Má notícia
Não fui a lugar nenhum na semana seguinte. Não houve treinamento e fiz pouco esforço para sair da cama. Não foi apenas a prata que drenou meu corpo; como ainda não tinha me transformado, não tinha as mesmas capacidades de cura que o resto da matilha.
Mesmo no meu estado enfraquecido, meu pai se recusou a me deixar sem meu remédio, administrando as injeções enquanto eu gemia no travesseiro.
“Por favor, pelo amor da Deusa da Lua, fique fora de problemas de agora em diante,” ele me disse, bagunçando meu cabelo suavemente. Tais demonstrações de afeto dele eram raras, mas fizeram meu coração disparar. Eu esperava que, um dia, encontrássemos uma maneira de superar a distância que ele colocou entre nós.
“Vou tentar…” concordei fracamente. Não adiantava discutir. Quer fosse minha culpa ou não, o resultado tinha sido o mesmo. Eu fui a única punida publicamente, trazendo vergonha para nossa família.
Meu pai foi trabalhar, deixando nana e eu sozinhas pelo resto do dia. A pomada e os panos úmidos ajudaram, mas minhas costas ainda doíam muito quando eu me mexia. Cada uma das lacerações tinha criado crostas, coçando e ardendo sob minhas roupas folgadas.
Logo depois da uma, a campainha tocou. Eu esperava que nana atendesse, mas depois de um minuto, tocou novamente. Me arrastando para o andar de baixo, abri a porta, piscando surpresa.
“Ah, graças à Deusa!” Beth suspirou, imediatamente me abraçando. Eu gemi e me afastei dela com dor. “Eu deveria ter vindo antes! Você está bem?”
Elizabeth Redvein e eu tínhamos um relacionamento complicado. Fomos melhores amigas desde crianças, mas isso mudou nos últimos meses, desde que ela começou a namorar Kellen.
“Não foi minha culpa…” Não sei por que meu primeiro instinto foi me defender, mas foi exatamente o que fiz. “Riley mereceu!”
“Riley Haven?” ela esclareceu, arqueando uma sobrancelha curiosa para mim. Eu assenti. “Bem, ele é um idiota, então eu acredito.” Beth concordou, acenando com a mão de forma displicente.
Abri mais a porta e a convidei para entrar, afundando no sofá ao lado dela. “Como está o Kellen?”
“Bem.” ela respondeu. “Ele tem estudado sem parar nos últimos meses. Ele começou a estudar direito para poder fazer algo importante para a matilha.”
“Que ótimo. E você?” Beth deu de ombros e começou a descascar o esmalte de uma unha.
“Vou decidir eventualmente. Por enquanto, estou vivendo um dia de cada vez.” ela me disse. “Onde está a nana Aeria?”
“Não sei.” respondi, olhando para a cozinha vazia. “Talvez esteja no jardim dos fundos.” Então veio o silêncio desconfortável. Esse era o problema. Ficamos sem assunto. “Bem, obrigada por ter vindo…” eu disse, desconfortável, limpando a garganta.
“É, eu devo ir…” ela concordou hesitante. “Espero que você melhore.”
"Obrigada." Respondi, levantando-me do sofá. "Logo estarei de volta aos treinos. Talvez te veja lá um desses dias." Beth deu de ombros. Ela já tinha desistido de frequentar há muito tempo. Nem mesmo o Alfa, com toda a sua autoridade, conseguiu convencê-la a aprender a lutar.
"Te mando uma mensagem," prometeu enquanto eu abria a porta para deixá-la sair.
"Claro." Concordei, forçando um sorriso amigável. "Te amo."
"Também te amo." Beth se foi tão rapidamente quanto chegou, deixando-me com uma sensação de vazio no peito, algo a que eu lentamente estava me acostumando enquanto a perdia para Kellen.
Nana passou a meia hora seguinte preparando o almoço, e eu a ajudei a lavar os pratos antes de voltar para minha cama. Colocando os fones de ouvido, abri uma das minhas playlists instrumentais e me espalhei sobre o colchão de bruços, soltando um suspiro pesado.
Em dois dias, eu deveria voltar aos treinos, mesmo que minhas costas ainda não estivessem completamente curadas. Já podia imaginar quantas vezes seria derrubada no chão. Minha fúria voltou com força, contra Riley, contra o Alfa, contra meu pai...
Quando eu ficava com raiva, era difícil desligar. Fitei a janela, meu peito arfando enquanto eu fervia em silêncio. Um som estranho perfurou o ar, mais alto que a música, e recuei quando uma longa rachadura apareceu no vidro da janela.
O que diabos?
"Tyr? Está tudo bem?" Nana chamou do pé da escada.
"A janela quebrou!" Gritei de volta, ainda olhando para o vidro com a cabeça ligeiramente inclinada. Hesitante, estendi a mão, passando o dedo pela rachadura e ofegando quando cortei o dedo.
Minha curiosidade desapareceu enquanto eu corria para o banheiro, apertando o dedo para estancar o sangue enquanto procurava um curativo...
Da próxima vez que a campainha tocou, eu estava quase dormindo. Fechei os olhos novamente, certa de que a nana atenderia.
"Tyr? Tyranni, querida! Venha aqui!" Nana chamou. Demorei um bom tempo para me arrastar para fora da cama e descer as escadas, encontrando a nana esperando impacientemente ao lado de um dos guardas do nosso clã.
"Garret," ele se apresentou com um aceno enquanto eu apertava seu antebraço em cumprimento.
"O que está acontecendo?" Perguntei ansiosa. Estava em apuros de novo?
"Sinto muito ter que ser o portador dessa notícia. Seu pai, Nathaniel, está no hospital. Ele sofreu um acidente de carro há cerca de uma hora."
O mundo se estreitou, tornando-se um túnel sombrio enquanto eu balançava ligeiramente sobre os pés. Meu pai? O homem que nunca sequer ultrapassava o limite de velocidade?
"Como?"
"Ainda estamos tentando descobrir. Pelo que conseguimos apurar até agora, um animal atravessou a estrada e Nathaniel desviou. Ele quebrou alguns ossos e tem uma concussão bem séria."
"Vamos direto para o hospital," nana garantiu com um sorriso tenso. Quando ela fechou a porta, eu ainda não tinha me movido, incapaz de acreditar no que acabara de ouvir...
