Capítulo 3

"Levanta!" Sinto um toque brusco no meu ombro. Acho que adormeci sem nem perceber.

Abri os olhos e pulei rapidamente do assento, me encolhendo no canto. Os jovens já tinham saído, a porta ainda estava aberta, e havia um cara forte com uma coleira nas mãos. Desviei meu olhar para baixo, esperando finalmente reconhecer o animal que estava preso na coleira rígida. Meus olhos quase saltaram da cabeça quando o vi. Tenho um medo terrível de cães grandes, especialmente se forem de raças de combate como essa. Um sorriso de presas brancas faz meu pulso disparar, olhos selvagens e ferozes penetrando minha alma. Essa fobia me acompanha desde a infância, quando, andando na rua, fui atacada pelo cachorro de um vizinho na vila.

"Você não ouviu?" Sibilou o cara, trazendo minha atenção de volta para ele.

"O quê?" Meu olhar voltou para o cachorro, que estava rosnando para mim.

Um arrepio percorreu meu corpo. Engoli em seco o nó que se formou na minha garganta.

Eles não podem perceber meus medos. Isso poderia se voltar contra mim.

Saí do carro, prendendo a respiração. Arrepios percorreram meu corpo quando ouvi um tiro alto. Fechando os olhos instantaneamente, tive medo de até pensar no que tinha acabado de acontecer. Pensei que a bala era para mim.

"Por que diabos você não a levou para dentro da casa imediatamente?" Uma voz familiar rosnou.

Abri os olhos e olhei ao redor, tentando controlar a situação. O moreno e o cachorro ainda estavam ao lado do carro. Virando a cabeça para trás, gritei de surpresa. Atrás de mim estava o loiro com uma arma nas mãos.

"Você o matou?" Sussurrei, tentando falar sem hesitação, espiando por trás dos ombros largos do homem de olhos azuis.

Havia um homem deitado no chão. Suas roupas estavam manchadas com seu próprio sangue na área do coração.

"Saia daqui! Alfie, você deveria tê-la levado para dentro imediatamente, droga!" Ele começou a agitar a arma, apertando o revólver com mais força.

Seu olhar estava perigoso novamente, e eu juro, se olhares pudessem matar, já estaríamos mortos há muito tempo. Alfie começou a andar na minha direção, e eu instintivamente comecei a andar para trás. Até que esbarrei minhas costas em Jay.

"Vou falar com você depois. Tenho coisas importantes a fazer agora," o cara sussurrou no meu ouvido, colocando a mão na minha coxa para me manter no lugar.

Rapidamente tirei a mão dele e dei um passo à frente. Alfie agarrou meu cotovelo bruscamente e me puxou para trás dele.

"Se você tentar fugir, vou soltar o cachorro em você," o moreno rosnou e me soltou, andando para frente.

Eu o segui de perto, ainda cauteloso com o cachorro. Sem dúvida eu fugiria daqui, mas seria pego e provavelmente punido, talvez até morto. Durante o tempo em que caminhávamos para lugar nenhum, passamos por muitos guardas com cães de combate e várias armas de assassinato.

Todos me olhavam de soslaio, como se eu fosse algum tipo de esquisito. Mas eu sou. Sou um estranho entre os meus.

Nos aproximamos cada vez mais do prédio alto. Enquanto dirigíamos para cá, pude ver a cidade morrendo lentamente. As flores perfumadas estavam ficando cada vez mais raras, a vegetação exuberante estava se transformando em galhos secos nas árvores, a grama estava perdendo sua cor vibrante bem diante dos meus olhos, e o céu estava ficando cada vez mais escuro.

Houve um grito agonizante, e me arrependi de ter me virado. Era um verdadeiro prédio de tortura. Meu coração batia freneticamente, e eu estava desesperadamente sem ar. Parei, olhando ao redor. Um pequeno prédio onde horrores acontecem. O cara gritou de dor, e meu olhar voltou para ele. O homem de cabelos castanhos estava de joelhos, com as mãos amarradas a pequenos postes de cada lado, enquanto dois homens o batiam nas costas com grandes paus. Pareciam estar segurando tacos.

"Vamos!" Alfie gritou e parou, examinando para onde meu olhar estava direcionado.

"Pare de bater nele! Você está machucando ele. Você está quebrando ele!" Eu gritei desesperadamente, tentando proteger o cara.

"Se você não for agora, o mesmo acontecerá com você," o moreno sibilou, o cachorro captando a emoção de seu dono e rosnando novamente.

"O que ele fez para você? Você não pode fazer isso com as pessoas!"

"Não se meta nos assuntos dos outros, garota. Não vou dizer uma terceira vez, me siga."

Continuei parado, assistindo a esse pesadelo. Os homens continuavam a bater nele. Os golpes eram desferidos com grande força. Eles vão quebrar a coluna dele.

Os humanos são criaturas estranhas. Os humanos aprenderam a infligir dor mental e física nos outros humanos. Mas não aprenderam a curar feridas que ficam com você pelo resto da vida. Você pode esquecê-las ao longo dos anos, mas mais cedo ou mais tarde certamente chegará o dia em que você se lembrará de toda essa merda acontecendo com você. As pessoas sabem como machucar uma pessoa. Como quebrá-la em segundos. Como enlouquecê-la. Como fazê-la se matar. Os humanos aprenderam o mal melhor do que o bem. Eles sabem como abrir feridas há muito cicatrizadas na alma, mas não sabem como mantê-las seguras novamente. Eles pisam no mesmo ancinho repetidamente, apesar de suas promessas de não seguir o mesmo caminho novamente. As pessoas são estúpidas, têm muito a aprender.

Segui Alfie, tentando tirar aquele pobre coitado da minha mente. Estava ficando cada vez mais escuro. Era como se eu fosse um anjo jogado no inferno. Espiei por trás de Alfie, olhando para frente. À nossa frente havia um prédio enorme com dois guardas na entrada. Um homem e um rapaz.

"Joe, leve-a para a sala dos nossos irmãos," meu escolta acenou com a cabeça para um dos guardas.

Eu me sentia como se estivesse na prisão. Fui levada a uma cela. Havia guardas armados com cães em cada esquina. Mais tarde, serei levada ao Jay para interrogatório. E depois, o que acontece... Depois há tortura e morte me cercando. O cara, que entendi se chamar Joe, me pegou pelo cotovelo e me levou para dentro do prédio. Assim que entramos, a escuridão nos envolveu. Como esses caras conseguiam ver algo ali? Eu, pessoalmente, estava cega. Algumas conversas ecoavam, e então houve risadas.

"Vamos subir as escadas agora. Cuidado." A voz de Joe era muito mais amigável, mas eu não podia ter certeza de como ele era por dentro.

Muitas vezes as pessoas usam máscaras, com medo de mostrar quem realmente são. O bem se esconde atrás do mal, e o mal se esconde atrás do bem. Meu primeiro passo na escada foi malsucedido. Tropecei e quase caí, mas o cara me segurou a tempo.

"Merda, obrigado. Por que está tão escuro aqui? Como você consegue ver no escuro?"

"Nós somos a escuridão," o cara respondeu enquanto subíamos as escadas. "Na verdade, não existe escuridão. A escuridão é apenas a ausência de luz. As pessoas têm medo da escuridão e de todas as coisas que pensamos ter criado com ela. Mas isso não é o que realmente temem. As pessoas têm medo de ficar presas com seus pensamentos ou sentimentos. Sozinhas. Se matando lentamente de dentro para fora. Sabe, é o pior tipo de tortura."

"Para onde estamos indo?" Eu sussurrei, provavelmente para mim mesma, mas Joe pôde me ouvir.

"Para a sala da fraternidade. Você vai esperar lá pelo Jay."

As conversas se aproximavam mais e mais. Entramos na sala, e agora percebi que não estávamos sozinhos. Mas ainda estava escuro ali.

"Ok, ok," a risada parecia preencher a escuridão. "Tudo bem, eu fiz isso. Agora, Joe, deixe a garota sentar."

O guarda me levou mais para dentro e, soltando-me, ordenou: "Sente-se."

Eu permaneci parada. Parecia que tinha perturbado a paz deles e agora a sala caiu em silêncio. A porta bateu e percebi que Joe tinha ido embora. Ele me deixou sozinha na escuridão, entre seus habitantes. Minha audição se aguçou e cada movimento, cada farfalhar, cada respiração ecoava na minha mente. Alguém me pegou pela cintura e me puxou para baixo.

"Ei!" Eu entrei em pânico e saí do colo do outro homem, encontrando um espaço livre com as mãos.

"Qual é o seu nome, querida?" Uma voz suave sussurrou perto do meu ouvido.

Eu não ia responder. Não daria nenhuma informação sobre mim. Permaneceria em silêncio. Meu sinal pessoal de protesto.

"A garota não quer falar com a gente. Então vá se ferrar, Dean." Todos na sala riram, menos eu.

Eu estava assustada com essa escuridão, essas pessoas, esse lugar e essa maldita cidade cheia de segredos.

"Você vai jogar Verdade ou Desafio com a gente?" Perguntou uma voz em algum lugar à minha esquerda, mas estava longe de mim.

"Concorde." Alguém colocou a mão no meu joelho e ela começou a subir.

"Tire sua mão de mim," eu rosnei, incapaz de conter tal comportamento.

"Senão o quê?" Sussurrou aquele que tinha perguntado meu nome antes.

Eu rapidamente removi a mão do estranho e tentei me afastar, mas alguém se sentou rapidamente ao meu lado. Um arrepio percorreu meu corpo. Alguém levantou a mão e a colocou nas costas do sofá atrás de mim. Eu literalmente ouvi o ar se dissipar ao meu redor. Cada movimento estava me assustando. Eu podia ouvir tudo. Desde os sons mais altos até os sons mais baixos além da audição humana. Estou impotente neste lugar. Nem quero pensar no que poderiam fazer comigo. Mãos fortes rapidamente apertaram meus quadris, e eu entrei em pânico e comecei a me afastar. Mas aparentemente os caras apenas riram das minhas ações. O cara que estava me paquerando antes, acho que seu nome era Dean, me levantou do sofá e me colocou de volta no colo dele.

"Me solta! Me solta, eu disse!" Eu peguei uma almofada decorativa e joguei no cara.

Depois de ganhar algum tempo, pulei e corri, tentando encontrar a porta, mas a escuridão não me deixava. Ela segurava minha única salvação.

"Venha aqui," Dean disse em um tom brincalhão e começou a andar em minha direção.

Todos ficaram em silêncio, observando atentamente. Isso era diversão para eles, mas um pesadelo para mim.

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