O acidente
Eu sempre odiei hospitais. O cheiro estéril, a atmosfera sombria, sempre me deixavam nervosa. Às vezes me perguntava se alguma parte de mim lembrava de ter sido trazida ao mundo, no quarto de hospital sombrio e silencioso onde minha mãe deu seu último suspiro.
Vovó e eu estávamos sentadas na sala de espera, segurando nossas mãos em um apoio silencioso uma à outra. Nunca tive um bom relacionamento com meu pai, mas a ideia dele deitado em uma cama de hospital, machucado e quebrado, me abalava profundamente.
Lá fora, o vento uivava, o som do trovão se aproximando a cada minuto que passava. Cada vez que as portas de entrada se abriam, o cheiro de terra molhada invadia a sala de espera, e eu respirava fundo.
"Woodrow?" Uma enfermeira entrou na sala de espera e vovó e eu nos levantamos. "Vocês podem vê-lo agora."
Seguimos a enfermeira por um corredor longo e silencioso até o quarto do meu pai. O único som que rompia o silêncio era o terrível bip do monitor de frequência cardíaca. "Estamos monitorando o inchaço, ele levou uma pancada forte na cabeça, então não se assustem se ele parecer um pouco desorientado," explicou a enfermeira, nos deixando a sós com ele.
Afundei na cadeira ao lado da cama dele, o vinil fez um rangido enquanto eu me ajeitava na beirada e segurava sua mão mole. "Papai..." murmurei, minha voz carregada de emoção. Não aguentava vê-lo assim, quebrado, frágil.
"Lil..." Meu coração se partiu em dois e saiu do meu peito quando ele sussurrou o nome da minha mãe.
"Papai, sou eu... Tyranni." Engasguei, engolindo o nó ácido que se formou na minha garganta. As pálpebras do meu pai tremularam, se abrindo lentamente. Seu olhar caiu sobre mim, e ele puxou a mão da minha.
"O que ela está fazendo aqui?" ele perguntou, olhando para vovó, a pergunta dirigida a ela. Não achei que fosse possível, mas senti meu coração se partir ainda mais. "Ela não deveria estar aqui. Muitas lembranças ruins." ele gemeu. Senti minhas entranhas murcharem até eu ser uma casca vazia.
"Papai, eu quero estar aqui." sussurrei. Queria ficar com ele até ter certeza de que ele ficaria bem.
"Não. Mãe, leve-a para casa agora!" ele exigiu rudemente, olhando com raiva para vovó do outro lado do quarto.
"Sua filha tem todo o direito de estar aqui com você, Nathan." respondeu vovó, ainda parada perto da porta. Ela não tinha se movido um centímetro desde que entramos no quarto dele.
"Eu não quero ela aqui!" ele rugiu. Antes que eu pudesse pensar, pulei da cadeira, fugindo de seu ódio. Caminhei cegamente pelos corredores e saí do hospital. Como se o céu sentisse meu tormento, a chuva começou a cair sobre mim, misturando-se com minhas lágrimas.
"Tyranni?" Olhei para cima, surpresa com a voz preocupada. Violeta estava parada perto das portas de entrada, segurando um guarda-chuva.
"Violeta... O que você está fazendo aqui?" perguntei, limpando o nariz com as costas da mão.
"Minha irmã está em trabalho de parto." Violet respondeu. "Está tudo bem?" Eu fiquei boquiaberta. Violet sempre foi tão desagradável, e agora ela me olhava com preocupação nos olhos.
"Meu pai sofreu um acidente de carro." Não havia mais nada a dizer. Eu não podia admitir para ela que meu próprio pai praticamente me expulsou do quarto dele.
"Você precisa de alguém para te levar para casa?" Violet perguntou suavemente, inclinando o guarda-chuva para me proteger da chuva.
"Você não precisa—"
"Bobagem. Está chovendo muito, e o bebê ainda vai demorar horas para nascer." ela insistiu. "Vamos, eu te dou uma carona." Concordando com a cabeça, eu a segui até o carro dela, entrando rapidamente. Ainda bem que os bancos eram de couro; minhas roupas estavam completamente encharcadas.
A viagem foi silenciosa e desconfortável. "Tenho certeza de que seu pai vai ficar bem. Ele é um lobo forte." Violet me assegurou.
"Obrigada... Espero que sim..." respondi. Após mais dez minutos de constrangimento, Violet parou em frente à nossa casa. "Obrigada. Parabéns pelo seu sobrinho ou sobrinha." eu disse.
"Obrigada. Espero que seu pai melhore." Violet respondeu com um aceno de cabeça, me dando um pequeno aceno quando fechei a porta. Fiquei na varanda até o carro dela desaparecer na escuridão da noite, me perguntando o que diabos tinha acabado de acontecer. Violet nunca tinha sido amigável comigo.
Destrancando a porta, entrei na casa, imediatamente sentindo o silêncio sufocante. Em qualquer outro dia, o som da cozinha da vovó ou o zumbido da TV preencheriam o espaço agora vazio.
Precisando do conforto da familiaridade, liguei a TV e procurei nas apps pela minha música, deixando-a preencher a casa. Depois, fui para a cozinha, pegando legumes e carne da geladeira. O mínimo que eu podia fazer era ter uma sopa pronta quando meu pai chegasse. Mesmo que ele me odiasse, eu garantiria que ele estivesse confortável quando chegasse.
Comi sozinha na mesa, ouvindo música e o barulho da chuva enquanto a tempestade piorava. A vovó ainda não tinha voltado para casa, e com o tempo, não imaginei que ela voltaria pelo resto da noite. Quando terminei, coloquei a sopa restante em um recipiente e deixei na geladeira.
Desliguei a música e subi as escadas, pegando um par de pijamas confortáveis do meu armário e indo para o banheiro. Eu preferia meus banhos escaldantes, mas minhas costas não permitiam. Na água morna, lavei o estresse da noite, rezando para a Deusa da Lua que meu pai ficasse bem e que as coisas voltassem ao normal quando ele fosse liberado.
Debaixo das cobertas, me virei de um lado para o outro, ouvindo o vento uivar e a chuva batendo contra minha janela. Estava preocupada que o vidro quebrado pudesse estilhaçar, mas ele se manteve firme. Quando finalmente caí em um sono agitado, sonhei que corria pela floresta com o vento no meu cabelo. Sonhei com dois pares de olhos prateados...
