Drama Alfa

Ponto de Vista de Daxon Stormclaw

"Ela é uma selvagem," Rylen resmungou enquanto saíamos para o ar fresco da noite, a porta do The Hollow Spot se fechando atrás de nós.

"Não," Jace acrescentou, lambendo o sal dos dedos, "ela é psicótica. Aquela garota parecia pronta para arrancar a garganta da Vaela com os dentes. Sexy, mas assustadora."

Eu não disse nada. Principalmente porque meu maxilar ainda estava tão tenso que doía. Eu continuava vendo aquilo. Os olhos dela. Aquele brilho prateado.

Aquele rosnado cru e gutural. Como se viesse de algo antigo dentro dela, não apenas um lobo. E quando eu a puxei de cima da Vaela, quando ela se virou para mim, mostrando os dentes, selvagem e furiosa, foi como ser atingido por um raio.

Meu lobo pulou. Não tipo, "puta merda, briga à vista," mais como... nós a conhecemos.

Mas não conhecemos. E não deveríamos.

"Eu já vi muitas transformações de raiva," Rylen continuou, claramente curtindo o drama. "Mas aquilo? Aquilo foi uma fúria divina de outro nível. Tipo... ela tinha assassinato no sangue, mano."

"Ela não se transformou," eu disse baixinho. Os dois pararam de andar. Jace inclinou a cabeça. "O quê?"

"Ela não se transformou," repeti. "Nenhuma transição completa. Sem pelos. Apenas ela. Os olhos dela mudaram, a voz dela ficou mais grave, e a energia dela foi a mil, mas ela não se transformou."

Rylen me olhou como se eu tivesse crescido uma segunda cabeça. "Ok, mas por que você está notando isso?"

Eu o ignorei. Porque eu não tinha uma resposta. Porque minha pele ainda queimava onde eu toquei sua cintura. Porque eu ainda podia ouvir o rosnado dela nos meus ouvidos.

Porque por um segundo, quando nossos olhos se encontraram... Não parecia que eu estava a contendo. Parecia que eu estava tentando não cair nela.

Que diabos há de errado comigo?

"Ela nem é uma alfa," murmurei. "Ela é apenas um... caso rebelde que o casal Gamma acolheu depois que Caelan morreu."

Rylen levantou uma sobrancelha. "Cara. Ela acabou de derrubar sua irmã com o corpo inteiro e quase destruiu uma mesa real. Acho que podemos parar de fingir que ela é uma ômega inofensiva."

"Ela não se submete," eu rebati. "Ela nunca se submeteu. Ela é boca dura, teimosa, e sempre acha que é mais esperta que todo mundo. Ela não é.."

"Sabe," Jace disse, sorrindo, "você fala muitas palavras para alguém que 'odeia' ela."

Eu o encarei. "Eu a odeio."

"Certo. É por isso que sua voz desce uma oitava inteira quando você diz o nome dela."

"Estou falando sério. Ela está sempre me desafiando. Ela não obedece. Ela nunca recua. Ela entra debaixo da minha pele como um espinho que não sai."

"Como uma parceira?" Rylen disse casualmente. Eu parei de andar.

Os dois esbarraram em mim por trás.

"Não."

"Vamos, mano. Não é a pior coisa do mundo."

"Ela não é minha parceira," eu rosnei. "Se fosse, eu saberia."

Não saberia? Parceiros predestinados eram raros e se eu não a tivesse encontrado até agora, provavelmente não encontraria. Não há como. De jeito nenhum. Balancei a cabeça decisivamente. Não.

Meu lobo estava quieto. Quieto demais. E de repente, eu odiei o silêncio mais do que a odiava.

Quando chegamos à propriedade Stormclaw... menos "casa" e mais uma fortaleza com iluminação de humor... eu ainda estava remoendo o fantasma do rosnado de Elowen.

Durante todo o maldito trajeto, Rylen e Jace não calaram a boca. "Você deveria ter deixado ela terminar de sufocar a Vaela," Jace disse, estalando os dedos enquanto passávamos pelas portas de obsidiana esculpida. "Teria sido o jantar mais tranquilo do ano."

"Você diz isso como se não tivesse se mijado," Rylen zombou.

"Eu teria aplaudido, na verdade."

"Calem a boca, os dois," murmurei, entrando no grande salão. Era de pedra escura e candelabros de prata. A luz fraca da lua entrava pelo teto de vidro. O toque da minha mãe estava em cada superfície elegante, cada peça de arte cara que ninguém entendia.

E parado bem no centro sob a escada em espiral, braços cruzados, usando uma expressão que poderia congelar lava... estava... o Rei Alfa Draven Stormclaw.

Meu pai. Claro.

"Garotos," ele disse, a voz fria como ferro. "Fora."

Rylen e Jace não precisaram ser mandados duas vezes. Eles praticamente desapareceram, nem fingindo ser sutis. Eu não me movi. Draven avançou lentamente. Sem gritos. Sem drama.

Apenas presença. Alfa até os ossos. E pela primeira vez, ele não parecia pronto para arrancar a garganta de alguém.

Ainda.

"Recebi uma ligação," ele disse baixinho. "De Marnie. E Mina. E metade dos malditos adolescentes da cidade."

"Claro que recebeu."

Ele estreitou os olhos. "Vai me contar o que diabos aconteceu com Elowen Thorne... ou preciso tirar isso da sua cabeça?"

Rolei os ombros, meu maxilar tenso. "Ela foi provocada."

Sua sobrancelha se levantou. "Por?"

"Vaela."

Um momento de silêncio.

"Ela cuspiu uma bolota de papel mastigado no rosto de Elowen," acrescentei. "De propósito. Na frente de todo mundo."

Ele não reagiu imediatamente. Apenas deixou as palavras no ar. "E Elowen respondeu como...?"

"Se lançando sobre três mesas e imobilizando Vaela no chão."

Outra pausa. Então Draven exalou pelo nariz. "Claro que ela fez isso."

"Ela não se transformou," acrescentei antes que pudesse me conter. "Mas os olhos dela... a energia dela..."

Balancei a cabeça. "Nunca senti nada igual."

Ele me olhou atentamente, estudando meu rosto como se ele guardasse segredos que eu não sabia que tinha. Então ele se virou e caminhou em direção à escada.

"Ela precisa ser repreendida," falei, sem saber por que sentia a necessidade de falar novamente. "Não podemos ter lobos atacando a realeza em público..."

"Ela não é apenas uma loba," ele interrompeu, parando no primeiro degrau.

"O quê?"

Draven olhou por cima do ombro. "Ela é filha de Caelan. Isso significa algo. Mesmo que o resto da matilha esqueça, eu não vou."

Pisquei. "Não foi isso que eu..."

"Vaela será tratada," ele cortou. "Silenciosamente. Você não precisa se preocupar com a punição de Elowen. Não desta vez." E assim, ele desapareceu escada acima, me deixando no silêncio.

Fiquei ali, com os punhos cerrados ao lado do corpo, sem saber se estava aliviado ou... algo mais. Ela não era apenas uma loba. Não.

Ela era um verdadeiro incêndio envolto em pele e segredos. E eu não tinha acabado com ela.

Nem de perto.

Ponto de Vista de Vaela Stormclaw

Mal dei dois passos dentro da mansão antes de ouvir.

"Vaela. Agora."

Meu estômago revirou. A voz de Draven não era alta... mas quando meu pai falava assim, não importava o quão nobre fosse seu sangue. Você se movia.

Suspirei dramaticamente e joguei o cabelo para trás, ignorando o olhar afiado de Soria ao meu lado enquanto me virava e caminhava em direção ao escritório dele. "Isso precisa ser rápido," murmurei sob a respiração. "Ainda tenho que postar meu lado da história."

A porta estava aberta. No segundo em que entrei, percebi que tinha estragado tudo mais do que pensava.

Ele estava de pé na janela, mãos atrás das costas, ombros rígidos como um lobo à beira de estourar. A luz do luar fazia o prata no cabelo dele brilhar... e pela primeira vez, eu não estava encantada com isso.

"Sente-se."

Eu me sentei. Sem tom de princesa. Sem "minha linda filha." Apenas comando. Alfa para subordinado. E eu odiava isso.

"Falei com Daxon," ele disse, a voz calma da maneira mais perigosa. "Ele me contou exatamente o que aconteceu."

Cruzei os braços. "E tenho certeza de que ele deixou de fora que ela é uma lunática que..."

Ele se virou. E o olhar nos olhos dele me calou imediatamente. "Você agrediu a filha do Beta."

"Ela nem é..."

"Ela é filha de Caelan," ele rosnou, batendo o punho na mesa com força suficiente para fazer a madeira gemer. "E isso significa que ela não é apenas uma loba qualquer. Ela é realeza da matilha em sangue, se não em título, e você desonrou sua posição agindo como uma criança mimada em público."

Eu estremeci. Odiei ter estremecido. "Ela começou," murmurei, a voz tensa. "Ela acha que é melhor que todos, e não é."

"Ela é mais forte que você."

Isso doeu mais do que um tapa. Eu o encarei. "O que você acabou de dizer?"

"Você me ouviu," ele disse friamente. "Ela não se transformou. Nem piscou. E ainda assim tinha você no chão com uma mão na sua garganta antes que alguém pudesse reagir. Isso é sangue de alfa. Isso é disciplina. Isso é poder."

Cerrei os dentes, unhas cravando no braço da cadeira.

"Ela me desrespeitou!"

"E você envergonhou esta família," ele retrucou. "Isso não é um debate, Vaela. É um aviso."

Ele se inclinou lentamente, os olhos queimando nos meus.

"Se você tentar algo assim novamente... se você tocar, ou mesmo cuspir, naquela garota novamente... eu vou fazer você se arrepender. Você me entendeu?"

Meu orgulho gritava. Minha loba rosnava. Mas eu assenti. "Sim, pai."

"Bom," ele disse, já se virando de costas. "Agora saia da minha vista."

Eu desci o corredor furiosa, meus saltos batendo forte contra a pedra polida, até chegar ao topo da escada.

Soria estava esperando. Quando viu meu rosto, seus lábios se curvaram em um sorriso cruel. "Deixe-me adivinhar. Papai não gostou da sua performance."

"Eu a odeio," sibilei. "Ele está defendendo ela como se fosse uma de nós. Como se ela importasse."

Soria se encostou na parede, braços cruzados, seus olhos dourados brilhando no escuro. "Ele está errado, você sabe. Ela não é mais forte. Ela apenas pegou você desprevenida."

Cerrei os punhos. "Ela nem é alfa."

"Não," Soria disse suavemente, "mas ela será."

Ficamos ali em silêncio por um momento, fervendo.

E então Soria se inclinou, a voz baixa e afiada como uma navalha enquanto sorria maniacamente. "Vamos garantir que ela nunca tenha a chance."

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