Capítulo 1 — Esta não é minha história

Olhei para mim mesma uma última vez no espelho.

Prendi o grampo de diamante no cabelo, certificando-me de que nenhum fio estivesse fora do lugar do coque apertado que haviam imposto em mim. O vestido—apertado no peito, feito de tecido de cetim e adornado com cristais—parecia feito para uma princesa. Ou uma mártir.

Ver-me assim... tão pálida, tão impecável, tão desconhecida... era como olhar para uma estranha.

Não sabia se estava indo para um casamento... ou um funeral.

As emoções que eu deveria sentir—nervosismo, empolgação, expectativa—não estavam lá.

Apenas silêncio.

Um vazio desconfortável.

A certeza de que estava cruzando um limiar para uma vida que não era minha.

Hoje é meu dia de casamento com um homem que eu não amo.

Um homem que mal me olhou sem frieza. Que não pronuncia meu nome com carinho nem fala sobre nosso futuro com sonhos. Estou me casando com ele por causa de um acordo, uma obrigação, um sobrenome. Como substituta da minha irmã.

Mas o problema não começou aqui.

Começou muito antes.

Com um telefonema.

Com um acidente.

Com a decisão de continuar sendo a sombra daquela que sempre brilhou.

Meu nome é Aurora Black.

Tenho vinte e cinco anos, embora há semanas pareça que vivi cem.

Na minha família, o sucesso é esperado. Emoções são vistas como fraquezas. Erros são imperdoáveis. Meu pai dirige uma das mais importantes empresas químicas de Nova York, e minha mãe... bem, minha mãe decora a perfeição com gestos precisos, como se toda nossa existência fosse uma vitrine que nunca pode ser manchada.

Minha vida não era perfeita, mas pelo menos era minha.

Eu estava estudando Arte. Ensinava pintura a crianças carentes. Passava meus dias cercada por pincéis e cores, criando mundos onde ninguém me pedia para ser outra coisa. Naquele caos, meu caos, eu era livre. Autêntica. Completa.

Até que Bella... mudou tudo.

Bella é minha irmã. Minha gêmea.

Ela nasceu cinco minutos antes de mim e nunca me deixou esquecer isso. Bella era como fogo. Uma tempestade na forma de mulher. Ela adorava corridas ilegais, festas intermináveis e homens perigosos. Tinha uma espécie de energia que fazia todos olharem para ela... mesmo quando estava arriscando demais.

Eu a amava profundamente.

Deus sabe o quanto eu a amava.

Apesar das nossas diferenças. Apesar das comparações. Apesar de quantas vezes me senti invisível ao lado dela.

A última vez que a vi, estávamos andando pelo corredor até a sala de jantar, como todas as manhãs. Ela ainda tinha traços de maquiagem nas pálpebras e o cabelo estava preso de forma desleixada. Ela parecia cansada, desarrumada... e ainda assim bonita. Ela sempre era. Mesmo em seus piores momentos.

—“Festa boa?” Perguntei meio brincando.

—“Incrível. Ganhei a corrida,” ela respondeu, como se não fosse nada fora do comum.

—“Você deveria parar de fazer essas coisas. Vai se machucar um dia.”

—“E quando você vai começar a viver?” ela disse com um sorriso torto.

Foi a última vez que discutimos.

A última vez que rimos.

A última vez que respiramos o mesmo ar sem um hospital entre nós.

A ligação veio no dia seguinte.

Papai.

Sua voz estava quebrada.

Bella.

Ela teve um acidente.

Corri para o hospital sem pensar. O trajeto foi apenas o som das sirenes, semáforos ignorados, e um único pensamento ecoando na minha cabeça: Não, não, não. Por favor, que não seja grave. Por favor, que não seja grave.

Quando cheguei, encontrei mamãe na sala de espera—despedaçada.

Seus olhos vermelhos. Sua camisa manchada de lágrimas. Suas mãos agarraram as minhas como se tudo dependesse daquele aperto.

—“Ela está em coma,” ela sussurrou. “O carro... capotou várias vezes. Foi uma corrida imprudente. Ela não deveria... ela não deveria ter ido.”

Coma.

Essa palavra é pior que “morte.” Porque oferece esperança—mas também te aprisiona. Porque ninguém sabe se é um descanso... ou um fim.

Eu a observei deitada na cama, cercada por máquinas. Tão imóvel, tão distante.

Minha irmã.

Minha outra metade.

A tempestade... virou silêncio.

E então ele chegou.

Um homem alto, vestido de preto, com um olhar frio. Seu nome: Gael Moretti.

Um sobrenome que eu já havia ouvido muitas vezes em conversas das quais nunca participei.

Eu não sabia exatamente quem ele era. Mas algo em sua presença... em sua frieza... me deixava inquieta.

Papai conversou com ele em particular. Mamãe não respondia minhas perguntas.

E naquele momento, eu soube que havia mais por trás do acidente.

Dias depois, eu confirmei.

Papai me chamou ao seu escritório.

Seu tom era sério. Inflexível.

—“Bella estava noiva,” ele disse. “Um acordo entre famílias. Um compromisso que envolvia investimentos.”

E agora... com a condição dela... tudo está em risco.

Sentei ali ouvindo, sentindo meu mundo desmoronar.

Ele continuou.

—“Moretti decidiu seguir em frente...”

Com o casamento.

Com você.

—“O quê?” Eu sussurrei. “Você quer que eu me case com o noivo da minha irmã? Fingindo ser ela?”

—“Não será uma enganação. Será um ajuste. Ele já sabe. Você será a esposa dele. O que importa é o sobrenome. O acordo.”

O que importa é o acordo.

Não o amor.

Não a verdade.

Não eu.

Eu aceitei.

Não porque concordei, mas porque mamãe implorou com os olhos. Porque Bella ainda estava em coma e alguém tinha que salvar a família.

E agora estou aqui.

Em frente ao espelho.

Vestida de branco.

Naquela época, meu marido ainda amava profundamente minha irmã.

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