Capítulo 4
POV da Samantha
6 anos depois
"Devon, lembra do que eu te disse sobre arrumar brigas," eu lembrei firmemente ao meu filho enquanto me ajoelhava na frente dele, porque eu sabia o quanto ele era encrenqueiro. Seus olhos escuros eram tão parecidos com os meus, mas tinham um brilho travesso enquanto ele mudava o peso de um pé para o outro. Ao lado dele estava sua irmã gêmea, Diana, tentando fechar as alças de sua pequena mochila com a língua para fora, concentrada. Ela olhou para mim, os olhos arregalados e cheios de uma inocente empolgação enquanto falava.
"Mamãe, nós vamos nos comportar!" Diana prometeu, seus cachinhos balançando enquanto ela assentia fervorosamente.
"Foi o que você disse da última vez," eu lembrei a eles, olhando especialmente para Devon. Ele tinha o hábito de proteger a irmã, mesmo quando ela não precisava, o que já tinha causado alguns incidentes no passado. "E nada de correr muito longe no parque. Fiquem perto e ouçam a Annie," eu disse.
Devon estufou o peito. "Eu vou proteger a Diana," ele declarou, e por um momento, eu não pude deixar de sorrir. Ele tinha apenas cinco anos, mas seus instintos eram fortes, fortes demais para sua idade. Era algo que eu tentava não pensar muito.
Suspirei, passando a mão pelo cabelo desarrumado de Devon. "Eu sei que você vai, mas ouça a Annie, tá bom?" Meu olhar suavizou enquanto me virava para a babá humana deles, Annie, que observava nossa interação com um sorriso paciente. Sua presença era útil para cuidar das crianças, mesmo que me deixasse nervosa por ela não ser uma lobisomem. Ela já havia provado ser confiável várias vezes, e os gêmeos a adoravam.
"Não se preocupe, Samantha," Annie disse, ajustando as alças da mochila de Diana. "Vamos nos divertir muito, não vamos?"
Diana bateu palmas, seu rosto iluminando-se. "Sim! Vamos ser anjinhos perfeitos!" Suas palavras fizeram Annie rir, e eu tentei aliviar a tensão que estava em meu peito. O entusiasmo de Diana tinha uma maneira de iluminar até mesmo os momentos mais preocupantes. Mas eu não conseguia afastar a sensação de inquietação no fundo do meu estômago. Eles ainda eram tão jovens, mas eu sabia muito bem que a idade nem sempre importava quando se tratava de conseguir seus próprios lobos e se transformar. Eu só podia esperar que quaisquer instintos que eles tivessem—qualquer potencial que ainda não tinham explorado—permanecessem dormentes, pelo menos por mais um tempo.
"Ok," eu exalei, mais para mim mesma do que para qualquer outra pessoa. "Annie tem meu número se houver algum problema. E vocês dois," eu acrescentei, minha voz firme mas amorosa para meus gêmeos, "comportem-se."
Com beijos finais pressionados em suas bochechas, eu me virei para sair. No momento em que pisei fora, o ar fresco do outono mordeu minha pele, fazendo-me puxar o casaco mais apertado ao redor de mim. As folhas estalavam sob meus pés enquanto eu descia os degraus da frente, e lá estava ele — Killian.
Killian estava encostado no SUV preto elegante, braços cruzados sobre o peito, exalando a confiança despreocupada de um verdadeiro Alfa. Seus olhos se iluminaram quando me viram, e seus lábios se curvaram em um sorriso provocador.
"Samantha," ele falou arrastado, "demorou bastante. Estava começando a pensar que você tinha mudado de ideia sobre passar o fim de semana comigo."
Revirei os olhos, mas não pude evitar o sorriso que puxava meus lábios. "Sonha, Killian," eu respondi, entrando no banco do passageiro enquanto ele segurava a porta aberta. Killian era difícil de ignorar—ele era um cara enorme, de ombros largos e alto, com uma presença que exigia atenção. Seu cabelo escuro estava sempre um pouco desarrumado, um contraste perfeito com sua mandíbula afiada e olhos verdes intensos. Seu braço esquerdo era coberto por uma tatuagem de manga, a tinta descendo pelo braço em um design intrincado—linhas pretas, padrões geométricos sombreados e símbolos que eu não conseguia entender completamente, mas pareciam contar uma história de força e lealdade. A tatuagem apenas acentuava o músculo em seu braço, fazendo-o parecer ainda mais intimidador.
Seu sorriso era convencido, mas de alguma forma me fazia sentir confortável, como se eu pudesse confiar nele para qualquer coisa. Mesmo que seus comentários flertantes sempre me deixassem alerta. Desde o dia em que fugi da Matilha Silver Crescent, ele sempre esteve ao meu lado, ajudando e me apoiando de todas as maneiras possíveis, até que me tornei sua braço direito em sua matilha—Moonstone. Em todos os anos que estivemos juntos, éramos inseparáveis no trabalho. Ele era um ótimo parceiro e Alfa.
Killian deu a volta no carro e deslizou para o banco do motorista, o veículo rugindo para a vida enquanto ele se afastava da minha casa. Dirigimos em um silêncio confortável por um tempo, a paisagem urbana dando lugar a campos ondulantes e florestas densas. Minha mente voltou aos gêmeos, uma pontada de preocupação me corroendo. Será que eles realmente ficariam bem sem mim? Não era apenas a preocupação típica de uma mãe; era algo mais profundo, algo instintivo.
Killian olhou para mim, seus olhos afiados captando minha expressão como se pudesse ler minha mente. "Eles ficarão bem," ele assegurou, seu tom surpreendentemente gentil. "Annie é boa no que faz."
Eu sabia que ele estava certo, mas isso não parava a preocupação que torcia meu estômago. "Eu sei," murmurei, pressionando as mãos juntas para parar de mexê-las. "É só que... eles são meu mundo, sabe?" Eu disse.
Seu olhar suavizou brevemente, e ele assentiu. "Sim, eu entendo. Mas você os criou bem, Samantha. Eles são mais fortes do que parecem."
O resto da viagem passou rapidamente, e logo chegamos ao local da reunião, uma grande propriedade escondida no fundo de um território neutro. Representantes de várias matilhas já haviam se reunido, e o ar já estava cheio de expectativa e o murmúrio baixo das conversas ao redor.
Killian liderou o caminho, sua mão repousando casualmente na base das minhas costas, um gesto que fez meu coração bater mais rápido. Não por atração, mas pela sensação de segurança que ele proporcionava. Era fácil esquecer meu passado quando ele estava perto, mas hoje, essa ilusão se desfez rapidamente.
Eu examinei a lista de matilhas presentes no convite, meus olhos passando pelos nomes até que um em particular fez meu coração parar: Matilha Silver Crescent. Minha visão ficou turva por um momento, e meu corpo ficou frio. Fazia seis anos desde que eu saíra, e eu tinha feito tudo o que podia para me distanciar daquela parte da minha vida. Mas agora, ali estava, me encarando.
"Samantha?" A voz de Killian me trouxe de volta ao presente, suas sobrancelhas franzidas de preocupação. "Você está bem? Parece que viu um fantasma."
Tentei engolir, mas minha garganta estava apertada. "Estou bem," menti, forçando um sorriso que parecia completamente errado. E antes que eu pudesse dizer qualquer outra coisa, a multidão se abriu, e lá estava ele, revelando o homem de quem eu havia fugido.
Alfa Dominic.
O tempo pareceu desacelerar quando nossos olhos se encontraram. Ele parecia quase o mesmo—imponente, com aquele mesmo maxilar afiado e olhos penetrantes. Mas havia algo diferente nele agora, algo mais duro, como se os anos tivessem esculpido pedaços dele.
Ele parou no meio do caminho quando me viu, e seu olhar passou de Killian ao meu lado, depois voltou para mim. Seu cenho se franziu ainda mais, e a tensão entre nós era quase sufocante. Apertei a carta de convite com mais força, amassando o papel no processo enquanto tentava me equilibrar e não me encolher sob seu olhar intenso.
Eu tinha corrido tanto. Eu tinha me escondido tão bem.
E ainda assim, enquanto os olhos de Dominic se fixavam nos meus, implacáveis e cheios de perguntas, a terrível percepção me atingiu como um raio: lugar nenhum jamais tinha sido longe o suficiente.
