofegou e aplaudiu, comemorando com alegria enquanto Alorea caminhava graciosamente em meio a eles. A cada passo que dava, a multidão se abria, ansiosa para agradá-la.

Alorea sentiu sua pele arrepiar, arrepios se espalhando por todo o corpo. Ela havia esquecido há muito tempo essa sensação. A sensação de ser uma princesa querida, amada e adorada por todos, o centro de profunda admiração. Ela não se lembrava de como aceitar isso, como reagir a isso.

Costumava ser um símbolo de quem ela era, uma parte sagrada dela que havia sido profanada por Nathan.

"Aquele maldito monstro!" O pensamento dele encheu seu coração de tristeza. Ela costumava ser a mulher mais importante que conhecia, a única pessoa por quem todos estavam felizes em morrer, contanto que ela reconhecesse sua lealdade.

Só para falar com ela, os homens faziam fila por horas, esperando por uma palavra dela. Sua voz sozinha era suficiente para encantar seus corações. No entanto, Nathan a reduziu a uma escrava, fazendo-a servir sua cama por três anos.

"Por favor, princesa, dance comigo. Seria a maior honra."

Um jovem em um belo terno preto, semelhante aos usados por humanos mortais, estava diante dela. Sua cabeça estava inclinada em respeito, suas mãos estendidas, esperando por seu toque, e um sorriso adornava seu rosto.

"Meu nome é..."

"Arthur da Tribo da Lua Escurecida."

Arthur parecia chocado. "Como você sabe meu nome, sua graça?"

Ela se lembrava dele.

Esta é a primeira pessoa que me pediu para dançar na minha vida passada, e aqui está ele, fazendo isso novamente.

Alorea sabia como isso terminaria. Arthur acabaria se esforçando até o limite da morte por ela.

Como ela se lembrava, a dança deles foi suave e a multidão maravilhou-se com a química deles. Mas Arthur não era um príncipe, ele era apenas um beta aleatório que por acaso estava no baile. Ele não tinha verdadeiro status entre sua matilha.

Alorea o rejeitou depois, dizendo-lhe para pelo menos se tornar um alfa antes de esperar ter uma chance com ela. Alguns meses após o baile, ela ouviu sobre sua morte. Ele foi executado pelo alfa da Lua Escurecida, um rei lobisomem temível e terrível, por tentar cometer traição.

"Sua graça??" A voz de Arthur a trouxe de volta ao presente. Aqui estava ele diante dela, vivo novamente. Ela tinha que mantê-lo assim.

"Não importa." Alorea respondeu. "Não posso dançar com você, senhor. Não sou fã de dançar."

"Oh, sua graça. Isso não é o que ouvi sobre você. Ouvi dizer que você é uma grande dançarina..."

"Seja o que for que você ouviu sobre mim, tudo isso é passado agora." Ela interrompeu seu discurso, não dando espaço para ele convencê-la. "Agora, se me der licença, Príncipe Arthur da Lua Escurecida."

Enquanto Alorea deixava o homem atônito para trás, ela podia ver a expressão de dor se espalhar pelo rosto dele. Mas isso era para o bem dele; ela não queria levá-lo à morte pela segunda vez.

"Foi minha culpa você ter morrido, não posso deixar você morrer de novo."

Alorea intencionalmente se referiu a ele como príncipe para que ele não pensasse que ela o rejeitou por causa de seu status inferior. Ela tinha que fazê-lo pensar que ela havia assumido que ele era um príncipe, e ainda assim o rejeitou.

"Dessa forma, ele não fará nada louco no futuro."

Alorea rememorou seu passado enquanto deixava Arthur para trás. As memórias desse baile voltaram de forma padronizada enquanto ela olhava ao redor, muitos outros homens com quem dançou naquela noite na vida passada. Mas nenhum deles conseguiu tê-la para si; ela deu uma resposta amarga a cada um deles.

"Me pergunto quem mais tem um futuro ruim pela frente por minha causa."

Não havia como Arthur ser o único. Seu coração doeu com o pensamento.

Talvez essa fosse a razão pela qual ela recebeu uma segunda chance. Para que pudesse corrigir seus erros do passado, para que pudesse mudar seu futuro, assim como o futuro desses homens.

Assim, ela decidiu não dançar com nenhum deles e apenas se sentar ao lado de sua mãe. Dessa forma, todos estariam a salvo das tristes realidades que aguardavam seus destinos.

Enquanto ela se afastava lentamente, outro homem entrou em seu caminho. Seus cabelos cacheados caíam atrás do rosto, ele era um homem de estatura alta. Seus músculos se destacavam, desesperadamente espreitando de sua cobertura de mangas longas composta por várias roupas, uma empilhada sobre a outra.

Ele tinha um sorriso fixo enquanto olhava para Alorea.

"As pessoas falaram muito sobre sua beleza. Não é nada como eu imaginei, você é mais do que dizem."

Uma lâmina fria parecia deslizar entre as paredes do coração de Alorea. Sua cabeça zumbia alto, audível apenas para ela.

"Eu sou da matilha do Sol Nascente." O homem continuou. "Meu pai é o grande rei Teófilo, o único alfa. Eles me chamam de Escorpião, o príncipe mais bonito de todas as terras."

Bem diante de Alorea estava o homem que a torturou por três anos. O homem que traiu seu próprio alfa e conspirou com um vampiro, ajudando o rei licantropo a capturá-la e levando à sua morte.

Como ela poderia esquecê-lo? Escorpião era o filho do alfa atual e ele era o príncipe que representava o Sol Nascente. Nas memórias passadas de Alorea, ele foi o único que conseguiu fazê-la sorrir no baile. Mas agora, a mera visão dele não trazia nada além de dor para ela, e ela não estava pronta para lhe dar atenção.

"Eu sei quem você é. E não estou empolgada."

Ela tentou sair de sua presença, mas o príncipe surpreso se colocou diante dela novamente, bloqueando seu caminho.

Ele era tão arrogante quanto sempre. Ninguém mais ousaria fazer isso com Alorea, exceto o arrogante príncipe do Sol Nascente.

"Você é tão difícil quanto dizem. Eu gosto disso," ele murmurou, obviamente confiante demais em si mesmo.

"O que você quer de mim?"

"O que todo príncipe quer. Uma dança com sua graça."

"Não, obrigada. Vou recusar."

Alorea o deixou paralisado de espanto, incrédulo com sua rejeição, e fez seu caminho até o quarto trono mais alto. O terceiro trono era para seu irmão Allister, o príncipe herdeiro.

Sentada em seu trono adornado com rubis, Alorea não conseguia parar de pensar em Escorpião. Pensamentos vis preenchiam sua cabeça, e ela não conseguia impedi-los de vir.

"Aquele bastardo. Eu deveria encontrar uma maneira de matá-lo agora antes que ele machuque Nathan no futuro..."

"O quê??!!" Ela se interrompeu, chocada com sua própria fala. Ela ainda se importava com Nathan.

"De jeito nenhum!"

Ela não tinha nada a ver com ele, ele era tão mal quanto Escorpião. Desta vez, ela tinha que garantir que seus caminhos nunca se cruzassem e que ele nunca tivesse sua mão em casamento.

"Não importa o que aconteça, ele é um inimigo e apenas um inimigo. Não meu companheiro, não meu marido."

Uma sombra silenciosamente se aproximou de Alorea. Ela olhou para a figura de seu trono.

"Você é a bela princesa," uma voz masculina fraca e jovem disse quase imediatamente quando ela pousou os olhos nele.

Ele era um rapaz vestido de forma diferente, cerca de dezoito anos, provavelmente um dos servos ou um membro muito baixo de uma das matilhas convidadas. Ele não parecia familiar, de jeito nenhum.

"E quem poderia ser você?" Ela respondeu relutantemente, sem vontade de engajar em conversa.

"Ninguém me chama pelo meu nome. Não há sentido em eu te dizer."

"Então não há necessidade de eu falar com você, sem nome." Alorea retrucou, surpresa com sua confiança incomum. Nem mesmo os grandes príncipes falariam assim com ela.

"Eu tenho uma carta para você." Ele a ignorou, calmo e despretensioso, estendendo-se para lhe entregar um rolo de papel cuidadosamente embrulhado.

"Leia você mesma," ele acrescentou enquanto Alorea recebia a carta. Então ele se afastou lentamente, sem olhar para trás nem por um momento.

Esse garoto parecia estranho. E a maneira como ele falava lembrava Alorea de alguém, um rosto que ela não conseguia identificar no momento. Ele lhe dava uma sensação de nostalgia, uma muito profunda. Muito profunda.

"Poderia ele ser....? Não... Não há como."

O baile estava a todo vapor. Luzes pendiam alto acima das cabeças dos nobres presentes, o castelo inteiro em chamas com cores vibrantes. Se havia uma coisa em que o reino dos Lobos da Noite se destacava, eram ocasiões grandiosas como essa.

O rei, pai de Alorea, estava sentado no assento mais alto no final do grande salão, no centro de tudo. Ao seu lado estava sua esposa, Marianne, com uma expressão de raiva e perturbação.

Seu semblante sombrio não conseguiu abafar o espírito do baile, enquanto príncipes e princesas, reis e rainhas, dançavam com abandono.

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