Capítulo Três

"Não sei," diz Nik, levantando o envelope fora do meu alcance. "Talvez eu devesse esperar até depois da escola. Fazer você suar."

"Ei!" Eu faço um biquinho. "É meu aniversário. Eu deveria poder abrir presentes sem guerra emocional."

Seus olhos brilham com travessura enquanto seus lábios se curvam em um sorriso. Se eu não o visse como um irmão, seu charme juvenil seria perigosamente eficaz.

"Acho que sim," ele diz. "Mas aviso justo, isso é a única coisa que consegui arranjar."

"Tenho certeza que é perfeito," eu digo. "Você sempre dá um jeito."

Ele me entrega o envelope. Eu pego, ainda olhando para ele como se não estivesse secretamente empolgada.

"Obrigada," eu digo, e rasgo o envelope.

Dois ingressos.

Passes para o backstage.

Para o show do Shinedown.

"Você me conseguiu passes para o backstage do Shinedown?!" Eu grito.

Freyja e Cherie se viram no meio da conversa.

Eu me jogo nos braços de Nik.

"Se eu soubesse que esse era o caminho para o seu coração, teria feito isso antes," ele diz, rindo. "Mas talvez diminua um pouco o aperto de Hulk, pode ser?"

Ele me coloca no chão, ainda com as mãos na minha cintura.

Eu sorrio. "Desculpa. Às vezes esqueço minha própria força."

Freyja e Cherie se aproximam.

"O que você fez para fazê-la gritar assim?" Cherie pergunta. "Precisamos da fórmula para repetir o fenômeno."

"Oh, nada," eu digo, pulando nas pontas dos pés, "exceto que ele me conseguiu passes para o backstage da minha banda favorita."

Freyja ri. "Então você conseguiu os ingressos afinal."

Eu estreito os olhos para ela. "Espera. Você sabia?"

Ela faz sua dança inocente, balançando de um pé para o outro.

Eu reviro os olhos, sorrindo de qualquer jeito.

"Eu pensei que você não tivesse aula até a segunda aula," Nik diz enquanto começamos a caminhar para a escola. O sinal de aviso toca quando chegamos às portas.

"Não tenho," eu digo. "Meu carro não está funcionando. E eu preciso da biblioteca para terminar nosso projeto de inglês."

Nos separamos. Freyja e Cherie vão para a primeira aula.

Eu vou para a biblioteca.

A sensação de estar sendo seguida sobe pela minha espinha, arrepiando os pelinhos na nuca.

Eu me viro, esperando uma pegadinha.

Ninguém.

Eu balanço a cabeça e caminho pela biblioteca silenciosa em direção ao laboratório de informática na parede dos fundos.

Um cara novo está sentado em um dos computadores, relaxado como se fosse dono do lugar.

Bonito. Não assustador.

Ele tem uma cicatriz acima da sobrancelha esquerda, do tipo que sugere um piercing antigo ou uma má decisão com bom timing. Seus olhos verdes parecem afiados e divertidos. Uma camiseta preta do Metallica estica sobre um corpo musculoso.

Se ter um namorado estivesse em qualquer lugar perto do topo da minha lista de afazeres, ele seria um problema.

Eu me sento dois computadores de distância e faço login.

"Caramba," uma voz baixa diz, rouca e inconfundivelmente masculina. "Ela é linda."

Eu olho ao redor.

Ninguém mais.

Só ele.

Uma estranha familiaridade arrepia minha pele, e a memória me puxa para baixo.

Flashback

Eu tenho dez anos, sentada na Dodge Dakota '97 de Berik, a caminho do zoológico para o meu aniversário.

Meus pais pediram para ela me levar por um dia. A única regra era que ela tinha que me manter longe de casa a todo custo.

Eu assumi que era uma festa surpresa.

Porque crianças são idiotas otimistas.

Depois do zoológico, fomos a um parque temático. Depois, a uma apresentação da Broadway de A Bela e a Fera. Depois, jantar. Eu estava feliz. Um pouco cansada. E um pouco triste porque meus pais não estavam lá.

No caminho de volta, uma voz de mulher sussurrou perto do meu ouvido.

Quando voltarmos, nada estará errado. Tudo acontecerá como eles prometeram.

Parecia apavorado.

Olhei para o rádio.

Desligado.

Freyja dormia no banco de trás.

Berik olhava fixamente para frente, mãos firmes no volante.

Pisquei de volta para o presente, encarando a tela do computador como se ela pudesse explicar minha vida.

O cara novo se inclina levemente na minha direção.

"Ei. Tudo bem?"

"Sim," digo, sacudindo o passado. "Desculpe. Manhã estranha."

"Somos dois," ele diz, e há algo na maneira como ele me olha que faz minha pele esquentar.

"Você é novo," digo, mais afirmação do que pergunta.

"Sim. Meu pai e eu nos mudamos para a cidade no fim de semana."

"Como está gostando?"

"Não é ruim," ele diz. "Estou acostumado com a vida na cidade grande, mas estou sentindo que esta cidade tem arestas afiadas sob a pintura educada."

Seus olhos ficam em mim como se ele estivesse tentando decifrar um código.

"Tenho certeza que sim," digo, mantendo meu tom leve enquanto abro minha pasta de projetos.

Thelma aparece justo quando meu papel imprime.

"Oh, Falencia!" ela chama com seu forte sotaque cajun.

"Thelma!" Sorrio. "Como você está?"

"Na mesma de sempre. Contando os dias até o verão finalmente nos abençoar."

"Vai voltar pra casa?"

"Com certeza." Ela inclina a cabeça para mim. "Você está finalmente pronta para parar de jogar seguro e embarcar na aventura da sua vida?"

Eu a recusei todos os anos.

Este ano, algo em mim está cansado de sobreviver e chamar isso de viver.

"Já que sempre digo não," respondo, "achei que diria sim. Só uma vez."

"Isso é música para meus ouvidos, mon chéri." Seu sorriso se aprofunda. "Deixe-me ajudar nosso novo aluno, e falaremos sobre essa viagem depois da escola."

Ela se vira para ele, olhando para mim com um olhar que não consigo decifrar.

"Falencia, você se importaria de mostrar a escola para este jovem hoje? Parece que ele tem quase todas as aulas em comum com você."

Ela me entrega o horário dele.

Segunda Hora - Inglês

Terceira Hora - História

Almoço

Quarta Hora - Discurso

Quinta Hora - Livre

É perfeito demais.

Aquela sensação estranha volta a subir pela minha espinha.

Eu engulo.

"Sem problema," digo.

O cara novo se levanta e oferece um meio sorriso.

"Então você é minha guia."

"Parabéns," digo secamente. "Você vai se arrepender até o almoço."

Saímos da biblioteca quando o sinal marca o fim da primeira hora.

"Você não é muito de falar," digo.

"Posso ser," ele responde, "quando a conversa vale a pena."

Liso. Irritantemente liso.

"Percebi que você parece próxima da bibliotecária," ele acrescenta. "Qual é a história?"

"Ela é melhor amiga da minha mãe," digo. "Não se deixe enganar pela hospitalidade doce. Thelma é uma fera, especialmente quando se trata da família."

Paramos na porta da aula de Inglês.

Estou prestes a entrar quando braços envolvem minha cintura por trás.

Um som baixo, quase animal, roça meu ouvido.

Então a voz de Nik segue, brilhante e possessiva do jeito que só melhores amigos que estão secretamente condenados conseguem ser.

"Oi, Falencia."

Eu me inclino nele por um segundo antes de me afastar.

"Este é..." Pauso, percebendo que nunca perguntei.

O cara novo intervém suavemente e estende a mão.

"Addam Danvers. Primeiro dia."

O sorriso de Nik é educado. Seu aperto de mão não.

"Bem-vindo ao Colégio Summit."

O aperto de mão dura um segundo a mais.

A tensão é estupidamente óbvia.

Não vou fazer o concurso de machos alfa no corredor.

Viro e entro na sala, indo para o fundo onde Nik e eu costumamos sentar, tirando meus materiais e rezando silenciosamente para que ele não tenha esquecido sua parte do projeto.

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