O estranho presente

"Sr. Ockrapticuiz Terceiro, estou contente que tenha tido a coragem de comparecer à minha reunião. De verdade, estou. No entanto, não posso aceitar seu presente. Sou apenas um dos muitos reis lobisomens; todos nós temos direito ao que você possui. Acredito que seria melhor você mantê-lo, assim como seu pai fez, e o pai dele também," declarou o Rei Michael, pai de Alorea.

Ockrapticuiz fez uma reverência, um largo sorriso se espalhando pelo seu rosto enrugado. "Como desejar, Vossa Majestade."

"No entanto, faz muito tempo desde a última vez que vimos alguém do seu tipo entre nós." O rei continuou, aliviado que o convidado não insistiu em oferecer o presente peculiar. "Agradeceria se ficasse conosco por mais alguns dias."

"Seu desejo é uma ordem, Vossa Majestade." Ockrapticuiz fez outra reverência, depois se afastou dos reis e rainhas. Outros convidados aguardavam na fila para apresentar seus presentes.

Enquanto Ockrapticuiz saía do palco, lançou outro olhar para Alorea.

"Por que ele está me olhando assim?" A princesa refletiu em voz alta, sem perceber que tinha falado seus pensamentos.

Zoe ouviu e olhou surpresa. "Quem? Aquele mortal estranho?"

"Não me lembro dele ter visitado aqui antes..."

"Ninguém se lembra da visita anterior dele. A última vez que alguém o viu foi quando seu bisavô partiu..."

Alorea ouviu enquanto Zoe repetia a mesma história. Não fazia diferença para ela. Porque mesmo em sua vida passada, ela não se lembrava de nenhuma pessoa peculiar apresentando um presente estranho ao rei. Esse homem definitivamente não tinha aparecido neste dia. Como poderia esperar que Zoe entendesse, ou qualquer outra pessoa? Alorea era a única que conhecia o futuro, a única que sabia que esse evento não tinha ocorrido.

Primeiro, foi o garoto com a carta, agora era Ockrapticuiz com seu presente incomum.

"Preciso de um pouco de privacidade..." Ela se afastou de todos, incluindo Zoe, buscando solidão.

Sozinha dentro das finas paredes da passagem real, tentou desesperadamente lembrar de algo que pudesse ter esquecido. Mas nada veio à mente.

"Não pode ser! Eu não posso estar enganada, posso?"

Ela enfiou a mão no bolso do seu vestido glamoroso e puxou a carta do servo peculiar.

Enquanto lia, percebeu que era uma declaração de amor. Ou algo do tipo. Não passava de algumas palavras arrogantes juntas na esperança de impressioná-la.

"Parece algo que o Príncipe Escorpião escreveria." Ela rasgou o papel, irritada por ter se dado ao trabalho de lê-lo.

"Ele é apenas um servo." Suspirou, tranquilizando-se de que não tinha nada com que se preocupar. Ele era apenas um servo do Sol Nascente que veio entregar a mensagem do Príncipe Escorpião. Talvez ela não o tenha encontrado em sua vida passada porque deu tanta atenção a Escorpião que ele não sentiu necessidade de escrever uma carta.

"Controle-se, Alorea. É hora de voltar à festa."

Ela se recompôs e estava prestes a voltar quando foi surpreendida por uma presença inesperada.

Bloqueando seu caminho estava Ockrapticuiz, alto e sombrio, seu longo cabelo grisalho caindo ao lado do rosto, sorrindo.

"O que é isso?" Alorea ficou surpresa com sua aparição repentina. Só Deus sabia há quanto tempo ele estava ali, observando-a.

"Perdoe-me, princesa," o homem começou com sua voz profunda e rouca. "Não quis assustá-la. Só queria muito encontrá-la pessoalmente."

"E por que você gostaria de fazer isso?" Alorea manteve distância desse homem. Pelo que sabia, ele poderia ser um problema para ela.

"Porque ouvi muito sobre você. Sua elegância, sua beleza, nenhuma das histórias é falsa."

O que era isso agora? Ele também tinha viajado todo esse caminho para pedir sua mão? Uma dança? Um beijo? Casamento?

"Desculpe, mas você é muito velho..."

"Cuidado, princesa," o homem interrompeu. "A essa altura, você já deveria saber o quanto suas palavras podem moldar o futuro. Estou certo?"

Um nó de saliva fria desceu pela garganta de Alorea, enviando um arrepio pelo seu peito. Ela gaguejou, sem palavras.

"Não... o quê... Como você..."

"Você enganou a morte, princesa. Mas essa nova vida que você tem é pior do que a morte. Depois que morremos, descansamos. Mas você tem que recomeçar, e seu futuro desta vez pode ser ainda pior do que o último, muito pior do que Nathan."

Ela recuou instintivamente. Como ele sabia todas essas coisas? Que tipo de poder ele possuía?

Ockrapticuiz enfiou a mão no grande buraco sob o lado esquerdo de seu manto volumoso e puxou uma caixa de madeira. Era a mesma caixa que ele havia apresentado ao rei mais cedo.

"Eu trouxe este presente não para o rei, mas para você, aquela que enganou a morte. Espero que um dia você consiga enganar o ódio sombrio dentro de você, ou até mesmo o amor que um dia viveu em seu coração."

Ele colocou a caixa nas mãos dela e então se virou para sair.

"Espere! Eu tenho tantas perguntas. Você não vai respondê-las?"

"Quando chegar a hora em que você precisar de mim, você me verá novamente." E ele desapareceu no ar, tornando-se um com a poeira.

Alorea ficou sem nada, sem respostas para as milhares de perguntas que tinha. Apenas uma antiga caixa de madeira que seu pai havia rejeitado anteriormente. Uma caixa que ela não tinha intenção de aceitar em primeiro lugar, forçada a ela por um mero mortal com o poder de teletransporte.

Se alguém encontrasse essa caixa em sua posse, poderia desencadear uma guerra entre seu reino e os outros reis lobisomens.

Ela apertou o peito e murmurou, "O que devo fazer, White Flur? Guardar? Descartar?"

White Flur era o nome de sua loba, sua outra metade. Mas desde seu reavivamento, parecia que White Flur não havia retornado com ela. Agora, mais do que nunca, ela precisava de White Flur e não podia suportar sua ausência.

Se White Flur não havia retornado à vida com ela, então as garras nesta caixa eram inúteis para ela. Por que Ockrapticuiz as deu a ela?

Vozes ecoaram à distância, e Alorea rapidamente escondeu a caixa sob seu vestido.

"Princesa? Você está aqui?"

Era Zoe. Se Zoe encontrasse Alorea ali, ela descobriria a caixa. Ninguém conhecia Alorea melhor do que Zoe, um único olhar seria suficiente. Então, ela fez seu caminho silenciosamente até seu quarto, onde escondeu a caixa em um esconderijo secreto que ninguém tinha permissão para tocar.

Lá ela a deixou. Em vez de voltar ao banquete de seu pai, ela ficou na cama pelo resto da noite, aguardando ansiosamente o som das trombetas de guerra pela manhã.

Em sua vida passada, ela se lembrava de como seu pai passou a noite inteira persuadindo os outros reis a se juntarem a ele na guerra contra os usurpadores do bando dos Gigantes. Esta foi a mesma guerra que pavimentou o caminho para seu casamento com Nathan, e essa guerra estava prestes a começar novamente.

Quando os Gigantes se mostraram muito mais fortes do que o esperado, os outros bandos gradualmente se retiraram, deixando os Lobos da Noite sozinhos para enfrentar seu inimigo.

Quando tudo parecia perdido e os Gigantes estavam à beira da vitória, um novo alfa surgiu como o sol. Seu nome era Nathan, e em poucos meses, ele e suas damas vermelhas se tornaram as entidades mais temidas.

Ele se ofereceu para ajudar os Lobos da Noite, mas em troca, exigiu se casar com a princesa deles. Alorea não teve escolha. Para salvar seu reino, ela teve que se tornar sua rainha. Mas ela não sabia que se tornaria sua escrava.

"Isso não vai acontecer de novo!" Ela declarou para si mesma. "Eu tenho que parar essa guerra!"

Se ela parasse a guerra, então não teria que se casar com Nathan daqui a dois anos. Ela permaneceria a bela Alorea que sempre foi, e não seria escrava de nenhum homem.

Ela saiu da cama, pronta para se vestir.

"Zoe!"

Sua criada entrou quase instantaneamente, tendo esperado ansiosamente a noite toda para a princesa acordar, preocupada com sua saúde.

"Vista-me."

"Agora?"

"Faça isso. Preciso ver meu pai!"

O rei estava em sua câmara de conselho, sua rainha e o príncipe ao seu lado, deliberando sobre como atacar os Gigantes quando a porta se abriu abruptamente.

"Alorea?" Marianne exclamou surpresa.

"O que você está fazendo aqui?" Perguntou Allister, irmão de Alorea.

Ela olhou ao redor para os rostos de todos, incerta de como expressar suas intenções.

"O que você quer, criança? Estamos no meio de uma discussão aqui." O rei havia perdido a paciência.

"Eu quero ir até os Gigantes!"

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