Ockrapticuiz, o estranho
O jovem que carregava a carta saiu do grande salão e entrou na fria noite. Do lado de fora, três homens o aguardavam.
"Você entregou a carta para ela?" um deles perguntou.
Antes que ele pudesse responder, outro homem interveio, "Não venha com desculpas se souber o que é bom para você."
"Eu entreguei a carta para ela," ele respondeu, mantendo sua posição, sem ousar se aproximar do trio imponente.
"É melhor que tenha mesmo." Dois dos homens riram enquanto o terceiro, evidentemente o líder, olhava desconfiado para o jovem mensageiro.
"As instruções foram claras," ele silenciou as risadas, capturando a atenção deles imediatamente. "Eu disse para você entregar pessoalmente para Alorea e garantir que ela recebesse." Sua voz enviava calafrios no ar noturno, seu hálito tão frio quanto suas palavras.
"Sim, Príncipe Scorpio. Fiz exatamente isso," o servo respondeu, visivelmente angustiado e lutando para acompanhar o interrogatório.
Scorpio sorriu, aproximando-se e colocando um braço no ombro do jovem. "Você fez bem, Nathan. Será recompensado."
Nathan encolheu os ombros, desconfortável com o toque de Scorpio. Nem Scorpio nem seus dois detestáveis irmãos demonstravam qualquer semblante de amizade para com os outros. Eles não eram do tipo que recompensava a lealdade, independentemente do serviço prestado.
Nathan sentia os motivos ocultos de Scorpio, uma sensação amplificada pelo peso do grande braço de Scorpio.
"O que você acha da princesa?" Scorpio puxou Nathan para mais perto, sua enorme sombra pairando sobre a estrutura menor de Nathan.
"Acho que ela é bonita," ele conseguiu responder, incerto do que mais dizer.
"É só isso?"
"Ela tem uma voz agradável, e fala com gentileza..."
Suas palavras foram interrompidas pela risada de Scorpio. Scorpio sorriu amplamente, como se tivesse acabado de alcançar uma grande vitória.
"Ela fala com gentileza?? Isso é o que qualquer um diria sobre uma princesa. Mas essa não é Alorea. Ela está longe de ser gentil."
Sem aviso, suas garras letais se estenderam no ombro de Nathan, arrancando um grito de dor. Scorpio aplicou mais pressão, seus olhos brilhando em amarelo.
"Alorea nunca notaria um servo como você tão prontamente. E mesmo que notasse, tenho certeza de que não seria gentil. Você mentiu para mim!"
"Não, eu não menti..." Nathan gemeu de dor, mas as garras afiadas de Scorpio apenas se aprofundaram mais em sua carne.
Mais e mais fundo elas foram, forçando Nathan a cair de joelhos.
"Por favor... Pare..."
Mas Scorpio estava surdo aos seus apelos.
"Quando eu te dou uma ordem, seu fraco, você a segue imediatamente, seu camponês! Desafiar-me significa que está pronto para se juntar ao seu pai, onde quer que ele esteja!!"
Ele se deleitava com essa crueldade. Seus dois irmãos observavam o sofrimento de Nathan com risadas silenciosas, claramente derivando satisfação da cena.
As risadas deles ficaram mais altas e mais altas, ecoando na distância, noite adentro.
De longe, Alorea observava enquanto os três homens atacavam o homem frágil, chutando-o implacavelmente enquanto ele estava no chão.
"Princesa, você não deveria estar aqui," Zoe, a criada de Alorea, advertiu por trás dela. "Você pode pegar um resfriado. Deixe-me levá-la para dentro."
Alorea estava indiferente ao frio, permanecendo imóvel, com os braços cruzados sobre o peito. A cena tinha algum significado inexplicável para ela. Ela não tinha certeza se isso havia acontecido em sua vida passada, pois suas memórias eram nebulosas.
Quem era esse jovem fraco? Por que ela não se lembrava de ter falado com ele? Por que não se lembrava de ter recebido uma carta dele? Ele existia em sua vida passada? E por que ele a lembrava de Nathan? Ela não tinha respostas.
"Quem é aquele homem?" Alorea perguntou, ansiosa para saber a identidade do homem atualmente sob ataque.
"Ninguém o conhece. Ele veio com os príncipes do Sol Nascente."
Alorea examinou a cena à sua frente. Esse homem parecia estranhamente familiar. Ele a lembrava de Nathan, mas era muito fraco e jovem para ser ele. Isso seria muito estranho.
"Deixe-me te perguntar uma coisa, Zoe. Você conhece um príncipe chamado Nathan?"
"Nathan?" Zoe repetiu, "Ele não tem sobrenome?"
"Ninguém sabe o sobrenome dele," suspirou Alorea.
"Bem, de onde vem esse Nathan?"
"Do Sol Nascente," Alorea respondeu, ciente de como isso soaria peculiar naquele momento, mas era a única verdade que ela conhecia.
"Existem apenas três príncipes do Sol Nascente. Você pode ver os três ali."
Os três príncipes ainda estavam envolvidos em seu ataque, agredindo implacavelmente o homem no chão.
"E se houver um quarto?" Alorea murmurou. O ar frio roçou sua pele mais uma vez, picando seus ombros nus com seu toque gelado. Talvez estivesse realmente frio demais para ela.
"Você sabe melhor, princesa. Afinal, eu sou apenas uma criada, e você é a Princesa Alorea."
Alorea deu uma última olhada, depois balançou a cabeça.
"Certo. Eu deveria saber melhor." Ela se virou para sair, o frio se tornando insuportável. Era um milagre como os três homens podiam gastar tanta energia em condições tão frias, ou como o quarto homem podia suportar o ataque deles sem congelar até a morte.
Ele não podia ser Nathan. Nathan era forte demais para ser intimidado dessa maneira, muito nobre para ser um servo. Ele era um príncipe, mesmo que seu nome parecesse inexistente no momento. Na pior das hipóteses, ele poderia ser um bastardo, mas nunca um servo.
Sua pele arrepiou enquanto ela voltava para o salão de baile, apagando o incidente de sua memória.
Quando Alorea reentrou na animada celebração, notou que a dança havia terminado e os convidados estavam apresentando seus presentes ao rei e à rainha.
"Meu nome é Ockrapticuiz, o terceiro. Eu não sou um lobo," um homem declarou, curvando-se diante do rei e da rainha, uma velha caixa de madeira em suas mãos.
Sussurros se espalharam entre a multidão.
"Um mortal?"
"Ninguém convidou um humano..."
"Como ele entrou aqui?"
Ignorando os murmúrios, Ockrapticuiz continuou, "Minha família tem uma longa história com os lobisomens. Uma história que terminou quando meu bisavô, Thorapticuiz, o último, se distanciou do mundo sobrenatural."
Outra onda de sussurros varreu a multidão. Todos sabiam que Thorapticuiz era um aliado leal dos lobisomens em sua longa disputa com os vampiros.
"Ele é da grande linhagem?"
"É impossível! Thorapticuiz, o último, jurou nunca mais voltar."
"Mas ele não é Thorapticuiz, o último, é? Ele disse que é seu bisneto. Não podemos culpá-lo pela decisão de seu antecessor."
O último Thorapticuiz foi visto há mais de cinquenta anos, quando renunciou ao seu dever para com os lobisomens e optou por uma vida normal entre os mortais.
"E por que você veio até nós? Seu bisavô deixou suas intenções claras," perguntou o pai de Alorea, tão surpreso quanto os outros reis e rainhas no grande salão.
"Eu não sou meu pai, nem meu avô, e certamente não sou meu bisavô. No entanto, gostaria de pedir desculpas por suas ações," continuou Ockrapticuiz. "Em troca do seu perdão, ofereço um presente ao rei dos Lobos da Noite."
A caixa de madeira nas mãos de Ockrapticuiz parecia brilhar enquanto ele falava, e todos os lobos de repente ficaram alertas.
"O que tem aí dentro?!" O rei estava tão surpreso quanto todos os outros.
"Um presente antigo para sua majestade," disse Ockrapticuiz.
"O que exatamente é?"
"Garras," ele respondeu. "Dez garras poderosas dos maiores lobisomens que já caminharam pela Terra."
"Por que você tem essas garras em sua posse?"
"Quem eram esses grandes lobisomens? Você pode nomeá-los?"
"Por que você daria isso aos Lobos da Noite se as garras pertencem a lobisomens diferentes de reinos diferentes?"
Ockrapticuiz foi bombardeado com perguntas dos reis e rainhas, mas ele apenas sorriu através de sua espessa barba, como se isso fosse exatamente o que ele queria.
Então ele virou a cabeça, e seus olhos encontraram os de Alorea, enviando um choque de surpresa através dela.
"O que está acontecendo?"
Ela se perguntou enquanto o homem estranho sorria para ela. Uma sensação estranha tomou conta dela. Ela não se lembrava de ter visto esse homem em sua vida passada também.
"Ele não deveria estar aqui..."
Por que ele estava aqui? O que ele queria dela?



















































