Capítulo 4
Ainda confusa e meio zonza, Canary acordou novamente naquele quarto imenso.
E novamente do outro lado do quarto, estava Vahem.
Ela se pôs de pé imediatamente, e tão rápido quanto ela, ele veio correndo em sua direção.
---- eu ajudo você, você precisa ficar deitada Canary você...
---- eu não preciso de nada, só preciso que você me diga que aquilo que me falou, é uma grande mentira. ---- ela disse furiosa.
Vahem a encarou e havia pena em seu olhar.
---- infelizmente não posso falar isso Canary.
---- e por quê não?
---- porquê não é verdade! ---- ela o encarou sentindo o mundo desabar novamente, mas dessa vez, ela se segurou.
---- meu pai não era alfa!
---- ah é? E como você sabe disso! ---- ela o encarou nos olhos.
---- eu sei que ele não era. ---- Vahem riu com escárnio.
---- seu ódio por sua própria raça é tão... ---- ela lhe deu um tapa, que fez seu rosto virar para o lado.
Vahem virou o rosto lentamente, ele segurou sua mão e a recostou contra a parede.
Ela sentiu o ar sair de seus pulmões.
---- já estou me cansando dessa brincadeira, Canary. ---- ele disse lhe mostrando os dentes. Mas ela não se encolheu.
---- vamos... Me mostre quem você é de verdade. ---- ela disse o desafiando.
Algo em seus olhos parecia ter brilhado.
Ele respirou fundo, encarou seus lábios e se afastou.
Ele ergueu a manga da camisa que estava usando, e lhe mostrou novamente a meia lua.
---- vê isso? Sabe o que significa? ---- ela tentou desviar o olhar, mas não conseguiu.
---- significa que eu sou seu, e você... É minha! Somos um do outro, somos a lua gêmea Canary. ---- ela riu com escárnio.
---- EU NÃO VOU CEDER A ESSA SUA MALDITA TRADIÇÃO LICANO, PORQUÊ EU NÃO SOU UMA LICANO!
Seus olhos pareciam estar em chamas.
Vahem se afastou, e seus olhos amarelos brilharam.
---- quer ficar aqui e se remoer sem aceitar a verdade? Ótimo! Faça isso. ---- e logo em seguida ele saiu e bateu a porta.
Canary correu até lá, e chutou a porta Furiosa.
---- VOCÊ NÃO PODE SIMPLESMENTE FUGIR SEU MALDITO COVARDE, ISSO NÃO É VERDADE! NÃO É. ---- ela gritou ficando sem voz.
E logo em seguida, caiu de joelhos em frente a porta.
Sentindo a meia lua em seu braço arder.
Ela começou a chorar desesperadamente.
Mais tarde aquela noite, ela não havia descido para comer. E Vahem, bateu na porta.
Ela não se virou para olhar para ele.
Lentamente ele se aproximou da cama, e sentou ao lado dela. Ela sentiu seu braço quente se aproximando dela, mas ele parou bruscamente.
---- não quero fazer isso Canary, não quero tratar você dessa forma! Não quero ser esse tipo de macho. ---- ela se encolheu.
---- por favor, tente me ouvir. Tente... Tente entender, eu imploro. ---- havia sinceridade e cansaço em sua voz.
Mas ela se manteve em silêncio.
---- você quer fugir? O faça... Vá para onde quiser, eu não vou continuar a tentar. ---- sua voz ficou fria, e de repente ele se pôs de pé e rumou até a porta.
Mas então ele parou.
---- só quero que saiba, eu sou seu Canary. ---- e então ele saiu. Mas ela não ouviu a porta sendo trancada.
Seu coração disparou, ela não queria ficar ali. Sua mente iria explodir a qualquer momento, ela sabia.
Então ela rumou até a porta e saiu correndo em direção as escadas, ela desceu rapidamente e foi em direção ao portão da muralha. Quando estava quase saindo, ela parou bruscamente. Sua meia lua queimou como fogo, e algo em seu coração doeu como se ela estivesse levando uma facada.
Mas ela correu sem medo em direção a floresta.
Ela foi subindo até chegar em uma espécie de penhasco, lágrimas rolavam por seu rosto.
Sua meia lua ardeu de forma laciante e ela se jogou no chão, gritando de dor.
---- O QUE VOCÊ QUER? ---- ela berrou.
Sua cabeça começou a doer, sem parar. Ela sentiu seu corpo tremer. Ela gritou de dor. Ela tocou em sua boca, e notou que presas enormes estavam crescendo.
Ela começou a chorar ainda mais desesperada, ela sentia que iria morrer. Aquilo não podia ser verdade.
---- Canary, shh... Ei! ---- Vahem se ajoelhou ao seu lado, a puxando para perto de si.
Ele tocou em seu rosto.
---- eu estou aqui! Está bem? ---- ela assentiu ainda sentindo muita dor.
Ele a envolveu em seus braços, ela se deixou sentir aquela sensação. A dor da meia lua, passou instantemente.
Era como se... Ela estivesse chamando ele.
Sem avisar, Vahem tocou seu queixo a encarou no fundo dos olhos, enxugou suas lágrimas e a beijou.
Canary sentiu todo o seu corpo estremecer, mas não de uma forma ruim. Ela passou as mãos por volta de sua nuca e o puxou para perto, o retribuindo.
Foi um beijo... Confuso. Ela não sabia porque estava fazendo isso.
Mas então, eles se afastaram e Canary o encarou sem lágrimas nos olhos.
---- quem foi meu pai? ---- Vahem parou bruscamente.
---- Canary...
---- é ele? ---- ela sentiu o estômago revirar. Vahem abaixou sua cabeça, e a encarou cheio de remorso.
---- sim, é ele. ---- ela quis vomitar naquele instante.
---- como?
---- ele era obcecado por sua mãe, mas ela não o queria! Ele... não aceitou ser contrariado. ---- ela queria gritar.
---- como você sabe disso?
---- foi eu quem a salvou, bem... Quem tentou. ---- ela sentiu impotência em sua voz.
Ela se pôs pé rapidamente, e gritou Furiosa. Ela só queria matar Kyra, acabar com ele de dentro para fora.
---- Canary... Ei! ---- Vahem segurou em seus ombros. ---- sei o que você está pensando, mas não deve agir ainda... Você tem algo dentro de você Canary, algo que eu nunca vi! É uma força desenfreada, que precisa ser treinada! ---- ela tentou desviar o rosto, mas ele segurou seu queixo.
---- sei que você não me ama, e nem quer fazer tal coisa! Mas eu... Posso ajudar você! Posso ajudar você a descobrir quem é! Mas para isso, você precisa estar junto de mim, Canary. ---- ele se afastou bruscamente.
Ela o encarou no fundo dos olhos.
---- quer dizer... Ser sua lua gêmea?
---- sim. ---- ele disse sem desviar o olhar.
---- não precisa me amar, ou... Ter qualquer obrigação comigo! Só precisa estar ligada a mim, para que os outros... A aceitem e a ajudem. ---- Canary se encolheu levemente. Ela se afastou um pouco.
Ela o encarou de repente e falou:
---- você disse lá no quarto, que... Eu poderia fugir. Mas você veio atrás de mim... Por quê? ---- ele engoliu em seco.
E tocou o braço aonde estava a marca.
---- eu ouvi minha lua chamar, e não ficaria parado lá. ---- algo dentro de seu coração acelerou.
Ela tocou na marca e então o encarou sem medo.
---- serei sua lua, para que possa matar o Kyra. Mas... Apenas por isso. ---- seus olhos amarelos pareciam brasas.
---- se assim desejar. ---- ele disse sem receio.
Ela se aproximou dele.
---- e... Como celamos isso? ---- ele a trouxe para perto, pegou seu braço esquerdo e tocou na marca.
Lentamente ele levou o braço dela até os lábios, e beijou a meia lua.
Canary sentiu um breve arrepio.
---- vai doer só um pouco. ---- ele mordeu seu braço, derramando um pouco de sangue. Logo em seguida ele fez o mesmo com seu braço.
E lentamente ele juntou as luas no mesmo sangue.
Ele tocou o queixo de Canary.
---- só servirei a você... Minha lua gêmea. ---- ele disse sem receio. E aquilo fez o coração dela acelerar.
---- e eu... A você.
Ela dizia a si mesma que era apenas por sua vingança, e ela queria muito acreditar nisso naquele momento.
