Capítulo 5 - Primeiro beijo

Ryder estendeu a mão sobre a mesa e segurou a mão de Zoe. Tinham muito o que discutir, mas ele não sabia por onde começar. Tecnicamente, era o primeiro encontro dele com uma mulher, se é que se pode chamar de encontro. O que era o caso.

"Vi no seu cartão que você é a Chefe de Cirurgia Cardíaca. Sem ofensas, mas você não parece ter idade suficiente nem para ter saído da faculdade." Zoe sorriu amplamente para ele.

"Terminei o ensino médio aos quinze anos e fui direto para a faculdade, seguida pela faculdade de medicina. Me formei em Stanford aos vinte anos e fui oferecida um emprego em Los Angeles. Estou na chefia há seis meses." Ela riu quando ele a encarou de boca aberta. Zoe estava acostumada com essa expressão quando as pessoas a conheciam pela primeira vez.

"Uau. Tenho vinte e oito anos e me sinto extremamente inadequado comparado a você. Você cresceu por aqui?" Zoe inclinou a cabeça para o lado, como fazia quando estudava as pessoas. Ryder estava olhando para as mãos deles juntas, então ela apertou um pouco a mão dele. Ela queria olhar nos olhos dele; essa era a maneira mais fácil para ela ler as pessoas.

"Não. Cresci no Meio-Oeste até os quinze anos, depois me mudei para cá." Zoe parou de falar quando a garçonete se aproximou para anotar o pedido deles. A mulher era jovem e tentava flertar com Ryder, mas ele não tirava os olhos de Zoe. A forma como ele mantinha o foco nela a fazia sentir-se aquecida por dentro. A maioria dos homens com quem ela tinha estado ainda flertaria com outras mulheres ou as olharia enquanto passavam, mas não Ryder. Era como se estivessem em um mundo só deles.

"Seus pais moram aqui?" Ele perguntou, seus olhos encontrando os dela.

"Não, não os vejo desde que saí de Illinois. Meus pais não eram boas pessoas. Eram viciados em drogas, e a única vez que pensavam em mim era para me bater ou me dizer o quão inútil eu era. Meus professores na escola são a razão pela qual alcancei o que alcancei." Zoe olhou para baixo, e Ryder sentiu seu coração doer por ela. Ambos tinham pais horríveis.

"Sinto muito que você tenha passado por isso. Você é próxima de alguém aqui?" Ele perguntou. Ryder sabia que era egoísta, mas queria ela só para si.

"Sempre fui considerada uma aberração na escola porque era muito mais nova que todos os outros. Quando comecei a trabalhar no hospital, isso continuou. As pessoas me tratam como se eu tivesse recebido meus diplomas e não os tivesse conquistado. Piorou quando me tornei chefe. Tanto mulheres quanto homens no meu departamento não gostam de se reportar a mim. Acho mais fácil trabalhar constantemente e não tentar fazer amizade com ninguém. Saí em alguns encontros com homens que nem sabiam o que eu fazia, mas me recusei a deixá-los sequer me beijar. Estava esperando pelo homem certo aparecer." Zoe deu de ombros antes de olhar nos olhos calorosos dele. Por que ela sentia uma atração por ele tão intensa que queria pular em seu colo e pedir para ele levá-la embora?

"Você tem tanta luz dentro de você que não consigo acreditar que os outros não tenham se aproximado de você. Só te conheço há algumas horas, e nunca me senti tão bem como me sinto quando estou com você," Ryder falou suavemente. Suas bochechas ficaram levemente vermelhas quando percebeu que tinha falado em voz alta.

"As mulheres se sentem intimidadas por mim, e honestamente, a maioria das que trabalho são muito mais velhas que eu, então não temos nada em comum. Os homens só querem tentar me levar para a cama. Depois do que aconteceu na faculdade, não deixei ninguém se aproximar tanto novamente." Os olhos de Zoe se arregalaram quando percebeu que tinha dito mais do que pretendia. A única explicação era que Ryder a deixava confortável, o que ela não estava acostumada.

"O que você quer dizer? O que aconteceu na faculdade?" Pela expressão no rosto dela, ele sabia que não ia gostar da resposta. A garçonete trouxe a comida, mas nenhum dos dois se mexeu para dar uma mordida. Zoe olhou para ele, e ele viu lágrimas em seus olhos. Ela explicou rapidamente o que o cara na faculdade tinha feito antes da formatura. Ryder sentiu uma raiva como nunca antes percorrer seu corpo. Ele foi para o outro lado da cabine e deslizou para o assento ao lado de Zoe. Colocando os braços ao redor dela, a abraçou enquanto ela enxugava as lágrimas.

"Sinto muito por ter perguntado, mas estou feliz que você tenha me contado. Prometo que, enquanto você estiver na minha vida, ninguém nunca vai te machucar daquela forma novamente." Zoe recuou e olhou para cima, para o rosto dele. Ryder tinha tanta bondade nele que ela queria absorvê-la. Seria cedo demais querer estar na vida dele para sempre?

"Isso basicamente resume toda a minha vida, então me conte sobre você. Você é daqui da região?" Ambos começaram a comer, mas Ryder deixou um braço em volta dos ombros dela.

"Minha infância foi parecida com a forma como você descreveu a sua. Tive pais horríveis que me torturavam para ver até onde eu aguentaria antes de quebrar. Quando eu tinha seis anos, alguém descobriu o que eles estavam fazendo e me ajudou a escapar. Fui adotado por um casal de idosos que me criaram como filho deles. Mesmo que a maior parte da minha vida tenha sido com meus pais adotivos, lembro de tudo o que meus pais biológicos fizeram comigo. Não deixo ninguém ver o quanto isso ainda me afeta. O que eles fizeram é a principal razão pela qual me sinto desconfortável perto das pessoas. Os sentimentos de inutilidade ainda me assombram." Ryder olhou para Zoe. Seu coração se partiu ao ouvir como ele descreveu seus primeiros anos. Isso explicava por que ele era tão reservado e inseguro.

"Então ambos tivemos pais horríveis, não socializamos muito e ainda temos pesadelos do passado. Estou começando a pensar que há uma força maior do que nós que nos uniu. Não sei por que me sinto assim, mas parece que algo está me puxando fisicamente para você. Isso é estranho?" Zoe virou-se ligeiramente para ficar de frente para ele. Ela estendeu a mão e colocou-a em sua bochecha quente. Ryder se inclinou para o toque dela.

"Não, isso não é estranho. Eu também sinto. Você é a primeira pessoa para quem eu me abri além do Chase. Tenho muito mais para te contar, mas quero sair daqui primeiro. Você gostaria de caminhar na praia?" Ele perguntou, segurando a mão dela e levando-a aos lábios para beijar o dorso.

"Sim," Eles se levantaram e foram até o caixa. Ryder pagou a conta, e caminharam pela rua até uma passarela de madeira que levava à praia. Ainda era cedo, então não havia muitas pessoas por ali. Eles tiraram os sapatos e os colocaram entre duas grandes rochas antes de continuar até onde a água podia tocar seus pés.

"Antes de me contar o que mais você precisa dizer, você pode fazer algo por mim?" Zoe perguntou, um pouco apreensiva.

"Qualquer coisa," Ryder respondeu. Ela parou e virou-se para que ficassem frente a frente.

"Você vai me beijar?" Zoe perguntou suavemente. Ryder sentiu a boca ficar seca. Ele nunca tinha beijado ninguém; e se fizesse errado? E se ela se sentisse repelida?

"Ryder, olhe para mim." Quando seus olhos encontraram os dela, ela envolveu os braços em volta do pescoço dele e o puxou para baixo para que suas cabeças se tocassem.

"Entendo se for cedo demais, mas eu realmente quero te beijar." Zoe olhou nos olhos dele e viu o medo diminuir.

"Ok, mas eu nunca beijei ninguém." Ele respondeu nervosamente, o que o fez parecer ainda mais fofo.

"Está tudo bem; isso significa que posso ser a sua primeira." Ela queria dizer primeira e última, mas isso poderia ser muito presumido.

Ryder aproximou lentamente a boca da dela. As faíscas pareciam dominar seus corpos, acendendo uma chama que os conectava. Zoe moveu a boca contra a dele, e não demorou muito para que ele assumisse o controle. Quando ela abriu os lábios, ele hesitou, mas ela não. Ela deslizou a língua contra a dele, acariciando-o enquanto ele gemia em sua boca.

Eles se separaram quando precisaram de ar, mas mantiveram o contato um com o outro. Se Zoe decidisse rejeitá-lo depois que ele contasse o que era, isso o mataria. Tudo isso era novo para ele, mas ele sabia que já estava se apaixonando por ela.

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