Julie parte 1
Prazer em conhecê-lo, meu nome é Julie.
Vou te apresentar meu mundo, e já adianto para todos que ele, meu mundo, não é nada legal.
E por que estou dizendo isso? Ah! Porque é a mais pura verdade, afinal, meu pai me mantém trancada em casa há muito tempo. Papai não gosta que eu saia com outras pessoas, ele diz que eu não devo confiar em todo mundo ao meu redor e, por isso, a única amiga que tenho é a Sophie.
Nós duas somos inseparáveis desde que me lembro. Desde a época em que minha mãe estava viva.
E falando nela, quero dizer, minha mãe. A saudade me invade. Não tenho muitas lembranças dela, porque ela morreu quando eu tinha apenas cinco anos. Não me lembro exatamente dela, mas há um vazio no meu peito e sei que é pela falta dela aqui. Depois da morte dela, ganhei uma segunda mãe. Sorrio ao lembrar de Claire. Ela realmente foi como uma segunda mãe para mim, mesmo sem ter um caso com meu pai. Era Claire quem cuidava de mim sempre que eu precisava de um abraço, de um puxão de orelha. Ela era a governanta da casa e cuidava de tudo. Papai tinha uma confiança enorme nela.
Respirei fundo ao lembrar de Sophie e por que ela era minha amiga.
Bem, para começar, nossos pais são sócios. Mas eu não gosto muito de falar sobre isso, sobre essa maldita sociedade deles. O pai de Sophie e o meu estão envolvidos em coisas nada legais, e isso não me agrada nem um pouco. O trabalho deles é totalmente errado e criminoso e, por causa dessa merda, eu vivo presa em casa, sem poder viver de verdade e, quando posso sair, preciso ser acompanhada por três brutamontes que me seguem aonde quer que eu vá, e com isso todo mundo sempre tenta me evitar o máximo que pode. Ainda me lembro do meu primeiro beijo, do primeiro namorado que tive quando ainda frequentava a escola, e mesmo assim foi escondido porque se o Sr. John, meu querido pai, soubesse, ele me mataria e mataria o pobre coitado que ficou comigo. Para ele, o homem ideal para mim tinha que ser o Joe e, eca!
Joe era muito mais velho do que eu. Ele tinha quarenta e cinco anos e eu apenas dezoito. Entendo que a idade não importa, mas não era ele. Eu sentia que ele não era e nunca seria o cara por quem eu me apaixonaria. O que eu quero é paixão, fogo, carinho e Joe não me daria nada disso, exceto uma boa surra. Tenho certeza de que ele faria isso comigo ou com qualquer um que cruzasse seu caminho. Aquele homem era mau e eu não o suportava.
Claire uma vez me disse que o amor é triste e difícil. Mas valeria a pena se encontrássemos a pessoa certa. Ela também me disse para não me preocupar, porque o amor viria na hora certa para mim e eu ainda tinha muito o que aproveitar. Ri ao pensar que, se dependesse do papai, isso nunca aconteceria. Como eu iria me apaixonar se nem saio de casa? Meus estudos foram concluídos dentro desses malditos portões, e já faz um ano que meu pai me afastou de tudo, alegando que era para minha segurança. Reviro os olhos toda vez que lembro dessa cena.
Sophie tem muita sorte porque o tio Oliver a deixou ir para a escola. Ele nunca proibiu minha amiga de fazer nada, sempre a alertava para se cuidar e saber com quem estava. No entanto, ele nunca a trancou como meu pai faz comigo e isso era tão frustrante.
Sophie e eu estávamos planejando ir a uma festa de alguém que ela conhecia. Confesso que estava um pouco relutante em concordar, mas no final acabei cedendo. Nem sei por que decidi fazer isso, porque, segundo ela, esse amigo anda com certos caras que não são confiáveis e, conhecendo meu pai, ele nunca aceitaria isso, mas não custava tentar.
"Não, de jeito nenhum, Julie!" disse papai na primeira oportunidade.
"Papai, por favor, é só uma festa. Você sabe que eu nem saio de casa," eu disse suavemente.
"Exatamente por isso! Quero sua segurança e seu bem-estar, minha filha." Ele disse, voltando sua atenção para alguns papéis na sua mesa.
"Tio John, deixa disso. Ela vai dormir em casa e você ainda pode investigar a festa, se não tiver certeza," Sophie disse a ele.
"Meninas..." Sophie e eu fizemos caras tristes, e ele respirou fundo "Tá bom, vocês venceram. Mas, vou verificar essa festinha." ele disse no final.
"Obrigada, papai, eu te amo!" Nós duas pulamos em cima dele, enchendo suas bochechas de beijos.
"Muito obrigada, tio, eu também te amo. Agora vamos, Julie, temos que escolher nossas roupas." Sophie não perdeu a oportunidade e saiu me puxando pela mão.
Olhei para trás e vi papai balançando a cabeça. Sophie e eu subimos parecendo duas loucas. Assim que entramos no meu quarto, pulamos, gritamos e fizemos uma bagunça na minha cama.
"Ju" ela me chamou e eu olhei para ela "Não acredito que seu pai realmente deixou você ir." ela sorriu.
"Nem eu, Sophie" eu disse, ainda sorrindo.
"Amiga, nessa festa vai ter cada gatinho. Seria perfeito se você conhecesse alguém que te tirasse dessa situação de não querer namorar," ela disse.
"Não, não estou interessada," eu disse a ela. "Quero respirar e não correr atrás de garotos."
"Ju, acorda. É hora de você despertar. Tem um mundo lá fora esperando por você e se você ficar dentro de casa, não vai conhecer o amor da sua vida." ela disse, e eu sei que minha amiga está certa, mas com o pai que eu tenho, é complicado.
"Eu sei, Sophie, mas o amor que eu quero para mim só acontece em contos de fadas e ficção," eu disse.
"Eu sei disso, Julie. Eu te conheço como ninguém, minha amiga, porque você quer viver uma história de amor impossível, torná-la possível. Você quer correr riscos, se aventurar em um amor proibido, e confesso que acho você louca por isso, mas também acho que você é romântica e forte o suficiente para lutar pelo que mais deseja." Sophie disse, e eu senti meus olhos se encherem de lágrimas.
"Você me conhece bem, eu te amo, minha amiga." eu disse.
"Eu também te amo, independentemente de tudo," ela disse, e nos abraçamos por um tempo.
Sophie e eu passamos horas decidindo o que vestiríamos. Bem, na verdade eu já tinha decidido, então peguei o vestido que ganhei de aniversário e deixei separado. O vestido era branco e não muito curto. Escolhi um salto preto, uma jaqueta jeans azul clara e coloquei tudo em um canto separado.
Algumas horas depois, minha melhor amiga foi para a casa dela e eu fiquei no meu quarto lendo um bom livro. Quando percebi, já passava das nove da noite, guardei o livro e me joguei na cama, virando-me imediatamente.




























































