...

-Soraia, para de me puxar assim - resmungou Amy enquanto soltava a mão da amiga e olhava ao redor como se algo ou alguém fosse pular em cima dela.

-Desculpa.

-Soraia, o que está acontecendo?

-Nem eu sei.

Amy franziu a testa como se sua amiga estivesse ficando louca ou tivesse bebido algo além de suco.

-Eu tenho medo daquele homem.

Essa confissão foi suficiente para Amy abraçar sua amiga como não fazia há tempos. Sabe aquele abraço que amigas dão desde a escola primária? Esse foi o abraço que elas compartilharam.

O estranho olhou para as duas amigas se abraçando e uma nostalgia apertou seu peito ao lembrar de sua mãe e de como sentia falta de seus abraços calorosos.

Amy caminhou por um corredor com muitas portas, mas sem ninguém por lá, e entrou em uma porta com uma plaquinha de letras espelhadas que dizia 'banheiro feminino'.

Amy parou em frente ao enorme espelho que ia do teto ao chão atrás das pias no balcão largo e começou a retocar seu batom quando um estrondo na porta a fez pular.

-Meu Deus!

Amy se viu cara a cara com o garoto de olhos cor de mel olhando para ela, e ela assentiu, dizendo algo óbvio e estúpido, mas melhor um silêncio estúpido do que um silêncio constrangedor.

-Este é o banheiro feminino.

-Eu sei - ele disse enquanto dava alguns passos à frente, enquanto Amy dava alguns passos para trás até se encontrar espremida entre o balcão e aquele corpo musculoso dele.

Marcus não conseguia tirar os olhos das esmeraldas brilhantes à sua frente, mas a gota d'água foi quando ela passou a ponta da língua pelos lábios.

Marcus avançou, e Amy engoliu em seco, de olhos arregalados, quando ele envolveu seu braço ao redor da cintura dela em um aperto firme que a trouxe para seu peito com as mãos entrelaçadas com uma pergunta hesitante:

-O que você pretende fazer?

-Te beijar - ele disse e mergulhou seus lábios naquela boca que ele já considerava deliciosa e só aumentou seu desejo na dança das línguas.

Uma paixão fervorosa gritava entre os dois no banheiro, e mesmo que Amy tivesse ficado assustada no início, agora ela se entregava ao beijo do cara que ela nem sabia de onde tinha vindo, mas certamente sabia como beijar.

Ah, se sabia.

Lais, que tinha seguido Marcus até a porta do banheiro, rangeu os dentes ao ver o que aqueles desgraçados estavam fazendo ali.

-Malditos - ela sussurrou entre os dentes com uma fúria queimando dentro dela. E como o tempo é amigo do vampiro, relâmpagos e trovões estouraram no céu, e tal foi a intensidade que não só assustou muitas pessoas, mas também causou a destruição de alguns postes de energia, resultando em um apagão na cidade. Quando as luzes se apagaram no salão, a euforia tomou conta de muitos, afinal, na escuridão tudo é mais emocionante. Mas um gerador logo fez seu trabalho, ligando tudo de volta, incluindo a música, que estava em um remix de rock nos batidas de um funk. E nesse tempo sem luz, que apesar de curto, muitas coisas aconteceram...

Amy se viu sozinha no banheiro com o gosto do beijo do garoto que a abraçou num piscar de olhos e desapareceu no próximo, mas quando ela se virou para arrumar o cabelo embaraçado no espelho, escrito com seu batom, dizia:

CUIDADO COM ESTRANHOS.

MARCUS.

Então esse é seu nome, soldado? - ela sussurrou, sorrindo como uma boba. Ela ainda não tinha percebido o perigo que pairava sobre ela e toda a cidade. Ainda.

Um morcego havia saído de uma das muitas janelas do salão e voado para o céu atormentado. Julio Cesar tinha aproveitado bem o apagão, porque quando o relâmpago iluminou a sala, ele já estava atrás de Soraia, inalando o cheiro sensual e almiscarado do sangue dela, com um sorriso misterioso nos lábios.

-Desculpe, não quis te assustar.

Ela suspirou um - tudo bem.

-Sou Julio Cesar - ele se apresentou, sempre olhando nos belos olhos negros de Soraia.

O estranho de olhos verdes surgiu do nada atrás dela e a puxou levemente para trás de seu corpo, cobrindo-a dos olhos de Julio Cesar, que rosnou, dizendo: "Fique longe dela." Soraia não podia negar que o medo que sentia de 'Drácula' definitivamente não se estendia àquele estranho, pois quando ele tocou sua pele, um arrepio de prazer e sensação de segurança a inundou por dentro e por fora. Sem mencionar que seu ego feminino adorava ser o alvo da atenção desses dois gatos.

Brenda, que estava um pouco mais afastada deles, captou as ondas vocais da voz do estranho no ar e imediatamente tentou agir enviando outras ondas, só que psíquicas, para Soraia.

O fim da noite estava se aproximando, e mesmo contra sua vontade, quando finalmente acordou em um sofá de couro na escola, Soraia se sentiu atraída por Julio Cesar como se ele fosse um ímã. E o pior de tudo era que ela não conseguia ver seu salvador de olhos verdes.

Que droga!

Muitas foram as vezes que Soraia tentou desviar o olhar e até sair dali, mas de uma forma ou de outra, ela se encontrava perto dele. E no caso de Amy, o oposto acontecia: quanto mais ela tentava se aproximar da amiga, mais se afastava. Como ele tem tanto poder nos olhos?

Apenas o estranho de olhos verdes tem essa resposta, mas infelizmente, para o bem de toda a cidade, é conveniente manter essa resposta guardada.

Mas até quando?

Brenda sorriu, afinal seu mestre havia conquistado a atenção da garota. Mas e aquele estranho? O que ele é? O que ele quer?

Em um lugar não muito distante dali, além de uma floresta de caules secos ao lado de um penhasco, onde abaixo um rio de águas violentas corre por entre rochas e termina em uma cachoeira de descidas nervosas para acabar em um lago sereno.

Em um campo verde aberto há um amontoado de tendas - as tendas ciganas (contarei mais sobre elas e seus segredos depois) - e atrás do acampamento com suas fogueiras há uma floresta fechada com arbustos e árvores de tamanho muito robusto.

No momento, dentro de uma tenda, a maior do acampamento, há uma mulher posicionada no centro, mas as vozes de duas mulheres podem ser ouvidas distintamente.

-Prepare-se, jovem, - disse a mulher com sotaque espanhol, - o momento de ajudar Soraia está próximo.

Nas sombras da tenda, envoltas pela fumaça do fogo e do incenso, olhos negros eram evidentes.

-Julio Cesar a envolveu então? - ela pergunta, bastante convencida de que a resposta é sim, pois conhece melhor do que ninguém o poder que ele exerce.

Ainda não - diz a outra com os olhos verde-claros como outro estranho que também quer ajudar Soraia, "mas antes que isso aconteça, você deve avisá-la." A garota de olhos negros acena com a cabeça.

-Esta noite sim - a mulher estava nervosa em seus gestos e ao andar de um lado para o outro, "quanto mais cedo, melhor."

-Tenha um coração, - pediu a garota.

-És duro, mi hijo es demasiado (é difícil, meu filho está lá) - ela deixou escapar uma dica de que o estranho de olhos verdes poderia ser seu filho.

-Recuerda lo que és tu hijo (lembre-se do que seu filho é).

A mulher então respirou fundo e um sorriso genuíno surgiu em seu rosto enquanto concordava com a garota.

-Você está certa, meu filho é Alpha Drakus.

Lá fora, uivos ecoaram pela floresta, ainda desconhecidos para os humanos da cidade de Lacrimal que não tinham ideia de quem vivia lá.

No quarto escuro da casa do vampiro, Lais, ou melhor, Rachel estava amaldiçoando Marcus e Amy.

-Malditos!!!

As vozes unidas das duas mulheres no mesmo corpo davam a impressão de que o quarto estava cheio de pessoas, sem mencionar suas atitudes furiosas de pegar coisas e jogá-las contra a parede como uma mulher humana traída faria.

-Marcus, como você ousa fazer isso comigo!

Lágrimas rolavam por seus olhos enquanto ela jogava um vaso de rosas brancas contra a parede, e no mesmo momento um raio violento cortou o céu.

-Ah, aquela ruiva vai pagar caro por tirar Marcus de mim, - ela jurou enquanto pegava uma rosa que havia caído do vaso aos seus pés e a esmagava em sua mão sangrando enquanto os espinhos encontravam sua palma. A raiva da vampira provocou a ira dos céus, que castigaram a cidade com uma forte tempestade.

O baile estava terminando e, como era costume nas festas da Academia Division, as duas últimas músicas eram românticas. Então, ao som de uma música clássica, vários casais lotaram o centro do salão de baile e as luzes diminuíram, dando um clima romântico e nostálgico.

Felizmente para o estranho, Julio Cesar havia se afastado de Soraia e não perdeu tempo em ir até ela para que pudesse sentir um pouco mais do cheiro e da maciez de sua pele quando a tocou antes.

-Soraia, você quer ser minha companhia?

Soraia se virou e seus olhos negros se perderam naqueles olhos verdes que lhe davam arrepios, e de uma maneira boa. Ela não disse nada, nem podia, porque aquele pedaço de desejo à sua frente já estava pegando sua mão e puxando-a lentamente em direção àqueles músculos quentes e acariciando, sem pedir, seu pescoço.

Soraia poderia jurar que ele respirou fundo entre seu ombro e pescoço, como se quisesse guardar seu cheiro dentro dele.

Que loucura!

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