Açoar

A prata cravou na minha pele, a dor irradiando pelas minhas costas como mil punhais gelados. Mordi o lábio, engolindo o grito que subia na minha garganta como bile. O segundo golpe foi pior, uma luz branca e ofuscante brilhando atrás dos meus olhos. Desta vez, eu gritei enquanto a agonia percorria meu corpo.

As pessoas assumiam que a prata não me afetava tanto quanto afetava os outros, já que eu nunca tinha me transformado, mas não era verdade. Ela incendiava minha pele como as chamas do inferno.

"Mais um, Woodrow," Norrix disse em voz alta, como se fosse algum tipo de conforto. Me preparei, inspirando profundamente enquanto meu nariz começava a escorrer, lágrimas escorrendo dos cantos dos meus olhos. Deusa, eu me odiava por estar chorando.

Essa era a pior parte das punições da matilha. Não a dor. O fato de que todos que haviam se reunido podiam me ver no meu estado mais vulnerável.

O último golpe rasgou meu corpo inteiro enquanto lambia as outras duas lacerações. Fiquei mole, caindo contra o poste e chorando silenciosamente, aliviado por ter acabado.

"Você foi bem, lobinho..." Viktor murmurou enquanto se movia para soltar as amarras que me prendiam no lugar.

"Eu não sou um lobo..." eu disse rouco, minhas pernas cedendo sob mim.

"Claro que é. Você faz parte desta matilha," ele respondeu gentilmente, dando um leve tapinha no meu queixo. Foi um consolo, pequeno, mas suficiente para ajudar a levantar meu espírito quebrado.

"Ei..." Viktor desapareceu pela multidão enquanto Norrix se aproximava de mim. "Você aguentou como um campeão." Eu não tinha forças para responder. "Vá para casa e embeba alguns panos em calêndula. Coloque nas suas costas. Vai ajudar."

Então ele se foi, e os observadores começaram a se dispersar. Um braço forte envolveu minha cintura, me levantando do chão. Abri a boca para dizer 'obrigado' antes de recuar.

"Não me toque!" Rosnei para Riley, "Isso é culpa sua!"

"Eu não disse para eles te chicotearem," ele respondeu. "Vamos, você pode me odiar depois. Você está ferido, e eu quero te ver em casa." Eu bufava, mas não protestei. Estava fraco demais para argumentar.

O caminho inteiro para casa foi silencioso enquanto eu me apoiava no ombro de Riley. Na porta, ele soltou minha cintura, esfregando o pescoço desconfortavelmente. "Melhoras," ele disse, se afastando tão repentinamente quanto havia aparecido.

Eu bufei e revirei os olhos. Idiota... Entrei na casa lentamente, me movendo com cuidado para manter o tecido da minha camisa longe dos cortes nas minhas costas. Deusa, como doíam, queimando como ácido na minha pele.

"Oi, querida! Como foi—" Nana parou na porta da cozinha. "Oh, doce Deusa!" ela exclamou, seus olhos se arregalando ao perceber meu estado debilitado. "O que aconteceu com você?"

Meus olhos se encheram de lágrimas e meu lábio inferior tremeu enquanto eu me virava para mostrar minhas costas a ela. "Oh, meu amorzinho..." ela sussurrou tristemente enquanto eu desmoronava, caindo no chão. Nana me puxou para seus braços, envolvendo meus ombros com suas mãos quentes, tomando cuidado para não tocar nas minhas costas.

"Você vai ficar bem..." ela sussurrou enquanto me balançava em seus braços. "Vamos te arrumar toda: eu prometo..."

"Nana!" eu soluçava suavemente, me agarrando a ela, permitindo que todas as minhas barreiras caíssem.

"Shh..." Nana me acalmou, beijando o topo da minha cabeça. "Vamos lá, meu bem. Vamos te levar para a cama para você se curar..." Ela me ajudou a levantar, sustentando meu peso enquanto subíamos as escadas. No momento em que chegamos ao santuário familiar do meu quarto, eu caí na cama com um gemido de dor. "Você só precisa descansar, Tyr. Vou pegar algo para a dor."

"Calêndula..."

"O que, querida?"

"Norrix disse para usar calêndula..." murmurei contra o travesseiro.

"Tenho um saco no armário." Nana respondeu com um aceno de cabeça. Quando ela saiu, eu me sentei. Minhas costas ainda ardiam, cada centímetro do meu corpo se sentindo exausto. Arranquei a camisa rasgada e a joguei no chão, meu top esportivo seguindo o mesmo caminho. Então me deixei cair contra os lençóis.

Não sei quanto tempo fiquei mergulhada na dor, mas eventualmente, adormeci, acordando apenas com o som da voz de Nana. "Eu trouxe uma pomada e alguns panos molhados para você." ela murmurou, sentando na beira da minha cama.

Seus dedos, cobertos com a pomada de calêndula, ardiam como lâminas quentes, mas a dor aliviou quando ela espalhou o pano frio sobre a pele. Quando ela terminou, eu estava respirando pesadamente, meu corpo tremendo.

"O que ela fez dessa vez?" meu pai resmungou, encostado no batente da porta, seus olhos captando a cena com desaprovação.

"Quebrei o nariz de um idiota depois que ele me ameaçou," respondi. Tentei soar divertida, mas as palavras saíram como um sussurro fraco.

"Não vejo como isso justifica uma surra..."

"O dito idiota negou que me ameaçou. Disse ao Norrix que eu o socara depois que ele me repreendeu por lutar sujo." expliquei.

"Vou falar com—"

"Não se preocupe," respondi. "O Alfa disse que vai falar com Riley, mas também disse que está cansado de me ver no escritório dele. Por isso fui chicoteada."

Meu pai balançou a cabeça, cruzando os braços sobre o peito. "O que vou fazer com você?" Não respondi; não havia razão para isso. Eu tinha sido uma decepção desde que matei minha mãe. Nada mudaria isso...

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