Ela é uma bruxa

Blanca

Eu quase cheguei ao meu quarto.

Quando Nessa Winters sai das sombras perto da última curva que leva aos meus aposentos, eu dou um salto para trás, não de medo, mas de surpresa. Eu odeio quando ela faz isso. Recentemente, ela tem feito isso cada vez mais. Não sei por quê. Talvez o fato de que todos nós temos vinte e um anos agora e nossos lobos estão mais ativos tenha algo a ver com isso. Não sei, mas não gosto.

“Bem, bem, bem, se não é a vadia nojenta que se chama de princesa,” Nessa diz, se aproximando de mim. De outras sombras próximas, duas de suas amigas aparecem. Estou em desvantagem numérica. Isso não é incomum. Não que eu reaja de qualquer maneira. Se eu reagisse, seria pior para mim com meus pais.

O pai de Nessa é um embaixador de uma alcateia aliada. Eles estão no castelo há anos, negociando tratados ou algo assim. Não sei por que ela está aqui. Só sei que ela me odeia.

“Me deixe em paz, por favor,” eu digo. “Só estou tentando ir para o meu quarto.”

“Ah, é isso que você está fazendo?” Os olhos escuros de Nessa se arregalam, e ela balança a cabeça enquanto pressiona os lábios de forma zombeteira. Na sua melhor imitação da minha voz, ela diz, “Só tentando ir para o seu quarto?”

Dou mais um passo para trás e bato na parede. “Isso mesmo.” Vejo um dos gatos do castelo parado à distância, lambendo as patas debaixo de uma mesa, e desejo poder trocar de lugar com ela. Se eu fosse um gato, tudo o que teria que fazer seria ficar por aí e comer as sobras que os cozinheiros deixam cair ou talvez caçar ratos.

Eu não seria aquela que está constantemente sendo perseguida.

“Bem, receio que se você quiser chegar ao seu quarto, terá que passar por nós primeiro, sua vadia!” Nessa balança a mão em um punho semi-fechado de modo que suas unhas se conectam com minha bochecha.

Minha cabeça vira para o lado, e meus braços sobem instintivamente. Não posso machucá-la, mas realmente não quero ser atingida mais. “Pare!” Eu grito para ela. “Estou falando sério.”

“Pare!” Ela usa aquela voz zombeteira enquanto suas amigas riem, e ela me bate novamente. Eu gostaria de poder fazer algo para me proteger que não envolvesse machucá-la de volta, mas da última vez que a atingi, minha mãe me bateu tão forte que mal consegui andar no dia seguinte.

Não posso aguentar outra surra assim. Não tão perto do Haze. Se eu conseguir encontrar meu companheiro, talvez eu possa sair daqui.

Enquanto ela me bate mais uma vez, eu me pressiono contra a parede e desejo, por um instante, que o gato do outro lado do corredor fosse um lobo ou um urso, que atacasse ela, tipo aquele pássaro tentando bicar o olho de Kieran.

“Pare!” Eu digo novamente, mas antes mesmo de a palavra sair completamente da minha boca, vejo um borrão de pelo cinza e ouço um chiado, e Nessa não está mais me batendo.

Em vez disso, ela está caindo no chão, gritando tão alto que meus ouvidos doem. Cubro meus ouvidos e me prendo à parede enquanto suas duas amigas começam a gritar também. Nenhuma delas está tentando ajudá-la, no entanto. Eu desejo com todas as minhas forças que aquele gato pare de atacá-la. Sei que vou me meter em problemas por isso, mesmo que eu não tenha nada a ver com isso.

Será que tenho?

Lembro-me do que aconteceu com o pássaro e como o Sr. Blake disse que não fez aquilo. Agora, este gato fez algo semelhante. Será que eu...?

Não, não há como.

Mas, por via das dúvidas, faço aquele som que ouvi o Sr. Blake fazer no fundo da garganta, o melhor que posso, e desejo que o gato pare.

Não para.

Eu me abaixo e pego o gato justo quando ouço a voz do meu irmão gritando no corredor. “O que está acontecendo?”

Eu esperava que o gato rasgasse minhas mãos em pedaços. Em vez disso, enquanto o seguro, ele começa a ronronar. Eu o coloco no chão, e ele sai correndo, justo quando Kieran chega.

“Você–você vadia psicótica!” Nessa grita para mim, limpando o sangue na parte de trás da mão enquanto se arrasta pelo chão para longe de mim. “Você bruxa!”

“O que diabos aconteceu?” Kieran pergunta enquanto olha de Nessa para mim e depois de volta para ela.

“Foi um gato.” Eu limpo meu próprio sangue do rosto com as costas da mão. Nessa me acertou com força suficiente com suas garras para fazer sangue sair de alguns lugares. “Ele veio para cima dela, do mesmo jeito que o pássaro atacou você.”

Os olhos de Kieran estão praticamente brilhando, ele está tão bravo. Eu sei que Nessa tem uma queda por ele, mas sempre achei que ela não era boa o suficiente para ele. Agora, começo a me perguntar se talvez ele goste dela também. “Vá para o seu quarto agora, vadia. Quando o pai souber o que você fez–”

Do nada, o gato está de volta. Eu não desejei que isso acontecesse desta vez, mas ele pula nas costas de Kieran e crava suas garras.

Ele grita e tenta pegar o gato. Eu grito, pensando que ele vai matá-lo, mas o gatinho crava suas garras nas mãos dele, e ele grita e o solta.

Eu observo em choque por um momento antes de decidir não testar mais a minha sorte. Se Kieran achar que eu fiz isso também, ele fará mais do que me dar alguns tapas. Eu corro entre as garotas e me dirijo ao meu quarto, rezando para chegar lá antes que ele me pegue.

Estou quase na minha porta quando sinto a mão dele apertar meu braço. Ele me gira para encará-lo, me pressionando contra a parede bem ao lado do meu quarto. Seus olhos se estreitam enquanto ele levanta uma mão e a pressiona contra meu pescoço.

Faz muito tempo desde que Kieran me bateu. Ele geralmente só me chama de nomes e deixa o trabalho sujo para outra pessoa. Mas eu posso sentir sua raiva correndo por suas veias enquanto ele sibila, seus lábios tremendo com palavras de maldição que ainda não lançou na minha direção.

Ele está tão perto de mim que posso ver os pequenos respingos de sangue no nariz dele que devem ter espirrado lá do ataque do pássaro. Ele aperta minha garganta, e eu fico completamente imóvel, olhando em seus olhos gelados.

Ele se inclina de modo que seu nariz está praticamente tocando o meu, e eu sei que ele vai me sufocar ou me dar um soco tão forte que eu vou desabar no chão.

Mas ele não faz nenhuma dessas coisas. Ele apenas me encara, como se estivesse em um tipo de transe.

Uma eletricidade formiga profundamente dentro de mim, meu abdômen inferior se contraindo de uma maneira que nunca aconteceu antes. Meu coração bate forte no peito. Posso ouvir o sangue passando pelos meus ouvidos.

Algo estranho está acontecendo; nunca me senti assim antes – especialmente não quando estava olhando para meu irmão, mas a loba dentro de mim se agita de uma maneira que nunca faz.

Ele deve sentir isso também.

E tão rapidamente quanto vem, vai – pelo menos para mim. Eu agarro o braço dele tentando empurrá-lo para trás, e mesmo que ele seja muito mais forte do que eu, funciona, de certa forma.

Ele me solta com um grito de angústia. “Que porra é essa? Sua vadia! Você tem estudado magia lá embaixo com aquele maldito Blake?”

Apertando minha garganta com ambas as mãos, eu respondo rouca, “Não! Eu não fiz nada disso. Eu não tenho poderes.” Minhas pernas parecem fracas, mas eu luto para me manter de pé.

“Seja lá o que for que você está fazendo comigo, pare com isso! Eu sei o quanto você quer o trono. O pai me disse que você tem tramado. Bem, isso não vai acontecer!” Ele vira as costas para mim, me deixando encostada na parede, me perguntando do que diabos ele está falando.

Eu quero o trono? Por que eu possivelmente pensaria que poderia conseguir o trono?

“Fique longe da Nessa!” Ele se vira e me encara. “Toque nela de novo, e eu quebro sua mão.”

Eu não espero para ver se ele está falando sério. Em vez disso, corro para o meu quarto, tranco a porta, mesmo sabendo que ele tem uma chave, e me afundo no chão. Com os braços ao redor dos joelhos, começo a chorar. Não tenho ideia do que está acontecendo, mas algo estranho está no ar.

Eu choro por vários minutos antes de me lembrar que tenho que ser forte o suficiente para sobreviver a isso, para sair daqui. Levantando a cabeça, olho pela pequena janela do meu quarto minúsculo – e é quando vejo pela primeira vez.

Uma fina, leve, névoa – de Haze.